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Questionário 3: natureza das leituras e a avaliação da monitoria

APÊNDICE X – Ciclo Ensino e Aprendizagem: material escrito disponibilizado

3.12 HIPÓTESES

4.2.5 Questionário 3: natureza das leituras e a avaliação da monitoria

O questionário 3, aplicado três semanas após o questionário 1, visou à avaliação dos participantes em relação a alguns processos metacognitivos, especialmente a monitoria da compreensão, além de verificar, por intermédio de outras questões, a coerência das respostas

94 Faz-se referência aqui a Jimmy Wales, fundador da Wikipédia, em entrevista à revista Época, n. 547, em 10 de Nov. de 2008, p. 98 e 100. Ao ser questionado sobre o fim do livro impresso em papel, ele responde, afirmando que será difícil superar a tecnologia perfeita do livro, afinal ele não é tão caro, não precisa de baterias, pode ser levado à praia ou carregado na chuva.

dadas em questionários anteriores. Inicia-se a discussão com as questões que buscam estabelecer ligações com outras proposições do questionário 1 e, em seguida, passa-se à discussão de alguns processos envolvendo a monitoria da compreensão, selecionados para estudo nesta pesquisa.

4.2.5.1 Escolha de leituras: mídia e regularidade

As questões ST28 e ST29, e seus desdobramentos, tinham como foco questionar, outra vez, os participantes a respeito das suas leituras. Assim, a primeira perguntava-lhes se liam outros materiais, além daqueles solicitados em aula. Obteve-se como resposta um índice positivo de 90,32%, em oposição a 9,68%. As subdivisões da ST29 (veja Quadro 13, a seguir, e Apêndice E) apresentavam, mais uma vez, opções de mídias e três possibilidades de frequência (Não, nunca; Sim, às vezes; Sim, regularmente.) para que os participantes assinalassem a periodicidade de suas leituras. Suas respostas podem ser visualizadas no Gráfico 6.

ST29Q01 Jornais de abrangência nacional (e.g., O Globo, Folha de São Paulo

etc.).

ST29Q02 Jornais de abrangência regional e/ou estadual (e.g., Diário

Catarinense, Correio do Povo, Zero Hora, A Notícia etc.).

ST29Q03 Jornais de abrangência local (e.g., O Nascente Universitário,

Raízes etc.).

ST29Q04 Revistas de notícias semanais (Veja, IstoÉ, Época etc.).

ST29Q05 Revistas especializadas (Exame, Super Interessante, Pais e Filhos etc.).

ST29Q06 Revistas especializadas na sua área de conhecimento.

ST29Q07 Livros na sua área de conhecimento.

ST29Q08 Livros (de ficção, autoajuda, poesia etc.).

ST29Q09 Outras (especifique) _____________.

Quadro 13 – ST29: Opções de mídia e das leituras extraclasse Fonte: a autora.

O jornal foi a mídia, com frequência semanal, mais assinalada na ST20, depois dos e-mails e da Internet. Infere-se, com base nos dados, que os jornais impressos lidos devem ser os regionais e/ou os locais, e a leitura dos jornais de circulação nacional, possivelmente, tem sido mediada pela Internet; afinal, no interior do estado de Santa Catarina, são poucas as cidades que ainda recebem jornais impressos de circulação nacional e, na região de abrangência desta pesquisa, há pelo menos dois

anos, eles já não circulam mais. Relacionando os dados da ST20 com os da ST29Q01 a Q03, percebe-se que as inferências parecem ser pertinentes. Ao se observar a extensão da categoria de frequência escolhida pelos participantes para cada uma das opções envolvendo a mídia jornal, nota-se que, para os nacionais, a maior porcentagem está na categoria “nunca”, enquanto os regionais e locais destacam-se nas duas categorias com respostas afirmativas. A categoria de frequência “às vezes” apresenta as maiores fatias percentuais tanto para os jornais regionais (Diário Catarinense, Correio do Povo, A Notícia etc.) quanto para os locais (O Nascente Universitário, Raízes etc.), i.e., 58,06%, somados seus percentuais.

Gráfico 6 – ST29: Opções de mídia e regularidade das leituras extraclasse Fonte: a autora.

