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5.2 Categorias relativas às Instituições de Ensino Superior

5.2.4 Qualidade do curso e do ensino

Com relação às questões associadas à qualidade dos cursos e do ensino de Administração, os coordenadores de instituições de alto investimento enxergam uma

“banalização” do curso gerada, dentre outros motivos, pela grande procura e consequente

mercantilização, que gera preconceitos contra o curso e a categoria profissional, mas por outro lado admitem que, mesmo com essa banalização, os cursos proporcionam algo socialmente positivo.

O lado negativo é a banalização de uma profissão (...). Por outro lado, sendo um curso que está inserido pra servir, de alguma forma, o mercado, eu posso ver como positivo porque são perspectivas de mercado de trabalho e sinais, entre aspas, de desenvolvimento. (E39).

Os coordenadores de instituições de baixo investimento admitem falhas na formação do administrador. Eles creditam a má formação da maioria dos administradores o fato de, muitas vezes, os administradores serem preteridos no mercado de trabalho em relação a pessoas com outras formações. Quando perguntado sobre os motivos que levavam os administradores a serem preteridos em algumas contratações e promoções em cargos administrativos, um coordenador de instituição de baixo investimento deu a seguinte resposta:

Acho que se tivesse no setor um administrador competente e bem formado ele ocuparia o cargo. Acredito que haja falhas na formação do administrador. (E5).

Em consequência disso, uma coordenadora desse grupo de instituições alertou para a necessidade de as instituições se repensarem, uma vez que cabe a elas uma responsabilidade perante o profissional que ela lança no mercado.

Se o cara é gerente de uma multinacional e ele veio de uma faculdade particular lá

do “cafundó” e ele vai discutir com gerente de multinacional que estudou na UERJ,

na UFRJ ou na UFF, ele tem que se posicionar, então se eu jogo esse cara no mercado sem ter condições de competir com o outro, de negociar com o outro, não é justo com ele. (E38).

Nesse sentido, outra coordenadora desse grupo destaca que o papel do MEC vem sendo importante para fazer com que as faculdades particulares, de algum modo, se preocupem com a qualidade, mas reconhece que é sempre uma escolha estratégica da faculdade priorizar o investimento na qualidade do curso ou no marketing.

Uma queixa comum em instituições de baixo investimento é em relação ao tamanho das turmas. Do ponto de vista pedagógico, inegavelmente o grande número de alunos em uma sala de aula compromete, de algum modo, conforme argumenta Vasconcelos (2010), a qualidade do curso. Apesar de acreditar ser possível realizar um trabalho de boa qualidade com turmas grandes, no depoimento a seguir a coordenadora de uma dessas instituições admite que essa situação não é a ideal:

Eu acredito que é possível você fazer um trabalho de qualidade apesar de ter muito aluno, mas dificulta você fazer um trabalho personalizado, de você conhecer o aluno pelo nome (...). Não existe isso no curso de Administração. (E38).

Por outro lado, apesar de reconhecerem algumas de suas fraquezas, os coordenadores desses cursos consideram, por vezes, injusto colocar a culpa da má qualidade do ensino superior nas instituições porque, em geral, elas recebem alunos fracos, que demandam ações paralelas por parte dessas instituições para se conseguir um resultado minimamente adequado.

Botar a culpa na instituição de ensino superior também é tapar o sol com a peneira, o problema chega aqui e a gente não tem mais como empurrar pra frente. (E1).

Por sua vez, entre os coordenadores de instituições públicas, as críticas foram em relação às faculdades que se propõem apenas a cumprir as normas do MEC, sem maiores preocupações com os seus projetos pedagógicos e ao rumo que vem sendo tomado pelos cursos de Administração, que estão deixando de ser centros de discussão e se tornando escolas. É possível observar, novamente, que há um entendimento, por parte de alguns coordenadores de instituições públicas, de que as escolas não são centros de discussão. No discurso de alguns desses coordenadores, as escolas, em alguns momentos, surgem como referência de algo puramente instrumental. Foi dito também, que mesmo as instituições públicas caminham para se tornarem escolas devido à atitude de alguns professores.

Eventualmente tem um cara (professor) que pensa: quer saber de uma coisa, o mercado que reprove. E ele não se preocupa, não reprova o aluno, deixa tudo como está. Isso acontece sim, em algumas públicas. (E41).

