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Reconhecimento nacional e internacional das águas minerais naturais

naturais de Vidago

A história da hidrologia e o estudo das águas minerais em Portugal desenvolveu-se ao longo do século XIX. Os vários estudiosos foram identificando as substâncias químicas e as propriedades físicas, classificando as águas consoante as características encontradas. Em 1835 o Dr. Agostinho Albano da Silveira Pinto criou o Código Farmacêutico Lusitano no qual distribuía as diferentes águas minerais naturais portuguesas com a seguinte classificação: águas minerais 1ª classe, águas

gasosas e aciduladas, com três ordens; 2ª classe, águas ácidas; 3ª classe, águas alcalinas; 4ª classe, águas salinas, com três ordens; 5ª classe, águas sulfúreas, com três ordens; 6ª classe, águas iodídricas ou bromídricas; 7ª classe, águas metálicas, com três ordens; 8ª classe, águas betuminosas e finalmente 9ª classe as águas simples. Noutros países da Europa a classificação das águas produziu

diferentes resultados mais ou menos complexos. Contudo ao longo do desenvolvimento da ciência foi-se uniformizando a classificação e os parâmetros de análise das águas minerais naturais. O processo esteve sempre sujeito aos condicionalismos que a ciência encontrou. Os novos métodos de análise permitiram descobrir determinados elementos físico-químicos das águas, bem como o estado em que se encontravam os sais. “Mouraeu declarou que uma água mineral forma

um conjunto, para que, aos físicos, aos químicos e aos fisiologistas, compete juntar fatos e observações” (Acciaiuoli, 1949).

Agostinho Vicente Lourenço analisou águas minerais naturais das nascentes de Vidago, Vila Verde, Oura e Sabroso, em 1865 e 1871. Em 1906 Ferreira da Silva e Alberto de Aguiar analisaram a água da fonte n.º 2 e mais tarde, em 1912, Lepierre analisou novamente as nascentes de Vidago 1 e 2 tendo registado uma ligeira melhoria da sua composição em comparação com os resultados anteriores, que estaria relacionada com trabalhos de captação que aí se realizaram. Quanto à nascente da fonte Campilho, esta foi analisada em 1884 por Santos Silva que a considerou igualada à água das Pedras, tendo sido analisada novamente em 1900 pelo Prof. Ferreira da Silva. Quanto à nascente Salus o seu estudo analógico data de 1911 e foi feito pelo Dr. Mastbaum, em 1921; Lepierre achou-a idêntica à de Vidago (separata do “Boletim de Minas” do ano de 1931: 25 à 34).

Todas estas nascentes se encontram relativamente próximas e estão situadas no vale da Ribeira de Oura com exceção da fonte de Sabroso. Os vários estudiosos

52 que foram analisando as águas destas nascentes classificaram-nas da seguinte forma: frias, mesosalinas, bicarbonatadas sódicas e mistas, líticas, arsenicais ferruginosas, gasocarbónicas e muito radioativas. Foram comparadas com as águas de Vichy, sendo a fonte Vidago 1 considerada a mais mineralizada e que ganhou mais notoriedade.

A consideração dada às águas de Vidago desde cedo se manifestou em virtude de serem de características químicas únicas em Portugal, sendo mesmo consideradas superiores às de Vichy, sobretudo pela sua alcalinidade. Estas águas eram exportadas para fora do reino e encontravam-se à venda ao público tanto nos seus depósitos em Lisboa como no Porto, como em casas comercias e farmácias. No livro de autoria do médico-cirurgião Alfredo Luiz Lopes médico-cirurgião datado de 1893 e editado pela tipografia da Academia Real das Ciências podemos encontrar uma lista de farmácias distribuídas geograficamente de norte a sul do país onde se comercializavam águas minerais de Vidago para fins terapêuticos. Da lista faziam parte as seguintes farmácias (Anexo, documento n.º 27):

“Lisboa, Azevedo, Irmão & Veiga, Rua Larga de S. Roque, 32. Porto, Miguel Augusto Moreira Vaz, Praça de Carlos Alberto, 66. Aveiro, Pharmacia Ribeiro Junior.

