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5.2 ANÁLISE DA ATIVIDADE FINAL

5.2.1 Questões de compreensão literal

Com o objetivo de verificarmos se os alunos, durante o processo de leitura, interagem com o texto, buscando nele, literalmente, as informações explícitas para a produção de respostas às perguntas que lhes são direcionadas, propusemos as duas questões a seguir.

Q1. A notícia relata que professores, coordenadores e representantes de 27 escolas participarão de uma palestra, na sede da Delegacia Geral em Belém, sobre o combate ao bullying nas escolas públicas e particulares de Belém e região metropolitana. Por que a palestra é dirigida apenas para as pessoas que trabalham nas escolas?

Q3. A política de prevenção ao bullying do governo paraense é semelhante a outro programa existente no Brasil. Em que se assemelha?

As questões 1 e 3 contemplam o nível literal da etapa de compreensão. Como já referido anteriormente, esse nível ocorre quando o leitor demonstra que compreendeu o enunciado da questão e a partir de uma “leitura superficial” do texto, encontra nele as informações apresentadas de forma explícita (MENEGASSI,1995, p. 87). Embora as informações estejam na superfície textual, para resolver perguntas de leitura desse nível de compreensão, o aluno-leitor precisa compreender o enunciado da pergunta e interagir ativamente com o texto, uma vez que as perguntas são elaboradas de modo que não tragam pistas textuais em sua

construção que possibilitem ao aluno, apenas, identificar no texto a informação requerida (MENEGASSI, 2010). As respostas, portanto, não são cópias de determinado trecho do texto, ao contrário, sua produção exige uma articulação coerente entre as informações encontradas.

Dessa maneira, esperávamos que os alunos não encontrassem dificuldades em resolver essas duas questões. Isso porque, em etapas anteriores do bloco didático III, já haviam realizado várias atividades a partir do enunciado concreto Governo paraense inicia combate ao bullying nas escolas, entre elas: leitura global do referido enunciado, atividade escrita sobre a dimensão social do gênero notícia a partir da leitura silenciosa do texto, estabelecimento de objetivos para a leitura detalhada. Além disso, entendemos que a localização de informações explícitas na materialidade textual facilitaria a produção de respostas apropriadas.

Com a Q1, esperávamos que os alunos, a partir das informações explícitas no texto, respondessem que a palestra foi dirigida apenas para as pessoas que trabalham nas escolas, porque o objetivo do governo paraense era formar agentes de prevenção ao bullying nas escolas.

No que se refere à Q1, dos 10 alunos selecionados, sete obtiveram êxito em suas respostas. Três, no entanto, não responderam de forma apropriada. A seguir, a título de exemplificação, expomos duas respostas adequadas dadas pelos discentes à Q1:

Oliver: “A palestra é dirigida apenas para as pessoas que trabalham nas escolas porque é para orientar eles os professores, coordenadores é diretores porque isto acontece mais nas escolas”29

.

Rebeca: “A palestra é dirigida apenas para pessoas que trabalham nas escolas por que na escola tem o maior índice de Bullying, então o governo quer formar essas pessoas para combater o Bullying”.

Oliver e Rebeca estão entre os sete estudantes que resolveram, apropriadamente, a Q1. Ao observamos as duas respostas, notamos que os alunos compreenderam o enunciado da questão e articularam de forma coerente as informações explícitas para construírem suas respostas, como é possível confirmar nos seguintes trechos: “porque é para orientar eles os professores, coordenadores é diretores”, “então o governo quer formar essas pessoas para combater o Bullying”.

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A transcrição das respostas obtidas foi realizada na íntegra, de forma idêntica ao que os alunos escreveram. Ressaltamos que não constitui foco de nossa pesquisa a análise, nas respostas dos alunos, de aspectos formais da escrita.

Além disso, Oliver, Rebeca e mais três alunos desse grupo extrapolaram o que havíamos solicitado com a pergunta. Trouxeram para suas respostas explicações, como: “porque isto [o bullying] acontece mais nas escolas”, “por que na escola tem o maior índice de Bullying”. Essas explicações foram produzidas com base em informações que não estão explícitas no texto. Compreendemos que elas são oriundas dos conhecimentos enciclopédicos dos discentes, adquiridos, provavelmente, tanto das leituras e discussões realizadas em sala de aula, quanto de outras experiências discursivas anteriores.