Os professores das instituições de alto investimento se mostraram céticos quanto à qualidade dos vários cursos de Administração que existem no país, porque a quantidade é muito grande e pouco se conhece sobre a estrutura da maioria deles. Os professores de instituições de baixo investimento, por sua vez, fizeram críticas mais precisas e localizadas. Em uma das entrevistas uma professora admitiu que os cursos de Administração são fracos e que não fazem o que deveria ser o papel de uma faculdade.

A faculdade (...) é pra você refletir sobre como produzir conhecimento naquela área e não é isso que acontece, os cursos principalmente de universidade privada, são cursos técnicos, (...). Você não estimula o espírito crítico. Você pode ver todas as faculdades, eles querem é a padronização, porque eles querem ganhar dinheiro logo. (E84).

Entre os professores de instituições públicas, também foi manifestada a preocupação com a banalização do curso e os problemas daí decorrentes. Em geral, os professores desse grupo afirmam que os administradores são mal formados, e atribuem isso a falhas do formador. Com isso, de acordo com uma professora desse grupo de instituições, o administrador tem lacunas em sua formação. Ela afirmou isso, opinando sobre o curso da instituição em que trabalha.

Eu acho que a gente está hoje formando um aluno que tem deficiências importantes, que a gente precisa corrigir para que esse aluno consiga efetivamente chegar numa organização e (...) ser capaz de conduzir um trabalho profissional de alta qualidade. (E65).

A maioria dos alunos de instituições de alto investimento acredita estar fazendo um curso de muito boa qualidade. Alguns desses alunos afirmaram que o curso estaria superando as expectativas. Um deles opinou que, por estudar numa faculdade de vanguarda, o curso é melhor do que o de muitas universidades do país. Esse aluno também destacou que algumas disciplinas em princípio não pareciam muito úteis, e que havia a necessidade, nesses casos, de uma melhor explicação com relação à sua importância.

Eu acho que existem muitas matérias aqui que à primeira vista não parecem muito úteis, mas quando você entra para um estágio você vê que essas matérias (...) são muito úteis no exercício na profissão. Eu acho que poderia ser passada melhor essa importância enquanto as matérias são dadas. (E22).

Por outro lado, alguns alunos fizeram duras críticas ao seu curso. Disseram que ele era muito fraco e que nunca aplicaram nada do que aprenderam no seu trabalho.

Eu acho que (o curso) não serve para nada. (...). Eu já trabalhei bastante como estagiária, como efetivada, em várias empresas diferentes, e eu acho que até hoje eu não usei nada que eu aprendi, fora algumas coisas de Excel que eu aprendi no iniciozinho da faculdade. (E55).

Os alunos das instituições de baixo investimento também elogiaram os seus cursos. Um aluno destacou que sua faculdade sempre objetivou a qualidade, mesmo antes do ENADE. Outro destacou que a experiência dos professores ajuda bastante e que o curso prepara bem para o mercado de trabalho. Houve também quem, mesmo reconhecendo a qualidade do curso, destacasse a dependência da participação do aluno em sua formação:

Tudo depende do aluno também, porque aqui nós temos ótimos professores, só que é o aluno que faz a diferença, não adianta eu ter um ótimo professor e não querer nada com nada. (E8).

Por outro lado houve também quem destacasse que a atuação de alguns professores deveria melhorar. Veja-se:

Eu acho que o curso em si é bom, (...), o que eu acho que precisa melhorar é a dedicação de alguns professores. Esclarecer mais os alunos, apoiar mais para o crescimento do aluno, só isso. (E10).

Também entre os alunos de instituições públicas, foram muitos os elogios aos seus cursos. Em alguns momentos das entrevistas foram elogiados os professores, a estrutura e a grade curricular. Esses alunos disseram também que acreditam que o curso os esteja oferecendo uma boa preparação para o mercado de trabalho. Um deles chegou a dizer que a faculdade supera o seu papel. Chamou atenção, no entanto, o depoimento de um aluno afirmando que o nome da instituição, por si só, dá uma base mais forte e ajuda na colocação no mercado.

Como eu já fiz algumas entrevistas, eu já vi que até mesmo para conseguir alguns estágios o nome da (...) por si só ele te dá uma base mais forte. Então nesse quesito eu acho que ele ajuda. (E83).

O nível de exigência do curso também foi comentado. Os alunos consideram o curso bastante exigente e o elogiam por isso, embora reconheçam que já tiveram dificuldade.

Eu acho que é uma boa faculdade, o ensino é forte, aqui você não pode brincar senão você fica reprovado em uma porção de matérias. (E31).

Aqui eu senti um pouco nessa questão da dificuldade, dos professores serem um pouco mais rígidos, é bem mais puxado. (E29).