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A qualidade de vida, em sentido amplo, é o “conjunto” individual objetivo e subjetivo do bem-estar e está atrelada à satisfação e aos diversos domínios da vida e com o bem-estar em geral (BISQUERRA, 2008, p. 217).

Falar de bem-estar em geral, é falar de viver com uma visão de 360 graus para as questões da vida, quer pessoais, quer laborais. Esta tese estuda, entre outros aspectos, a qualidade de vida de professores universitários acima dos 40 anos, idade que se começa a pensar em viver melhor, aposentar-se um dia, saber conciliar melhor vida pessoal e trabalho. Não, necessariamente, é um pensamento somente de professores, mas é um pensamento da maioria dos adultos plenos, podemos assim dizer, fazendo pensar na tão desejada qualidade de vida.

Conforme Zanelli, Silva, Soares (2010, p. 36),

Embora não seja comum, é possível compatibilizar demandas profissionais e pessoais, desde que existam nas organizações culturas e, consequentemente, estruturas de apoio compatíveis, que verdadeiramente incentivem, e não punam as demandas por atenção a aspectos importantes da vida pessoal dos trabalhadores (Bailyn, 1999). Isso significa não considerar a vida pessoal como concorrente ou oposta à vida profissional, mas complementar. Um novo modelo de gestão possibilitaria o melhor aproveitamento de potencialidades, agregando para a organização competências que as pessoas possuem e que as motivam quando não estão trabalhando (Friedman, Christtensen e Degroot, 2001). Quando tal não é observado e priorizado, a ausência de equilíbrio entre vida pessoal e profissional traz a prevalência de dedicação física e mental ao labor. Quando da aposentadoria, tal situação torna explícita a produção histórica de um trabalhador que desaprendeu, nos planos cognitivo, afetivo e cultural, os modos considerados certos de como se comportar nos demais espaços da sua vida.

Sobre o adulto médio em diante, espaço laboral, viver mais, trabalhar até mesmo pós-aposentadoria e equilíbrio da qualidade de vida, nos reportamos aos escritos de Zanelli, Silva e Soares (2010, p. 36-37),

[...] o momento da aposentadoria, período de reflexão e de redefinição de prioridades na vida pessoal, pode ser concebido como propício à elaboração do “ócio criativo”. O que significa de dedicar ou desenvolver atividades consideradas agradáveis ou prazerosas, caracterizadas pela geração e aplicação de ideias inusitadas (Masi, 2000). O que pressuporia a intersecção entre três elementos

fundamentais: o trabalho (esforço laborativo revestido de sentido para quem o realiza); estudo (posicionar-se de modo “aberto” para aprender continuamente ao longo da vida); e jogo (entremear nos dois anteriores espaços lúdicos de lazer, brincadeira e convivência saudável). Ao conectarem esses três elementos, as pessoas, por meio de suas ações nos contextos em que vivem, passam a exercitar o ócio criativo, balanceando o trabalho exercido com alegria e produtividade e o respeito à individualidade do ser humano, levando em conta suas necessidades e expectativas pessoais.

Para apreciar plenamente a importância do conceito “Qualidade de Vida”, é necessário compreender o significado semântico e o uso da expressão em todo o mundo.

Qualidade de vida nos faz pensar em excelência, para Schalock e Verdugo (2003, p. 19)

[...] qualidade nos faz pensar em excelencia ou em um criterio de aprimoramento asociado a característica humana e a valores positivos, como a felicidade, o éxito , a riqueza, a saúde e a satisfação; de vida indica que são os mesmos conceitos que remete a esencia e os aspectos fundamentáis da existencia humana.

Ao analisar a expressão acima, percebe-se porque o seu conceito está impactando de tal modo nos campos da educação, do cuidado com a saúde, dos serviços sociais e das famílias, aspectos que nos fazem pensar em indivíduos, políticas e práticas que modificam a vida das pessoas e as suas percepções de uma vida de qualidade.

O que pode significar, verdadeiramente, qualidade de vida? Na tessitura da resposta que perpassa pelos nossos ciclos de vida, é possível afirmar que tal busca é um grande desafio ao longo da vida e que se transforma em aprendizado.

