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2.3 TEORIA DA RACIONALIDADE

2.3.1 Racionalidade Ambiental

Schutel (2011) entende que o modelo de homem parentético das organizações passa a ser uma das dimensões da sustentabilidade. A autora propõe que a análise conjunta da racionalidade e sustentabilidade permite uma reflexão sobre a sustentabilidade a partir de um novo modelo de homem para a prática sustentável, ou seja, aquela da redução sociológica, inserindo valores humanistas à sociedade. Para ela, na sociedade contemporânea o pilar mais evidente da sustentabilidade é o econômico, mas ao inserir neste debate as ideias de Guerreiro Ramos, pode-se instigar que os demais pilares ganhem evidência, permitindo pensar e praticar a sustentabilidade de uma maneira completa, ou seja, considerando o equilíbrio entre os pilares econômico, ambiental e social.

Ao relacionar o tema racionalidade, previamente abordado, com questões ambientais e sociais, destacam-se os trabalhos de Leff (2000, 2001, 2002) que discorrem sobre a racionalidade ambiental. Leff argumenta que há duas racionalidades, sendo uma delas relacionada a sustentabilidade:

 Racionalidade baseada no modelo atual de mercado e de produção, onde a racionalidade é desprendida da ética e da valorização social e ambiental.  Racionalidade alternativa, onde a sustentabilidade é evidenciada. O autor

defende uma mudança de pensar e de postura, o que pode ser compreendido como a mudança para a racionalidade substantiva apontada por Ramos (1966; 1981).

Leff (2002) utiliza o termo ‘ecodesenvolvimento’ para um fenômeno o qual denomina como o caminho da mudança entre a racionalidade predominante (baseada no mercado) e a ambiental. Assim, o autor defende a transformação da racionalidade produtiva que degrada o ambiente e as políticas, e também a colocação em prática dos princípios do ecodesenvolvimento. Isso requer um trabalho teórico e uma elaboração de estratégias conceituais que apoiem práticas sociais orientadas para construir essa racionalidade ambiental no sentido de alcançar os propósitos do desenvolvimento sustentável e igualitário (RODRIGUES- BERTOLDI, 2015). Neste ambiente, a paraeconomia apresentada por Ramos (1981), pode ser entendida como “proporcionadora da estrutura de uma teoria política substantiva de alocação de recursos” (SANTOS, SANTOS; BRAGA, 2014, p. 469). Há muitas atividades que podem ser qualificadas como paraeconômicas, ou seja, há uma tentativa de implementar cenários que representam alternativas aos sistemas centrados no mercado. A paraeconômia vai em desencontro com o que postula Toffler (1970) sobre a sociedade, uma vez que este autor afirma que a sociedade está pautada em uma visão utilitarista de aplicação de recursos em prol de resultados econômicos.

Ramos (1966; 1981) e Toffler (1970) já chamavam atenção para a finitude dos recursos, no entanto, ainda assim, a sociedade parece ter continuado a desenvolver-se por mais de 40 anos sem considerar plenamente estas informações, e sem considerar os limites do crescimento. Sobre este tema Meadows et al (1972), escreveram o livro 'Limits to growth' e 30 anos após, Meadows et al (2004) publicaram uma revisão da obra, ratificando a ideia de que a humanidade continuava a utilizar-se dos recursos de maneira indiscriminada. Randers (2012), um dos autores dos dois primeiros livros, fez uma nova publicação com previsões futuras onde, embora tenha citado possíveis melhorias, a ideia de que o homem tem utilizado os recursos de maneira irresponsável continua presente.

Neste mesmo sentido, Toffler (1970) apresenta o conceito de indivíduo adocrata, o qual é focado no mercado, na vantagem competitiva e no retorno econômico, afastando-se da ideia do indivíduo paraeconômico apresentado por Ramos (1981). O autor aponta que são poucas as pessoas pautadas neste paradigma paraeconômico, mas, ainda assim, acredita que este paradigma tem

crescido e ganhado espaço na sociedade e na academia.

Fernandes e Ponchirolli (2011, p. 619) explicam que Leff chama atenção para a exclusão do saber ambiental, em "um processo de extermínio dos saberes não científicos (saberes errantes, ciganos, nômades), no campo de concentração das externalidades do sistema econômico, social e político, bem como o científico- tecnológico predominante”. Assim, a racionalidade ambiental, segundo Leff (2000), é um movimento contrário à razão baseada apenas no cálculo econômico como critério predominante da racionalidade social. Os autores destacam que a racionalidade social mostra que há divergências entre a racionalidade puramente econômica e o crescimento econômico que contempla o pilar ambiental. É importante o destaque feito pelos autores de que a racionalidade ambiental comporta tanto aspectos instrumentais como substantivos. Trata-se de uma tentativa de conjugar os aspectos formais da sociedade (o aparato estatal e a economia) com os aspectos substantivos desenvolvidos pelo ambientalismo.

