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CAPÍTULO 4 CAMINHOS PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA RÁDIO COMUNITÁRIA CIDADÃ

4.2 A reconfiguração do espaço público local

Antes de adentrar na temática do espaço público local, tais locais de diálogo foram criados em projetos de Estados nacionais e com o amadurecimento dos processos democráticos. Em uma sociedade da informação ou de rede (Castells, 2001), as possibilidades de comunicação são ilimitadas e seus efeitos sobre o social e o político são por vezes, imprevisíveis. As distorções deste espaço são originadas das aglutinações e diferenças entre as várias experiências identitárias que compõem o Estado-nação.

Destas experiências, o Estado pouco absorveu no momento da composição destes espaços de diálogo ou instâncias democráticas de voz, uma vez que a formação de um sujeito mais consciente e crítico de sua condição enquanto cidadão e seus direitos é constantemente bombardeado pelos interesses privados de controle e monopólio dos meios de comunicação, resultando em um número cada vez maior de minorias que não têm acesso às novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC).

As reflexões críticas e análises sobre as limitações do “modelo democrático” vigente nas sociedades capitalistas ocidentais para oferecer alternativas às tensões entre o público e o político-partidário/neocoronelista é o principal norte a se construir na atualidade. O quadro dos conflitos existentes impõe aos movimentos da sociedade civil o desafio de construir instâncias dialógicas, permanentes.

O que se percebe nos atuais espaços de diálogo pesquisados (Serra Redonda, Alagoa Grande e Santa Luzia) é a nociva falta de um projeto voltado para uma:

[...] ação política pautada no entendimento de um “bem comum” ou no resgato do princípio comunitarista de uma certa homogeneidade de interesses, o que garantiria o fortalecimento de vínculos sociais que se reforçam pelo pertencimento a uma identidade, cultura, grupo étnico, religioso comum [...]. (LEAL, 2008, p. 50)

Ao passo em que as instâncias de representação democráticas se amadurecem, novas demandas são exigidas, aqui nos referimos a cidadania multicultural. No caso específico das rádios comunitárias pesquisadas, a insuficiência da efetividade de uma sociedade plena de diferenças não demanda das instâncias estatais, a renovação do quadro de políticas públicas setoriais adaptadas às configurações de novas necessidades sociais, culturais e políticas. Nestes espaços públicos de dialogo anômicos, não se vislumbra a aproximação entre Estado e sociedade civil por meio de processos de interação discursiva, em que o cidadão comum (do meio rural, minoritário) pode assumir papel de protagonista sobre temas de suas necessidades de interesse almejando irradiar suas idéias às instâncias e espaços da política oficial.

A formação do novo cidadão por meio de sua atuação na vida pública, utilizando para isto, os instrumentos de comunicação comunitária, o traz para além de sua condição de eleitor. Sua participação nestes espaços, onde sindicatos, associações, movimentos sociais e demais representantes locais se expressam, contribuem para um papel decisivo na desconstrução da política e do poder, pois ali, a maioria social estaria representada.

O processo de ampliação da democracia exige novos valores reafirmativos das práticas comunicativas advindas dos diversos segmentos sócio-culturais, uma vez que em Sayonara Leal (2008):

[...] as proposições viáveis de modelos combinados, participativos, comunicativos, dialógicos e deliberativos de democracia partem de críticas às limitações do modelo liberal representativo e não da sua superação. Na verdade, apontam para uma ampliação da democracia, prevendo uma maior inclusão do cidadão em processos decisórios, políticos e sociais arbitrados pelo Estado e suas instituições [...]. (LEAL, 2008, p. 52)

Ao que se refere à crítica ao modelo neocoronelista, político-partidário que atua no interior destas rádios, jamais teríamos a extinção das forças políticas no cerne do espaço público, uma vez que:

[...] a política aparece como elemento fundamental para alicerçar debates públicos e, sobretudo, oferecer as bases para a revisão, reflexão e atualização do sentido contemporâneo de democracia e suas possíveis configurações sem estar necessariamente atreladas ao modelo liberal hegemônico da representação [...]. (LEAL, 2008, p. 53)

Obviamente não se pretender afastar o fator político nas rádios, mas seu retorno aos interesses que promovam o “bem comum”, sua superação para a construção verdadeira de espaços dialógicos de confronto, onde os problemas locais possam ser debatidos em “pé” de igualdade com as instâncias decisórias de poder local, contudo, “para que instrumentos de controle público-social possam funcionar é fundamental a constituição de canais de comunicação entre instituições públicas e cidadãos, organizados ou não em entidades civis” (LEAL, 2008, p. 54).

Mais uma vez, o debate fundamental e principal deste trabalho gira em torno dos fatores que proporcionem aos cidadãos das cidades analisadas, as reais condições de acesso aos instrumentos dialógicos que os tornem protagonistas da vida social da comunidade em que estão inseridos. Os efeitos danosos de uma democracia representativa é a principal matriz para os problemas políticos partidários e sua alternância na rádio comunitária.

Percebe-se na atual gestão destas rádios uma espécie de privatização social das vozes, onde é perceptível nas falas dos depoentes a existência de uma “dicotomia nós e eles”. A tensão pré-existente naqueles espaços levou ao conflito em que os atores fora da rádio não reconhece quem controla a emissora, e o mesmo processo foi observado nos diretores e locutores que dizem “desconhecer” uma demanda por novos espaços na rádio.

4.3 A lógica de ação das rádios comunitárias de Alagoa Grande, Serra Redonda e