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Capítulo IV: Estudo Empírico

2. Metodologia

2.2. Instrumentos e Procedimentos

2.2.1. Recolha de Dados

Como referido anteriormente, o método de recolha de dados utilizado no presente estudo foi a entrevista. Em termos mais latos, a entrevista pode ser considerada a “acção de trocar palavras com uma ou várias pessoas” (p. 15) e também conversa, discussão ou diálogo, implicando desta forma duas dimensões essenciais: interactiva e discursiva (Bénony & Chahraoui, 1999).

Sendo a entrevista um meio privilegiado de acesso ao pensamento dos indivíduos e devido à natureza qualitativa do presente estudo foi utilizada a entrevista semi- estruturada, tendo sido a mesma áudio-gravada. De facto, os dados recolhidos permitem o acesso à análise do sentido que os actores dão às suas práticas e aos acontecimentos com os quais se vêem confrontados (Rodrigues, 2005; Sin, 2010).

Independentemente do tipo de entrevista utilizado, duas características são comuns a todos: a “entrevista é uma conversa com um objectivo”, sendo a sua aplicação um “encontro interpessoal que se desenrola num contexto e numa situação social

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determinados, implicando a presença de um profissional e de um leigo” (Ghiglione & Matalon, 1977/2005, p. 64).

De acordo com Fernández-Ballesteros (2005), a entrevista é um procedimento utilizado com objectivos distintos. Assim, podem ser distinguidos quatro tipos de utilização da entrevista: controlo, verificação, aprofundamento e exploração, todos eles pertencentes à categorização de entrevista de investigação na medida em que não apresentam consequências no comportamento posterior dos entrevistados, mesmo quando estes fornecem informações acerca das suas atitudes e experiências (Ghiglione & Matalon, 1977/2005). Cada um destes quatro tipos apresenta “um grau de liberdade maior ou menor relativamente a um saber anterior” (p. 85), sendo que quando se trata de exploração pretende-se compreender de que forma o universo é percepcionado pelo sujeito, quais as suas características e funcionalidades; não existindo um conhecimento prévio do nível de informação apresentado pelos entrevistados (Ghiglione & Matalon, 1977/2005). Desta forma, considerando as características do presente estudo, podemos referir que o tipo de entrevista utilizado se insere no campo de exploração, pelas razões anteriormente indicadas.

No que diz respeito à maior ou menor estruturação da entrevista, esta tem um efeito relevante na qualidade da informação que se obtém: o grau de estruturação que se adopta para o conjunto da entrevista ou para a exploração de alguns dos conteúdos é uma decisão que o entrevistador deve ter em consideração (Fernández-Ballesteros, 2005).

A estruturação das entrevistas pode ser de três tipos: directiva, semi-estruturada e livre. No primeiro tipo de entrevista, o conjunto do quadro de referência é previamente estabelecido, sendo rigorosamente cumprido, enquanto nas entrevistas livres é apenas apresentado o tema da entrevista, cujas características são o resultado do seu carácter ambíguo – “ausência de um quadro de referência imposto” (Ghiglione & Matalon, 1977/2005, p. 85) – e alargado (Ghiglione & Matalon, 1977/2005).

No presente estudo, foi utilizada a entrevista semi-estruturada, sendo que esta, como o próprio nome indica, não é totalmente aberta, não sendo orientada por um grande número de perguntas precisas. De início, é necessário um guião, com perguntas relativamente abertas, de forma a ser possível orientar as áreas de informação a receber, sendo a sequência construída de acordo com o decorrer da conversa (Ghiglione & Matalon, 1977/2005; Rodrigues, 2005). No que diz respeito a este tipo de entrevista, segundo De Ketele e Roegiers (1999) esta reflecte as representações que o sujeito tem, na medida em que este tem maiores níveis de liberdade na forma de se expressar, sendo possível recolher informação num tempo de entrevista mais curto do que seria no caso de entrevista livre. Simultaneamente, o

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discurso é sequenciado por partes cuja ordem é sugerida. Aqui existe uma orientação moderada em relação ao objectivo que é pretendido.