Para Leff (2001) as formações teóricas, ideológicas e práticas do ambientalismo tem sentido prospectivo, reorientando valores. Mas, por outro lado, são normas e estabelecem políticas para construir uma nova racionalidade social. O autor discorre que a racionalidade ambiental não diz respeito apenas à natureza, mas considera também a sociedade, ou seja, contempla o pilar social da sustentabilidade.

A substantividade deve, portanto, afastar-se da dominação da natureza, e migrar para um patamar de respeito à natureza e à sociedade (LEFF, 2001). Assim como já afirmado por Guerreiro Ramos, Leff (2001) também defende que a racionalidade ambiental não seja exclusivamente instrumental ou substantiva, pois as organizações podem conter traços das duas lógicas racionais, estando impregnada predominantemente por uma ou outra.

Schutel (2011) faz um resgate histórico sugerindo a necessidade de pesquisas e debates argumentando que a sustentabilidade deve ser incluída nas discussões acerca da dimensão humana. Cabe ressaltar que a sustentabilidade emergiu na década de 1970 com a preocupação sobre a utilização dos recursos naturais do planeta por parte dos sistemas econômicos e com as condições que se proporcionavam às gerações futuras. Portanto, a vida humana é uma preocupação

central deste tema, assim, a autora destaca que para a efetividade da sustentabilidade, é de fundamental importância a redefinição das relações humanas e da relação do homem com a natureza, conforme foi sugerido por Guerreiro Ramos.

Por serem as organizações econômicas aquelas que mais retiram recursos do meio ambiente, deveriam elas, conforme as ideias de Ramos (1981) e Leff (2001), serem rigorosamente replanejadas para considerarem os interesses ecológicos e sociais. Tais organizações deveriam, ainda, visualizar seu impacto em uma sociedade diversa, que abrange diversos cenários, com objetivo de chegarem ao consumo mínimo de recursos.

A partir da explanação de Leff (2001), é possível verificar que ao falar em racionalidade ambiental, muitas vezes ele também faz menção a aspectos sociais e econômicos, o que contemplaria a sustentabilidade como um todo; no entanto, será mantida aqui a nomenclatura adotada pelo autor, que é de racionalidade ambiental.

Destacam-se alguns trabalhos já realizados sobre a racionalidade ambiental, como os de Lima (2005), Fernandes e Ponchirolli (2011) e Souza-Lima (2012). O primeiro destes autores utilizou a racionalidade ao analisar sistemas de gestão de recursos hídricos em experiências internacionais. O autor aponta a insuficiência das teorias da administração para gerir os sistemas de recursos hídricos, que são sistemas socioambientais. Assim, em avaliação empírica, o autor concluiu o quão fundamental é a presença da racionalidade para os sistemas de gestão que estudou. Fernandes e Ponchirolli (2011), ao fazer uma revisão bibliográfica, concluíram que o tipo de racionalidade presente nas ações sociais está condicionada aos valores, a noção de coletivo e a cooperação. Souza-Lima (2012), em trabalho também teórico, discutiu assuntos no sentido de questionar a insuficiência das teorias atuais evidenciando a racionalidade, que avança para chegar na racionalidade ambiental. Ao término de sua discussão conclui que a racionalidade ambiental deve ser entendida como uma racionalidade alternativa de produção e, por isso, o mercado não pode ser central.

O assunto em debate, a racionalidade ambiental, foi pesquisado pelos termos 'racionalidade ambiental' e 'environmental rationality' nas bases de dados Google, Google acadêmico, Scielo, Spell, Ebsco e Proquest. Embora tenham sido

encontrados artigos internacionais, estes não eram no contexto da teoria da racionalidade de Guerreiro Ramos, ou não eram em âmbito organizacional, ou eram teóricos e não traziam contribuições além daquelas aqui já apresentadas por outros autores já citados.

Para finalizar esta seção novamente se recorre a Leff (2002) destacando seus comentários a respeito de que as responsabilidades que deveriam ser tomadas pelas organizações, quanto a problemática ambiental, não vão contra os interesses econômicos e sociais. De acordo com os autores consultados e citados ao longo desta revisão, o problema foi a expansão do modelo capitalista de maximização da produção e lucros em curto prazo, resultando em desigualdades que, por sua vez, geraram efeitos econômicos, ecológicos e culturais desiguais. Como já preveem as teorias a cerca da sustentabilidade, o que é buscado é o equilíbrio dos três pilares.

Após ter compreendido as teorias e conceitos acerca da aprendizagem organizacional, práticas de sustentabilidade e racionalidade, em âmbito organizacional, na próxima seção será apresentado o modelo conceitual desta tese em uma visão integrada destas categorias.