2 A Organização religiosa: paróquias, mosteiros e igrejas
QUADRO IX REFERÊNCIAS A IGREJAS NA DOCUMENTAÇÃO DO SÉCULO
Ano Lugar-Freguesia Documento Igreja Com referência
a núcleo de povoamento Proprietário 1049 Santa Luzia Penafiel PMH, DC 373 Igreja de S. Martinho -
Ansur Dias para Mosteiro de Cête
1064 Galegos
PMH, DC 441
LTPS 12 S. Salvador Igreja de
Villa Galegus Pedro Viegas para Mosteiro de Paço de Sousa 1065 Bustelo MATTOSO(1968)4 Mosteiro de
S. Miguel
Villa Bustelo -
1066 Lardosa - Rans (?) PMH, DC 451 Monasteríum Petri -
Garcia Moniz e Elvira para Rei
Garcia 1079 Valpedre PMH, DC 573 Igreja de S. Tiago Villa Petri Goda Moniz para
Lucidio Sarracines 1085 Figueira PMH, DC 642
LTPS 109 Santa Marinha Igreja de
Villa Figaria Eirigo Ansiulfes e Gontino Fafilas 1085 Fafiães - Galegos PMH, DC 642 LTPS 109 Igreja de S. Mamede - Eirigo Ansiulfes e Gontino Fafilas 1085 Irivo PMH, DC 643
LTPS 36 Igreja de S. Vicente Villa de Eribio para Mosteiro de Ermígio Moniz Paço de Sousa
1088 Coreixas - Irivo PMH, DC 713 Igreja de Santa Maria
Villa de Coraxes Egas Ermiges e Gontinha Eiriz para Mosteiro de Paço de Sousa 1088 Lagares PMH, DC 713 Igreja de S. Martinho Villa Lagares Egas Ermiges e Gontinha Eiriz para Mosteiro de Paço de Sousa
QUADRO IX - REFERÊNCIAS A IGREJAS NA DOCUMENTAÇÃO DO SÉCULO XI
(CONTINUAÇÃO)
Ano Lugar-Freguesia Documento Igreja Com referência
a núcleo de povoamento
Proprietário
1095 Entre-os-Rios - Eja LTPS 05 Igreja de S. Miguel -
Egas Ermiges e Gontinha Eiriz para Mosteiro de
Paço de Sousa 1096 Adoufe - Croça MOREIRA (1984)
58
Igreja de S. Pedro - -
1097 Guilhufe PMH, DC 844 Igreja de S. João Villa Viliutn
Ero Todemires para Mosteiro de
Alpendurada
Vemos aqui já fundado o Mosteiro de S. Miguel de Bustelo, em 1065, outro estabelecimento monástico que aderiu à Regra de S. Bento, mas cuja influência não foi tão preponderante no território como a de Paço de Sousa. A trajectória do mosteiro até ao século XII é muito mal conhecida, pois o Cartório e as Memórias de Bustelo, da Fr. António da Assunção Meireles, encontram-se depositados no Arquivo de Singeverga, não tendo sido ainda estudados nem publicados. No entanto, existe uma cópia manuscrita das Memórias no Museu Municipal de Penafiel, oferecida por Abílio Miranda e datada de 1924 (embora não tenhamos conhecimento de quem a executou), que utilizaremos com alguma precaução.
A imagem que temos da acção e propriedades do mosteiro para os séculos XI e XII é, por isso, extremamente vaga. Fr. António da Assunção Meireles afirma que existe um hiato cronológoco na documentação entre 1065 e 1199, e por isso temos apenas dois documentos disponíveis até ao início da centúria de Duzentos152. O
primeiro concerne à doação que Mendo Pais faz ao mosteiro de "terras situadas em
Milhundos, por baixo do Monte Castro Mondim, junto à corrente do Cavalúm"^53. O
segundo documento noticiado pelo cronista, de 1199, respeita a uma doação ao mosteiro feita por Pedro Gonçalves Cavaleiro de parte de uma quinta, sem que se refira o local ou o nome da mesma154. Frei António da Assunção Meireles refere
ainda mais três documentos que alegadamente se encontrariam no Arquivo do MEIRELES (1800-1801), fl. 5.
MEIRELES (1800-1801), fl. 2. MEIRELES (1800-1801), fl. 6 v.
mosteiro, mas que não lhe dirão directamente respeito, uma vez que se tratam de contratos de venda de propriedades entre particulares155.
Desconhecemos, portanto, qualquer outro elemento que nos permita conhecer um pouco melhor o percurso do mosteiro. Sabemos apenas que a sua família patronal é, já no século XIII, a dos Alcoforados, como descendentes de Goldora Goldoriz de Refonteira, que os livros de linhagem dizem ter sido patrona do mosteiro na centúria anterior.
De qualquer forma, não nos parece muito descabido admitir a hipótese avançada por José Mattoso de que a actividade do mosteiro neste período deveria ter sido relativamente diminuta, dada a proximidade dos mosteiros de Paço de Sousa e de Cête, que certamente teriam condicionado a sua acção e limitado a expansão do património fundiário e área de influência de Bustelo156. A estes
aspectos podemos ainda adicionar o facto da família patronal do mosteiro não ter tido grande influência no território e no contexto político-administrativo da época, ao contrário do que sucedia, como já referimos, com os patronos de Paço de Sousa.
Tal como aconteceu com as igrejas referidas no Quadro VIII, todos os templos documentalmente atribuíveis ao século XI, patentes no quadro anterior foram também sede de paróquia. Vemos então estruturada, já neste período, a rede paroquial do território de Penafiel, encontrando-se referência a mais de metade das paróquias existentes no âmbito da terra e que se manterão praticamente inalteradas até ao Liberalismo. Podemos assim afirmar com certa segurança que, ao contrário do que defende José Mattoso, a organização paroquial começou a ser estruturada desde cedo e que na década de 80 do século XI a rede de paróquias já cobria uma boa parte do território157. Estamos convictos de que a íntima associação entre a
organização religiosa e o povoamento deste período foi determinante na configuração e fisionomia do território geográfico e administrativo de Penafiel, pois é nesta época que podemos ver as raízes da distribuição populacional que ainda hoje caracteriza o concelho, bem adaptada aos condicionalismos geo-morfológicos, revelando-se assim a permanência das estratégias de povoamento e ocupação do território.
155 MEIRELES (1800-1801), fl. 5, (onde refere a venda de uma herdade de avoenga no lugar de Quintas, em
Marecos, datada de 06 de Outubro de 1164, que Gonçalo, Toda e Ausenda Mendes, filhos de Mendo Tedones, fazem a Elvira Mendes), fl. 5 v. (em que refere uma venda de Abril de 1182 que Mendo Pais faz a João Moniz, clérigo, de um casal em Pedrantil) e fl. 6 (em que menciona existência de uma carta de venda de uma propriedade em Março de 1191, sem referir mais pormenores).
Í56 Cfr. MATTOSO (1968), p. 148. 157 MATTOSO ( 1992), p. 37-56.