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ANEXO C ENTREVISTAS

12. Qual o nome de guerra que deseja adotar em sua entrevista: Bruno

2ª Parte: Entrevista semi-estruturada

Para você, quando o trabalho do professor tem sentido?

Resposta: Ah quando ele tem sentido é da ordem inversa, da ordem inversa, não só dentro de sala de aula, mais quando eu consigo tá num momento tipo esse nosso aqui, que eu consigo, que alguém se interessou pelo o que eu faço, que alguém, seja lá numa roda de

conversando com a Neusinha, mostrando que o que eu fiz ele teve alguma marca, que eu possa na realidade modificar, né, às vezes eu fico parado assim, principalmente quando eu to no trânsito, assim que o trânsito está meio parado, às vezes eu fico viajando como se diz, é, ah porque que aquela pessoa marcou tanto o nosso Estado e não conseguiu marcar, aí um dia eu comentei em sala de aula e o aluno, até comentei na ordem inversa, que eu não conseguia vender nada ali, aí um aluno disse pô professor o senhor consegue vender muito, consegue vender conhecimento que é uma coisa difícil de se comprar aí daquele dia em diante, isso já faz algum tempo, eu ainda dava aula no Estado, deve fazer aproximadamente quinze anos atrás, e pô daquele dia em diante eu comecei a encarar de e outra forma, como sempre quando eu me preparei para aquilo eu fico feliz quando alguém ta me escutando então essa é a parte inversa da história.

E quando que ele não tem sentido?

Resposta: Quando o trabalho não tem sentido? Ah quando eu não consigo alcançar o meu objetivo, o meu objetivo de trabalho, porque como eu trabalho, não digo tanto no curso superior, mais no curso de ensino médio e mais voltado pro terceiro ano, eu dou muita aula pro terceirão, pro pré-vestibular, porque eu sempre digo pra eles que o sucesso deles é na verdade é o meu sucesso, porque não adianta toda essa formação que a gente acabou de falar se eu não consigo na realidade mostrar isso pra eles, né, fazer o mais prático possível, porque eu dou no segundo grau e no vestibular eu dou muito geografia, conhecimentos gerais e atualidades, né, essa coisa meio aspectos catarinenses, aquela coisa, que é como se diz hoje a menina dos olhos do vestibular, mais é muito bonito pra mim, é muito legal falar, mais pra eles o interesse é muito pouco, num campo de muita gente aquilo vai chegar na cabeça de poucos, aquilo me deixa um pouco frustado assim né, do preparo da gente, aquilo me deixa um pouco chateado, é o momento que eu digo ah eu vou parar de fazer isso, sei lá, vou fazer outra coisa na vida né, essa é meu grande detalhe, mais depois a gente vai se acostumando também.

Qual o significado do trabalho para você?

Resposta: Ah, eu acho importante. Acho que o trabalho não é uma frase antiga, não é uma frase desgastada mais ele dá uma dignificada na pessoa, eu acho que ele cria um mundo, o mundo é cheio de altos e baixos, eu já tive no auge da minha carreira como eu to agora, acho que quando o professor chega no nível superior, dá aula pro ensino superior, ele faz pós-graduação. Licenciatura, ele chega no nível superior pra dar aula, não que ele não

possa dar aula pro mestrado, dar aula pro doutorado, mais quando ele chega na universidade é o ápice da carreira dele, eu ainda acho que é o ápice da carreira dele, mais durante um tempo eu já fiz várias coisas na vida, já fui funcionário público, já trabalhei em três instituições do governo, já desisti das três, fui funcionário do BESC, já fui funcionário da Secretaria da Agricultura, já fui funcionário da Procuradoria Geral do Estado e um dia eu disse que eu ia sair, e é um troço interessante, que eu saí, eu saí do meu emprego pra ganhar 80 reais e até hoje o Estado não me pagou, que é um fato extremamente interessante, eu até comento isso com os alunos e mesmo assim eu acho que aquilo ali é válido né, aquela situação é válida assim, porque é uma coisa que pô eu preparei pra quilo e é aquilo que eu vou fazer, assim é que na verdade eu imagino né.

O que você procura no seu trabalho como professor?

Resposta: Como eu já te disse, o que eu procuro é o sucesso do meu aluno, porque o sucesso dele é o meu sucesso como professor.

Por que você escolheu a profissão de professor?