Aparentemente, a mesma tendência da ST20 apresentou-se na ST29: depois dos jornais, as revistas recebem maior atenção. As revistas de informações semanais e as revistas especializadas da área de conhecimento foram os dois itens mais assinalados na categoria “às vezes”. No ranking das revistas, a mídia com menor acesso foi a de revistas especializadas em temas gerais como Exame, Pais e

Filhos, Super Interessante, entre outras. Assim como os jornais de

abrangência nacional, as revistas especializadas em temas gerais obtiveram um alto índice de não-leitores: 41,94% dos participantes afirmaram não ler esse tipo de periódico. Por fim, a categoria livros (ST29Q07 e ST29Q08) revelou uma distribuição variada em relação à frequência de leitura. Constatou-se um pequeno grupo de leitores regulares, mas há também quem tenha afirmado que nunca, ou raramente, chega a ler livros.

Visando a ampliar as fronteiras de compreensão dessas questões – ST29 e ST20 –, decidiu-se cruzá-las, usando um teste estatístico – Spearman – que mostrasse a existência de coeficientes de correlação entre as questões. Encontraram-se algumas correlações moderadas e uma correlação fraca entre as duas questões que passam a ser analisadas (consulte o Apêndice N para todos os resultados das correlações entre essas questões).

Foram encontrados coeficientes de correlação positivos moderados e significativos entre ST20Q01 e três das alternativas de ST29. Entre ST20Q01 e ST29Q03 (rho = 0, 506, p = 0,004), percebe-se uma correlação positiva moderada e significativa que indica que quanto mais os participantes afirmam ler revistas, mais vezes eles têm contato com jornais de abrangência nacional, ou seja, mais vezes eles os leem. Algo muito semelhante se passa entre a ST20Q01 e a ST29Q04 (rho = 0,487, p = 0,006) e ST20Q01 e ST29Q04 (rho = 0,590, p < 0,001): duas outras correlações positivas moderadas e significativas. Isso revela que os participantes, leitores de revistas, em boa parte, também são leitores de jornais regionais e locais.

Nenhuma correlação significativa foi encontrada entre ST20Q02 e as asserções de ST29. Todavia, outras quatro correlações se estabeleceram entre ST20Q03 e ST29. Entre ST20Q03 e ST29Q01 (rho = 0,441, p = 0,013), encontrou-se um coeficiente de correlação positivo moderado e significativo, indicando que quanto mais nossos participantes leem obras de ficção, mais eles se conectam com o mundo por meio dos jornais de abrangência nacional. A ST20Q03 e a ST29Q04 (rho = 0,540, p = 0,002) revelara uma correlação positiva moderada e significativa. Mais uma vez, os dados parecem indicar que os leitores de ficção, em boa medida, estão conectados com os acontecimentos no país e no mundo, porque jornais e revistas de circulação nacional, normalmente, não focam a realidade microrregional e/ou a localidade em que moram. O olhar tende a ser mais amplo e, por isso, o contato é com o externo. Outra possível interpretação para essas correlações é a mediação do conhecimento de obras de ficção que os periódicos de

circulação nacional oferecem aos seus leitores. Afinal, se tem acesso a boas resenhas e críticas de obras que estão entrando no mercado nacional, normalmente, por meio dessas mídias. Pode se pensar que quem lê jornais e revistas com circulação nacional acaba instigado à leitura de obras de ficção por acompanhar o movimento nacional em torno dessas leituras. Um exemplo simples foi o fenômeno Harry Potter. As mídias trataram o assunto: cada lançamento da coleção, a transformação da obra em filme, o sucesso de vendas, a expectativa dos leitores pela próxima história. Enfim, tudo isso permeou jornais e revistas que acompanharam esses movimentos dentro e fora do país. Muitos dos que leram, ouviram e comentaram esses eventos, provavelmente, sentiram-se instigados a compartilhar o universo de

Harry Potter e seus “seguidores”, tornando-se leitores da obra de J. K.

Rowling. Precisar o que veio antes, se a leitura de ficção, se a leitura de periódicos de notícias nacionais, para esta pesquisa, é impossível. Destaca-se apenas que há um elo significativo que une essas duas mídias e vários leitores.

A terceira correlação significativa encontrada ocorreu entre ST20Q03 e ST29Q05 (rho = 0,623, p < 0,001), sugerindo a associação positiva moderada entre a leitura de ficção e a de revistas especializadas. Por fim, verificou-se correlação também entre ST20Q03 e ST29Q08 (rho = 0,518, p = 0,003), revelando não uma correlação perfeita, mas um índice razoável de consistência nas respostas entre as questões, tratando ambas da leitura de ficção.

