• Nenhum resultado encontrado

Questões gerais sobre conhecimento gramátical

A partir da parte C, começamos a testar a viabilidade da proposta em vários aspectos de uso. Ainda que não tenha sido o propósito central, também, a partir dessa parte, podemos detalhar o perfil do usuário traçado nas partes anteriores.

Para responder as quatro questões dessa parte, os sujeitos foram orientados a fazerem uso do vocabulário do teste. As questões serviram-nos, ainda, para verificar o conhecimento sobre a gramática latina e o nível de conhecimento dos alunos em manuseio de dicionário. Nesse sentido, verificamos se os usuários localizavam as informações contidas em sua microestrutura. As questões partiam do texto apresentado e diziam:

 C1: Indique dois verbos de conjugações diferentes;

C2: Indique outros dois verbos em tempos verbais diferentes;  C3: Indique dois substantivos de gêneros diferentes:

 C4: indique dois adjetivos que estejam flexionados em casos diferentes

Ao pedir que identificassem verbos de diferentes conjugações, questão C1, e substantivos de gêneros diferentes, questão C3, esperávamos que o consulente percebesse que tais respostas estavam contidas na própria microestrutura da proposta e a chave do dicionário explicava sobre tais informações18.

Por outro lado, para responder as questões C2 e C4, era necessário um conhecimento da gramática latina, haja vista que não havia como inferir o tempo verbal ou mesmo o caso dos adjetivos na microestrutura. Essas duas questões nos fizeram refletir sobre a inserção de um resumo gramatical no dicionário como discutiremos à frente.

Importante destacar que, ao verificarmos as respostas das quatro questões, separamos quem acertou a questão completa, isto é, indicou duas palavras com as características diferentes, de quem indicou duas palavras com a mesma característica. Explicando melhor: em C1, pedimos dois verbos e que estes fossem de conjugações diferentes; nos casos em que os sujeitos indicaram dois verbos, mas de mesma conjugação, contamos como apenas um acerto. O mesmo raciocínio foi utilizado em todas as questões. Vale destacar que na questão C2 pedimos verbos diferentes das respostas da questão C1. Iniciaremos, agora, alguns comentários gerais e, em seguida, faremos os comentários específicos de cada questão.

Durante o processo de correção da parte C, notamos uma falha que, de início, poderia ter comprometido alguns testes no que se refere à questão C4. Aparecem no vocabulário dois pronomes “suus, -a, -um” e “multus, -a, -um” que foram indicados como adjetivos de 1ª classe. Isso se deu pela semelhança flexional entre esses grupos de palavras e pelo fato de o vocabulário estar sendo produzido como uma obra para iniciantes – os pronomes, geralmente, fazem parte de um conteúdo intermediário. Essa foi uma escolha didática que fizemos durante a confecção da amostra e era preciso verificar sua viabilidade. Vale ressaltar, todavia, que “suus, -a, -um” é uma palavra que não aparece no texto do teste19; enquanto as questões em que “multus, -a, -um” fora indicado, estavam erradas já que essas questões exigiam dois exemplos de adjetivos em casos diferentes e, na resposta, as palavras estavam no mesmo caso. Assim, percebemos que essas duas palavras não comprometeram os resultados obtidos.

Outro detalhe observado foi o uso da forma-base nas respostas20. Por exemplo: alguns sujeitos, ao se referirem aos verbos “ambulo” e “facio”, responderam “ambul-” e “fac-”, como as formas-base dos respectivos verbos. Acreditamos que a

19 Nem todas as palavras que estão na amostra testada estão no texto. Fizemos isso para dar um caráter mais amplo à amostra de modo a tornar seu uso mais próximo de um dicionário.

20

Como já mencionamos anteriormente, a entrada dos verbetes é constituída por uma “forma-base”, isto é, um elemento mórfico, não necessariamente o radical, que seja comum ou o mais comum entre as formas principais da palavra em questão. Por exemplo: no adjetivo “acerbus, acerba, acerbum”, a chamada forma-base é “acerb-”, já que é o elemento comum das formas principais; já no verbo “dico, dicis, dicere, dixi, dictum”, o elemento mais comum, “dic-”, é o que constitui a forma-base.

explicação para isso se encontra na chave do vocabulário. Ou ela não teria sido lida ou não estava clara o suficiente. Se levarmos em consideração a baixa relevância dada ao guia do dicionário na questão A7, como já comentamos, a primeira possibilidade é a mais provável. Vale ressaltar que o uso da forma-base como resposta não nos levou a considerar a resposta errada.

Passemos agora para comentários mais pontuais sobre cada questão e seus respectivos dados coletados.

A questão C1, como já mencionamos, tratava muito mais de manuseio de dicionário do que da gramática latina, haja vista que a resposta estava numericamente indicada na microestrutura e explicada na chave do vocabulário. Os resultados obtidos seguem abaixo:

Tabela 5: Questão sobre conjugação verbal

Y Z F M N K Total

00 correta 00 00 00 8% 5% 5,9% 2,5%

01 correta 14,2% 15% 14,9% 15% 10% 11,8% 13,6%

02 corretas 85,2% 72% 74,5% 71% 85% 79,4% 76,3%

S/R 00 9% 6,3% 8% 00 3% 3,7%

Fonte: Dados da pesquisa

Ainda que as turmas da universidade F não façam uso de dicionários latinos em sala de aula, os resultados encontrados foram positivos: 74,5% dessa universidade e

76,3% do total de sujeitos indicaram duas respostas corretas. Nenhuma turma obteve

um resultado abaixo de 70%. Inesperadamente, o melhor resultado foi da turma Y,

85,2%, uma turma que não faz uso de dicionários em sala de aula. Em contrapartida, o

resultado mais baixo foi da turma M, uma turma que utiliza dicionários em sala de aula. 8% dos sujeitos não indicaram qualquer resposta correta, o maior índice dessa categoria, e apenas 71% indicaram as duas respostas corretas. Apesar de o teste não ser suficiente para explicar essa contradição, acreditamos que a explicação se encontra na experiência pessoal dos alunos em utilizar dicionários fora de sala de aula e não apenas dicionários latinos, mas dicionários como um todo.

