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2. O contexto português: alguns apontamentos

2.6. Questões políticas século XVIII

Durante o reinado de D. Pedro II, em 1700, com a morte do rei Carlos II de Espanha, sem descendência, iniciou-se a chamada Guerra da Sucessão espanhola. O rei deixara por herdeiro Filipe de Anjou, aclamado Filipe V, que obteve o apoio francês para suceder no trono. Porém, o arquiduque Carlos III de Áustria era apoiado por Inglaterra e Portugal para assumir a sucessão. Desta forma, o reino viu-se envolvido na crise da sucessão da coroa vizinha, sendo obrigando,

mais uma vez, a sustentar com impostos o conflito.99 Este teve consequências no território nacional

a outros níveis, como o facto de ter levado a população das zonas conflituosas da fronteira a fugir

94 Confira-se Menezes, Luís de, História de Portugal Restaurado, vol. III…, pp. 145-249; Menezes, Luís de, História de Portugal Restaurado, vol. IV…, pp. 11-326.

95 Consulte-se Araújo, Maria Marta Lobo de, «As Misericórdias do Alto Minho no contexto da Restauração», in Separata da Revista Portuguesa de

Historia, Tomo XXXVI, vol. I, Coimbra, Faculdade de Letras - Universidade de Coimbra/ Instituto de História Económica e Social, 2002/2003, pp. 461-473; Menezes, Luís de, História de Portugal Restaurado, vol. III…, pp. 77-78.

96 Sobre as relações externas de Portugal veja-se Serrão, Joaquim Veríssimo, História de Portugal- A Restauração e a Monarquia Absoluta…, pp. 59- 85. Para o fim da Guerra da Restauração veja-se Menezes, Luís de, História de Portugal Restaurado, vol. IV…, pp. 522-543.

97 As possessões no Índico e extremo-oriente foram perdidas, quase na totalidade. No entanto, o Brasil conseguira organizar a sua própria defesa, tornando-se a grande fonte de riqueza nacional, graças à descoberta do ouro. Leia-se Mata, Eugénia; Valério, Nuno, História Económica de Portugal – Uma Perspectiva Global, Lisboa, Editorial Presença, 1993, pp. 107-119.

98 Veja-se Serrão, Joaquim Veríssimo, História de Portugal- A Restauração e a Monarquia Absoluta…, p. 217.

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para os territórios litorais. Graças ao desafogo permitido pelo ouro do Brasil, apesar de alguns maus anos agrícolas e da falta de carne devido às dificuldades de colocar os animais a pastar nas

zonas de conflito, Portugal conseguiu evitar períodos de carestia, importando bens alimentares.100

No entanto, todo este esforço financeiro deixou os cofres nacionais bastante debilitados, apesar de diplomaticamente ter sido benéfico uma vez que foi no seu contexto que se assinou o Tratado de Methuen, em 1703, e que se deu o casamento de D. João V com a princesa D. Mariana de Áustria.

Em finais do século XVII, Portugal iniciara um dos períodos mais prósperos da sua História, com a descoberta do ouro, no Brasil. D. João V sucedera a D. Pedro II em 1706. Sendo ele o rei Magnânimo, o seu reinado teve toda a opulência que o ouro brasileiro permitiu, o que se traduziu, entre outros, na construção do Real Palácio-Convento de Mafra. Também as embaixadas diplomáticas enviadas Europa fora, pelo monarca, são dignas de menção. Primeiramente, conseguiram restabelecer as ligações de Portugal à Santa Sé, interrompidas desde a Restauração, de seguida causaram espanto em França e Espanha, não sendo, no entanto, garantia de relações pacíficas durante todo o reinado. Entre 1735-36, Espanha e Portugal tiveram, novamente, guerra declarada, devido a um incidente diplomático, acontecido em casa do embaixador português em

Madrid, tendo, os dois reinos Ibéricos, vindo a assinar o Tratado de Paz em 1737.101 Dentro de

fronteiras, D. João V, a partir da década de 1720, deixou de reunir Cortes e passou a despachar

diretamente com o secretário de Estado.102 Tais ações faziam parte do caminho de centralização

dos poderes nas mãos do monarca, que desembocou na instauração do absolutismo régio, caminho que outros monarcas já tinham vindo a preparar.

Apesar de não reunir as Cortes e isso ser motivo de desagrado, o rei sempre foi muito

amado pelo povo e tido como um bom governante.103 Em 1750 subiu ao trono D. José I que trouxe

a Portugal o despotismo iluminado, então em voga por toda a Europa.104 Contudo, em 1755, Lisboa

sofreu um dos maiores desastres da sua História, o dramático terremoto. Os números apontados

100 Consulte-se Serrão, Joaquim Veríssimo, História de Portugal- A Restauração e a Monarquia Absoluta…, pp. 137-140, 347-388. 101 A propósito deste episódio veja-se Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal- A Restauração e a Monarquia…, pp. 262-263.

102 Monteiro, Nuno Gonçalo, «O Processo Político (1621-1807): D. Pedro II regente e rei (1668-1706). A consolidação da dinastia de Bragança», in

História de Portugal: Antigo Regime (1620-1807)…, pp. 410-415.

103 Relativamente ao Absolutismo de D. João V leia-se Almeida, Luís Fernand, Páginas dispersas. Estudos de História Moderna de Portugal, Coimbra, Instituto de História Económica e Social/ Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1995, pp. 183-201.

104 Confira-se Serrão, Joaquim Veríssimo, História de Portugal: O despotismo iluminado, (1750-1807), vol. VI, Lisboa, Editorial Verbo, 1982, pp. 11- 14.

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para os mortos é de entre 10 a 40 mil e das 20 mil casas, da cidade, apenas 3 mil ficaram

habitáveis.105

A reconstrução da Lisboa fez-se, literalmente, das cinzas e dos destroços, e quem a ordenou foi o então Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Guerra, Sebastião José de

Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal. 106 Não foi apenas em Lisboa que o terremoto se fez

sentir, mas um pouco por todo o reino, causando danos consideráveis na região centro. Também em Espanha, na Andaluzia e Madrid, foi sentido. Todavia, tal foi a destruição causada na cidade lisboeta que a notícia ecoou por toda a Europa e perdurou marcada na História, até aos dias de hoje. De Hamburgo vieram navios para acudir a Lisboa, numa demonstração de solidariedade para com o reino, no entanto, o comércio e o interesse dos mercadores ficou, obviamente, afetado

por esta catástrofe.107

Em 1777, na sequência da morte de D. José I, subiu ao trono a rainha D. Maria I que de imediato afastou do governo o Marquês de Pombal, por quem mantinha um ódio cerrado. Em 1786 faleceu o rei D. Pedro III e dois anos depois o herdeiro ao trono, D. José. A rainha, que cada vez se encontrava mais debilitada mentalmente, não tinha capacidades de governar, passando a

regência ao príncipe D. João, de 19 anos, de idade.108

2.7. A crise da segunda metade do século XVIII e a primeira década do século