Índices semelhantes de correlação estabeleceram-se entre a ST20Q04 e três outras questões de ST29: Q04 (rho = 0,563, p = 0,001), Q05 (rho = 0,486, p = 0,006) e Q08 (rho = 0,435, p = 0,015). Observando os coeficientes das correlações, verifica-se que todos são positivos moderados, além de serem significativos, indicando que, entre os participantes, quanto mais frequente é o contato que afirmam ter com obras de não-ficção por desejo, tanto mais eles também indicaram ler revistas semanais de notícias, revistas voltadas para áreas específicas do conhecimento e, ainda, livros de modo geral.

Curiosamente, não se estabeleceu nenhuma correlação significativa entre ST20Q05 e ST20Q06 e as questões de ST29. Percebeu-se, inicialmente, que os participantes não haviam arrolado nenhuma outra opção na alternativa aberta, e uma opção e-mails e Internet não constava da questão; contudo, a inexistência de correlação entre as alternativas surpreende. Surgem, então, algumas perguntas: Os participantes não consideram as atividades que são realizadas na Internet leituras? Ou, talvez, porque todas as alternativas listadas são,

em princípio, impressas, eles não associaram a possibilidade de incluir essa alternativa virtual? Mas e as leituras de jornais de abrangência nacional que necessitam ser feitas pela rede? Especialmente, em relação a esse ponto – a leitura de jornais –, teve-se a maior surpresa, pois também não se encontrou correlação significativa. Apenas um coeficiente de correlação positivo baixo e marginalmente significativo foi estabelecido entre ST20Q06 e ST29Q02 (rho = 0,347, p = 0,056), tratando-se da leitura de jornais em geral e jornais regionais, e.g.,

Diário Catarinense. Esses resultados sugerem a necessidade de se

investigar melhor o papel e o valor atribuído às leituras realizadas na Internet. Além disso, a relação dos sujeitos com a mídia jornal não é clara. Uma possibilidade de ampliar a compreensão a respeito da periodicidade de leitura seria a transformação da questão ST29. Ela poderia apresentar as mesmas categorias de frequência da ST20 e, assim, ter-se-ia a possibilidade de confrontar as fragilidades nas respostas dos participantes.

4.2.5.2 A monitoria

Conforme anunciado anteriormente, parte do questionário 3 voltou-se para questões metacognitivas. Focaram-se, por meio das questões ST30Q05, ST30Q06, o uso do conhecimento prévio e a monitoria para a compreensão, respectivamente, e nas ST30Q07 a Q11, os procedimentos diante da percepção de falhas no processo de compreensão95. Para a resolução dessas sete proposições, após a leitura do cabeçalho com as instruções e/ou a indicação da situação a ser avaliada, os participantes deveriam escolher uma alternativa dentre cinco, mostrando o grau de concordância com a asserção, que variava numa escala Likert, do discordo plenamente (1) ao concordo plenamente (5) (veja Apêndice E). Na discussão dos resultados da ST30, abordar-se- á, primeiramente, a análise descritiva e, em seguida, a análise das correlações encontradas.

Ao observar a ST30Q05, percebe-se que a maior parte das respostas dos participantes situou-se nos níveis concordo (41,94%) e

concordo plenamente (51,61%), indicando que eles creem ser capazes

de mobilizar seu conhecimento prévio e suas experiências para a

95 As demais questões serão tratadas em outros trabalhos em andamento (FINGER- KRATOCHVIL (em preparação).

compreensão na leitura. Apenas 6,45% responderam sem se posicionar, e não houve resposta que divergisse da afirmação apresentada (veja Gráfico 7). A ST30Q06 – “Quando eu leio, tenho consciência das coisas que entendo e das que não entendo” – revelou os mesmos valores percentuais da questão anterior, i.e., os níveis concordo

plenamente (51,61%) e concordo (41,94%) foram os de maior

percentagem, não houve resposta que discordasse da afirmação e 6,45% assinalaram a alternativa 3 que se posicionava neutramente. Essas porcentagens apontam, aparentemente, que os sujeitos têm grande confiança tanto na mobilização de conhecimentos para a leitura quanto na sensibilidade para avaliar o processo de compreensão. Diante desses resultados, esperava-se que a análise estatística revelasse um coeficiente de correlação positivo moderado a alto e significativo entre essas duas questões; todavia, nenhuma correlação foi encontrada com a Q5 ou quaisquer outras questões de ST30, indicando grande variação na autoavaliação dos participantes em cada questão (veja Apêndice O).

Gráfico 7 – Mobilização do conhecimento anterior e experiência para a compreensão do texto

Fonte: a autora.