Analisando as ideias acima apresentadas, é imperioso que nos remetamos ao pensamento sistêmico, como aporte para se falar sobre qualidade de vida, tendo em vista que este é um paradigma da ciência que responde às crescentes necessidades do homem contemporâneo. Para Schalock e Verdugo (2003), o conceito de qualidade de vida, desde uma perspectiva transcultural de sistemas, trata de integrar tanto os aspectos étnicos (por exemplo, dependentes da cultura) como éticos (por exemplo, universais). Desse modo, o exercício de pensar naquilo que nos leva ao bem viver, enquanto qualidade de vida integra o pensamento sistêmico. Ainda, na perspectiva do olhar sistêmico, é importante dizer que qualidade de vida diz respeito

às relações, à satisfação, à segurança econômica, à inclusão social, à autodeterminação, à privacidade, à saúde e ao crescimento. Diferentes pesos e valores são dados a cada item, dependendo do ciclo de vida em que o sujeito se encontra. Isso posto, passemos à definição, de acordo com os autores supracitados, sobre qualidade de vida. São três conceitos importantes para a compreensão do que é qualidade de vida, na prática: nível de vida, o próprio conceito de qualidade de vida e o estilo de vida.

Nível de vida se traduz no quanto uma pessoa atende a padrões de natureza econômica e social, internacionalmente aceitos, tais como educação, saúde, moradia, emprego, lazer, etc. Assim, alguém que tenha emprego estável, more em casa própria de alvenaria, em rua asfaltada, com água encanada, esgoto e transporte público nas imediações, possui um nível de vida mais elevado do que alguém sem emprego fixo, morador de barraco em favela, sem condições mínimas de higiene e conforto. Nível diz respeito ao ter, à posse, ao acesso e à propriedade de bens e serviços, tem a ver com atingir marcas na escala socioeconômica da vida moderna. É uma variável econômica, social e política da maior importância, que deve ser objeto de planejamento macroeconômico para a garantia do bem-estar da população e a eliminação de qualquer grupo de pessoas eventualmente excluído da posse, dentro dos padrões considerados mínimos de sobrevivência.

Referindo-se à qualidade de vida, o conceito se traduz no quanto uma pessoa efetivamente usufrui de suas posses, tanto materiais (bens e serviços) quanto naturais (dotes intelectuais, físicos,) e diz respeito ao uso.

Vivemos em uma sociedade habituada a mercantilizar e a monetizar tudo, inclusive pessoas e relações, e a tendência é confundir qualidade de vida com nível de vida. E é isso que a mídia tem tratado de explorar: comprar faz bem, dá (um pseudo) poder!

O conceito “estilo de vida” está associado, basicamente, à maneira como alguém vive, o seu comportamento, a sua postura, a sua maneira de se posicionar diante da vida e de vivê-la. Diz respeito à forma que a pessoa adota para se conduzir e fazer escolhas nos diversos setores, aspectos e situações de sua vida. O sujeito pode levar a vida “numa boa”, na sua concepção, ”não deixa nada por menos”, e um outro leva a vida a ferro e fogo, tira tudo a limpo e vai “à forra” por qualquer coisa. Paradoxalmente, pode valorizar as suas relações, colocando a

amizade e o carinho entre as pessoas como seus bens mais elevados ou pode acreditar que as pessoas valem de acordo com a quantidade de dinheiro que têm e que só vale a pena perder tempo com outros, para atender algum interesse pessoal. Por outro lado, pode passar o dia inteiro sentado, sem se exercitar fisicamente ou fazer caminhadas ao ar livre todos os dias, mesmo para ir simplesmente ao trabalho. Pode vestir-se de uma maneira mais descontraída ou abrigar-se debaixo de roupas pesadas e cinzentas, que tanto a fazem parecer tremendamente séria, bem como a distanciam mais ainda do comum dos mortais. É a maneira como se leva a vida que denuncia quem realmente somos.

Pode-se fazer um link entre questões que muito interferem na qualidade de vida, são as questões de ordem emocional e a importância da família em nossas vidas. A família exerce uma grande influência em nosso processo emocional e serve como passagem para nossos desejos e realizações.

