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Rádio 87 FM

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Capítulo III – Rádios Comunitárias do interior paulista: a região de Bauru

2. O rádio na Região Administrativa de Bauru

2.1. Rádio 87 FM

Elevada à categoria de município em 1898, Agudos conta hoje com 34.221 habitantes, segundo o IBGE (2009), e extensão territorial de 968 km². Está localizada na porção central da RA de Bauru e possui economia baseada na agricultura e em pequenas empresas, com destaque para as maiores empregadoras: do ramo de cervejas, de louças e de móveis para construção civil e de madeireiras.

Operando em 87, 9 MHz e mantida pela Associação Rádio Comunitária do 3º Milênio de Agudos, a Rádio 87 FM, única emissora da cidade, nasceu da iniciativa de João de Matos, morador local que, com o apoio de membros da Igreja Católica, pleiteou junto ao Ministério das Comunicações a outorga para funcionamento da rádio comunitária. A autorização teria saído no final do ano 2000 e as transmissões tiveram início em 2001. A fase de implantação da emissora contou também com o apoio de alguns locutores da região.

A partir de 2007, uma nova equipe de gestores teria assumido a emissora, composta por integrantes da gestão anterior e de membros da diretoria do Abrigo Vicentino de Agudos. Segundo Alexandre Martins Perpétuo43, diretor da emissora, a rádio “só tinha um locutor, não tinha programa ao vivo. Fisicamente estava debilitada, [possuía] dívidas trabalhistas, equipamentos ultrapassados, precisando renovar tudo”.

Atualmente, o Conselho Comunitário, exigência do artigo 8º da lei 9.612/98, não tem atuação na emissora, e sua programação é administrada por um “diretor de programação”, que planejou os programas, horários, suas denominações e outros.

Na perspectiva de Perpétuo, a programação conseguiu atingir um nível de qualidade:

A gente não recebe político, a gente não recebe dono da cidade, dono da..., não. Nós temos uma programação realmente adequada para atender a população. Temos o Minuto Saúde, Minuto Cultura. Então a gente respeita a população de Agudos e leva a eles uma programação de qualidade, onde a gente não coloca nada em questionamento, a não ser que tenha fundamento.

A programação é estritamente musical e apresenta estilos variados, com certa tendência para o sertanejo. Conta ainda com programas religiosos católicos, transmite as sessões da Câmara Municipal e informações sobre esporte profissional e amador. Está no ar 24 horas, ainda que, das 22 às 4 horas, a programação seja automatizada, isto é, sem locutor.

A emissora transmite também pelo site www.87fmagudos.com.br, uma forma de atingir ouvintes de outras localidades e/ou que prefiram o computador como veículo de recepção midiática.

O quadro de pessoal da Rádio 87 FM é composto por voluntários que desempenham suas funções como operador de mesa, comunicador, radialista, etc. Entretanto, notam-se dificuldades em mobilizar e promover a participação popular. “Nós estamos sentindo que está faltando vir gás novo de pessoas que se interessem a chegar na gente de uma maneira organizada para compor uma diretoria que consiga cobrar, atuar, participar em conjunto e não de forma quase individual, do jeito que é feito hoje”, comenta Perpétuo.

Na prática, a gestão da emissora tem sido centralizada na figura do diretor e o planejamento do veículo conta também com as diretrizes do diretor de programação. A população participa, em sua maior parte, no nível das mensagens, pedindo músicas, participando ao vivo, por correio eletrônico, comunicadores instantâneos. A emissora é aberta ainda à participação de segmentos sociais, na divulgação de assuntos de relevância pública. Em menor medida, existe participação popular no nível da produção, nas funções de comunicador, locutor, técnico de som.

Existe também, mesmo que de forma acanhada, a atuação de correspondentes populares que participam por telefone, trazendo ao ar informações dos bairros. “Pegou fogo em uma casa, então a pessoa daquele bairro está precisando; campanha do agasalho. Nós fizemos campanha de doação de coisas para o pessoal do Sul. Então, nós somos parceiros de todas as campanhas das cidades”.

Até o momento não há prática jornalística na emissora, na divulgação de notícias e reportagens. Existe certo receio, por parte dos gestores, nas possíveis consequências que esta prática poderia acarretar. Opta-se apenas pela veiculação de informações de outras fontes jornalísticas. “Nós não fazemos jornalismo próprio para evitar problemas, por enquanto, pela falta de estrutura”, comenta o gestor.

A emissora cumpre ainda importante papel no exercício da cidadania porque consegue levar informações de utilidade à população, como esclarece o depoimento de Perpétuo:

A Sabesp, que cuida da nossa água, do nosso esgoto, esclarecendo isso, por exemplo, tira o mito de que a Sabesp cobra caro pela água. Não, eles cobram caro por um serviço de boa qualidade. Então, a gente vai desmistificando algumas coisas por um lado e por outro lado vai colocando aquela pessoa de menos acesso a determinadas informações. Aquela pessoa da periferia, a gente coloca em sintonia com a cidade através destas informações, que são importantes a qualquer cidadão que se interesse pelo município ou tenha qualquer problema em determinadas áreas.

Como forma de sustentabilidade, a emissora recebe um repasse de quatrocentos reais da Câmara Municipal, pela transmissão das sessões, além dos apoios culturais angariados pelo

comércio local. Existem planos para uma parceria com a Prefeitura Municipal, para o repasse de verba em troca da divulgação de alguns de seus serviços.

Vale ressaltar que o gestor demonstra consciência de que esses vínculos podem trazer prejuízos para a liberdade editorial do veículo. “Nós não precisamos da ajuda da Câmara nem da Prefeitura. Inclusive porque muitas ajudas, às vezes, têm um preço, e nós não queremos pagar este preço de ser vinculado a ninguém”, comenta.

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