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I. OS CAMINHOS DA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA: UMA

1.6 A DELIMITAÇÃO DO CASO

1.6.1 A Escola Estadual Indígena Gildo Sampaio Megatanücü

1.6.1.2 O Quadro Docente

O quadro geral de professores da escola Gildo Sampaio conta com 28 professores contratados no regime temporário, fato este que compromete a existência de uma Associação de Pais e Mestres na escola. Todos os professores da escola são indígenas, falantes da língua Ticuna e língua portuguesa, ou seja, bilíngues. Os dispositivos legais condensados na resolução 003/99, do Conselho Nacional de Educação, que institui a categoria escola indígena no âmbito da Educação Básica (Infantil, Fundamental e Médio) no artigo 1º. Recomenda que a escola indígena será exercida prioritariamente por professores indígenas oriundos das respectivas etnias no artigo 7º. Atendendo o que dispõe a legislação, a maioria dos professores da Escola

Estadual Indígena Gildo Sampaio tem a formação de Licenciatura Plena Intercultural, graduados pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM e pela Universidade do Estado do Amazonas –UEA.

Os professores da escola Gildo Sampaio são moradores da comunidade e conhecedores dos problemas que atingem diretamente a escola, tanto na questão pedagógica como administrativa dentro da realidade contextual que está inserida. Exige um desejo geral de mudanças e perspectiva de segurança para um trabalho mais eficiente em sala de aula. Apesar de graduados, os professores esperam a continuidade dos seus estudos a partir da definição de uma proposta pedagógica concreta que defina o currículo da escola indígena. A partir desse ponto, é possível criar estratégias de ensino e coletar material didático necessário para alcançar os objetivos de cada Disciplina. Para que tudo isso se concretize é preciso a efetivação do quadro a fim de que o trabalho da Gestão escolar e dos professores sejam mais seguros e eficientes.

Por falta de material didático específico para a escola indígena como textos em língua indígena, os professores produzem o seu próprio material e tentam “traduzir” para a língua indígena a fim de facilitar o entendimento e apropriação do conhecimento pelos alunos. Em depoimento, os professores indígenas comentam que as aulas são aplicadas em língua indígena e língua portuguesa e compromete o tempo para o repasse dos conteúdos.

Pelo que foi observado, os professores da escola Gildo Sampaio também são professores da rede municipal de ensino e pertencem ao quadro efetivo da rede municipal. Desta forma, existe uma certa pontualidade na convocação desses professores pela Rede Municipal o que não acontece com a mesma dedicação quando a convocação é feita pela Rede Estadual devido a “incerteza” da não continuidade de participação do professor no quadro funcional da escola.

A construção do PPP da escola exige a participação plena e envolvimento dos professores e comunidade, porém, o fato de os professores serem contratados de forma temporária gera um certo “desânimo” neste envolvimento, pois a insegurança de permanecer no cargo é a angústia de todos a cada final de ano.

De acordo com a equipe gestora da escola, a SEMED de Benjamin Constant/AM está constantemente oferecendo concurso para professores o que gera uma rotatividade no quadro docente da Escola Estadual Gildo Sampaio. Na

perspectiva de uma estabilidade de trabalho, os professores têm uma certa preferência em atuar nas escolas municipais e, durante o ano letivo, a rotatividade é constante. É recomendado pela legislação e pelo RCNEI (Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas) que o quadro de professores das escolas indígenas seja também indígena, e que os professores estejam ligados à realidade da comunidade onde a escola está inserida. Então, para este fim, corrobora a Lei 10.172, de 09 de janeiro de 2001, no item 9.2 diretrizes para a educação escolar indígena:

A educação bilíngue, adequada às peculiaridades culturais dos diferentes grupos, é melhor atendida através de professores índios. É preciso reconhecer que a formação inicial e continuada dos próprios índios, enquanto professores de suas comunidades devem ocorrer em serviço e concomitantemente à sua própria escolarização. A formação que se contempla deve capacitar os professores para elaboração de currículos de programas específicos para as escolas indígenas; o ensino bilíngue, no que se refere a metodologia e ensino de segundas línguas e ao estabelecimento e uso de um sistema ortográfico das línguas maternas; a condução de pesquisa de caráter antropológico visando à sistematização e incorporação dos conhecimentos e saberes tradicionais das sociedades indígenas e à elaboração de materiais didático- pedagógicos (BRASIL, 2001).

O quadro de funcionários da escola, segundo dados do Departamento Pessoal da SEDUC, está constituído por professores contratados por processo simplificado e temporário (PSS). É fato que se não houver o professor estatutário, há rotatividade e fragmentação nas execuções das propostas curriculares e pedagógicas da escola. A presença de professores estatutários indígenas nas escolas indígenas é recomendada através do parecer 14/99 do Conselho Nacional de Educação, uma vez que fortalece a clientela educacional. Recomenda o Parecer 14/99, de 14.09.199, do Conselho Nacional de Educação.

Para que a Educação Escolar Indígena seja realmente específica, diferenciada e adequada às peculiaridades culturais das comunidades indígenas, é necessário que os profissionais que atuam nas escolas pertençam às sociedades envolvidas no processo escolar. É consenso que a clientela educacional indígena é melhor atendida por professores índios, que deverão ter acesso a cursos de formação inicial e continuada, especialmente planejados para o trato com as pedagogias indígenas (CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 1999, p.102).

Com efeito, a rotatividade e a ausência de professores indígenas ticunas torna-se um fato comum na escola Gildo Sampaio. Conforme dados do setor de lotação da SEDUC-AM, todos os professores da Escola Estadual Indígena Gildo

Sampaio Megatanücü são contratados de forma temporária e, geralmente o contrato acaba em dezembro, sendo que as recontratações só acontecem a partir de fevereiro. Esta prática viciosa interfere diretamente no aprendizado e no planejamento pedagógico, pois quando o professor é contratado já tem início do ano letivo. Neste contexto, ainda não há uma política que fomente concursos públicos para efetivação dos professores para atender a demanda das escolas indígenas, inclusive da escola em questão, pela Secretaria de Educação, o que agrava ainda mais o problema.

Por não ter um quadro efetivo, a Escola Gildo Sampaio fica impedida de constituir uma Associação de Pais e Mestres (APMC) para captação de recursos que garantam uma certa autonomia financeira o que compromete a solução de pequenos problemas que poderiam se resolver na administração da unidade escolar e pode interferir no rendimento e no funcionamento plena da escola. Na tentativa de reverter essa situação, a escola está montando um Conselho Gestor e registrá-lo para fins de legitimação e garantias dos repasses financeiros direto na escola.

Segundo Gerência de Apoio à Comunidade Escolar (GACE), Departamento da SEDUC-AM responsável por coordenar, controlar e avaliar o processo de criação, implantação e funcionamento das Associações de Pais, Mestres e Comunitários (APMC’s) nas escolas, orienta que somente um professor efetivo pode constituir uma chapa de criação de uma APMC na escola, fato este que impossibilita a criação da APMC da escola e, consequentemente não há repasse de recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola e suas ações agregadas e outras fontes de recursos.