Resposta: Porque que eu escolhi ser professor?? Então a história é um pouco desconexa, na verdade eu fiz vestibular pra direito, então eu saí da universidade em 87 pra ter uma idéia, então se puxar quatro anos atrás em 83 eu fui fazer vestibular pra direito na universidade federal de Santa Catarina, e eu fiz pra direito e minha segunda opção era pra geografia, só que na época era diferente, na época a gente passava por colocação, a forma de escalonamento era um pouco diferente, eu não passei pra primeira opção, mais passei pra minha segunda opção que era geografia, mais antigamente a situação dada pelo índice que a gente tinha a gente poderia optar por trocar de curso, que eu até fui convidado pra fazer contábeis, administração e economia, isso é uma coisa que eu me lembro até, eu fiz uma cadeira de introdução a economia e tudo né, eu fiquei feliz por ter feito, e eu fui fazendo geografia, fui gostando, fui gostando, fazia bacharelado, o meu sonho era trabalhar na Petrobrás, né, olha só, assim né, aí um dia eu fui dar aula, foi quando eu saí da Procuradoria Geral do Estado pra dar aula por oitenta reais, pra ti ter uma idéia, a minha ex-mulher queria me matar por eu, queria me matar, e dali pra frente três meses depois eu já trabalhava numa instituição particular, pra ti ter uma idéia, aí eu fui indo, fui indo e foi virando uma bola de neve que eu cheguei a dar setenta e duas horas por semana, par ti ter uma noção de segunda a sábado de manhã e a tarde, de segunda a sexta todas as

uma pancreatite aguda, e eu disse que mais nenhuma aula eu queria dar, aí agora eu reduzi a carga, agora estou com trinta e oito horas por semana, dou aula aqui com a professora Neusinha nos meus horários vagos né, mais foi assim que eu fui parar na geografia, foi assim que eu fui parar no magistério, geografia é uma coisa que eu gosto e com o meu coordenador de curso, que é um parceiro meu, ele hoje é meu chefe na Unisul, mais ele é meu amigo em particular porque a gente começou a trabalhar juntos né, ele direcionou prum lado e eu pro outro, ele leciona história e olha eu sou da Geografia, depois ele também fez mestrado em relações internacionais, mais virou coordenador de curso, convidou pra trabalhar com ele, com ele eu aprendi a ser professor,... ele dizia pra mim pô você tem que dizer que é professor, então eu aprendi com ele, o que você faz eu sou professor, eu ando com um boné escrito professor Bruno, eu ando com a camisa escrita professor Bruno, eu faço questão hoje de dizer que eu sou professor, não tenho vergonha nenhuma e ainda acho que se a gente voltar a, se a gente ganha mal na vida é porque estagnou no tempo, certo, eu não reclamo do meu salário mais é porque eu também acho que fiz juz a ganhar o que eu ganho hoje, né porque eu tenho colegas de trabalho que foram meus colegas de trabalho no estado, que eu trabalhei alguns anos pro Estado também, e que pararam no tempo, e que hoje nem mercado de trabalho os aceitam, então hoje eu quero ser professor gosto de ser professor, e tenho muito orgulho de ser professor, certo.

Como é a organização do trabalho no Apoio pedagógico.

Resposta: O Apoio é um pouco diferente, desculpa a pergunta, mais em que sentido a organização do trabalho?? Eu já fui professor do curso de formação de oficiais da Polícia Militar, que forma oficiais da área de graduação, e aquela sala me assustou, eu entrei nessa instituição, eu dei aula, no curso de formação de oficiais, de sargento, e praças, que são os soldados, são três situações totalmente adversas, numa sala pra soldado que o quadro era menor que esse que a gente ta visualizando aqui atrás, é, sabe aquela coisa, ao mesmo tempo na mesma instituição é a trezentos metros eu tava numa sala com ar condicionado, com quadro branco, os alunos com mesa de escritório e com notebook pra ter aula, tanto é que quando eu acabei o meu curso que lá é por hora de aula dada, são sessenta hora aulas, e as aulas são distribuídas na forma que convencionar a minha pessoa e não ao aluno, se eu achar que nesse dia eu tenho que dar aula de manhã, a tarde e a noite , vai ter que ter aula, uma situação totalmente adversa né, e quando eu acabei os alunos me presentearam com uma apostila, que eles mesmos criaram, do meu conhecimento que eu

