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De acordo com o ano de publicação dos artigos selecionados, pode-se destacar um aumento entre 2014 e 2015, com dezesseis artigos (55,0%). O país com maior número de publicações foi o Brasil, com 17 artigos (59,0%). Os artigos indianos corresponderam a três publicações analisadas (10,0%). A língua prevalente foi o português, com dezesseis artigos (55,0%), e doze artigos na língua inglesa (41,0%), e um artigo em polonês.

Tabela 2 - Dimensão transcultural das produções científicas nesta temática.

Continentes Países Número de estudos (N)

América do Norte Estados Unidos 2

América do Sul Brasil 17

Ásia China, Índia, Malásia 6

Europa Finlândia, Polônia, Portugal, Suíça 4

Fonte: Elaborado pela Autora, 2016.

Dos estudos brasileiros, as cinco regiões do país estão representadas. Na Região Sudeste, Universidades de São Paulo, com quatro artigos (27,0%); Universidades de Minas Gerais, com três artigos (20,0%); Universidades do Espírito Santo, com dois artigos (13,0%). Na Região Sul, Universidades do Rio Grande do Sul, com dois artigos (13,0%) e Paraná, com um artigo (7,0%). Na Região Nordeste, Universidade do Rio Grande do Norte, com um artigo (7,0%); Universidade de Natal, com um artigo (7,0%); Centro Universitário Baiano, com um artigo (7,0%). Na Região Centro-Oeste, Universidade de Brasília, com um artigo (7,0%). Na Região Norte, Universidade do Tocantins, com um artigo (7,0%).

A maioria dos pesquisadores são médicos, com o número de oito pesquisadores (31,0%), seis psicólogos (23,0%), quatro engenheiros (15,0%), dois educadores físicos (8,0%), dois fisioterapeutas (7,0%), uma nutricionista (4,0%), um enfermeiro (4,0%), um fonoaudiólogo (4,0%) e uma filósofa (4,0%). Dos 29 artigos analisados, 27 artigos (80,0%) utilizaram instrumentos como questionários e escalas para quantificar seus resultados.

Os desenhos metodológicos dos artigos, em sua maioria, foram estudos transversais, contabilizando onze (38,0%); seis artigos são de caráter descritivo exploratório, somando 35,0%. Os demais, delineamentos metodológicos, como estudos reflexivos, comparativos, coorte e experimental, chegando ao número oito (27,0%).

As publicações nacionais totalizaram 17 artigos (59,0%), todos em português, e as publicações internacionais, 12 artigos (41,0%); destes, um estudo era originalmente escrito em

polonês e, os demais, na língua inglesa. Destaca-se a transculturalidade das produções: as demandas descritas nos estudos brasileiros e internacionais se assemelham quanto aos dilemas da profissão, e quanto aos impactos físicos e psíquicos que alguns sintomas geram nos motoristas de ônibus.

Os autores indianos publicaram três estudos abordando a saúde do motorista de ônibus e os impactos da sua atividade laboral. A maioria dos pesquisadores são médicos, seguidos de psicólogos, enfermeiros, fisioterapeuta, educadores físicos, fonoaudiólogos e nutricionista, representantes da área da saúde; a Engenharia foi representada por quatro pesquisadores engenheiros e, a filosofia, por uma pesquisadora. A seleção dos artigos reforçou a importância da busca pelo conhecimento e de possibilidades de melhorias para esta classe trabalhadora.

Após a leitura dos artigos, a partir da análise dos mesmos, foram formuladas as categorias para a síntese do conhecimento, a considerar: Categoria 1 – Avaliação dos principais potencializadores e tipos de sintomas relatados pelos motoristas de ônibus; Categoria 2 – Aspectos estressantes para os motoristas; Categoria 3 – Principais sintomas gerados pelas condições de trabalho dos motoristas de ônibus.

Tabela 3 - Avaliação dos principais potencializadores e tipos de sintomas relatados pelos motoristas de ônibus.

