• Nenhum resultado encontrado

Capítulo I. Apresentação Geral do Trabalho

1.4 Questões e Objetivos da Investigação

Este trabalho organizou-se em torno das diferentes fases do processo de investigação. Na fase inicial de conceção construiu-se o projeto de investigação, identificou-se o problema e fez-se a revisão teórica que permitiu situar o domínio da investigação. Assim, no caso da investigação que agora se apresenta, o confronto com questões que surgem na prática de cuidados e da investigação nesta área, com diferentes perspetivas teóricas e com o conhecimento e observação da realidade social conduziram-nos à elaboração das questões de investigação que servem de suporte à orientação da pesquisa:

1) Quais os testes estatísticos mais frequentemente utilizados pelos investigadores da área da saúde infantil e pediatria, quando usam escalas de avaliação compostas por variáveis (itens) com um formato de medida ordinal?

2) Qual a performance em termos de potência de teste e probabilidade de erro de tipo I das quatro estatísticas da MANOVA paramétrica comparadas com duas da MANOVA não paramétrica quando se analisam variáveis (geradas aleatoriamente) com formato de medida ordinal?

22

3) Quais os testes estatísticos mais adequados para analisar os dados ordinais oriundos da observação de populações neonatais e pediátricas, os paramétricos ou os não-paramétricos?

As três questões de investigação formuladas são indissociáveis dos três objetivos da investigação, que se descrevem e fundamentam em seguida.

Para fundamentar o primeiro objetivo, “Identificar na literatura científica os testes estatísticos mais frequentemente utilizados pelos investigadores da área da saúde infantil e pediatria quando usam escalas de avaliação”, foi feita uma revisão sistemática da literatura, onde foram incluídos os artigos científicos que continham os seguintes aspetos: instrumentos de recolha de dados (escalas de avaliação) usados na área de saúde infantil e pediatria (desde o recém-nascido ao jovem adulto, com e sem deficiência motora), compostos por variáveis ordinais com diferentes formatos de medida, tendo sido usados na análise de dados testes paramétricos e/ou não paramétricos. Esta revisão deu origem a um artigo de revisão sistemática da literatura (Curado, Teles & Marôco, 2013). Os contributos teóricos associados a uma reflexão crítica sobre esta temática deram origem a um segundo artigo sobre a problemática do uso de variáveis não diretamente observáveis (Curado, Teles & Marôco, 2014).

Para fundamentar o segundo objetivo, “Comparar a performance, em termos de potência e probabilidade de erro de tipo I, das 4 estatísticas da MANOVA paramétrica com 2 da MANOVA não paramétrica quando se utilizam variáveis ordinais correlacionadas, geradas aleatoriamente” foi feito um estudo de simulação através do método de Monte Carlo, efetuado no Software R (R Development Core Team, 2012). Foram gerados dados de natureza ordinal correlacionados através de dois métodos: a conversão binária e o mapeamento de médias. (Kaiser, Träger & Leisch, 2011; Ramsey & Ramsey, 2012; Ramsey et al., 2011; Demirtas, 2006; Bilodeau & Micheaux, 2005; Zwick, 1985; Nath & Pavur, 1985).

No delineamento do estudo de simulação foi considerado o caso balanceado com dimensão global da amostra igual a n (com n=30, 60, 90, 120, 240, 300); 3 grupos (g=3), sendo a dimensão da amostra em cada grupo dada por ni=n/3; 4 tipos de vetores de probabilidades marginais, fazendo variar a localização da maior probabilidade de resposta, no ponto central (distribuição simétrica), nos extremos inferior e superior da

23

escala (distribuição assimétrica positiva e negativa) ou uniforme na escala de medida (distribuição uniforme); 3 valores de correlação para a matriz de simetria composta (r=0.10, r=0.40, r=0.70); e 4 formatos de medida com 3, 4, 5 e 7 pontos.

No caso da MANOVA paramétrica avalia-se a hipótese nula com utilização das estatísticas Lambda de Wilks, traço de Pillai, traço de Hotelling, maior raiz de Roy (Todorov & Filzmoser, 2010; Marôco, 2010a; Sheskin, 2007; Finch, 2005; Zwick, 1985; Katz & McSweeney, 1980; Puri & Sen, 1969, 1974) e para a MANOVA não paramétrica avaliam-se as estatísticas Lambda de Wilks e traço de Pillai aplicadas às ordens (Van Aelst & Willems, 2011; Todorov & Filzmoser, 2010; Nath & Pavur, 1985; Katz & McSweeney, 1980; Puri & Sen, 1974).

Para fundamentar o terceiro objetivo, “Enquadrar os resultados da aplicação da MANOVA paramétrica e da MANOVA não paramétrica a dados reais provenientes de escalas de avaliação com quatro formatos de medida (3, 4, 5 e 7 pontos), nos resultados do estudo de simulação estatística” foram realizadas 4 aplicações práticas. As estatísticas utilizadas nas simulações relativas às diferentes propostas de MANOVA paramétrica e não paramétrica foram aplicadas a variáveis ordinais com um formato de medida com 3, 4, 5 e 7 pontos. Esta escolha fundamenta-se no facto de serem os formatos mais utilizados na construção de escalas de observação especificamente na área da saúde da criança (Curado, Teles & Marôco, 2013; Pereira da Silva & Justo da Silva, 2010).

