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Rádio comunitária “Esplanada FM”

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CAPÍTULO 2 OS CONTEXTOS JURÍDICO E POLÍTICO QUE MOTIVARAM A

4. Rio Grande da Serra

4.1 Rádio comunitária “Esplanada FM”

Não podemos anunciar grandes marcas. Então eles fazem isso que é para acabar mesmo com as rádios comunitárias. Já estou quase desistindo. (José Miguel Tartuci, coordenador da rádio comunitária “Esplanada FM”)107

A estação de trem de Rio Grande da Serra, inaugurada no ano de 1867, é a última da linha 10, “turquesa”, da CPTM, posterior à de Ribeirão Pires. De lá o trajeto até a rádio comunitária “Esplanada” pode ser feito a pé em quinze minutos no percurso. As duas estações têm semelhanças na arquitetura e na montagem das armações. Elas conservam os aspectos históricos.

Estação de trem de Rio Grande da Serra

Foto: Pedro Serico Vaz Filho

107Os contatos com o coordenador da rádio “Esplanada FM” José Miguel Tartuci para a realização

desta pesquisa coordenador da rádio “Pérola da Serra FM” em 18/02/2015, via telefone e posteriormente entrevista presencial no dia 21/01/2016. A checagem e outras atualizações foram efetuadas para oficialização de descrições no presente texto a partir do dia 20/12/2015.

A rádio “Esplanada”, da cidade de Rio Grande da Serra, conta somente com a atuação do diretor José Miguel Tartuci, numa sala (de propriedade do gestor da emissora) em conjunto comercial na Rua José Maria Figueiredo, 773, no Largo da Independência, região central da cidade. O acesso à rádio é por uma única entrada e a emissora é mantida com dificuldades. A programação é totalmente musical, sem a presença de voluntários e sem a possibilidade da participação de ouvintes, embora tenha tido períodos melhores, tanto que as paredes externas do pequeno edifício mantêm inscrições com o nome da rádio e a frequência (92.5 MHz). Contudo, o ano de 2016 inicia-se para a rádio “Esplanada” com novidades. Diante das dificuldades sofridas com custos e ausência de pessoal, a direção da emissora planejou uma parceria com um outro projeto denominado rádio “Alternativa”, uma emissora web gerida pelo jornalista Nilson Alcântara, que também teve atuação na “Esplanada”, em 1996, antes mesmo da emissora ter autorização para funcionamento. A pretensão do projeto é a de “oxigenar”, conforme afirma o jornalista a “Esplanada”, com inúmeros trabalhos para potencializar a rádio pelas mídias sociais e também um vínculo com o jornal “Gazeta São Paulo”, do município. “É uma forma de fortalecer a rádio Esplanada e unir forças com quem faz esse trabalho de comunicação com a população aqui da comunidade. Todo mundo aqui passa por dificuldade, mas se a gente tiver essa união vamos conseguir mostrar que somos capazes”, declara Nilson Alcântara.

A autorização para funcionamento da rádio “Esplanda” foi atribuída no ano de 2002, porém com a frequência de número 92,5 MHz, por ter havido interferências na 87,5 MHz, frequência padrão de rádio comunitária, segundo o Ministério das Comunicações. O projeto da emissora teve início em 1990, antes da institucionalização da Lei 9.612/98. A frequência 92,5 pertencia à rádio “Scala”, concessionada em Santo André, mas transferida para São Paulo. Dessa forma, a referida frequência ficou vaga e esse foi o único canal disponível na época para a “Esplanada”, já que não era possível ao Ministério das Comunicações atribuir à emissora a frequência 87,5 (padrão) pela falta de espaço no espectro local, em virtude de problemas de interferência inclusive nos canais de televisão. “Ainda existem problemas, mesmo com a 92,5, mas, com a possibilidade do sistema digital que está por vir, esse problema poderá ser resolvido”, explica o coordenador da “Esplanada FM”, José Miguel Tartuci, de 75 anos, paulistano, descendente de árabes e formado em engenharia civil. Aposentado, o último emprego dele foi na Encol