Estudos Principais

potencializadores de mal-estar para os motoristas de ônibus

Idade média dos motoristas de ônibus

(em anos)

Domínios alterados

2, 9, 12, 13 Carga horária de trabalho diário

43,7 38,4 51

Vigília e atenção e desempenho de seu papel

5, 7, 18 Aumento de peso, ansiedade 47 36,5 38 Físicos, psíquicos e no desempenho de seu papel

8, 14, 20 Barulho do trânsito Não declarada

Não declarada 40, 3

Físicos psíquicos e sociais Fonte: Elaborado pela Autora, 2016.

Quatro artigos (40,0%) abordaram a carga horária de trabalho e as escalas como potencializadoras de mal-estar e responsáveis pelo aparecimento de fadiga e sonolência, alterando domínios de vigilância e atenção concentrada. Três artigos (30,0%) descreveram os potencializadores para aumento de peso em motoristas de ônibus. A idade média ultrapassou os 35 anos, o que contribui para o sobrepeso, já que o metabolismo se torna mais lento, e dirigir reforça o sedentarismo entre os motoristas.

Três artigos (30,0%) abordaram a alteração auditiva no motorista de ônibus causada pelo barulho do trânsito, interferindo nos domínios físicos, psíquicos e sociais. A idade média dos participantes não foi declarada. A exposição ao ruído ocupacional é um agravante para perda da audição; medidas preventivas fazem-se necessárias para minimizar os danos à audição dos motoristas de ônibus.

Os artigos 2, 9, 12 e 13 abordaram a carga horária de trabalho destes profissionais como resultante na sobrecarga mental pelos componentes da direção e tarefas adicionais. A energia muscular diminui após um dia de trabalho, considerando a idade dos motoristas de ônibus e as condições de trabalho.

Os estudos 5, 7 e 18 abordaram o risco de doenças coronarianas, considerando o tempo na profissão e idade superior a 36 anos.

No artigo 20, as autoras analisaram a situação do ruído no interior dos coletivos em Porto Alegre, cidade gaúcha. A média de idade dos motoristas foi de 40,3 anos. O tempo de serviço foi o principal agravante para a perda auditiva. Todas as potenciais causas de mal-estar e as afetações abordadas causam alteração no domínio do desempenho do papel de motorista de ônibus.

Quadro 6 - Os aspectos estressantes para motoristas de ônibus.

Estudos Objetivos Aspectos estressantes Fatores limitadores das

pesquisas

15 Descrever a prevalência

de transtornos mentais comuns

Desconforto sonoro, atos de violência durante o trabalho

Limitação na pesquisa segundo os autores: motoristas com quadros depressivos e ansiosos mais graves não tenham respondido a pesquisa ou não estarem ativos na empresa

16, 19 Análise entre condições

de trabalho dos

motoristas e a violência urbana e ainda as lutas sociais

Violência urbana, gestão organizacional

Limitação na pesquisa segundo os autores: motoristas afastados do trabalho não participaram da análise e a dificuldade de inclusão de motorista de ônibus nas decisões de gestão do seu próprio trabalho.

23, 24, 25, 26 Investigar os fatores que afetam o relacionamento homem trabalho, homem família e estresse e agressividade

Dificuldade de troca de horário, longa jornada no trânsito, ausência de cobrador no ônibus,

Tradução do questionário para o português, número reduzido de profissionais participantes

sensação de desgaste físico constante

27 Analisar a situação de

trabalho dos motoristas de ônibus

Tempo estipulado para as viagens não condizente com a realidade das influências que ocorrem no trânsito. Interferência do passageiro é negativa

Não foram relatadas

limitações para a

pesquisa

29 Discutir a relação entre

condições de trabalho e sua organização pela problematização

promovida pela

ergonomia

Ausência de bancos reguláveis

Não foram relatadas

limitações para a

pesquisa

Fonte: Elaborado pela Autora, 2016.

Os estudos foram realizados, em sua maioria, no Brasil. O artigo 25 foi desenvolvido em Portugal. O enfoque dos estudos eram as condições estressantes de trabalho dos motoristas de ônibus. A queixa principal foi o trânsito; as questões ergonômicas são de grande impacto para o estresse ocupacional.

