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Viagens Escolares das Crianças

3.2 QUESTÃO MULTIDISPLINAR

Como já relatado anteriormente o comportamento de viagem das crianças ainda é um tema pouco compreendido pelos profissionais tanto do planejamento de transportes, quanto dos relacionados com a saúde física. No entanto, a importância do assunto se estende para além das fronteiras disciplinares tradicionais de planejamento. A viagem da criança para a escola, é tanto complexa quanto importante, e analisar o tema de uma forma multidisciplinar ajuda a definir seu significado e entender de que maneira a forma urbana influencia a escolha do modo de viagem da criança até a escola.

3.2.1 Transporte

Em pesquisas que estudam o deslocamento das crianças e modo de escolha do veículo, os pais relatam que os principais empecilhos a sua criança se deslocar a pé ou de bicicleta até a escola estão a distância e o intenso tráfego de veículos.

O cuidado e proteção dos pais em relação ao deslocamento ativo do seu filho até a escola, afetam o tráfego nas proximidades das escolas e impactuam de maneira

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importante a rotina dos pais, na forma de incrementos de viagens e limitação dos horários de trabalho e outras atividades, como compras ou lazer. Apesar, de uma mudança no comportamento em relação aos cuidados com os filhos nas famílias (pais e mães são responsáveis pelas atividades dos filhos, inclusive a escola), as mães tendem a fazer um número maior de viagens até a escola para deixar e buscar a criança, em relação aos pais. (ROSENBLOOM, 1987).

Segundo Bradshaw (2001) os hábitos formados mais cedo são difíceis de romper. Por isso, crianças que fazem a maioria de suas viagens de carro, quando crescem tendem a continuar com esse comportamento na idade adulta e podem ser mais relutantes em viajar por modos alternativos de transporte. Apesar de haver uma vasta literatura sobre o assunto, porém envolvendo os adultos, ainda existem poucas pesquisas envolvendo as crianças e que apoiem tal hipótese.

3.3.2 Saúde

 Atropelamentos

A morte de crianças no trânsito quer por atropelamento ou bicicleta causa um grande impacto na sociedade. Segundo dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde - DATASUS (2014) a cada morte de uma criança de 0 a 9 anos, outras quatro ficam com sequelas permanentes que irão gerar, provavelmente, consequências emocionais, sociais e financeiras a essa família e à sociedade.

Os acidentes de trânsito são a primeira maior causa de mortes entre crianças no Brasil entre 5-9 anos de idade. Ainda, segundo dados do DATASUS (2014), entre 0-9 anos aconteceram 3.142 mortes nesta faixa etária, e mais de 75 mil hospitalizações de meninos e meninas, o que caracteriza o acidente como um grave problema de saúde pública. Os acidentes de trânsito, que incluem atropelamentos, passageiros de veículos, motos e bicicletas, representaram 33% destas mortes, seguidos de afogamento (23%), sufocação (23%) queimaduras (7%), quedas (6%) e outros (6%).

Segundo Vasconcellos (2000) pode-se citar como fatores gerais causadores do alto número de acidentes viários, o acelerado processo de urbanização brasileiro, o crescimento populacional expressivo, o padrão de ocupação desordenado do solo e o aumento extremo no número de veículos no trânsito e que segundo Cardoso (1999), compreender os eventos e fatores que influenciam nas ocorrências de acidentes de tráfego é de fundamental importância para adoção de medidas que visem à redução desses acidentes no trânsito.

Diminuir a velocidade nas ruas para reduzir a gravidade de acidentes de trânsito é uma prática adotada em muitos países e que está começando a ganhar espaço nas cidades brasileiras. Em julho de 2015 a prefeitura da cidade de São Paulo baixou, a velocidade máxima nas marginais Tietê e Pinheiros. Nas pistas que permitiam 90 km/h, agora as placas indicam 70 km/h, onde era 70 km/h passou para 50 km/h. Um ano após a redução da velocidade nessas marginais, dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) em 2015, mostraram que a quantidade de acidentes com vítimas e a lentidão nas vias apresentaram queda de 38,5% e 8,7%, respectivamente.

Estima-se que a probabilidade de um pedestre vir a óbito quando atingido por um veículo a 32 km/h é de 5%, esse percentual sofre um incremento para 40% com veículos viajando a 48 km/h, 80% a 64 km/h, e quase 100% para veículos trafegando com velocidades acima de 80 km/h, Pasanen (1993). A redução da velocidade para os veículos se deslocando em zonas escolares, seria uma alternativa que a administração pública poderia utilizar como instrumento na redução dos acidentes com crianças que utilizam o modo a pé ou bicicleta para irem até a escola.

 A inatividade física / Obesidade

Como citado anteriormente, o deslocamento diário das pessoas pode contribuir para um estilo de vida mais ativo. Ir a pé ou bicicleta até a escola ou trabalho têm demonstrado associações positivas na saúde das pessoas em geral, (OLGIVIE et al., 2004). No entanto é crescente, principalmente em áreas urbanas o número de pessoas que se deslocam de forma passiva.

Segundo (NATIONWIDE PERSONAL TRANSPORTATION SURVEY – NPTS, 2007)

apud (SILVA, 2007) nos Estados Unidos, entre o período de 1969 a 1995, o aumento

do número de veículos particulares foi seis vezes maior do que o da população americana. Entre as metas traçadas pelo Department of Health and Human Services no relatório para Health People 2010 destaca-se o aumento de 31 para 50% no uso do deslocamento ativo pelos estudantes que moram a menos de 1,6 km da escola.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. A projeção é que em 2025 o número de crianças com sobrepeso no mundo pode chegar a 75 milhões. No Brasil, o aumento do número de obesos na idade infantil, também é crescente e segundo dados do IBGE (2009), 15% das crianças brasileiras estão com sobrepeso. O relatório ainda indica

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que em 1975 o percentual de crianças obesas no Brasil entre 5-9 anos era de 4,7%. Esse percentual aumentou para 28,4 % em 2009.

Pesquisas realizadas entre a comunidade de saúde relatam uma relação causal entre sedentarismo e saúde corporal. O sedentarismo está associado ao risco aumentado de doenças cardiovasculares e outras doenças crônicas e, devido a recente preocupação com o aumento na prevalência de obesidade em crianças e adolescentes, a promoção da atividade física nestas populações tornou-se uma prioridade para a saúde pública.

No Brasil ainda são escassos os estudos que abordem deslocamentos ativos das crianças até a escola, e quais são os ganhos para saúde utilizando esse modo de transporte. Algumas evidências relatam que escolares que se deslocavam ativamente para a escola, demonstraram excesso de peso e de gordura corporal menor em relação aos escolares conduzidos de carro, Silva e Lopes (2008), assim como o estudo de Souza et al. (2010), que mostrou uma relação significativa entre inatividade física e sobrepeso.

Pode-se observar que as questões relacionadas a forma urbana e a viagem das crianças para a escola é complexa. Além de ser necessário o tratamento de uma forma multidisciplinar as pesquisas existentes e os modelos de comportamento de viagem e atividade física ainda são limitadas as viagens dos adultos. Dessa forma se faz necessário um modelo que aborde: o comportamento de viagem exclusivamente para as crianças e que consiga detalhar as relações que existem na decisão da viagem da criança até a escola.

3.3 FATORES QUE INFLUENCIAM A VIAGEM DAS CRIANÇAS ATÉ A