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2. QUALIDADE DE VIDA NO CONTEXTO URBANO

2.2. CONCEITO DE QUALIDADE DE VIDA URBANA

2.2.1. QUALIDADE DE VIDA URBANA E SUSTENTABILIDADE

Do mesmo modo que o conceito de qualidade de vida, a pesquisa sobre o conceito de sustentabilidade urbana aponta para uma pluralidade de definições a partir de distintas abordagens e conceitos. Na literatura, a busca pela terminologia de sustentabilidade evidencia a dificuldade de consenso do conceito como resultado das suas múltiplas dimensões – social, ambiental e econômica (UN-HABITAT, 1996; CIB, 2002), distintos contextos urbanos (BARBOSA et al., 2014; PISANO et al., 2014) e escalas (TU e LIN 2008).

O relatório da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento “Our common future”11 estabeleceu o conceito de sustentabilidade como aquele que

busca atender às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações em atender às suas próprias necessidades (BRUNTLAND, 1987). O conceito de desenvolvimento sustentável propõe um vínculo do desenvolvimento humano, ambiental e econômico, com a equidade entre os indivíduos, assim como entre as comunidades, nações e gerações (CIB, 2002).

Diante de sua complexidade, o conceito de sustentabilidade pode ser mais bem compreendido quando considerado a partir de três principais dimensões: social, ambiental e econômica (SACHS, 1993; PAWLOWSKI, 2008; WERBACH, 2010). Essas dimensões são denominadas pelos autores como triple bottom line ou Tripé da Sustentabilidade. A sustentabilidade, por sua vez, está baseada no equilíbrio entre essas três dimensões. O Quadro 2 apresenta os tópicos elencados a essas dimensões tendo como referência o conteúdo da Agenda 21:

11 Disponível em: http://www.un-documents.net/our-common-future.pdf Acesso em fevereiro de 2019.

Quadro 2 -- Tópicos para assentamentos humanos mais sustentáveis.

Agenda 21 Agenda Habitat

SO

CIAL ✓ Prover habitação adequada e

ambientalmente saudável a todos

✓ Promover desenvolvimento social equitativo; acesso a moradia, trabalho, infraestrutura e cultura de forma igualitária;

✓ Incluir grupos marginalizados no processo participativo; promover espaço físico para integração. ✓ Conservar e reabilitar áreas de interesse cultural e histórico; incentivar a continuidade e a identidade cultural;

✓ Prever misto de moradias e serviços oferecidos em nível local, de forma a atender à diversidade de necessidades e expectativas.

AM

BIENTAL

✓ Usar de maneira mais eficiente a terra e seus recursos naturais, visando redução no consumo de recursos não renováveis e proteção dos recursos naturais;

✓ Prover infraestrutura ambiental integrada visando suprir água, ar, saneamento, gestão de resíduos a fim de melhorar a qualidade de vida;

✓ Manejar assentamentos em áreas de risco, para mitigar impactos de desastres naturais.

✓ Usar de maneira mais eficiente a terra e seus recursos naturais, visando redução no consumo de recursos não renováveis e proteção dos recursos naturais.

✓ Promover a manutenção do meio ambiente e a saúde da população; prover infraestrutura visando suprir água, ar, saneamento, gestão de resíduos a fim de melhorar a qualidade de vida (habitabilidade).

✓ Manejar assentamentos em áreas de risco, para mitigar impactos de desastres naturais.

✓ Planejar assentamentos humanos de maneira a minimizar impactos na paisagem.

✓ Prever distribuição demográfica equilibrada; atender/prever demanda de serviços, infraestrutura, equipamentos; prever e minimizar danos ao meio ambiente em novos assentamentos;

✓ Compreender as áreas urbanas e rurais como interdependentes. E CO M ICA ✓ Promover sistemas sustentáveis de energia e de transporte nos assentamentos humanos;

✓ Aperfeiçoar o manejo de assentamentos humanos de maneira a serem mais sustentáveis;

✓ Promover atividades mais sustentáveis na construção civil (ex.: tecnologias menos danosas ao meio ambiente; geração de empregos; uso de materiais locais);

✓ Desenvolver recursos humanos e capacitação institucional e técnica.

✓ Usar energia renovável para o transporte, produção industrial, atividades domésticas e comerciais;

✓ Ampliar o uso de transporte coletivo;

✓ Fomentar crescimento econômico local; e atividades de melhorias, manutenção e renovação urbana.

