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A RÁDIO: DE MEIO SONORO A MULTIMÉDIA

PORTUGUESAS NA INTERNET

VI.1. A RÁDIO: DE MEIO SONORO A MULTIMÉDIA

Angel Faus Belau propunha em 2001 a reinvenção da rádio (Faus Belau, 2001). O autor espanhol defendia que essa reinvenção não poderia limitar-se a uma simples operação de cosmética. A reinvenção da rádio implicaria uma mudança contextualizada numa nova realidade comunicacional, económica, técnica e social. Esta reinvenção decorre da emergência da Internet e da consciência de que a rádio poderá retirar da rede global vantagens que a ajudarão a afirmar-se no mundo dos média na era digital.

O facto de não ser necessária uma concessão, a inexistência de fronteiras para a rádio que pode ser ouvida em qualquer parte do mundo, a crescente utilização do computador e da Internet no mundo Ocidental e o crescimento potencial das audiências para a rádio presente na web são alguns argumentos que servem para justificar a presença online do meio radiofónico.

Sandra Amaral, et. al. (2006:347) identificaram, igualmente, algumas das van- tagens da presença da rádio na Internet. Uma delas é a unificação do sinal. Ou seja, a rádio, através da Internet pode chegar a todo o mundo sem que o recetor se tenha que preocupar em procurar uma frequência para escutar a emissão. Mas, para os autores, “o grande contributo da Internet para a rádio advém da interati-

vidade proporcionada pela rádio online na procura do aprofundar da intimidade entre rádio e ouvinte” (Amaral et al., 2006:349).

É preciso sublinhar que a rádio possui já, na sua genética, potencialidades úni- cas que lhe permitem proporcionar uma comunicação nos dois sentidos entre emissor e recetor. Os programas de phone-in (ou seja, com participação dos ouvin- tes, via telefone) (Crisell, 1994) são, neste campo, exemplares. Sandra Amaral et

al. (2006) referem, no entanto, que estas capacidades de interação que advém

da rádio tradicional são agora potenciadas e aprofundadas com a Internet, por exemplo, com os chats, os fóruns ou mesmo com a possibilidade que os ouvintes têm de comentar as notícias que são disponibilizadas no site da rádio.

A presença da rádio na Internet é vista, também, como uma oportunidade para a criação de canais alternativos e complementares de difusão, seja através de webrádios, de podcasts ou via streaming. Do ponto de vista do ouvinte, a Internet possibilita a escuta de uma infindável lista de emissoras disponíveis em todo o mundo, o que não ocorre em relação à rádio hertziana. Para além disso, a presença da rádio na Internet permite potenciar algumas das suas características inatas. Por exemplo a portabilidade. A rádio é portável desde há muito, mas com a dispo- nibilização de programas em formato podcast, o ouvinte pode, literalmente, trans- portá-los e ouvi-los onde e quando quiser. A Internet permite ao ouvinte, ainda, aceder a conteúdos que tenham sido originalmente difundidos na rádio, mas que na rede global são enriquecidos com a introdução de ferramentas multimédia.

A possibilidade de alargar as fontes de receita da rádio é, igualmente, outra vantagem da sua presença na World Wide Web e, nesta área, abre-se um novo mundo que o meio radiofónico poderá explorar. Ou seja, a rádio encontra na Inter- net inúmeras vantagens. Técnica e tecnológica com a não limitação do espectro podendo chegar a vários pontos do globo com custos mais reduzidos (Penafiel Saiz, 2002:28); de relação com os ouvintes possibilitando ferramentas novas que não estavam ao dispor do meio como chats, fóruns de discussão online, arquivos ou comentários dos ouvintes às notícias; e por fim favorece a experimentação de novas modalidades de expressão para além do som (Saiz, 2002:29; Prata, 2006), como a utilização do vídeo, de cores ou de infografia.