Segundo Nichols (1990, p. 8),

[...] a família tem regras e um poder irresistível. Viver no mundo real, tentar lidar com ela, o trabalho e as implacáveis pressões econômicas é como ser apanhado por uma correnteza. A corrente é forte, e, frequentemente, nos sentimos indefesos em seu poder. O segredo é deixar correr, adaptar-se à corrente. A verdade é que não somos agentes livres e independentes. Muitas pessoas se exaurem lutando contra essa realidade, pois a aceitação dos laços familiares, ou dos limites do próprio caráter, parece um ato de rendição. A vida em família realmente define e limita nossa liberdade, mas também oferece um potencial inexplorado para a realização e a felicidade pessoais.

Para expor minhas ideias sobre qualidade de vida, família e sentimentos descrevo um hipotética busca de equilíbrio e qualidade de uma família. Inicialmente para esse hipotético núcleo familiar, no momento, ter qualidade de vida significava, em um primeiro momento, sobreviver enquanto família, passando os conceitos sobre qualidade de vida por valores inicialmente bem primitivos, como, por exemplo, superar uma grande perda, estar passando por problemas de sobrevivência, etc. Um dos recursos usados pela família foi muitas vezes usar o bom senso frente às adversidades que a vida os impunha. A força da união familiar transportou barreiras e tornaram-se aprendizes mais resilientes, mais forças adquiriam a cada etapa vencida.

Esse episódio de busca de qualidade de vida nos remete a Claxton (2000) que diz que cada um de nós tem uma natureza interna essencial, biologicamente alicerçada e que a natureza interna de cada pessoa é, em parte, singularmente sua e, em parte, universal na espécie.

Ainda falando sobre a busca pela qualidade de vida acrescento Mosquera (2004) quando diz que “todos os seres humanos têm potencialidades a serem desenvolvidas com grandes possibilidades de alcançar níveis mais elevados de compreensão pessoal e de conhecimento no mundo que os rodeia”.

Para outra hipotética família ter qualidade de vida passava necessariamente pela busca da qualidade de vida profissional, que se traduz em uma sólida carreira, investimento nos estudos e consequente satisfação pessoal e financeira.

Faria (2009), escrevendo sobre Qualidade de Vida no Trabalho, questiona como equilibrar tudo. Coloca que cada vez mais nos acostumamos com a correria maluca da vida moderna e tornamos uma série de atividades mecânicas. Diz ainda que a gente se acostuma. Acostuma-se a não passear durante a semana, a chegar em casa extremamente cansado com necessidade de dormir rapidamente, a não ver um bom filme porque não tem energia (e dorme na metade). E, por nos acostumarmos, passamos a achar tudo normal. A mecanização de várias atividades, aliada a uma intensa jornada de trabalho, afasta as pessoas da prática de atividades de lazer, e o sedentarismo acaba levando ao estresse, aos problemas de saúde e até a dificuldade nos relacionamentos. É preciso criar uma nova disciplina, direcionando as atividades em função de uma melhor administração do tempo para que haja espaço para se fazer de tudo na vida. De que vale um excelente profissional se ele está sempre estressado, cansado e irritado? Estes ditos por Faria interferem diretamente na falta de qualidade de vida e considero um problema da idade adulta.

Considero essencial nessa busca (intermitente) pela qualidade de vida o relacionamento entre aprender e proteger-se. Quando sabemos quando é certo persistir em uma coisa e quando é mais inteligente deixá-la de lado? É sabido que algumas pessoas diante das dificuldades não se tornam “aprendizes resilientes”15,

15 Aprendiz resiliente diz respeito ao aprender a suportar a se achar nos momentos difíceis

mas talvez possam ser mais desenvoltas, pois buscam engenhosamente novas maneiras de superar os problemas.

Na busca da melhor qualidade de vida entram no processo de aprendizagem individual e coletivo, as estratégias para a resolução de problemas, e remetendo a vida adulta plena podemos falar sobre as experiências vividas e adquiridas ao longo dos anos. O bom seria se todos estivéssemos dispostos a tentar, sempre. Para Claxton (2000), aprender a aprender é uma possibilidade muito mais interessante e universal do que uma preocupação com as habilidades de estudo. O modo como as pessoas comportam-se como aprendizes tem tanto a ver com o que elas acreditam quanto com as habilidades que dominam.

Concordo com o autor e friso que as crenças pessoais e desenvoltura fazem o diferencial no processo de aprendizado para a qualidade de vida. Viver com qualidade de vida é aprender constantemente, e nessa perspectiva, a aprendizagem não é fundamentalmente intelectual.