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2.2. Objectivos e Finalidades do Ensino da Matemática no Ensino Básico

2.5.2. Materiais Manipuláveis

2.5.2.1. Recomendações para o uso de materiais manipuláveis

Durante a década de sessenta e setenta fizeram-se diversas investigações sobre a utilização de materiais. Porém, os resultados não têm sido muitas das vezes conclusivos. De qualquer modo, vários autores e investigadores recomendam a utilização de materiais manipuláveis no ensino/aprendizagem da Matemática. Costa (1998) refere que é muito vantajoso usar materiais concretos para a construção significativa dos conceitos matemáticos, mas, para que a construção conceptual aconteça, é preciso que o professor planeie a acção a desenvolver com eles e oriente os alunos para a reflexão sobre a acção desenvolvida com os materiais (p.155). Só assim a sua utilização poderá contribuir para uma aprendizagem significativa dos alunos, visto que estes se envolvem activamente, de modo a construírem o seu próprio conhecimento. A utilização de material manipulativo poderá surgir como um facilitador da estruturação cognitiva, visto que há um grande envolvimento físico dos alunos com aquilo que estuda, sendo a aprendizagem feita por descoberta.

Também nos diversos estudos realizados, que comparam o ensino tradicional com o ensino recorrendo à utilização de materiais manipuláveis, defendem que “o uso de materiais manipulativos produz maiores rendimentos que a não utilização, em todas as idades e em todos os anos da escola elementar” (Pires, 1994, p.289). Também Serrazina (1990), sublinha que “ os estudantes que utilizam materiais manipulativos na construção de conceitos têm melhores resultados que os que o não fizeram” (p.1). O NCTM (1991), também sublinha a importância dos materiais manipuláveis, visto que podem proporcionar uma aprendizagem activa, com experiências matemáticas significativas, desde que impliquem o raciocínio e ajudem a superar o “medo” que alguns alunos têm da Matemática. No ProfMat, realizado em 1989, organizado por Veloso e Guimarães, no relatório sobre “Os Materiais e a Matemática”, pode ler-se:

“(…) que a utilização de materiais pode facilitar o processo de ensino/aprendizagem mas … utilizar materiais não implica necessariamente aprendizagem significativa; é preciso seleccionar os materiais e preparar as actividades; o material que serve vários objectivos é melhor pois facilita, por exemplo, o desenvolvimento da criatividade no aluno; o material deve ser um elemento motivador; deve-se variar a forma de aprender; a avaliação da aprendizagem deve ser cuidada e variada e é preciso reflectir sobre as actividades realizadas” (p. 297).

Neste sentido, os materiais podem ser um bom auxiliar nas diversas fases de aprendizagem, podem ajudar os alunos a descobrir, entender ou consolidar conceitos fundamentais. Serrazina é da opinião que “só existe aprendizagem se os alunos estiverem envolvidos activa e fisicamente nas actividades a realizar, pois eles constroem, modificam e integram ideias ao interaccionar com o mundo físico, com os materiais e com outros indivíduos” (1991, p.37). Daí que sejam fundamentais os materiais manipulativos no processo de ensino e aprendizagem para o desenvolvimento de conceitos e competências da Matemática.

Outros estudos mostram que, a mera presença de materiais manipulativos, não garante a compreensão dos conceitos, e que a motivação desenvolvida pelo material se traduza numa aprendizagem significativa. Contudo, é importante estimular o interesse do aluno para a resolução de situações problemáticas, com exemplos do dia-a-dia e não apenas para o manuseamento do material. O interesse do aluno não deve ser atraído pelo material em si, mas sim pelo conteúdo. Neste sentido, os materiais e o seu emprego devem estar em consonância com o conteúdo.

A utilização de manipulativos na sala de aula cria um ambiente, onde o aluno poderá investigar formas para resolver problemas, falar sobre as suas soluções e as de outros alunos, reflectir, conjecturar, fazer perguntas, descobrir estruturas, ... “Geralmente o que faz com que aconteça aprendizagem com os materiais é que eles apelam a vários sentidos e são usados pelas crianças como envolvimento físico numa situação activa de aprendizagem” (Serrazina, 1991, p. 37). Como tal, devemos dar oportunidade aos alunos para experimentar e estes farão uso de todos os sentidos na construção dos conceitos matemáticos. Embora este processo de construção seja longo, requer um envolvimento activo do aluno e ajuda-o a progredir do concreto para o abstracto.

Matos e Serrazina (1996) realçam o facto de em muitas das investigações (Bruner, 1960, Dienes, 1970, Reys, 1974) realizadas existirem fortes evidências “que

permitem afirmar que ambientes onde se faça uso de materiais manipuláveis favorecem a aprendizagem e desenvolvem nos alunos uma atitude mais positiva” (p. 193). No entanto, também, eles salientam que existem investigações (Fennema, 1972; Raphael e Wahlstrom, 1989; Sowell, 1989; Suydam e Higgins, 1977) não conclusivas sobre a eficácia dos materiais concretos nas salas de aula.

Hiebert e Carpenter (1992) refere que existem várias explicações para aquelas conclusões:

“Se os alunos não trazem com eles os conhecimentos que o professor espera, não é fácil para os alunos relacionarem as suas interacções com os materiais com as estruturas existentes. Eles não interpretam os materiais como o professor espera e o uso de materiais concretos dará provavelmente origem apenas a conexões ao acaso” (Matos e Serrazina, 1996, p. 196).

Os autores enfatizam ainda que, mesmo quando um professor usa materiais manipuláveis, os alunos muitas vezes não relacionam essas experiências concretas com a Matemática formal (escrita). Certos materiais são seleccionados para as actividades de sala de aula porque têm implícitas relações matemáticas, que os professores acreditam serem especialmente importantes. Entretanto, não há nenhuma garantia de que os alunos vejam as mesmas relações nos materiais que são vistas pelos professores (Matos e Serrazina, 1996). Outros aspectos referidos pelos autores dos resultados negativos com materiais concretos podem estar associados à distância existente entre o material concreto, e as relações matemáticas que temos e a intenção que eles representem. Outra razão para a ineficácia dos materiais manipuláveis tem a ver com o facto do material seleccionado não se adequar à actividade proposta. De acordo com Vale (2000), o uso de materiais manipuláveis na sala de aula, de nada valerão se, por um lado, o “aluno não os quiser utilizar, e, por outro, se o professor não tiver sólidos conhecimentos científicos e didácticos, conhecimentos sobre a sua utilização e potencialidades e se não permitir que o aluno tenha um papel activo e reflexivo na construção do seu saber, proporcionando momentos de reflexão sobre as tarefas propostas “ (p. 71).