Engenharia, onde trabalhou durante 25 anos, na cidade de Goiânia. A inspiração para a atuação em rádio veio das antigas programações das rádios “Gazeta” (que durante os anos 50 até início dos anos 60 tinha programação com músicas clássicas), “Eldorado” (com programação musical e de prestação de serviços, antes de torna-se rádio “Estadão”, em 2011) e “Record” (até o ano de 1990, com variada programação musical, jornalística e esportiva). Assim, iniciou um projeto radiofônico comunitário em Rio Grande da Serra, no ano de 1988. No entanto, foi caracterizado como “pirata” por não ter permissão legal para levar a emissora ao ar. Em 1990, devido a uma denúncia, a emissora foi fechada pela Polícia Federal, com os equipamentos apreendidos e lacrados. “Entraram na emissora, revistaram gavetas, armários. Foi um horror”, revela Tartuci, que respondeu processo durante cinco anos e foi condenado “a carregar pedras nas costas”, como conta. Passou a prestar serviços comunitários diários, durante quatro horas seguidas, em instituições de assistência social/filantrópicas, em Rio Grande da Serra. Mesmo com a condenação, ele prosseguiu com o objetivo da legalização da emissora, somente obtida em 2002. As dificuldades, no entanto, continuaram, conforme desabafa o radialista:

Quando a rádio era pirata, eu tinha mais anunciantes, pois podia dizer o nome de produtos,as promoções e os valores, como o quilo da batata, o preço da melancia do mercado. Com essa Lei 9.612, que é péssima, isso não é possível. O tal apoio para as rádios comunitárias que a legislação permite é só local. Não podemos anunciar grandes marcas. Então eles fazem isso que é para acabar mesmo com as rádios comunitárias. Já estou quase desistindo (José Miguel Tartuci)108

A queixa de Tartuci é a mesma dos demais radialistas, uma vez que só podem contar com apoio cultural e têm custos com a manutenção da emissora, além de exibir os programas obrigatórios do governo, como “A Voz do Brasil” e informes políticos. “temos que fazer o pagamento como as rádios comerciais ao ECAD [Escritório Central de Arrecadação e Distribuição – direitos autorais de músicas]”. No caso de Tartuci, ele tem uma despesa a menos, pois a sede da emissora é de sua propriedade, “mas temos despesas e acham que em rádio comunitária tudo é de graça, tudo é voluntariado, mas não é”. A “Esplanada” já teve períodos melhores, revela, com mais participação da população. No período da pesquisa, a emissora dedicava a maior parte da programação à execução musical e à prestação de serviços. Diariamente, de segunda a sexta-feira, das 8h às 10h, o próprio

Tartuci apresenta o “Jornal da Esplanada”. Em seguida, a programação musical segue até ao meio-dia, com o nome “Deixa a Vida me Levar”, com espaço também aberto à participação do ouvinte, sob o comando do coordenador da emissora. Das 17h30 até às 18h, o momento é religioso e variado. São músicas religiosas, católicas e evangélicas, com a oração “Ave Maria” e também a prece de “Cáritas”, espírita.

Entrada da rádio “Esplanada FM”; aviso dos horários da emissora para visitantes

Sede da “Esplanada FM”

Muro da sete da Esplanada FM

Foto: Pedro Serico Vaz Filho

A desmotivação de Tartuci com a falta de perspectivas de apoio às rádios comunitárias quase levou o radialista à desistência da emissora, mas em busca de soluções iniciou uma parceria com outro profissional da região: o jornalista Nilson Alcântara que antes da legalização da rádio, foi um dos primeiros participantes da emissora. Ele era então estudante de Jornalismo (formado no ano de 2008 pela UNIABC). Atualmente é assessor da imprensa da prefeitura de Rio Grande da Serra e pesquisador da história da cidade e realiza reportagens na webtv “Alternativa”.