Os instrumentos selecionados foram aplicados a crianças e jovens (no período neonatal e adolescência/jovens adultos) e para construir os grupos considerou-se a variável idade, a variável peso e a variável nível de lesão medular. Para os recém- nascidos considerou-se a idade gestacional e o peso, por serem duas das variáveis que mais interferem no bem-estar do recém-nascido, quer sob o ponto de vista fisiológico, quer sob o ponto de vista comportamental. Para as crianças e jovens consideraram-se os escalões etários e o nível de lesão medular (sagrada, lombar e dorsal).

As escalas selecionadas para fazer as aplicações práticas foram: a Early Feeding Skills (EFS); a Neonatal Skin Risk Assessment Scale (NSRAS); a Functional Independence Measure (FIM). A primeira tem um formato de medida com 3 pontos, a segunda com 4 pontos e a terceira com 7 e a MIF motora modificada com 5 pontos.

24

A Early Feeding Skills (EFS) foi traduzida e adaptada para português como Escala de Observação das Competências Precoces na Alimentação Oral - Versão Modificada (Curado et al., 2013) e avalia desenvolvimento motor oral do recém-nascido (Thoyre, Shaker & Pridham, 2007, 2005) até às 52 semanas de vida, sendo composta por vinte e dois itens ordinais, com um formato de medida com 3 pontos. Esta escala avalia os comportamentos de regulação da criança em 3 domínios fundamentais: capacidade para organizar o funcionamento motor oral, capacidade para coordenar a deglutição e a capacidade para manter a estabilidade fisiológica (compostos por 7, 5 e 10 itens, respetivamente). A escolha desta escala está implicitamente ligada ao facto de a alimentação ser um dos problemas mais comuns na população neonatal e especificamente nos recém-nascidos prematuros.

De um modo geral, depois do quadro respiratório estabilizado, a prioridade para os recém-nascidos pré-termo passa a ser o aspeto nutricional. (…) que

favoreça o seu crescimento e desenvolvimento, assim como a redução dos deficits motores orais (…) (Figueiredo et al., 2007, p. 3).

Na aplicação prática foi utilizado o mesmo número de observações utilizadas no estudo de simulação. A seleção aleatória das amostras foi feita com recurso à variável independente idade gestacional (em classes) (ni=100, 80, 40, 30, 20 e 10).

A Neonatal Skin Risk Assessment Scale (NSRAS) (Huffines & Lodgson, 1997) avalia o risco de úlceras de pressão no recém-nascido, nos primeiros vinte e oito dias de vida. A escala encontra-se em fase de validação estatística, com recém-nascidos portugueses, como Escala de Observação do Risco de Lesão da Pele de Neonatos (Martins, Curado & Marçal, 2013). Esta escala tem um formato de medida ordinal com 4 pontos e é composta por 6 itens: condição física geral; estado mental; mobilidade; atividade; nutrição e humidade. A escolha desta escala deve-se ao facto de as úlceras de pressão serem consideradas pela Organização Mundial de Saúde como um grave problema de saúde pública e ao mesmo tempo serem um dos melhores indicadores de avaliação da qualidade de cuidados em saúde (OMS, 2007). Em Portugal, as úlceras são um problema recorrente o qual é considerado como um fator causal de dor e sofrimento (DGS, 2011) e cuja prevenção pode evitar a morte em recém-nascidos de risco (EPUAP-NPUAP, 2009). Na aplicação prática com esta escala foram utilizadas

25

observações de cento e vinte recém-nascidos, sendo a seleção aleatória das amostras feita com recurso à variável independente peso (em classes) com as mesmas dimensões das utilizadas no estudo de simulação (ni=40, 30, 20 e 10).

The Functional Independence Measure (FIM) (Guide for the Uniform Data System for Medical Rehabilitation (Adult FIM), 1993; Guide for the Functional Independence Measure for Children (WeeFIM), 1993; Keith et al., 1984, 1987; Granger et al., 1986), traduzida e adaptada para a língua portuguesa como Medida de Independência Funcional (MIF) (Laíns, 1991) é um instrumento que permite fazer o acompanhamento de pessoas em processo de reabilitação. Este instrumento não se focaliza na capacidade de realizar tarefas, mas sim na realização efetiva e de forma independente das atividades de vida diárias. A MIF permite avaliar o desempenho da criança/jovem na realização de um conjunto de 18 tarefas incluídas em 2 domínios, o motor (4 subescalas com 13 itens) e o cognitivo (2 subescalas com 5 itens). O domínio motor é composto pelas subescalas: autocuidado (6 itens), controlo esfincteriano (2 itens), mobilidade e transferências (3 itens), locomoção (2 itens). O domínio cognitivo é composto pelas subescalas: comunicação (2 itens) e cognição social (3 itens). Cada item pode ser classificado numa escala de graus de dependência com formato de medida de 7 pontos (de dependência total a independência total). Malheiro, Gaspar e Barros (2013) usaram o domínio motor da MIF para comparar com outra escala, transformando o seu formato de medida de 7 para 5 pontos. A modificação da escala de medida teve em conta as necessidades de ajuda das crianças com espinha bífida, agregando os 3 pontos mais elevados da escala num ponto único, o ponto 5-Independentes e mantendo os outros quatro pontos da escala de medida, 4-Ajuda Mínima, 3-Ajuda Moderada, 2- Ajuda Máxima, 1-Ajuda Total.

Nas aplicações práticas com a MIF modificada (escala com 5 pontos) foram selecionadas aleatoriamente 40 observações com recurso à variável independente nível de lesão medular (ni=20 e 10) e na MIF com formato de medida com 7 pontos foram selecionadas 90 observações (ni=30, 20 e 10) de crianças/jovens com spina bífida com recurso à variável grupos etários.

26