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destina ao financiamento da educação pública uma proporção do PIB compatível com o nível de gastos realizados por países que têm PIB semelhante ao nosso. E que a educação pública nesses países tem um quadro muito melhor. Daí porque, aqui, o problema não seria resolvido com elevação de gastos mas sim com aumento de eficiência na realização dos dispêndios. Em relação a isso estamos na mesma situação em que estávamos frente à necessidade de se acabar com a escravidão, na segunda metade do século XIX. Havia acordo entre todos no que diz respeito à sua abolição, mas quanto aos meios, os grandes líderes da nação, aqueles que estavam comprometidos com a "manutenção de bons fundamentos macroeconômicos", fiadores da "governabilidade", queriam um método gradual, responsável, que não levasse a economia do país ao colapso. Quanto à data, conforme nos informa Rubens Ricupero em artigo da Folha de S.Paulo, no Caderno Dinheiro de 16/12/2001, apenas um membro do Conselho de Estado, respondendo sondagem feita por D. Pedro 2º, em 1867, ousou supô-la: Ah! Sim, a data... Quem sabe 1930? Seguindo esse método compatível com a "ética da responsabilidade política", quem sabe em 2065 teremos fechado essa chaga da inexistência de uma educação pública democrática no país? Em compensação, enquanto não temos dinheiro para organizar uma escola em tempo integral com instalações dignas e professores remunerados dignamente, vamos galgando posições na comparação com outros países, por exemplo, em número de proprietários privados de aviões a jato, em número de cidadãos na lista dos mais ricos do mundo, em rentabilidade dos bancos...

vezes exerce suas atividades profissionais na Educação Superior, como é natural, até porque se existe uma relação entre nível de qualificação e nível de remuneração é natural que quem seja mais qualificado assuma os posto mais bem remunerados na estrutura ocupacional e não há motivos para que seja diferente na Educação. Destarte, a descrição e caracterização das condições de vida e de trabalho dos pesquisadores e especialistas em Educação explicaria, em parte, no contexto da falta de espírito republicano, o fato de que o tema da disciplina continue não mobilizando, na proporção que deveria, a julgar pela gravidade de suas manifestações educativas, a atenção dos especialistas.

Mas a explicação para o fenômeno da desproporção entre a intensidade e a generalização das ocorrências relacionadas à disciplina e o baixo número de estudos a ele dedicado não se resume ao acima exposto. Afirmá-lo significaria também afirmar que episódios de indisciplina seriam ausentes na educação escolar de crianças, adolescente e jovens das classes dominantes e dos setores de classe média que ainda dispõem de recursos para pagar uma segunda vez pela Educação/Instrução dos filhos. E isso não ocorre de modo algum. Nessas escolas, episódios de indisciplina são tão ou mais intensos e recorrentes do que nas escolas das redes públicas estatais. Com duas diferenças. Em primeiro lugar, o espaço físico, o mobiliário, os recursos didáticos com que os alunos podem contar nessas escolas são muito mais amplos, diversificados e adequados às atividades escolares. Em geral essas escolas são arquitetonicamente mais bem construídas e contam com equipamentos diversos como quadras de esporte, laboratórios, salas de música, eventualmente piscinas e vestiários, auditórios, campo de futebol, o que permite uma multiplicação e uma variação das atividades que proporcionam maior dinamismo ao processo de ensino e aprendizagem e uma canalização mais adequada do extravasamento das energias infanto-juvenis. Em segundo lugar, tais escolas contam geralmente com um quadro de funcionários que vai desde seguranças, passando por inspetores e pessoal de limpeza e chegando a pessoal de apoio, inclusive técnico-pedagógico - como orientadores e psicólogos - sem falar nos professores melhor qualificados e mais identificados com o projeto pedagógico da escola, quando não por outros motivos, pelo menos pelo fato de que, em geral, como organizações privadas, as escolas têm uma cultura institucional, sobretudo as religiosas ou não lucrativas, capaz de galvanizar a ação daqueles que estão envolvidos em suas atividades, seja como aluno, seja como professor, seja como funcionário.

Quem tem experiência do que seja a ampla e complexa tarefa de planejar e implementar o funcionamento de uma unidade escolar, às vezes com milhares, e normalmente com centenas de alunos de variadas faixas etárias, sabe da importância desses recursos e instrumentos para a realização das atividades educacionais e, principalmente, sabe da importância que a manutenção do asseio, do bom estado de conservação do prédio e dos equipamentos, de uma cultura organizacional clara e fortemente explicitada, da presença ativa e solícita de um corpo de funcionários qualificados e bem treinados têm na redução das ocasiões para atritos, agressões, fraudes, burlas, etc. e na constituição de uma dinâmica das relações interpessoais capaz de favorece o ensino e a aprendizagem e apta à configuração de um quadro em que os naturais conflitos sejam administráveis e mantidos sob controle.

Nada disso quer, entretanto, dizer, que episódios de indisciplina não se manifestem com grande intensidade nesse meio. O que ocorre é que nele há formas distintas de episódios de indisciplina e estes não explodem caoticamente em todas as direções. Os professores dessas escolas certamente não temem pela sua integridade física ou pela incolumidade de seus automóveis, guardados nos estacionamentos. Estão sempre certos de que encontrarão, intacto, o material. São poupados das sensações de vulnerabilidade, de insegurança física, seja no interior das unidades escolares, seja quando se deslocam pelas suas adjacências, antes e depois de suas jornadas de trabalho, o que de modo algum acontece com aqueles que lecionam nas dezenas de milhares de escolas das redes públicas estatais das periferias das grandes cidades. Mas não são poupados da tensão psicológica a que estão submetidos, cada vez mais, diante da ampliação do espaço dos “direitos” que a chamada Educação moderna produz, diante do desvanecimento das fronteiras entre adultos e crianças, entre pais e filhos, entre professores e alunos, o que os acaba submetendo às atitudes derrisórias desses mesmos alunos, que cada vez mais, inclusive como resultado de concepções educacionais que cultivam dogmas como o de que o professor é mero coadjuvante do processo educacional, à medida em que os educandos é que devem construir seus conhecimentos, ou como o que diminuiu a distância entre trabalho e brinquedo, entre estudo e diversão, entre escola e vida16, são vistos pelos discentes como um serviçal a mais, talvez um pouco mais graduado que as babás ou empregadas domésticas que lhes carregam as mochilas, lhes cozinham a comida, lhes servem as refeições e lhes lavam as roupas, ou no máximo como