Fonte: Elaboração próprio autor (2018) com base em UN-HABITAT (1996); CIB (2002)

Zorraquino (2013) aponta que a dimensão social deve melhorar e manter a qualidade de vida da sociedade em vários aspectos, tais como: acessibilidade, saúde e bem estar, inclusão social, segurança, educação, democracia, justiça e igualdade social. Sob o ponto de vista ambiental, Zorraquino (2013) afirma que as cidades sustentáveis devem ser projetadas de forma a minimizar a poluição do ar, água, solo, reduzir desperdício e consumo de recursos naturais. Na perspectiva econômica, Zorraquino (2013) salienta que os custos associados à construção, operação e manutenção das infraestruturas e serviços de suporte ao desenvolvimento urbano não devem superar as limitações existentes ou comprometer demandas de investimentos em setores prioritários.

A Figura 4 visa contextualizar as três dimensões do triple bottom line (social, ambiental e econômica) com as dimensões da qualidade de vida urbana discutidas no tópico anterior:

Figura 4 – Dimensões da sustentabilidade versus qualidade de vida

Fonte: Elaboração próprio autor (2018)

A busca pelo equilíbrio ou, o espaço onde deve ocorrer o desenvolvimento para que, o mesmo seja de fato sustentável, seria a intersecção entre essas três dimensões da triple bottom line: social, ambiental e econômica. Alinhado a essas dimensões, Wu (2012), afirma que a sustentabilidade urbana poderia ser atingida à medida que fosse possível elencar o desenvolvimento ambientalmente correto (dimensão ambiental), ao socialmente justo (dimensão social) e economicamente viável (dimensão econômica).

Concomitantemente às discussões acerca dessas três principais dimensões da sustentabilidade (social, ambiental e econômica), alguns autores têm apontado a necessidade do reconhecimento e inserção de novas dimensões. Dentre essas dimensões podem ser destacadas: a sustentabilidade ecológica, espacial, psicológica e a política nacional e internacional (abordadas com base em SACHS, 1993; 2002 e 2004); a moral e a técnica (destacadas com base em PAWLOWSKI, 2008); e a cultural (elencada por WERBACH, 2010).

Cabe destacar que não se pretende nesta pesquisa discutir cada uma dessas múltiplas dimensões da sustentabilidade identificadas na literatura. Bossel (1999) destaca que essas múltiplas dimensões tendem a retratar subsistemas dentro de uma visão sistêmica da sustentabilidade. Isso implica inferir que tais dimensões discutidas pelos autores (SACHS, 1993; 2002 e 2004; PAWLOWSKI, 2008; WERBACH, 2010) poderiam ser agrupadas em eixos maiores a partir das três principais dimensões da

Dimensão Ambiental Dimensão Economica Dimensão Social DIMENSÃO COLETIVA

Serviços básicos e públicos de um determinado local; Saúde; Segurança; Educação; Problemas Sociais DIMENSÃO INDIVIDUAL Condições Econômicas Mercado de trabalho; Dinamismo econômico. ASPECTOS MATERIAIS

Condições de habitação, Qualidade e abastecimento de água; Infraestrutura urbana; Áreas Verdes. ASPECTOS IMATERIAIS Relacionado ao ambiente, Qualidade do ar; Patrimônio cultural.

triple bottom line, apresentadas na Figura 4.

Além das discussões acerca das dimensões da sustentabilidade urbana, alguns autores têm destacado que o conceito de sustentabilidade deveria ser definido de acordo com o contexto urbano (BARBOSA et al., 2014; PISANO et al., 2014). De acordo com esses mesmos autores, os conflitos de significados para o conceito de sustentabilidade são pertinentes: ao ambiente urbano devido à diversidade das cidades e às realidades urbanas, o que tende a tornar mais complexa a definição de um conceito universalmente aceito na literatura.

A consideração do debate acerca da diversidade das cidades e das distintas realidades urbanas na construção de um conceito de sustentabilidade evidencia a necessidade de espacialização dessa terminologia (TU e LIN 2008). Isso implica afirmar que determinadas dimensões da sustentabilidade podem ser mais relevantes a uma determinada escala do que outras. Por exemplo: dados econômicos podem ser mais relevantes na escala de cidade ou região; enquanto, que dados sociais, como habitação e os espaços abertos, podem ser mais relevantes em uma escala de bairro. Frente a essa discussão, são apresentadas na sequência desta pesquisa, a qualidade de vida urbana e a sustentabilidade, a partir do contexto urbano e das escalas espaciais, sobretudo, de bairro, foco desta pesquisa.

2.2.2. ESCALA ESPACIAL: ABORDAGEM GLOBAL VERSUS LOCAL DA