Ao se procurar a existência de correlações entre ST30Q05 e demais questões de ST30, verificou-se apenas um coeficiente moderado positivo e significativo com a ST30Q10 (rho = 425, p = 0,017),

indicando que quanto mais os sujeitos creem ser capazes de usar seu conhecimento prévio para entender o texto, tanto mais eles concordam com a afirmação de que buscam palavras desconhecidas no dicionário. Nenhuma correlação significativa foi encontrada entre a ST30Q06 e as demais questões (veja Apêndice O, para examinar os coeficientes).

A ST30Q07 a Q11 buscou detalhar o comportamento e/ou os procedimentos (i.e., as estratégias) adotados pelos participantes ao perceberem uma quebra na leitura em virtude da incompreensão. As asserções apresentadas na questão estão dispostas no Quadro 14. Ao analisá-las, percebe-se que elas não são excludentes entre si, exceto a ST30Q11; ou seja, ao não entender alguma coisa durante a leitura, é possível continuar lendo para entender e, em seguida, procurar as palavras desconhecidas no dicionário, ou, então, pode-se voltar ao ponto imediatamente anterior à parte problemática, reler tudo e, depois, fazer busca no dicionário. Apenas a desistência exclui as demais afirmações.

Quando eu leio, se eu não entendo alguma coisa:

ST30Q07 7. Eu continuo lendo para entender.

ST30Q08 8. Eu releio a parte problemática.

ST30Q09 9. Eu volto ao ponto imediatamente anterior à parte

problemática e leio tudo de novo.

ST30Q10 10, Eu procuro as palavras desconhecidas no dicionário.

ST30Q11 11. Eu desisto e paro de ler.

Quadro 14 – Comportamento do leitor diante da incompreensão (monitoria) Fonte: a autora.

No Gráfico 8, mostra-se o posicionamento dos participantes em cada uma das asserções, que passam a ser discutidas. Encontrou-se grande variação no grau de concordância dos sujeitos na ST30Q07. Para entendê-la melhor, buscou-se saber se os sujeitos que discordaram da asserção foram os mesmos que concordaram com a Q11. O resultado foi negativo, o que faz pensar que a questão foi entendida de modo distinto de acordo com as estratégias que cada um está habituado a usar. Continuar a ler não significa, assim, ignorar a detecção de problema, mas, sim buscar, no texto, a sua resolução. Por outro lado, parar de ler pode ser visto como interrupção necessária para solução do problema de compreensão. Esperava-se, assim, encontrar coeficientes de correlação negativos entre Q7 e Q8, Q9 e Q10; e positivo com Q11; todavia, nenhuma correlação foi estabelecida, o que parece sinalizar grande variação nas respostas e, possivelmente, a falta de observação dos

participantes aos seus processos metacognitivos ou, ainda, uma monitoria insatisfatória.

Gráfico 8 – Comportamento do leitor diante da incompreensão (monitoria) Fonte: a autora.

A ST30Q08 revelou a concordância, em algum grau, com a realização da releitura da parte problemática diante da incompreensão de texto, apontando para um provável procedimento comum entre os sujeitos. Essa questão apresentou uma correlação positiva moderada e significativa com a Q9 (rho = 0,606, p < 0,001), mostrando que muitos releem não só a parte problemática, mas também retornam à unidade de texto anterior para proceder a releitura. De fato, os sujeitos, em sua maioria, concordaram com a afirmação de releitura da parte anterior à parte problemática (38,7% concordaram e 48,3% concordaram plenamente com a asserção).

A Q10, consulta ao dicionário, mostrou grande variação nas respostas dos sujeitos, sinalizando que procurar as palavras no dicionário não parece ser um comportamento adotado por parte dos sujeitos – 22,58% afirmaram não consultar o dicionário e 19,35% não se posicionaram. Essa asserção estabeleceu correlação positiva moderada e significativa com a asserção Q9 (rho = 0,672, p < 0,001), indicando que releitura e consulta ao dicionário são comportamentos comuns aos mesmos leitores. Por fim, a maioria dos sujeitos (90%) afirmou não desistir da leitura ao encontrar dificuldades de compreensão.

A análise das questões em torno da monitoria aponta que os sujeitos acreditam ter ciência de seu entendimento, e a releitura é procedimento comum entre eles. E, embora pouquíssimos afirmem desistir ao não entender algo, o continuar lendo e o procurar por palavras desconhecidas dividem os posicionamentos dos sujeitos.

4.3 O DESEMPENHO DOS SUJEITOS NAS UNIDADES DE