• Nenhum resultado encontrado

Em relação ao primeiro objetivo específico, buscou-se descrever a trajetória de carreira dos sujeitos, mapeando estágios e ciclos relevantes ao longo do desenvolvimento profissional, a partir da suposição de que o indivíduo não iniciou sua vida profissional como artesão e, posteriormente, passou a ter o artesanato como sua única atividade produtiva.

Os resultados obtidos validam esta suposição, pois os artesãos apresentaram diferentes trajetórias de carreira, de modo que, mesmo aqueles que iniciaram a vida profissional no campo do artesanato, também experimentaram outras ocupações até tornarem- se artesãos definitivamente.

Nos casos de Espedito Seleiro e Lúcia Pequeno, estes começaram a trabalhar no ofício artesanal ajudando os pais, também artesãos, mas atuaram em outras ocupações antes de se dedicarem exclusivamente ao artesanato. Maria Cândido, Dona Francisca e Pedro Balaieiro trabalharam como agricultores desde a infância. A primeira só trabalhou nesta atividade até tornar-se artesã definitivamente aos trinta e três anos. A segunda, no entanto, a partir dos doze anos, passou a manter tanto a atividade artesanal como a agricultura como atividades produtivas, ambas essenciais à sua sobrevivência. Pedro Balaieiro, por sua vez, chegou a ser comerciante informal e agricultor antes de se estabelecer profissionalmente como artesão. A trajetória de Dona Nice é a mais peculiar, visto que a mesma acumulou, ao longo da carreira, as atividades de artista plástica, artesã e arte-educadora, de modo que o artesanato em nenhum momento foi sua única atividade produtiva.

O segundo objetivo específico procurou investigar as motivações e a inserção dos profissionais na carreira de artesão, supondo que a principal razão que levou à inserção do indivíduo na carreira foi a presença de habilidades artísticas inatas.

Os resultados obtidos validaram parcialmente esta suposição, pois Maria Cândido e Pedro Balaieiro são os casos que mais se enquadram nesta situação, pois não tinham contato algum com a atividade artesanal até que, em determinado momento de suas vidas, o artesanato surgiu como opção de carreira. Mesmo sem experiência ou quaisquer formas de aprendizado, estes sujeitos demonstraram grandes habilidades e talentos inatos. Dona Nice, por sua vez, também mostrou talento e habilidades naturais, já que, na infância, aprendeu apenas o básico em relação ao bordado e somente retomou essa atividade quase vinte anos mais tarde. Ressalta-se ainda que Espedito Seleiro, Dona Francisca e Lúcia Pequeno eram filhos ou parentes de artesãos, o que facilitou o contato com a atividade, e o desenvolvimento de habilidades e a aprendizagem ainda na infância.

Ainda acerca desta suposição, acrescenta-se que a presença de habilidades inatas não foi o único fator motivador da decisão de ingressar na carreira de artesão. Dentre os outros gatilhos que desencadearam o ciclo de carreira correspondente ao artesanato, estão: necessidade de realização (Espedito Seleiro), necessidade de sobrevivência e identificação com a atividade (Maria Cândido, Dona Francisca, Lúcia Pequeno e Pedro Balaieiro), necessidade de autonomia (Dona Francisca), ausência de outra oportunidade de trabalho (Lúcia Pequeno) e ocupação do tempo livre aliada à forte identificação com a atividade (Dona Francisca).

Como terceiro objetivo específico, procurou-se avaliar a importância dos fatores capacitação, reconhecimento e crescimento do negócio ao longo dos ciclos de carreira, a partir da suposição de que a principal dificuldade enfrentada pelos artesãos é a ausência de capacitação gerencial.

Os resultados apontam a ausência de capacitação gerencial no que se refere a dificuldades relacionadas ao aumento de produção e comercialização das peças. Mesmo com o reconhecimento proporcionado pelo título, o qual, no geral, trouxe melhorias para os negócios, os artesãos não conseguiram se profissionalizar e, com exceção de Dona Nice, praticamente delegam a gestão de suas carreiras e negócios à CEART, já que ela é sua principal compradora e revende seus produtos. Assim, estes artesãos não conhecem seus

clientes fora do Estado ou país e muitas vezes têm seu nome utilizado ilegalmente. A análise dos desafios enfrentados pelos sujeitos releva que, embora o artesanato tenha grande potencial para gerar renda, empregos e, por conseguinte, desenvolvimento local, a mesma ainda é vista como uma atividade informal que remete ao empreendedorismo por necessidade. Os aspectos mencionados validam, portanto, a suposição proposta.

O quarto objetivo específico propôs investigar a situação atual do artesão e suas aspirações, em termos de reconhecimento, capacitação e crescimento do negócio. A suposição inicial deste quarto objetivo específico é que o artesão busca capacitação, a qual, aliada ao reconhecimento, pode possibilitar o crescimento do negócio.

Os resultados alinham-se parcialmente à suposição proposta, pois, dos sujeitos analisados, apenas Maria Cândido, Dona Francisca e Lúcia Pequeno ainda demonstram interesse em aprender a confeccionar novas peças ou dar continuidade aos estudos. Em relação a planos e aspirações, os artesãos não demonstram muito entusiasmo em relação ao crescimento do negócio, o que pode estar associado ao estágio de manutenção de carreira no qual os mesmos parecem se encontrar, embora ainda possuam certas expectativas como a retomada dos estudos (Maria Cândido) ou interesse em aprender a confeccionar novas peças e utilizar novas técnicas e ferramentas (Lúcia Pequeno e Pedro Balaieiro). Nenhum dos sujeitos fez menção à necessidade de capacitação gerencial para expandir suas vendas ou o negócio ou mesmo sentir falta desse tipo de conhecimento.

Quanto à decisão de carreira tomada, todos os sujeitos mostraram-se satisfeitos por serem artesãos, a ponto de não mencionarem querer interromper suas atividades produtivas como tal, embora os mesmos já enfrentem algumas dificuldades em relação a problemas de saúde, devido à idade. Essa forte identificação com o artesanato é uma característica da carreira empreendedora que fortemente se destacou entre os sujeitos.