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2.4 O artesanato na economia criativa

2.4.1 Relevância da atividade artesanal

A relevância do artesanato, segundo a UNESCO (2008), pode ser compreendida através de seu papel econômico, social e cultural. Neste sentido, Freitas (2006) se refere ao artesanato como uma atividade portadora de elementos culturais que gera trabalho e renda, adquirindo, assim, uma função socioeconômica que pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos artesãos.

Na dimensão econômica, Filgueiras (2005) afirma que o artesanato é considerado um sistema de produção que representa um empreendimento econômico. Conforme o BNB (2002), o artesanato também se apresenta como um instrumento estratégico de desenvolvimento regional, pois gera emprego e renda para pessoas com baixos níveis de capacitação, atinge parcelas significativas da população e tem um custo de investimento relativamente baixo, visto que na maioria das tipologias, utiliza-se a matéria-prima natural disponível na região.

Conforme dados do IBGE (2007), dentre as atividades culturais e artísticas desenvolvidas no Brasil, o artesanato se destaca como uma das principais manifestações culturais do país, estando presente em 64,3% dos municípios brasileiros. A atividade artesanal ainda movimenta uma série de eventos culturais, como as exposições e feiras de artes e artesanato, presentes em 57,7% e 55,6% dos municípios brasileiros, respectivamente.

Uma pesquisa referente a mapeamento do setor artesanal no Brasil, realizada em 2002 pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC, 2002a; MDIC, 2002b), apontou que o Brasil possuía, naquele ano, 8,5 milhões de artesãos, os quais foram responsáveis por um movimento financeiro anual de R$ 28 bilhões, correspondente a 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

A região Nordeste é uma área de grande tradição cultural e turística e desponta como cenário de ricas expressões do artesanato nacional (SEBRAE, 2005). Dados de uma pesquisa realizada pelo BNB (2002), com dados referentes ao ano de 2002, apontaram a existência de, aproximadamente, 3,3 milhões de pessoas inseridas no setor artesanal na referida região.

Além disso, o Nordeste possui ainda grande potencial turístico, cujo fluxo potencializa o desenvolvimento do artesanato, o qual é uma fonte de encantamento para os visitantes da região (BNB, 2002).

Ainda conforme dados da pesquisa supracitada, no ano de 2002, 34,4% dos municípios da região Nordeste possuíam alguma atividade artesanal, variando entre si em volume, valor e qualidade da produção. No ano de 2000, dos 614 municípios nordestinos com ocorrência de produção artesanal, apenas 79 (ou 12,9%) possuíam infra-estrutura satisfatória de produção para atender adequadamente ao mercado consumidor, e destes, somente 59 (9,6%) estavam aptos a competir no mercado externo, sendo considerados pólos de produção artesanal do Nordeste

No Estado do Ceará, 76,1% dos municípios produzem artesanato, fato que sugere a importância que o setor representa no Estado, seja nos aspectos econômico, social ou cultural (BNB, 2002). Ainda conforme a referida pesquisa, o potencial de crescimento do artesanato no Estado do Ceará é alto devido à grande concentração de artesãos, produção diversificada e boa aceitação de mercado dos produtos. Além disso, Freitas (2006) se refere ao artesanato como uma atividade que constrói a sua própria cadeia produtiva ao mesmo tempo em que está integrado a outros sistemas produtivos, como o turismo e a agricultura familiar, por exemplo.

Sobre a interação entre o artesanato e outros setores, Filgueiras (2005) toma o Estado do Ceará como exemplo, ao destacar que as relações existentes entre as atividades turísticas e o artesanato têm-se apresentado cada dia mais forte e evidente,

uma vez que os turistas, ansiosos por lembranças de suas viagens, procuram no artesanato um meio de satisfação. Nessa relação está presente a expansão do comércio do artesanato e o aumento dos pontos de venda. Locais como a Empresa Cearense de Turismo (EMCETUR), Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Mercado Central, Avenida Monsenhor Tabosa, Feirinha da Beira Mar, CEART, Barracas da Praia do Futuro e ainda o Aeroporto Pinto Martins, são espaços estratégicos de comercialização que fazem parte do roteiro turístico de todo aquele que vem à Fortaleza (FILGUEIRAS, 2005, p. 25).

Do ponto de vista social, Silva (2006) explica que, ao se estimular o resgate das atividades econômicas baseadas no fazer manual e na manufatura primitiva, promove-se, na atualidade, a inclusão produtiva de determinados segmentos populacionais menos favorecidos, principalmente aqueles estacionados no espaço entre o conhecimento informal, aprendido em relacionamentos primários e entre gerações e o ensino formal, da lógica da educação dos indivíduos para o mundo do trabalho.

De acordo com o SEBRAE (2008), na dimensão social, o artesanato merece atenção especial por gerar ocupação para pessoas que, de outro modo, não conseguiriam ter uma colocação digna no mercado, além de possibilitar o resgate da cultura, fazendo com que a tradição ganhe um sentido econômico. Trata-se, dessa maneira, de uma oportunidade de inclusão social, de acesso a renda, de melhoria da auto-estima e não apenas uma forma de sobrevivência. Além dos aspectos já mencionados, o BNB (2002) e o SEBRAE (2004) ainda destacam que o artesanato ainda promove a inserção da mulher e do adolescente em atividades produtivas, estimula a prática do associativismo e fixa o artesão no local de origem, evitando o crescimento desordenando dos centros urbanos.

Para o BNB (2002), o quantitativo de artesãos no Nordeste brasileiro constitui um contingente significativo de trabalhadores do mercado informal. Eles encontraram na produção de artesanato uma forma de garantir sua própria subsistência e de suas famílias. Assim, estimular o desenvolvimento do artesanato nordestino significa abrir possibilidades de atenuação das disparidades socioeconômicas existentes na região, além de promover a preservação de valores da cultura popular local.

Na dimensão cultural, o artesanato inclui tradição, estética, raridade e emoção, e os artesãos, de forma criativa e inovadora, expressam um saber que é transmitido ao longo do tempo (UNESCO, 2008). Sobre a relevância cultural desta atividade, Barros (2006, p. 99) assevera que o artesanato, “ao firmar-se como um importante agente de manutenção e perpetuação de manifestações culturais, na medida em que é identificado pelo resgate de técnicas e produtos do passado, representa também a propagação de uma memória cultural”.

Dias Filho e Oliveira (2008, p. 12) analisam a relevância cultural do artesanato sob a perspectiva do artesão e do consumidor:

ao produzir o artesanato o artesão está, mesmo inconscientemente, rememorando a sua prática material mediante a recriação simbólica de suas relações sociais. Já o consumidor, quando compra uma peça de artesanato, interage com o tempo e o lugar, porque a fruição estética e o uso prático dele permitem-lhe vivenciar a lógica cultural de uma localidade cujos costumes, muitas vezes, se distinguem dos seus e por causa disso reinventa o objeto dando-lhes novas conotações (re-significação). Percebe-se, dessa maneira, que as atividades artesanais parecem ser bastante representativas na economia nacional e em especial na economia nordestina e cearense. Nesta região, o patrimônio cultural e artístico se destaca no contexto nacional e o artesanato se

sobressai como uma atividade responsável pela criação de empregos e de renda, promovendo, assim, o desenvolvimento local.