dividi com eles, aquilo pra mim foi algo fora do comum, que na realidade eu vejo dois lados totalmente diferentes né, vou trabalhar mais com o pré-vestibular, eu tenho né o terceirão, colégio, eu tenho salas de aula climatizadas, tenho salas de aulas com alunos com todo o poder aquisitivo que a gente possa imaginar, poder aquisitivo alto, ao mesmo tempo, como eu comentei contigo, eu tenho um cursinho pré-vestibular voluntário em Paulo Lopes, aonde o aluno caminha oito horas, desculpa, oito quilômetros, certo, pra ter uma aula com um cara que ele não sabe quem é, que vem de Florianópolis pra ir pra Paulo Lopes né, numa sala onde tem um giz branco, que eu não consigo desenhar com giz colorido, só se eu levar, o café da tarde eles levam, porque a mãe fez, e ele acha que o que eu faço por ele é muito válido, então aquele povo, não é que eu não dou valor ao outro, mais aquele povo, é uma situação totalmente diferente sabe, ele nunca viu aquilo que eu falei, apesar de ter se formado na terceira série do segundo grau, então são dois lados completamente opostos, e como é que a gente caminha com isso, que eu parto do princípio de que meio sacana eu digo, eu parto do princípio de que ele tem que saber, se ele não sabe ele tem que me perguntar, certo, eu trato eles como se fossem meus alunos da escola do Alfa Objetivo, que tem um nível ótimo, que faz inglês, faz italiano, ele faz judô, kung- fu, ele faz balé, então ele não sabe na realidade que eu não trato ele assim, então ele fica feliz de alguém, que diz eu não sei, esse não sei dele e sai sabendo, é lógico que a visão é totalmente diferente, nós temos no Alfa Objetivo a um ano atrás nós fizemos o primeiro lugar no vestibular, legal, até na tua própria área, administração na Esag, e lá em Paulo Lopes nós aprovamos uma aluna só, em Biblioteconomia, só que, eu fiquei muito feliz, pra ti ter uma idéia eles fizeram uma festa, a comunidade fez uma festa, pô então um aluno só, oitenta alunos num ano só no Alfa Objetivo de noventa e seis alunos, mais é claro que são situações totalmente adversas, e o material que eu uso é um material que vem de fora, que vem pra gente, é um material que o pessoal usa em São Paulo, aí eu já aproveito pra aplicar lá e aplico em qualquer lugar, e eu tenho meu material próprio, hoje até antes de vir pra cá eu tava escrevendo ele né, tava escrevendo esse material, que a gente tem que ter uma coisa assim mais própria é legal pra dar um norte, pra dar uma cara da gente e assim na realidade a gente caminha pra esse tipo de aula. A aula nunca sai do jeito que a gente planeja, nunca sai porque, isso é uma coisa que eu sempre critivo bastante né, quem faze planejamento de aula, é tudo muito bonito na teoria, mais como é que eu vou descobrir que um dia em outubro eu to dando essa matéria, se eu to trabalhando com uma sala de cinqüenta, eu tenho sala de trinta, quarenta, cinqüenta,

vai me incomodar e eu vou conseguir me preparar, não posso chegar na sala de aula e dizer eu vou fazer chamada, e todo mundo vai ficar quieto, vou fazer até um comparativo meio estranho que eu digo, que eu sempre comento com os professores, todo mundo quer dar aula na malhação da Rede Globo, que a gente entra e a turma ta toda parada, a turma toda responde, todo mundo faz os deveres, na realidade se eu parar pra perguntar quem fez os deveres no segundo, primeiro, terceiro ano quem não fez os deveres eu perdi minha aula, eu tenho quarenta e oito minutos e se for a tarde eu tenho quarenta minutos, se eu parar pra ver isso eu parto do princípio que eles tão fazendo as coisas né, se eu na realidade não der aquele quinze minutos de aula expositiva que é o mínimo que se dá né, e daqui a pouco tentar debater aquilo, não adianta nada eu não consigo, daqui a pouco, eu to dando aula apenas de atualidade, que é um problema grave, que eu to dando sobre Milosevich e daqui a pouco ele não sabe nem onde fica a Iugoslávia, pô isso gera um problema que a gente tem que voltar, daqui a pouco outro pergunta sei lá sobre a China, e aquilo já esgotou aquilo que tu preparou, foi tudo por água abaixo sabe. Mais eu fico feliz quando ele pergunta se eu to trabalhando na Iugoslávia, se ele pergunta de Antônio Carlos, pelo menos mostra que ele ta querendo saber alguma coisa né, mais planejamento é muito tópico assim né, até na universidade, apesar da gente planejar as aulas, mais é utópico assim, é utópico, não acredito muito naquilo.

Fale sobre a questão do seu trabalho de professor: As relações hierárquicas;

No Apoio não existe tanto, é mais no colégio. É hierárquica mesmo, eu parto do princípio que é hierárquica, né, em todo, eu parto do meu princípio, eu, por ter trabalhado em instituições particulares, por ter trabalhado em instituições públicas, por ter sido funcionário público, por ter sido funcionário de empresas particulares, o meu patrão é o meu patrão, certo? O meu patrão é o meu patrão, é claro que na universidade a situação é um pouco diferente porque automaticamente a coisa funciona diferente porque lá você é um professor, todo mundo lhe chama por professor, aluno me chama, ele não bate na minhas costas e me chama de Bruno, certo, ele sabe que eu sou professor, há uma distinção assim muito grande, o meu coordenador de curso me chama por professor, ele faz questão de me chamar de senhor, já no segundo grau, se for um terceiro ano eles já me chamam de Bruno e acham que eu sou amigo deles e ele fica feliz em eu ser Figueirense também, ele pega, e eu pego no pé dele porque ele é avaiano, se é no pré-vestibular já há uma lacuna muito grande, apesar de ele ter sido meu aluno por três anos consecutivos,

