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Quanto à interpretação da expressão “sem tardar”, a partir de norma costumeira consagrada pela Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, APRESENTADO EM 09 DE JANEIRO DE 2003 (A VENA AND O THER M EXICAN N ATIONALS M EXICO V U NITED

6.2. Quanto à interpretação da expressão “sem tardar”, a partir de norma costumeira consagrada pela Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados

A Corte concluiu que a Convenção não define expressamente o sentido do termo “sem tardar” do artigo 36, 1(b) da Convenção de Viena. A interpretação pela Corte foi feita de acordo com os artigos 31 e 32 da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969. Começa interpretando o artigo 36.1 (b), que possui três elementos inter-relacionados: a) o direito do indivíduo de ser imediatamente informado de seus direitos ao abrigo do artigo 36.1(b); b) a direito do Posto Consular, de ser imediatamente notificado da detenção do indivíduo, se ele assim não se opuser expressamente e; c) a obrigação do Estado Receptor de transmitir, “sem tardar”, a comunicação endereçada ao Posto Consular, sobre seu nacional detido. Ainda, que o dever do Estado Receptor de informar o indivíduo

195 Case concerning Avena and other Mexican nationals (Mexico v. United States of America),

ICJ Reports of Judgments, advisory opinions and orders (31/03/2004), parág. 35.

196 Case concerning Avena and other Mexican nationals (Mexico v. United States of America),

surge assim que se perceber que se trata de um estrangeiro, ou assim que houver motivos para suspeitar que a pessoa é, provavelmente, um estrangeiro. Precisamente quando isso pode ocorrer varia de acordo com as circunstâncias, ou seja, não deve

ser interpretado como “imediatamente após a prisão e antes do interrogatório”.197

E haja vista a diversidade cultural da sociedade norte americana, a língua que uma pessoa fala, ou sua aparência, não indica necessariamente que ele é um estrangeiro. Desta forma, a Corte sugeriu que o dever de informar todo cidadão estrangeiro detido de seu direito de assistência consular poderia ser equiparado à

leitura dos direitos MIRANDA WARNING.198

a) Quanto ao costume internacional da proteção diplomática

Igualmente ao caso LAGRAND, os Estados Unidos alegaram que em

vários dos 52 casos, não havia ocorrido o requisito costumeiro da exaustão dos recursos de direito interno, tampouco o procedimento de clemência. A Corte,

retomando a decisão do caso LAGRAND, observou que os direitos individuais dos

cidadãos mexicanos devem ser afirmados, em qualquer caso, em primeiro lugar, no âmbito do ordenamento jurídico interno dos Estados Unidos. E quando esse procedimento está concluído e os recursos locais se esgotam é que México teria o direito de expor a pedidos individuais de seus cidadãos por meio do costume internacional de proteção diplomática. No entanto, a Corte concliou que, no caso, o México sofrera prejuízos tanto diretamente, e também indiretamente por meio de seus nacionais, como resultado da violação pelos Estados Unidos das obrigações que

197 Case concerning Avena and other Mexican nationals (Mexico v. United States of America),

ICJ Reports of Judgments, advisory opinions and orders (31/03/2004), parág. 63, 87, 88.

198 Estes direitos incluem, nomeadamente: 1) o direito de permanecer calado; 2) o direito de ter um

advogado presente durante o interrogatório, e; 3) o direito de ter um advogado nomeado às custas do governo, se a pessoa não pode pagar por um. A Corte constata que, de acordo com os Estados Unidos, essa prática em relação aos direitos da Convenção de Viena já está a ser seguido em algumas jurisdições locais. Case concerning Avena and other Mexican nationals (Mexico v. United States of America), ICJ Reports of Judgments, advisory opinions and orders (31/03/2004), parag. 64.

lhe incumbem por força do artigo 36.1 da Convenção. Daí porque o dever de

exaustão dos recursos de direito interno não se aplicaria ao caso.199

b) Quanto ao pedido de interpretação e pedido urgente de nova ordem de medida provisória em caso formalmente encerrado