A questão C2, como já mencionamos, exigia um conhecimento prévio sobre gramática. Além de identificar verbos diferentes dos verbos já utilizados na questão anterior, era necessário que tais verbos estivessem flexionados em tempos verbais diferentes. Logo, além do conhecimento básico de manuseio de dicionário era preciso um conhecimento gramatical mínimo sobre flexão verbal. Acreditamos que foi a necessidade desse conhecimento extra que causou uma queda no número de acertos. Vejamos abaixo:

Tabela 6: Questão sobre tempo verbal

Y Z F M N K Total

00 correta 00 9% 6,3% 8% 5% 5,9% 6,2%

01 correta 7,1% 33% 25,5% 22% 60% 44,1% 33,3%

02 corretas 78,1% 42% 53,2% 57% 20% 35,3% 45,6%

S/R 14,2% 15% 14,9% 15% 15% 14,7% 14,8%

Fonte: Dados da pesquisa

Essa questão obteve o maior índice de respostas em branco da parte C, o que nos explicita a dificuldade em responde-la. De fato, comparando com C1, houve uma queda de 30,7% dos acertos, algo que não pode ser ignorado. O melhor resultado foi na turma Y que, além do 00% de erro, obteve o maior resultado de acerto, 78,1%. Por outro lado, a turma N foi a turma com os resultados mais baixos. Interessante observar que os resultados da universidade K, comparando com a universidade F, foram mais equilibrados. Nesta houve uma maior quantidade de respostas com dois acertos e nenhum acerto. Para nós, isso caracteriza um conteúdo em processo de assimilação. Ao comparamos esse aspecto com a questão C1, notamos que os resultados das duas universidades não foram tão díspares.

Tal qual a questão C1, a questão C3 exigia um letramento lexicográfico maior, já que o gênero dos substantivos é indicado pela microestrutura. Nesse sentido, os resultados gerais foram muito próximos dos resultados da questão C1:

Tabela 7: Questão sobre gênero de substantivo Y Z F M N K Total 00 correta 00 3% 2,1% 8% 00 3% 2,5% 01 correta 21,3% 12% 14,9% 15% 15% 14,7% 14,8% 02 corretas 78,1% 78% 78,8% 79% 85% 82,4% 80% S/R 00 6% 4,2% 00 00 00 2,5%

Fonte: Dados da pesquisa

Na verdade, essa foi a questão com os melhores resultados. 80% do total de sujeitos acertaram as duas respostas e apenas 2,5% erraram as duas respostas. O menor valor de acerto foi da turma Z, com 78%. Na universidade K os resultados foram mais positivos nessa questão. Os resultados de ambas questões, C1 e C3, nos mostram que o conhecimento de manuseio de dicionários latinos, ainda que as turmas da

universidade F não trabalhem com dicionário em sala de aula, é um conhecimento

existente e em pleno desenvolvimento.

Por fim, trataremos da questão C4, que foi a questão com os piores resultados e isto vem nos mostrar claramente a dificuldade dos alunos em identificar os adjetivos e os casos latinos. A maioria, 51,7%, acertou apenas uma resposta. Vejamos:

Tabela 8: Questão sobre adjetivos

Y Z F M N K Total

00 correta 00 6% 4,2% 22% 00 8,9% 6,2%

01 correta 42,6% 33% 36,2% 50% 90% 73,5% 51,7%

02 corretas 56,8% 39% 44,7% 29% 5% 14,7% 32%

S/R 00 21% 14,9% 00 5% 3% 9,9%

Fonte: Dados da pesquisa

Dessa vez, em termos de acertos em duas respostas, apenas a turma Y obteve um valor percentual um pouco mais elevado, 56, 7%, embora baixo em relação às outras questões, que superavam a marca dos 70%. O resultado mais baixo foi da

repostas. Na realidade, a diferença entre as duas universidades se fez notar novamente aqui como na questão C2. Sendo assim, se compararmos os resultados médios das questões da parte C entre as turmas teremos:

Tabela 9: Média de todas as questões juntas

Y Z F M N K Total

00 correta 00% 4,5% 3,2% 11,5% 2,5% 6% 4,4%

01 correta 21,3% 23,3% 22,9% 25,5% 43,8% 36,1% 28,4% 02 corretas 72,8% 57,8% 62,3% 59% 48,8% 53% 58,5%

S/R 5,4% 12,8% 10,6% 5,8% 5% 5,2% 7,8%

Fonte: Dados da pesquisa

Destacamos de cinza o melhor resultado e de verde o pior resultado. Assim, as turmas da universidade F, especialmente a turma Y, que não faz uso de dicionários, obtiveram os melhores resultados. Ainda assim, o total dos resultados das quatro turmas foi baixo: 58,5%. Esse resultado acabou por refletir nas respotas da tradução, na parte

D, como veremos a seguir.