Jessy Aline: “A palestra é dirigida apenas para os que trabalham nas escolas porque a maioria dos atentados são ocorridos nas escolas”.

Melissa: “A palestra e dirigida apenas pelos pessoas da escola porque o governo quer acabar com o bullying que muitas pessoas sofrem diariamente”.

Já os alunos Jessy Alinne e Melissa estão entre os três estudantes que não resolveram, de forma apropriada, a Q1. A partir de suas respostas, é possível supor que esses estudantes demonstraram não ter compreendido a questão-enunciado. Diante disso, não articularam, coerentemente, as informações encontradas na superfície textual e construíram suas respostas, somente, a partir de elementos extralinguísticos. Outra possibilidade que levantamos consiste no imediatismo na resolução de atividades. É provável que, diante de uma temática já bastante discutida em sala de aula, o aluno tenha inferido, de imediato, informações implícitas no texto – a de que “a maioria dos atentados são ocorridos nas escolas”, que “o governo quer acabar com o bullying”, que “muitas pessoas sofrem [bullying na escola] diariamente” – e construído suas respostas com base nelas, não atentando para o que foi solicitado na pergunta.

Ainda sobre a Q1, por meio das respostas analisadas, percebemos que todos os alunos retomaram o tópico frasal para estruturar suas respostas, demonstrando que internalizaram os conhecimentos oriundos de nossa mediação. A maioria conseguiu realizar essa retomada sem nenhuma dificuldade e de forma satisfatória como podemos constatar na resposta da estudante Jessy Aline: “A palestra é dirigida apenas para os que trabalham nas escolas porque...”. Alguns deles, no entanto, apresentaram dificuldades no emprego das preposições, como observamos na resposta de Julie: “A palestra é dirigida apenas pelos coordenadores e professores e representantes porque...”. Outros não atentaram para o complemento

das orações, como é possível verificar neste trecho da resposta de Yasmin Sofia: “A palestra e dirigida porque...”. Nele percebemos que a aluna omitiu o complemento “apenas para as pessoas que trabalham nas escolas” da forma verbal “dirigida”.

Esclarecemos que a organização estrutural das respostas produzidas pelos alunos não se constitui foco em nossas análises, por isso, fazemos esse detalhamento, apenas, nas respostas dadas à Q1. No entanto, sabemos que a internalização desse conhecimento e a habilidade em utilizá-lo de forma apropriada, para expressar a compreensão obtida de determinada leitura, é fundamental para que os discentes produzam respostas adequadas e coerentes.

Na Q3, após afirmarmos que a política de prevenção ao bullying do governo paraense é semelhante a outro programa existente no Brasil, perguntamos aos alunos em que esse programa se assemelhava ao outro. Como resposta, esperávamos que os alunos respondessem que os programas eram semelhantes no sentido de combater o bullying no ambiente escolar.

Quanto à Q3, observamos que as respostas dos dez alunos selecionados foram adequadas ao propósito da pergunta. Os discentes compreenderam o sentido da questão, perceberam as informações explícitas no texto e as articularam para a elaboração de suas respostas, conforme exemplificamos com as respostas a seguir:

Rebeca: “O programa do governo paraense é semelhante ao outro programa nesse aspecto o programa do governo e a lei tem a mesma intenção de combater o bullying”.

Yasmin Sofia: “O pograma do governo paraense e semelhante ao outro pograma nessa prevenção ao bullying os dois são semelhante por que os dois querem combater o bullying nas escolas”.

Rebeca, Yasmin Sofia e mais seis estudantes elaboraram respostas que atenderam, especificamente, aquilo que lhes foi solicitado na questão. Dentre os dez alunos selecionados, apenas dois saíram da materialidade linguística concreta e expandiram suas respostas:

Jordan: “Os progra são semelhantes no aspequito de tentar previnir e acabar com qualquer tipo de bullying”.

Julie: “O programa do governo paraense e semelhante ao outro programa no objetivo de acabar com o bullying e combater”.

Jordan, além de produzir uma resposta coerente com as informações explícitas no texto, conseguiu retomar informação de outras atividades realizadas em sala, como “acabar com qualquer tipo de bullying” e acrescentá-la em sua resposta. Julie, também, saiu do cotextual e acrescentou o verbo “acabar”.