É importante ter presente a ideia de que o modo como se implementam os conteúdos nas perguntas pode ter um efeito/impacto no modo como se irá produzir a resposta, em três aspectos: no reconhecimento mais ou menos claro e mais ou menos imediato do conteúdo perguntado, na precisão e no tempo de reacção. Isto significa que para que a informação tenha garantias, a fidelidade e a validade devem estar presentes (Baillie et al., 2001; Fernández-Ballesteros, 2005;)

Relativamente a vantagens e inconvenientes deste instrumento de recolha de dados, podemos referir vários. As vantagens poderão ser a utilização geral em quase todos os sectores da população, o facto de apresentar taxas de respostas mais elevadas, os erros de interpretação serem mais facilmente identificáveis existindo ainda maior eficácia na descoberta de informações sobre temas complexos e carregados de emoção (Fortin, 2003). Os principais inconvenientes dizem respeito ao seu elevado custo, o tempo necessário para fazer a entrevista, o facto da amostra ser mais restrita e de os dados serem mais difíceis de codificar e de analisar.

Para a recolha de dados foi utilizada a entrevista semi-estruturada, tendo sido realizadas durante o período de 13 de Maio de 2010 a 29 de Julho de 2010.

Considerando o facto de as entrevistas terem sido realizadas a alguns elementos da população reclusa de um Estabelecimento Prisional e tendo presente o facto de estas organizações respeitarem rígidas directrizes, foi necessário a aprovação da Directora do Estabelecimento Prisional Regional em causa, assim como a autorização da Direcção Geral dos Serviços Prisionais (Anexo II). Para tal, foram devidamente explicados os fundamentos teóricos da presente investigação, assim como apresentadas as questões que iriam ser colocadas e informado que os dados seriam mantidos confidenciais, sendo apenas necessário o seu tratamento para efeitos do presente estudo.

A entrevista teve início com a apresentação mútua entrevistadora/entrevistado, de forma a ser possível criar um ambiente descontraído e de colaboração (Leandro, 2006). O entrevistado foi informado de que os dados recolhidos se destinavam a um trabalho de investigação, resultante de uma tese de mestrado acerca das concepções que os reclusos apresentam sobre os fenómenos de aprendizagem e delinquência. Foi ainda garantida a confidencialidade dos dados recolhidos, sendo também informada a duração média da entrevista de vinte minutos. De forma a garantir a confidencialidade dos dados, solicitou-se o mínimo essencial de dados pessoais, nomeadamente, o primeiro nome, a idade, o tipo de agregado familiar, a idade em que tinham saído de

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casa e se existiam situações prévias de reclusão. O entrevistado foi informado de que não existiam respostas certas nem erradas, tendo sido também dito que cada sujeito poderia levar o tempo que desejasse para responder às questões colocadas, pedindo- se um esforço de reflexão (Jang, 1999; Leandro, 2006). Aquando da realização das entrevistas, é importante considerar a necessidade de reduzir ao máximo o efeito perturbador das perguntas (Foddy, 1996). Tendo em vista este objectivo, foi diminuída a proximidade psicológica das perguntas, sendo algumas destas colocadas de forma a o sujeito poder relatar o comportamento de outras pessoas e não o seu (Foddy, 1996). No decorrer das entrevistas foi sublinhada a pertinência da liberdade de expressão dos sujeitos, embora reconheçamos que estes não eram completamente “livres” de partilharem as suas opiniões, já que todos estavam condicionados, parcialmente, pela própria situação de reclusão (Leandro, 2006).

Estas entrevistas foram realizadas individualmente, gravadas e transcritas, para que posteriormente fosse possível realizar a análise de conteúdo do discurso dos sujeitos (Marton & Säljo, 1976; Marton et al., 1993; Rosário & Almeida, 2005).

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