Em 5 de junho de 2008, o governo do México apresentou perante a

Corte da Haia, pedido de interpretação do parágrafo 153(9) da sentença AVENA de 31

de março 2004. Solicitou orientação quanto ao alcance e significado das obrigações de reparação incumbidas aos Estados Unidos, se a condenação à revisão e reconsideração, seria uma “obrigação de resultado”, ou de “meio”. Na mesma data, o México pediu que a Corte ordenasse Medida Provisória, até que o pedido de

interpretação fosse julgado, para o fim de assegurar que JOSÉ ERNESTO MEDELLÍN,

CÉSAR ROBERTO FIERRO REYNA, RUBÉN RAMÍREZ CÁRDENAS, HUMBERTO LEAL GARCÍA, e ROBERTO MORENO RAMOS não fossem executados. A Corte acatou o pedido do México e ordenou Medida Provisória em 16 de julho de 2008.

Foi a primeira vez que um pedido urgente de medida provisória foi apresentado perante a Corte em caso que já havia sido formalmente encerrado, dando a entender que além da interpretação, o pedido tinha a ver com a implementação da

199 Em voto separado, o Juiz Vice-Presidente RANJEVA observa, referindo-se ao caso da Corte

Permanente de Justiça Internacional, (Mavrommatis Parlestine Concessions, Judgment No. 2, 1924, P.C.I.J., Scries A, p. 12), que, tradicionalmente, a proteção diplomática é essencialmente uma instituição de interesse geral ou comum do direito internacional: "É um princípio elementar de direito internacional que um Estado tem o direito de proteger seus súditos, quando prejudicados por atos contrários às leis internacionais, cometidas por outro Estado, de quem eles foram incapazes de obter satisfação por meio dos canais normais. Ao assumir o caso de um dos seus sujeitos, e recorrendo à ação diplomática ou processos judiciais internacional em seu nome, o Estado está, na realidade, afirmando os seus próprios direitos - o direito de assegurar, na pessoa de seu súdito, o respeito pelas regras do direito internacional". Ele questiona a clareza da decisão da Corte sobre a questão, afirmando que à luz dos termos utilizados pela CPJI, não há uma conclusão clara: a proteção diplomática é um direito que pertence ao Estado. Assim, em matéria de proteção dos direitos individuais dos cidadãos, a questão é saber se existe um lugar para a proteção diplomática e ressalta: “Se eu tiver entendido corretamente, essas proposições (quanto à proteção diplomática) contemplam a atribuição direta de direitos individuais, mas não impõe qualquer condição prévia para Estados que pretendem invocar a violação dos direitos dos seus nacionais (como o requisito da exaustão dos recursos de direito interno).” Case concerning Avena and other Mexican nationals (Mexico v. United States of America), ICJ Reports of Judgments, advisory opinions and orders (31/03/2004), Declaration of Vice-President RANJEVA, pp. 76-78.

decisão, o que nem a Carta das Nações Unidas e tampouco o Estatuto da Corte Internacional de Justiça prevêem.

Em 19 de janeiro 2009, no julgamento do pedido de interpretação do

México, a Corte decidiu que bastava reiterar que a decisão AVENA, de 31 de março

de 2004 permanecia vinculante, e que os Estados Unidos continuavam sob a obrigação de implementá-la. Ressaltou que o País violara a medida provisória

ordenada em 16 de julho de 2008, ao ter executado JOSÉ ERNESTO MEDELLÍN em 5 de

agosto de 2008 sem garantir-lhe a revisão e reconsideração da condenação. Mas negou o pedido feito pelo México de ordenar garantia de não-repetição contra os Estados Unidos, eis que o País já havia se comprometido a engajar-se no

cumprimento da Convenção de Viena de 1963, desde o caso LAGRAND.200

6.3. A posição dos Estados Unidos perante o Direito Internacional, a partir da