Braga, Pharmacia de S. Marcos. Bragança, Pharmacia Teixeira.

Caldas da Rainha, José António Lopes. Coimbra, Pharmacia Nazareth.

Chaves, Pereira. Elvas, D. A. Marques. Figueira, A. A. S. Fonseca.

Guimarães, M. J. dos Santos Toural. Régoa, Fonseca e Castro.

Thomar, J. J. de Araujo.

Viana do Castelo, Drogaria Affonso. Viseu, Pharmacia da Misericordia. Vila Real, Pharmacia do Hospital”

53 A internacionalização das águas minerais naturais de Vidago começa com a sua presença nas exposições mundiais de Filadélfia em 1876, quando tinha a Empresa das Águas de Vidago apenas dois anos de existência. Em 1878 as águas de Vidago voltam a estar presentes nas exposições de Viena de Áustria e em Paris para aí voltarem a ser premiadas pelo seu alto valor medicinal com medalhas, das quais não nos foi possível apurar a que classificações correspondiam exatamente. Contudo é nestas condecorações que a empresa procura enfatizar a fama e publicidade. A exposição internacional de Madrid em 1883 projeta ainda mais as qualidades das águas de Vidago, pois aí ganha a medalha de prata, como se de uma competição desportiva se tratasse. Com efeito na época dá-se muita importância ao recurso hidromineral com a publicação do primeiro decreto de 1882 que vinha no sentido da regulamentação das águas minerais naturais. A consagração da qualidade das águas de Vidago reforçar-se-ia com a presença em 1888 nas exposições do Rio de Janeiro e em Lisboa onde arrecadava em cada uma as medalhas de ouro, anunciando um futuro de reconhecimento e grandeza que viria a ter plena concretização no desenvolvimento de uma estância frequentada por as mais altas personalidades da nação. Em 1889 na exposição de Paris novamente atinge o patamar mais elevado com a atribuição da medalha de ouro, única concedida a Portugal na categoria de águas alcalinas gasosas. É com efeito um grande reconhecimento concedido às águas de Vidago logo no país das mais famosas estâncias da Europa. As águas de Vidago, por fim, também estiveram presentes nas duas exposições do Porto em 1865 e 1878 que se realizaram no Palácio de Cristal com a atribuição das medalhas de ouro (imagem n.º 4). Anotamos que a apresentação de águas minerais naturais em exposições universais em finais de séc. XIX era uma estratégia lógica, uma vez que estas exposições eram consideradas como meios de promoção da sociedade industrial e de um país que se queria moderno, aproveitando os avanços da ciência em todos os domínios. Para além das condecorações nas exposições, o reconhecimento internacional adveio também dos artigos editados em várias publicações da especialidade e por vários estudiosos da medicina hidrológica que começam a sair a partir da década de 1860. No já acima referido livro de Alfredo Luiz Lopes podemos encontrar um capítulo que enumera por ordem cronológica entre 1865 e 1892 estudos ou artigos de caris científico que referem a água da nascente de Vidago. Destes destacamos o primeiro, do ano de 1865, “Relatório das análises químicas das águas minerais do concelho de Chaves, feito pelo Dr. Agostinho Vicente Lourenço, professor da escola politécnica de Lisboa que analisou as águas minerais de Vidago por duas vezes. A primeira vez no ano de 1865 e a segunda

54 vez em 1871, esta feita já no local e determinando melhorias na composição química. O relatório das primeiras análises foi editado no Porto em 1865. Este trabalho foi também publicado na parte oficial do Diário de Lisboa, n.º 115 de 22 de maio de 1865, para o jornal da sociedade das Ciências Médicas de Lisboa de 1865 e 1866, e no apêndice ao relatório intitulado “Trabalhos preparatórios acerca das águas minerais do reino pela comissão composta dos srs. Thomas de Carvalho, Agostinho Vicente Lourenço e J. B. Schappa de Azevedo, 1867”. Este trabalho trouxe certamente a visibilidade desejada e lançaria as bases para o sucesso que as águas de Vidago alcançariam. Para além destas “reedições” que datam da década de 1860 encontramos mais 20 estudos ou artigos entre os quais um de 1875 do médico espanhol D. Justo de Haro y Romero, em que este classifica a água de Vidago “Água alcalina – gasosa mineral en el reino luzitano, más importante y benéfica que la de Vichy”. Outros artigos ou notícias de origem francesa que atestam bem da verdadeira importância dada às águas de Vidago são também mencionados.