O estudo 19 descreveu a função política e social da função do motorista e a dificuldade de equalização entre as necessidades dos profissionais e o pensamento organizacional. As movimentações sociais para a melhoria do transporte coletivo urbano junto aos sindicatos excluem o protagonista do transporte; torna-se muda a força de trabalho. O estudo 26 destacou o relacionamento entre a chefia como ponto forte para estresse do motorista de ônibus. O ritmo de trabalho é exigência por parte da organização, que tem na produtividade do motorista seus lucros; por outra via, se os atrasos das viagens são gerados por engarrafamentos e fatores alheios ao motorista, o estressor é dirigir atrasado.

O estresse é um agravante para a insatisfação do motorista com sua profissão. O desrespeito à ergonomia altera as dimensões cognitivas e fisiológicas do trabalhador. O estudo 29 abordou a inflexibilidade entre a ergonomia na realidade do transporte coletivo urbano e as necessidades dos motoristas no exercício de sua atividade laboral. A regulação do banco torna- se um fator de estresse, pois compromete a postura, causando dores lombares e na cervical.

Quadro 7 - Principais sintomas gerados pelas condições de trabalho dos motoristas de ônibus.

Estudos Sintomas Agravantes físico-

psíquicos Oportunidades de melhorias 1, 4, 10, 11, 21, 28 Lombalgias Dores na nuca e pescoço, cervical Inatividade física, movimentos repetitivos, pressão

Implantação de programas de hábitos saudáveis, como deslocamento ativo, pausas no trabalho, melhoria da trafegabilidade

Fonte: Elaborado pela Autora, 2016.

Em destaque, no Quadro 7, observamos que cinco artigos (56,0%) abordam as vibrações dos coletivos como causa para o aparecimento de lombalgias, agravadas por inatividade física e movimento repetitivos. Dois artigos (22,0%) abordaram o desconforto ergonômico e climático como o calor e o frio, causas para as crises renais, diarreias e, ainda, dois artigos (22,0%) apresentam associações entre a vibração nos coletivos e a hipertensão, bem como a problemática do corpo do motorista e o trabalho.

O estudo 3 aborda a realidade do transporte coletivo na China no verão. Apesar dos coletivos serem refrigerados, os motoristas reclamaram da pouca ventilação na cabine da direção e do aumento da temperatura interna do coletivo quando está cheio de passageiros. Os efeitos do calor podem ser minimizados com o compromisso das organizações em instalar ar condicionados, e as cidades investirem no plantio de árvores.

O estudo 6 descreve a interferência do frio na atividade do motorista: a produtividade pode ser alterada por diminuição da concentração devido ao enrijecimento das articulações e reações musculares lentas, dormência e perda de força.

Os artigos 4, 10 e 11 analisaram as vibrações e os agravantes para o desconforto no trabalho. Os movimentos repetitivos durante o trabalho sobrecarregam certos músculos do corpo. Ao longo dos anos, a degeneração desses músculos podem trazer complicações aos motoristas.

O artigo 21 aborda a realidade brasileira quanto ao transporte coletivo: o mau estado de conservação e manutenção dos ônibus contribui para a diminuição do conforto ergonômico para o motorista. O aumento de dores lombares e os desconfortos gerados pela ausência de apoios anatômicos e bancos ajustáveis potencializam os efeitos negativos no corpo dos motoristas.

As melhorias apontadas nestes estudos direcionam ações às empresas que constantemente temem a queda de produtividade do motorista e consideram as medidas interdisciplinares como caminho para conforto físico e psíquico para o motorista.

psíquica fragilizam os músculos

Intervenções interdisciplinares que considerem as necessidades de conforto físico e psíquico

3, 6 Crises renais,

diarreias

Desidratação, hipertensão

Instalação de ar condicionado nos coletivos a fim de amenizar a temperatura interna do ônibus, plantio de árvores pelas estradas

17, 22 Hipertensão, descorporalização Tonturas, dores de cabeça, ansiedade, repressão de sentimentos, estresse

Atendimentos psicológicos como medida de intervenção a questões estressantes e para a verbalização de questões psíquicas

O artigo 22 analisa o paradoxo da corporatividade do motorista de ônibus como corpo coletivo. A realidade de trabalho se passa em uma máquina que deve ser conduzida. A preservação do corpo como parte do processo de trabalho altera a lógica organizacional que prioriza a produção em detrimento do trabalhador.