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Nos estudos de caso, utiliza-se o termo unidades de análise para se referir às unidades de observação, a respeito das quais as inferências serão feitas (VIEIRA, 2004). Nesta pesquisa, como cada caso é um indivíduo e não grupo ou organização, a unidade de análise é individual, ou seja, são os próprios indivíduos que se configuram como sujeitos de pesquisa.

Quanto ao procedimento de seleção dos sujeitos (casos), foi necessário levar em consideração duas questões metodológicas: a) Como tratar a diversidade do campo artesanato?; e b) Como tratar ou diferenciar as situações de fracasso e de sucesso empreendedor para apreensão dos elementos de pesquisa?

Assim, para o estabelecimento dos casos, partiu-se do conceito de “Mestres da Cultura Tradicional Popular” ou “Tesouros Vivos da Cultura”. O título refere-se a um reconhecimento simbólico da importância do artista popular no contexto cultural do Estado do Ceará (SECULT-CE, 2009). Considerou-se que os indivíduos que detém o título de Mestre da Cultura ou Tesouro Vivo da Cultura Tradicional Popular do Ceará e se dedicam ao artesanato são sujeitos capazes de fornecer os dados necessários à realização desta pesquisa, visto que, conforme mencionado nos próprios editais e leis estaduais, estes tiveram e têm sua vida e obra voltadas para a cultura tradicional do Ceará, são reconhecidos publicamente por seu trabalho desenvolvido, possuem experiência e vivência dos costumes e tradições culturais, continuam exercendo sua atividade atualmente e possuem capacidade de transmitir seus conhecimentos artísticos e culturais (CEARÁ, 2008).

Além destes aspectos, na escolha dos Mestres, é levada em consideração também análise socioeconômica do candidato (CEARÁ, 2008), remetendo à suposição de que o título e a ajuda concedida pelo Governo do Estado remetem a uma situação de insucesso na carreira empreendedora ou a um empreendedorismo involuntário (FILION, 1999) ou por necessidade (DORNELAS, 2007; GEM, 2008), já que estes sujeitos necessitam deste benefício por não apresentaram rendimentos compatíveis com a qualidade da sua produção.

Assim, os critérios de seleção dos casos, basicamente, foram: a) ser diplomado Mestre ou Tesouro Vivo da Cultura Tradicional Popular do Ceará; b) Desenvolver atividades no campo do artesanato.

Estabelecidos esses critérios, foi empreendida uma pesquisa no sítio da SECULT-CE (2009), na qual foram identificados os dados referentes aos cinqüenta e sete mestres diplomados entre os anos de 2004 e 2008, os quais representam os Tesouros Vivos do Estado do Ceará, bem como informações acerca dos dois grupos selecionados no edital de 2008. Como o foco deste trabalho são os artesãos e, conforme foi estabelecido nos critérios a serem utilizados para a seleção dos casos, foram identificados dez (10) possíveis sujeitos desta pesquisa, ou seja, dos cinqüenta e sete (57) Tesouros Vivos, dez (10) deles se dedicam ao artesanato, conforme se pode observar no Quadro 4.

ANO DO

DIPLOMA NOME ARTÍSTICO NOME CIDADE DESENVOLVIDA ATIVIDADE

2004 Maria de Lourdes Cândido Monteiro Cândido Maria Juazeiro do Norte Artesanato em barro 2004 Lúcia Rodrigues da Silva Pequeno Lúcia Limoeiro do Norte Artesanato em cerâmica e barro

2005 Maria Alves de Paiva Dona Branca Ipu Artesanato em Cerâmica

2005 Francisca R. Ramos do Nascimento Francisca Dona Viçosa do Ceará Arte em Cerâmica 2006 Joaquim Pereira Lima Joaquim de Cota Assaré Artesanato em Couro 2006 Manoel Graciano Cardoso dos Santos Graciano Mestre Barbalha Artesanato em Madeira 2006 Pedro Alves da Silva Balaieiro Pedro Guaramiranga Artesanato com trançado em cipó e imbé 2007 Maria Assunção Gonçalves Gonçalves Assunção Juazeiro do Norte Bordado, rendas artes plásticas (pintura) 2007 Maria de Castro Firmeza Dona Nice Fortaleza Bordado e artes plásticas 2008 Espedito Veloso de Carvalho Espedito Seleiro Nova Olinda Arte em couro

QUADRO 4 – Mestres ou Tesouros Vivos da Cultura Tradicional Popular do Ceará.

Fonte: Adaptado de SECULT-CE (2009, s/p).

Foram empreendidos esforços para a obtenção do contato telefônico e do endereço dos Mestres da Cultura do artesanato. Primeiramente, essas informações foram solicitadas à SECULT-CE, por meio de contato telefônico e e-mails. No entanto, muitos contatos estavam desatualizados ou tinham sido modificados, o que impediu o contato com os artesãos. Em seguida, visitou-se a CEART, onde foram obtidos novos contatos. Mesmo assim, apenas três artesãos foram contatados e se dispuseram a participar da pesquisa. Diante desta situação, buscou-se também a colaboração de prefeituras e secretarias de cultura dos municípios citados no Quadro 4, mas também sem sucesso.

Diante de tais dificuldades, foi necessário realizar viagens até as localidades nas quais se encontravam os (as) artesãos (ãs) e fazer contatos com moradores da cidade para que estes pudessem dar alguma informação relacionada ao número de telefone ou endereço dos

Mestres da Cultura. Além dos três Mestres contatados anteriormente, foi possível o contato outros cinco. No entanto, dois deles alegaram que, por problemas de saúde e por já serem bastante idosos, não teriam mais condições de dar qualquer tipo de entrevista. Tal fato foi confirmado por membros das suas famílias e por pessoas próximas aos mesmos. Nessa situação, não foi possível a realização de entrevistas com tais indivíduos.

Assim, o estudo cobre 6 (seis) dos 10 (dez) detentores do título, o que pode permitir uma visão satisfatória do campo. Este procedimento é não probabilístico (COOPER; SCHINDLER, 2003; MARCONI; LAKATOS, 2007) e baseou-se na acessibilidade (VERGARA, 2007), pois os casos foram selecionados pela facilidade de acesso aos mesmos.

Não sendo um estudo quantitativo, a quantidade de sujeitos estabelecida é aceitável, visto que, conforme afirmam Collis Hussey (2005), numa pesquisa de caráter qualitativo, é possível conduzir o estudo até com uma amostra de um. Além disso, Triviños (2007) também salienta que a pesquisa qualitativa pode usar recursos aleatórios para fixar a amostra, ou seja, procura uma espécie de representatividade do grupo maior dos sujeitos que participarão no estudo, não sendo a quantificação da amostra a sua preocupação. Ao invés dela, decide aleatoriamente, considerando uma série de condições (sujeitos que sejam essenciais, segundo o ponto de vista do investigador, para o esclarecimento do assunto em foco; facilidade para encontrar as pessoas; tempo dos indivíduos para as entrevistas etc.).