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Aprendizagem e consciência histórica

Kátia É um campo de pesquisa estabelecido em que o grande foco das nossas pesquisas é a aprendizagem histórica e a constituição da consciência histórica (...)

Mariana Eu vejo mais a questão da consciência mesmo, que o aluno, a partir da ideia de se perceber sujeito da História ele vai entendendo e percebendo os fatos, as ações, as consequências do passado para o presente (...)

Marcelino Para mim, educação histórica é uma teoria aliada à prática (...) aproximar, o que o aluno vivencia, ou a consciência histórica do aluno com as diversas narrativas de História que existem.

Maria Uma educação capaz de dar sentido àquilo que o aluno aprende e que possibilita a construção de uma consciência sobre o que está sendo discutido, formado da aula.

Michael Educação Histórica, na minha opinião, é valorizar as ideias que alunos e professores trazem sobre certos conceitos históricos ou conceitos substantivos. Mas ela não termina aí, ela é mais ampla porque ela valoriza também aquilo que o professor desenvolve como ensino e aprendizagem para o aluno envolve o contato com as fontes. Na Educação Histórica você tem que pesquisar mais fontes, já que você quer trabalhar com fontes. (...). Então a Educação Histórica cobra do professor de História ao mesmo tempo a leitura de historiadores consagrados, mas também a leitura de fontes. E por fim você leva isso ao aluno e aí você vai organizar tudo em uma metacognição. (...)

Fonte: o autor

Para Rüsen, a aprendizagem histórica “é a consciência humana relativa ao tempo, experimentando o tempo para ser significativa, adquirindo e desenvolvendo a competência para atribuir significado ao tempo” (2010, p. 79). Neste ponto, liga-se à consciência histórica que tem como princípio a memória e que, por meio das narrativas, torna-se possível dar sentido à História e à relação passado, presente e futuro. Para tanto, Rüsen aponta que:

Esquematicamente, este processo de aprendizagem da consciência histórica, que é processado na estressante experiência temporal transformada em uma nova competência de interpretação temporal

transformada em uma nova competência de interpretação temporal, pode ser descrita da seguinte maneira: a partir do confronto entre a nova experiência temporal com os critérios de significâncias temporais específicas, que organizam as intenções da ação intencionalmente, mentalmente e cognitivamente e são formadas, intencionalmente, a partir do potencial de experiência da memória de interpretar a experiência atual e torná-la compreensível e manejável. (...) A consciência histórica pode ser decomposta em uma sequência ordenada de operações de aprendizagens que, juntas, formam um processo unificado; esse processo pode ser claramente diferenciado de outros processos de aprendizagem e ser descrito e analisado em detalhes. Aprendizagem histórica pode ser descrita a partir de operações (teoria da narrativa) fundamentais e gerais da consciência histórica como uma sequência regrada de operações de aprendizagem em um contexto dinâmico interno. A partir da pressão da experiência temporal, dos excedentes temporais esperados, e do fascínio do passado atualmente experimentado, são geradas as necessidades de orientação. Esta necessidade de orientação tem de ser guiada de acordo com os critérios de gestão de sentido na vida prática, na forma de hipóteses de suposições de sentido sobre o potencial de experiência de recordação do passado. (...) (RÜSEN, 2012, p. 77)

A partir das teorias de Rüsen sobre a aprendizagem e a consciência histórica, é possível perceber a relação direta com a vida prática (lebenpraxis) proposta em sua matriz, bem como o encaminhamento do passado e do presente a partir da narrativa. Por este viés, percebe-se que o professor Marcelino, ao destacar que a Educação Histórica “é uma teoria aliada à prática (...) aproximar, o que o aluno

vivencia”, apresenta a relação com a vida prática no processo de aprendizagem

proposto por este campo de investigação. Segue na mesma linha a professora Mariana, que destaca “ideia de se perceber sujeito da História”, associando, mais uma vez, a Educação Histórica à vida prática. A professora Maria traz a ideia de “uma educação capaz de dar sentido àquilo que o aluno aprende”, isso significa que a sua ideia está consoante com a ideia do autor de que “esta necessidade de orientação tem de ser guiada de acordo com os critérios de gestão de sentido na vida prática” (RÜSEN, 2012, p. 77). Desta forma, a professora acentua a ideia de sentido na aprendizagem. A professora Kátia apresenta uma ideia mais fechada sobre o conceito, afirmando que o mesmo “É um campo de pesquisa estabelecido

em que o grande foco das nossas pesquisas é a aprendizagem histórica e a constituição da consciência histórica (...)”.

Desta forma, a professora apresenta a ideia de um campo específico para a Educação Histórica. Ao refletir sobre o conceito de campo, aponta-se:

Campo é um microcosmo social dotado de certa autonomia, com leis e regras específicas, ao mesmo tempo em que influenciado e relacionado a um espaço social mais amplo. É um lugar de luta entre os agentes que o integram e que buscam manter ou alcançar determinadas posições. (PEREIRA, 2015, p. 341)

Desta forma, observa-se que a professora conceitua a Educação Histórica como um campo da ciência, com as suas próprias regras e apresenta como principais objetos de estudo a aprendizagem e a consciência histórica.

O professor Michael apresenta uma descrição das suas atividades, elencando uma série de ações que correspondem ao processo de ensino e aprendizagem que caracterizam a Educação Histórica, em princípio o professor demonstra que é importante “valorizar as ideias que alunos e professores trazem sobre certos

conceitos históricos ou conceitos substantivos”. Neste ponto, percebe-se nitidamente

a ideia dos conhecimentos prévios propostos pela professora Barca (2004) e as definições de conceitos substantivos, conforme exposto por Lee (2001). O professor prossegue a sua explanação apresentando que “ela [Educação Histórica] é mais

ampla porque ela valoriza também aquilo que o professor desenvolve como ensino e aprendizagem para o aluno, envolve o contato com as fontes. Na Educação Histórica você tem que pesquisar mais fontes, já que você quer trabalhar com fontes”. Neste fragmento, percebe-se a relação que o professor apresenta com a

ciência de referência da História, tal como proposto por Rüsen (2010, 2012), apresentado inclusive na sua matriz. E por fim, o professor conclui que “leva isso ao

aluno e aí você vai organizar tudo em uma metacognição”, ou seja, a organização e

o sentido dos fatos históricos organizados e apresentados por meio da produção de narrativas (RÜSEN, 2010).

Portanto, é possível perceber que o grupo de professores assimilou a relação entre a aplicação da ciência de referência com a ideia de “vida prática” na construção de uma aprendizagem histórica dos alunos. Nesta esteira, os professores construíram as suas definições para o campo de investigação, alinhados por ideias similares.

3.1.5- ELEMENTOS DA EDUCAÇÃO HISTÓRICA INCORPORADOS PELOS