Quando iniciei na rádio, o diretor, José Tartuci, se interessou pelo meu desenvolvimento e me convidou para ter um programa sobre a juventude da cidade, que era carente. Não havia internet. Quando entrei no estúdio, adorei. O programa era informativo, com uma linha de orientação para alunos e com musicais da MPB. Tudo em vinil e fitas. Não era uma rádio oficializada, e fiquei durante um ano (Nilson Alcântara)109

109Os contatos com o jornalista Nilson Alcântara para a realização desta pesquisa ocorreram em

19/02/2015, via telefone e posteriormente em entrevista presencial em 20/01/2016. A checagem e outras atualizações foram efetuadas para oficialização de descrições no presente texto a partir do dia 20/12/2015.

nível Represa Billings, em Rio Grande da Serra, com o reservatório de água abaixo do

Para o projeto com a “Esplanada”, Nilson Alcântara resgatou o antigo trabalho de rádio “Alternativa” que colocou em prática no ano de 2002, após a participação na “Esplanada” que mesmo sem autorização do Ministério das Comunicações funcionou até 2004. “Na programação, dava espaço para igrejas católicas, evangélicas. O pessoal gravava um CD e a gente tocava sem cobrar. Trabalhava com apoio cultural. Tocava Hip hop, MPB, música clássica etc”, recorda. Na época, desconhecendo a legislação vigente, foi processado, e os equipamentos da rádio foram apreendidos pela ANATEL, com lacre na sede.

Quebrei o lacre e coloquei a rádio no ar. Não poderia deixar meus apoiadores culturais de fora. Fui condenado a três anos e seis meses de prisão. Entrei com recurso e fui anistiado com a lei do Lula: Menor potencial ofensivo. Anexei todos os ofícios de prestação de serviços comunitários e consegui a anulação do processo pelo supremo. Veio uma carta precatória e, com o advogado, fomos à Polícia Federal. Não cheguei a ser detido e graças a Deus estou limpo (Nilson Alcântara).110

Entre os novos projetos de Nilson Alcântara para a “Esplanada”, o foco é a possibilidade de rede ou transmissão via web, com a finalidade de torná-la mais ouvida e provocar maior participação do público. O jornalista imagina desenvolver na pauta questões relacionadas ao crescimento populacional de Rio Grande da Serra, incentivando a participação dos habitantes do município assim como explorar questões já notadas em outras cidades do ABCD, como a presença dos imigrantes africanos e haitianos, em menor escala que em Santo André, mas perceptível em Rio Grande da Serra também. Pretende tratar, ainda, dos assuntos ambientais no entorno da represa Billings, que diminuiu consideravelmente o volume de água por causa da crise hídrica vivida em São Paulo, do ano de 2014 para 2015: “Rio Grande da Serra é acolhedora, tem áreas verdes, a represa Billings, bica de água, empresas, comércio e uma população participativa”, afirma o jornalista Nilson Alcântara que, no ano de 2015, iniciou um projeto semelhante ao da rádio “Navegantes FM, de Diadema, de criar também um trabalho multimídia, envolvendo televisão e exploração da interatividade via mídias sociais. “Este sistema via internet facilita o nosso relacionamento com a população que gosta de participar, tem vontade, quer se expressar, exercer a cidadania e atuar nas diretrizes políticas. Nesse ponto, rádio comunitária integrada ao sistema NET terá eficiência”, defende Nilson Alcântara. “Os problemas ambientais são visíveis aqui, assim como os sociais, mas podemos crescer, porque toda a vez que algo de bom, de interesse comum é lançado, a população participa e faz a diferença”, completa. Como a sede da “Esplanada” é própria o interesse de Tartuci e Nilson Alcântara é a reanimação do espaço a partir de 2016 driblar toda e qualquer dificuldade, contando para tanto com a participação efetiva da população da cidade, mantendo a porta da

emissora aberta “e claro os microfones também”, declara Nilson Alcântara”, que realiza experimentações com reportagens sobre a comunidade em áudio e vídeo em facebook.

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