• Nenhum resultado encontrado

5.3 A Teoria da Objetificação e a Pedagogia Freireana: outros aspectos

5.3.4 Quanto ao papel do professor e do aluno

Apesar das transformações nos sistemas educacionais devido às novas demandas da sociedade contemporânea, ainda existem correntes na educação nos quais cabe ao professor ensinar, ser o detentor do saber e ao aluno somente memorizar conceitos e técnicas exercitadas à exaustão. Na Educação Matemática, não é diferente. Ainda é comum salas de aula com professores usando a estratégia de preencher o quadro (negro, verde ou branco), explicar conceitos e resolver exercícios para que os alunos copiem e repitam os métodos e técnicas apresentados.

A escola dita tradicional, com suas inúmeras variações, aquela em que o professor ensina e o aluno aprende, muito se assemelha à concepção bancária de educação (FREIRE, 2005). Neste tipo de educação, cabe ao professor depositar conceitos, técnicas, conteúdos das inúmeras áreas do conhecimento na mente dos estudantes. O papel do professor é simplesmente de orador para alunos meros ouvintes.

Certamente, a tarefa educacional da escola atual não se reduz somente ao ensino tradicional na concepção bancária de educação. É comum encontrar professores e alunos que debatem, discutem durante o processo em sala de aula e, em muitos casos, essa discussão se estende para além da sala, da escola, para o campo cibernético. Há uma preocupação educacional para além do papel do professor como detentor do saber e depositante de conteúdos na mente dos alunos.

No entanto, a escola é um lugar de circulação e geração permanente de saberes, geralmente, os saberes científicos. Logo, um campo apto a diversos experimentos educacionais. Como fruto dessas experiências, a corrente construtivista piagetiana foi de grande aceite no âmbito educacional desde as últimas décadas do século XX. Tal corrente influenciou e continua influenciado diversos pesquisadores no campo da educação, particularmente, na Educação Matemática.

O ideal construtivista recai sobre o aluno autônomo construtor de seu próprio aprendizado, adaptando-se continuamente, um aparente cientista a descobrir, a investigar o mundo. Nessa concepção, o papel do professor se reduz a fornecer condições ideais para que o aluno consiga construir seu próprio conhecimento.

Nas correntes socioculturais, o papel do professor se assemelha a de um provocador que aponte situações no qual o diálogo com e entre os alunos seja um campo fértil para a construção coletiva tanto no âmbito do aprendizado do conhecimento quanto na formação do ser social, comunitário.

O papel provocador, inquiridor e questionador do professor faz-se presente na Teoria da Objetificação e na Pedagogia Freireana. Isto é primordial para manutenção do diálogo a fim de direcionar os esforços dos alunos para os objetivos da atividade, do debate e da formação de cidadãos crítico-reflexivos. Nas palavras do próprio idealizador da Teoria da Objetificação,

one of the roles of the teacher is to offer students rich classroom activities featuring, in a suitable manner, the encounter with the various layers of generality of historical cultural objects and the encounter with other voices and forms of understanding. (RADFORD, 2008d, p. 12).

Essas atividades também são basilares na Pedagogia Freireana. São elas que permitem o diálogo entre as pessoas utilizando-se de toda a carga de significados dos objetos culturais; permitem o exercício de falar e ouvir, o respeito mútuo entre as pessoas e entre as mais diversas opiniões, concepções ou formas de idealização do mundo.

Vale lembrar que a concepção de educação enquanto ensino e aprendizagem indissociáveis, tanto na Pedagogia Freireana quanto na Teoria da Objetificação, a atividade em sala de aula envolve um trabalho conjunto entre todos presentes: professores e alunos. Há momentos em que a discussão exige a intervenção de alguém capaz de mostrar caminhos a seguir; que consiga entender a lógica cultural envolvida na atividade. Resulta no surgimento da zona de desenvolvimento proximal da teoria vygotskiana.

Neste sentido, a atuação do professor não é de fornecer a resposta diretamente para alguma questão ou tarefa, mas sim, de direcionar a atenção dos alunos para determinadas características fundamentais que não foram exploradas ou percebidas na discussão. Cabe ao professor, fornecer pistas, fazer perguntas ou até resolver o problema desde que seja em constante interação com o grupo de alunos. Assim, progressivamente, tanto os alunos quanto o professor serão capazes de rever suas posições e de mudar suas concepções teóricas, caso necessário.

Neste pensamento, a Teoria da Objetificação concebe a educação como um processo dialético, de participantes interagindo que se tornam professores e alunos entre si, independentemente de suas posições institucionais (ROTH; RADFORD, 2010). Postura também defendida pela Pedagogia Freireana, ao admitir a educação como um processo comunitário: alunos e professores em constante interação, em constante processo de aprendizagem, são eternos aprendizes e professores.

Portanto, para ambas teorias, a premissa da aprendizagem com colaboração entre pessoas, mediada por signos e artefatos, é próxima da concepção vygotskiana de zona de desenvolvimento proximal. Logicamente, o professor traz consigo toda uma carga de conhecimento histórico-cultural construído por gerações anteriores e de experiências vivenciais no mundo. Mas, independentemente de todos os fatores que o levaram a posição de professor, ele não tem o poder de fazer com que o objeto do conhecimento simplesmente apareça na consciência dos alunos (ROTH; RADFORD, 2010) como defende algumas posturas educativas tradicionais.

De acordo com isso, a zona de desenvolvimento proximal, onde ocorre a objetificação do conhecimento, a aprendizagem em si, é caracterizada não pela ajuda dos mais aptos ou mais capazes, mas pelas várias perspectivas apresentadas no diálogo entre todos os participantes, alunos e professor, na direção de, progressivamente, discutir estratégias, voltar a atenção para similaridades não notadas, acatar opiniões, rever posições, refinar ideias etc., em busca do aprendizado comum.

Finalmente, na perspectiva de trabalho conjunto, para Teoria da Objetificação, os papeis do aluno e do professor vão “de encontro à formação de cidadãos éticos, cooperativos, preocupados não somente com sua aprendizagem, mas com o outro, com seu contexto vivencial; não individualistas, como nas concepções construtivistas ou outras concepções de aprendizagem.” (RADFORD, 2016, Informação verbal)42, posições também inerentes à concepção humanística-libertadora da Pedagogia Freireana.