CAPÍTULO V – CONCORRÊNCIA SUCESSÓRIA DO CÔNJUGE
5.2 Quinhão do Cônjuge Sobrevivente
Dispõe o artigo 1.832 do Código Civil, “Em concorrência com os
descendentes (art. 1.829, inciso I) caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que
352 Direito de herança, p.110 e 111.
353 “Artigo 1.685. Na dissolução da sociedade conjugal por morte, verificar-se-á a meação do cônjuge sobrevivente de
sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da
herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer”.
A priori, o cônjuge concorre com os descendentes do falecido em
igualdade de condições, ou seja, o modo de suceder é por cabeça. Porém, o
legislador reservou quota ao cônjuge, que nunca será inferior à quarta parte,
quando concorrer com descendentes comuns. Então, se o cônjuge concorrer com
até três descendentes a quota será igual a todos, acima desse número de
descendentes a sua quota mínima ficaria reservada, enquanto os 3/4
remanescentes, serão divididos pelo número de descendentes, desviando do
modelo da sucessão por cabeça.
Ao cônjuge sobrevivo, não será assegurada a reserva da quarta parte, se
não for ascendente daquele com quem concorrer, nesse caso, dividir-se-á em
quotas iguais entre os herdeiros exclusivos do de cujus e o cônjuge sobrevivo.
O legislador nada mencionou quanto à reserva da quota mínima do
cônjuge, na concorrência com a descendência híbrida, aquela formada pelos filhos
comuns e filhos exclusivos do autor da herança, diante da lacuna como proceder a
partilha consoante a disposição do artigo 1.832 do Código Civil.
Se o número de filhos não ultrapassar a três, a quota mínima do cônjuge
não será afetada, mas se houver quatro filhos ou mais, complica-se a atribuição
do quinhão devido ao cônjuge.
Por falta de previsão a essas situações hoje tão comuns, houve um
grande esforço por parte da doutrina em extrair a melhor solução.
Para FRANCISCO JOSÉ CAHALI
354,
“(...) sendo a prole só do falecido, a participação é uma; mas se o
sobrevivente for ascendente dos herdeiros com que concorrer, está
abrangida a situação híbrida, devendo pois, ser reservada sua parcela
mínima de ¼ na herança, pois não fala a lei em ascendentes de todos os
herdeiros com quem disputar, ou único ascendente dos sucessores”.
No mesmo sentido SILVIO DE SALVO VENOSA
355:
“(...) Se, porém, concorrer com descendentes comuns e descendentes
apenas do de cujus, há que se entender que se aplica a garantia mínima
da quarta parte em favor do cônjuge. O legislador não foi expresso nessa
concorrência híbrida, mas parece ser o espírito da lei”.
Em posição contrária dando interpretação restritiva ao disposto no artigo
1.832 do Código Civil, temos MARIA HELENA DINIZ, ROLF MADALENO,
SEBASTIÃO AMORIM e EUCLIDES DE OLIVEIRA, ZENO VELOSO, CAIO
MÁRIO DA SILVA PEREIRA, por todos transcrevo o GULHERME CALMON
NOGUEIRA DA GAMA
356:
“A regra do art. 1.832 do CC mantém, implicitamente, o critério da
igualdade da divisão da herança caso concorra na sucessão legítima do
falecido o cônjuge sobrevivente e os filhos somente do autor da sucessão
(não comuns), independente do número de filhos. Da mesma forma, a
despeito da lacuna da lei, deve ser adotada a mesma solução para o caso
em que o falecido deixou cônjuge sobrevivente, filhos do casal e filhos
próprios do falecido”.
As posições adotadas consideraram respectivamente as seguintes
soluções: considerar todos os descendentes como se também fossem do cônjuge,
garantindo assim a reserva da quarta parte na filiação híbrida, ou considerar todos
como filhos exclusivos do autor da herança, nesse caso não teria o cônjuge a
reserva do quinhão mínimo.
GISELDA HIRONAKA, estudou a possibilidade de uma solução
conciliatória, fazendo uso das ciências exatas, mas ela própria chegou à
conclusão crítica de que a fórmula criaria uma situação desvantajosa aos
descendentes comuns em relação aos descendentes exclusivos. O que é
repudiado pelo ordenamento jurídico nacional. Qualquer solução matemática
apresentada com atribuições de quotas em desigualdade de quinhões entre os
filhos, exclusivos e comuns, padece de inconstitucionalidade, violando o artigo
227, § 6º, da Constituição Federal.
O preceito constitucional de igualdade entre os filhos fez o legislador
elaborar a Lei n. 7.841 de 17/10/89 – revogando o artigo 358 do Código Civil de
1916 que proibia o reconhecimento dos filhos adulterinos e incestuosos. O
Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei n. 8.069 de 13/07/1990, com intuito de
reforçar e garantir maior igualdade e proteção, posição consolidada no artigo
1.834 do Código Civil de 2002, com a seguinte redação: “os descendentes da
mesma classe tem os mesmos direitos à sucessão de seus ascendentes”.
Ainda que pendente de cálculos complexos, dependendo do número de
filhos, entre comuns e exclusivos, FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS
357apresenta
uma fórmula matemática passível de ser aceita: o autor defende que a solução
para essa lacuna legislativa está na fórmula matemática com divisão da herança
entre todos os descendentes mais o cônjuge, sendo retirada a reserva da quarta
parte somente dos herdeiros comuns
358.
356 Direito Civil – Sucessões ...,p.130.
357 Manual de Direito Civil – Direito das Sucessões, p.208.
358 Fórmula apresentada por FLÁVIO MONTEIRO DE BARROS, “ a) divide-se a herança pela soma dos herdeiros, isto é,
total de filhos e o cônjuge; b) subtrai-se da herança a parte dos filhos comuns; c) apura-se 1/4 sobre a herança, sem a parte dos filhos incomuns, encontrando, desse modo, o quinhão do cônjuge; d) subtrai-se da herança a parte do cônjuge, dividindo o resultado pelo número de filhos. Suponha-se que o sujeito tenha morrido, deixando o cônjuge e uma herança de R$ 1.200,00, além de quatro filhos comuns e um filho incomum. O cálculo deve ser feito da seguinte forma: a) divide a herança de R$ 1.200,00 por 6 totalizando a importância de R$ 200,00; b) retira-se da herança a parte do filho incomum,