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QUADRO 6: CONTRIBUIÇÃO DOS TÉCNICOS PARA O DESENVOLVIMENTO DO ASSENTAMENTO

CATEGORIAS DE RESPOSTAS FREQÜÊNCIA PA1 PA2 PA3 PA4

Função educativa 8 2 3 3 Função mediadora 5 2 3 Elaboração, implantação e acompanhamento de projetos 3 1 1 1 Orientações técnicas 3 2 1

Não soube responder 2 1 1

Trabalhar direito 1 1

As respostas a essa questão demonstram que, pela percepção dos agricultores, as principais contribuições dos agentes de ATES não estão atribuídas ao conhecimento técnico resultante do ensino nas escolas técnicas e universidades, principalmente dos profissionais das ciências agrárias19. As principais contribuições ocorrem no sentido das funções educativas e mediadoras, definidas como categorias no quadro acima.

Pelas opiniões relativas à ‘função educativa’, categoria já discutida anteriormente, e agora pela categoria ‘função mediadora’, percebe-se que os trabalhos dos agentes de ATES apresentam um dinamismo muito grande, atuando em diversas esferas envolvidas no processo de reforma agrária e consolidação de assentamentos na região.

Pelo quadro, nota-se que opiniões relacionadas à categoria ‘função mediadora’ foram relatadas apenas nos PA3 e PA4, ambos assentamentos considerados antigos, sendo o primeiro considerado o mais distante (98 km do município sede). Isso pode ser atribuído a um melhor nível de organização destes assentamentos, com associações mais antigas, em que as lideranças, por estarem mais preparadas politicamente, cobram mais dos profissionais de ATES no sentido de trazerem benefícios para as comunidades.

Essa função mediadora muitas vezes está relacionada à elaboração de ofícios, laudos, documentos e solicitações, visando trazer benefícios para a comunidade. O ato de redigir documentos para agricultores, associações e sindicatos é parte constante do trabalho dos técnicos20, como pode ser notado neste depoimento:

“... como eu cheguei lá muitas vezes pedindo fazer um ofício, um encaminhamento e algum outro lá foi bem respeitado, quer dizer, que isso é uma das coisas que a gente também tem que dizer que foi trabalhado né...” (Agricultor do PA3, 46 anos, há 10 anos no lote, filiado e com Pronaf).

Outra característica da função mediadora é elaboração de projetos para benefício dos assentamentos, como relatado abaixo

“... você foi um dos que, que pensou em coletivo de modo geral né, e que tá dando certo hoje é a feira do agricultor né, a feira do agricultor, tá todos aí tão indo lá pra feira, hoje nós temo vinte e quatro agricultor que tá indo pra vender o seu produto, que não tinha...” (Agricultor do PA4, 42 anos, há 10 anos no lote, filiado e com Pronaf).

19

Na Copserviços, o quadro profissional é composto por técnicos de várias áreas de conhecimento, mas predomina os das ciências agrárias como Licenciados em Ciências Agrárias, Engenheiros Agrônomos, Veterinários, Zootecnistas, Técnicos em Agropecuária e Técnicos Agrícolas.

20

De acordo com informações contidas nos Planos de Desenvolvimento de Assentamentos elaborados pela Copserviços, o índice de escolaridade da maioria dos agricultores (principalmente os pais de família) é bastante baixo, com alto índice de analfabetismo ou semi-analfabetismo.

Figura 8: Imagem registrada em 2007 da feira da agricultura familiar de Marabá, um projeto de parceria entre Copserviços e STR de Marabá, inaugurado em novembro de 2006.

O acompanhamento das atividades produtivas pelos técnicos é tido por alguns agricultores como benefícios para o assentamento como um todo, como observado na categoria ‘orientações técnicas’. As opiniões referiram-se a projetos de piscicultura (os técnicos acompanham a construção de açudes junto com os operadores de tratores de esteira, nos lotes) e orientações em geral a respeito de cultivos e criações animais. Abaixo são apresentadas imagens desse tipo de trabalho de orientação técnica desenvolvido nos lotes.

Figura 9: Autor da pesquisa, na época como técnico de ATES realizando a soltura de alevinos para piscicultura financiada pelo Pronaf A em lote de agricultor, em 2004.

Figura 10: Técnicos da Copserviços e agricultora em trabalho de orientação sobre manejo alimentar de piscicultura, em lote de assentamento no ano de 2004.

A aquisição do crédito Pronaf A foi citada como benefícios gerais para a comunidade, o que se pode evidenciar que o tema crédito povoa as expectativas. Para os que não tiveram acesso ao crédito, a compreensão da pergunta ficou comprometida como se pode ler no depoimento:

“... é, até que esse lado eu não sei muito responder não” (Agricultora do PA1, 40 anos, seis anos no lote, filiada e sem Pronaf).

Na categoria ‘trabalhar direito’, foi classificada e destacada uma resposta por sua relevância de sentido, quando se remete à experiência anterior da época do FNO-Especial, como explicado na contextualização desta dissertação. O agricultor percebeu como benefício ao PA a forma como os técnicos trabalham

“... que ajudô, ajudô bem, porque eles trabaiô aqui direitim, nunca fez nada errado aqui cum nóis...” (Agricultor, 77 anos, 7 anos no lote, filiado, com Pronaf).

Nessa reposta fica evidente que o reconhecimento de contribuições dos trabalhos dos técnicos acontece, principalmente, por meio da relação direta com os agricultores. Nessa interação face-a-face é que é possível orientação, explicação, esclarecimento de questões, ensino de algo que lhes é de interesse. O acesso a informações é indispensável para eles, e a função de mediação dos técnicos assessores marca-o como um elo entre a comunidade e setores públicos. É nessa mediação que se estabelecem as articulações entre instituições públicas e instituições dos movimentos sociais, que em princípio não poderia ser classificadas como instituições privadas puras, pois suas funções são públicas. Ao buscar atender a demanda das famílias e da comunidade como um todo, os assessores assumem função de Estado fora dele, sem os direitos do funcionalismo público. Essa estrutura fragiliza a institucionalização da ATES como um direito e a torna apenas um serviço, que, como tal, pode ser prestado ao não.

O que se pode concluir desse debate com os agricultores é que o acompanhamento técnico nas atividades produtivas na ATES ocupa o menor tempo de trabalho dos profissionais de campo. Além disso, a formação escolar que tiveram nas instituições de ensino não tem sido capaz, em princípio, de lhes propiciar competência técnica necessária. Por ser um serviço descontínuo, a estrutura sobre a qual a ATES vem sendo mantida não permite oferecimento da formação continuada e aprimoramento técnico pelo trabalho. Além disso, um técnico para cada cem famílias é uma norma estruturante de algo feito para não funcionar com

eficácia necessária, mesmo que os agricultores reconheçam que esses assessores foram melhores que os da época do FNO, mais comprometidos e implicados nos desafios das lutas pela manutenção na terra.

Assim, destaca-se mais uma vez que se faz necessário pensar num processo de formação ou capacitação a ser oferecido aos técnicos para atuarem em funções tão dinâmicas como a assessoria em assentamentos. Tendo em vista a formação acadêmica da maioria dos assessores, a formação anterior não privilegia este dinamismo envolvido nos trabalhos com a agricultura familiar21.

Na questão seguinte foi solicitado aos agricultores que apresentassem sugestões para melhorar o serviço, o que está apresentado a seguir.

QUADRO 7: SUGESTÕES DOS AGRICULTORES PARA MELHORIA