Imagem n.º 4 - Medalhas e menções honrosas atribuídas às águas de Vidago nas diversas feiras internacionais

55 Alguns livros e estudos académicos vão destacando o nome do já mencionado ilustre e especialista em hidrologia e médico espanhol D. Justo de Haro y Romero, que em 1875 publicava num pequeno folheto que seria também posto à estampa em França, que “Vidago: as águas alcalinas gasosas minerais do reino Lusitano

mais importantes e benéficas que as de Vichy”. Ao longo de várias décadas e até

meados do séc. XX foram muitos os estudiosos que promoveram as qualidades terapêuticas das águas de Vidago. Deixamos aqui pela sua importância e trabalhos deixados e em prol da ciência hidrológica, alguns dos nomes que no nosso entender concorreram para a promoção da estância de Vidago no seu todo, Dr. António Teixeira de Sousa, Dr. Joaquim Tenreiro Sarzedas, Charles Lepierre e Dr. Bruno Costa. O primeiro pelo trabalho desempenhado enquanto gerente da Empresa das Águas de Vidago, o segundo pelo seu percurso profissional e elevado estatuto perante os seus pares e por último e numa fase mais tardia os contributos dado por dois estudiosos no conhecimento da hidrologia em geral e das águas de Vidago em particular (Oliveira, 1970: 106).2

As águas de Vidago obtiveram uma projeção e adquiriram enorme sucesso no contexto do termalismo português no início do séc. XX devido sobretudo a dois fatores fundamentais, por um lado registou-se um enorme investimento por parte da Empresa das Águas de Vidago em consolidar a exploração industrial e comercial da água engarrafada, por outro lado e não menos importante foi o fato da empresa manter uma ligação com a classe médica, apercebendo-se do papel “intermediário” dos médicos procurou criar relações de proximidade e cordialidade, que muito contribuíram para aumento da frequência dos aquistas. Pois os médicos poderiam aconselhar o consumo da água de Vidago durante todo o ano, nas casas particulares (Anexo documento n.º 26 e 27). Argumentando que o tratamento deveria ser prolongado no tempo, mesmo que em doses mais moderadas (Costa, 1966). Por outro lado a presença da comunidade médica na estância para uso próprio das águas seria uma mais-valia, uma vez que seriam esses mesmos médicos que na prática da sua profissão iriam prescrever aos seus doentes a vinda

2 “Aqui estão sempre e têm estado, médicos de altíssimo valor, entre os quais registamos, como preito de homenagem, o saudoso Diretor, Morais Sarmento, flaviense dos mais ilustres que foi Reitor da Universidade de Coimbra, a que sucedeu o Dr. Maximiano Correia, um valor no mundo médico e, atualmente o cientista, Dr. Bruno Costa um dos maiores da medicina nacional, como especialista do aparelho digestivo.

56 à estância de Vidago. Outro elemento que reforçou o renome das águas de Vidago foi a “exclusividade” dos seus responsáveis clínicos. O Dr. Joaquim Tenreiro Sarzedas era um dos principais estudiosos da medicina hidrológica por força das observações colhidas pela inspeção médica às estâncias hidrológicas em 1906 com a obra “Impressões de uma viagem de estudo”. Estes por serem respeitados pela maioria dos seus pares, doentes ou leitores a julgar pelos variadíssimos testemunhos deixados no livro de 1913 elaborado pela empresa, contribuíam para a fidelização da clientela.