quando ele é aluno de pré-vestibular ele tem uma certa diferença, e numa experiência que eu tive em primeiro grau, que eu nunca mais quero ter na vida, não quero ser professor de primeiro grau, eles ainda chamam a gente de tio então acham que é parente, então assim, o Alfa Objetivo me deixa bem claro isso ele obriga a gente usar jaleco, pra mostrar que a gente nós somos um pouco a frente deles, não que a gente seja superior ao aluno, mais nós temos um perfil um pouco diferente, eu me preparei para aquilo, então naquele momento eu sei mais que ele, certo, não que ele não tenha acesso as mesmas coisas, mais eu sei mais do que ele, direcionar as coisas que ele tem que saber, então é assim essa hierarquia tanto de patrão com o empregado, como professor e aluno né, se for patrão empregado eu faço questão de distinguir, aqui a professora Neusinha é minha chefe certo, e aqui eu sou o empregado, se ela achar que eu tenho que ocupar essa sala eu vou ocupar, no colégio no meu trabalho, em todos eles é assim, agora a hierarquia aluno professor só na universidade funciona em outro lugar eu não consigo ver que funciona certo.

As relações com os alunos.

Ah, é muito boa. Eu sou um cara que to fazendo trinta e nove anos daqui a uma semana e ainda acho que eu tenho cabeça de doze anos de idade, sabe, dependendo de onde eu esteja na própria universidade também né, mesmo em outra instituição como quando eu trabalhei no SENAC, na própria academia militar, no curso pré-vestibular eu, talvez no pré-vestibular faça isso com a gente né, a gente tem que ser, o professor tem que ser 80% palhaço e 20% professor, então aquele, aquelas mágicas que a gente faz, isso a gente vai carregando pra outros lugares, não tem como eu chegar, to de terno e gravata dando aula pro direito que eu vou modificar a minha forma de ser, eu não consigo isso, isso me aproxima demais com os alunos né, então eu tenho um grave problema assim, porque eu não consigo gravar nome de pessoas, eu tenho uma dificuldade muito grande, então como eu tenho uma dificuldade muito grande eles sentam estrategicamente eu vou gravando estrategicamente, eu vou, principalmente no segundo grau eu vou apelidando eles pelos lugares, por áreas de geografia, um é de Antônio Carlos, outro é de não sei aonde, então eu vou chamando eles pelo nome deles assim, pelo local, e isso me dá uma aproximação muito grande né, a que mais eu tenho problema de aproximação é com a minha filha que é minha aluna, porque deve ser uma barra pra ela, deve ser uma barra pra ela né, e a própria sala fica um pouco, porque não sabe por onde caminha, mais eu tenho assim um elo de ligação muito grande com os alunos, né, certo, eu ainda acho, não é porque como

ser, mais independente disso, isso é uma brincadeira que eu faço com eles, eles são a minha essência de viver, o meu meio de distribuição de idéias, de conhecimento, de mostrar que eu tenho que eu tenho que crescer mais ainda, isso é na realidade a minha relação com eles. A relação é muito boa.

Você pretende continuar com esse trabalho por muito tempo?

Resposta: Quando é que eu pretendo parar??? Segundo a minha, o meu grau de aposentadoria com quarenta e cinco anos de idade, daqui aproximadamente sete anos eu ia parar, na nova Lei isso não vai acontecer agora, como a Lei não permiti eu não vou parar assim acredito tão cedo, tão cedo, tão cedo né, até me aposentar pelo menos eu não vou, apesar da Lei ter agora mudado, se não mesmo se eu fosse me aposentar, se a Lei permitisse, eu iria continuar dando aula, ... com todas as diferenças que eu tive, assim de vida e de trabalho, certo, eu não comecei a trabalhar muito cedo não apesar disso, eu comecei a trabalhar com 21 anos, eu fui criado pelo meu vô, meu vô tinha uma filosofia de vida, meu vô foi coronel da Polícia Militar, meu vô não deixou nada pra gente assim, apesar de ter deixado a minha vô muito bem de vida mais ele não deixou, ele deixou uma coisa que hoje eu agradeço muito apesar dele já ter falecido, ele é o, ele é o meu como se diz, sou fã dele número um, né, ele é meu supre-herói, ele deixou uma coisa que eu jamais vou pagar pra ele que é a oportunidade de estudar, meu vô dizia ninguém precisa trabalhar aqui em casa se quiser estudar, né, e eu optei por não fazer nada na vida, nem tenho