As primeiras experiências das rádios na Internet passaram pela colocação nos sites de informações sobre as emissoras como a programação da rádio ou o his- torial da estação, em particular nas emissoras locais. Nesta fase inicial, as rádios preocupavam-se, acima de tudo, em estar presentes na rede global, não retirando do novo meio as potencialidades que ele de facto poderia oferecer. Quanto muito existia a possibilidade de entrar em contacto com a emissora via mail.

Posteriormente, as rádios passaram a permitir a escuta da emissão em direto num cenário geográfico mais alargado. Esta vantagem foi muito importante, em particular, para as rádios locais, naturalmente com uma cobertura hertziana mais reduzida.

A rádio hoje é uma rádio multiplataforma que tem em si mesma um conjunto de ferramentas que vão para além da sua expressividade sonora. A rádio multipli- cou-se e está presente em várias plataformas:

Hoje, a rádio dissemina-se pela Internet, não perdendo as suas características iniciais (som e linearidade) mas retirando partido das ferramentas online. É a fase multiplataforma, segundo a qual a Internet não substitui a rádio (por- quanto ela continua a existir com som e modo linear) nem lhe serve apenas como complemento. A rádio expande-se pela rede global. Ou seja, para além da rádio de sempre, existe também uma nova rádio que adquire novas formas, lin- guagens e modos de distribuição. Assistimos, por isso, a um fenómeno de mul- tiplicação de conteúdos e formatos radiofónicos e não de substituição. A Inter- net não substitui a rádio, absorveu-a e ao fazê-lo acrescentou-a (Bonixe, 2011) A rádio está presente na Internet, nas redes sociais e nos dispositivos móveis. Em virtude disso, já não vive unicamente do som. Os profissionais da rádio modi- ficaram os seus perfis, pois a exigência de utilização de outros recursos expres- sivos é cada vez maior. É, por esse motivo, que a rádio tem hoje a preocupação de criar conteúdos multimédia que combinem o uso de vídeos, infografias, foto- grafias, etc, ou seja ferramentas que não fazem parte da genética do meio radio- fónico, o que convoca uma reflexão acerca da rádio enquanto meio de comunica- ção, tal como refere Haye:

A atividade radiofónica e a legislação correspondente já não podem definir unicamente mediante a referência a um modelo hertziano ou ao sistema de difusão que utiliza o espectro radioeléctrico, Nem pela sua cobertura geo- gráfica, nem por conceitos em transformação, como simultaneidade e ins- tantaneidade do seu serviço. Nem tampouco pela natureza exclusivamente sonora. Todas estas noções estão em crise. Os processos tradicionais estão a ser modificados pelo modelo digital e o desenvolvimento de outras platafor- mas como o satélite, o cabo, a Internet e o telemóvel (Haye, 2011)

A rádio na Internet enquadra-se na ideia dos média em rede e permite-lhe ganhar uma terceira vida, depois daquela que viveu nos anos 30 do século XX e

a segunda, justamente, com o movimento das rádios locais na Europa. A terceira vida da rádio é o resultado da web 2.0 e das potencialidades e ferramentas intera- tivas que fornece aos utilizadores (Cardoso, 2009:35).

De um modo geral, a rádio poderá beneficiar das várias potencialidades que a Internet tem para oferecer e que não fazem parte do meio radiofónico, como é o caso da memória (possibilidade de criar arquivos sonoros), interação (oportuni- dade para aumentar os níveis de interatividade com os ouvintes) e expansão da emissão (capacidade para difundir conteúdos a uma escala global, independente- mente da sua cobertura hertziana). A rádio pode ainda criar conteúdos em podcast e fazer uso de ferramentas multimédia alargando a criatividade e produção dos conteúdos que deixam de estar limitados ao som. Por outro lado, estar na Internet permite ainda à rádio fazer uso das várias aplicações e dispositivos móveis.

Este novo contexto do meio radiofónico acarreta um conjunto de novos desa- fios para as rádios locais dos quais daremos conta nas próximas linhas.