A Empresa das Águas de Vidago desde cedo promoveu as suas águas de forma muito apelativa, demonstrando um forte espirito comercial e publicitário. Na tentativa de projetar as suas águas a estância de Vidago utilizava o grande slogan, que era “Vidago a Vichy portuguesa” baseado nas já referidas afirmações do Dr. Agostinho Vicente Lourenço. Com efeito, as qualidades terapêuticas das águas minerais de Vidago formam um compêndio excecional para os publicitários de qualquer época (Anexo, documentos n.º 2, 3 e 7). A publicidade ou promoção passava primeiramente por trazer ao local os peritos em análises químicas, para que os mesmos produzissem um estudo sobre as águas, caracterizando-as e enaltecendo-lhes as virtudes. Médicos especialistas em medicina hidrológica concluíam que as características físico-químicas das águas minerais naturais se diferenciavam das águas “normais” quer pela sua elevada mineralização, quer pela presença de substâncias raras. Influenciavam o metabolismo celular de uma forma ainda não explicável mas altamente eficaz na terapêutica de determinadas doenças. O convite permanente para que a classe médica visitasse a estância de Vidago permitiu que a mesma ficasse sensibilizada para os benefícios produzidos pelas terapias termais. Em resultado, prescreviam mais facilmente curas em Vidago, possibilitando um grande impulso à frequência das termas por todas as classes sociais.

A empresa das Águas de Vidago já no ano de 1913 mandava publicar um livro com todas as informações relativas às nascentes em exploração (Vidago1, Vidago 2 e Vidago 3), descrevendo as características das suas águas, a análise dos seus componentes, bem como as possibilidades terapêuticas. ”Pela mineralização total

da Vidago 2 só pode ser comparada à antiga Fonte de Vidago, a mais rica de todas as nascentes congéneres da Península Ibérica” (Lourenço, 1865.) Encontramos

ainda que investigadores e nomeadamente o professor Charles Lepierre que analisou as águas da fonte Vidago 3, fazia comparações com águas de outras partes da Europa com o objetivo de valorizar as nascentes de Vidago

57 (quadro n.º 3). O livro que continha mais de setenta páginas não era mais do que um autêntico instrumento de promoção comercial e publicitário. Nele encontramos toda a informação referente aos hotéis da empresa e os serviços que os hóspedes e aquistas podiam usufruir na sua estadia na estância. Destaca-se neste livro a enorme quantidade de testemunhos de médicos que entre os anos de 1911, 12 e 1913 estiveram na estância. Enaltece de forma categórica e eloquente as qualidades da estância termal de Vidago bem como as suas águas minerais naturais. Através de testemunhos de quem recorreu pessoalmente aos tratamentos hidrotermais, registou-se nesse mesmo livro, no ano de 1913, a presença na estância de Vidago de grupos de estudantes de medicina das três faculdades de medicina do país: o grupo de Coimbra visitou Vidago em junho de 1913 e era constituído pelo assistente da mesma faculdade, Alberto da Rocha Brito e 12 estudantes; o curso de clinica médica da Faculdade de Medicina do Porto, que terá terminado a visita à estância em 30 de junho de 1913, era constituído pelo professor Tiago de Almeida e 20 alunos; também esteve “em missão de estudo” o 3º ano do curso de medicina da faculdade de medicina de Lisboa, do qual faziam parte duas alunas a saber e por curiosidade (Maria Evangelina da Silva Pinto e Isaura Ângela de Albuquerque Pais)3. Registou-se ainda a visita à estância de Vidago dos participantes do congresso internacional de hidrologia que se realizou em Lisboa. (Águas Medicinais Vidago, Vidago n.º 2 e Vidago n.º 3, 1913: 19, 24). Dos muitos testemunhos referidos transcrevemos aqui um exemplo:

“Ao terminar, em Coimbra, os trabalhos do anno lectivo, fui surpreendido pelo apperecimento de perturbações gastro-intestinaes intensas e rebeldes à variadíssima therapeutica a que recorri. Enfraquecido, neurasthenisado, eis- me, passado pouco tempo, a caminho de Vidago. Vinte dias de tratamento n´esta Estância tiveram como consequência o desaparecimento completo de todas as minhas perturbações digestivas e deram-me uma sensação de bem-estar como há muito não sentia. Retiro-me com a melhor impressão sobre o valor therapeutico da água de Vidago, e com uma profunda gratidão pelos concelhos amigos do director clinico Dr. Tenreiro Sarzedas.

Vidago, 6-9-913

Sérgio Calisto,

3

Este pormenor comprova a mudança de mentalidades em relação ao papel da mulher na sociedade do séc. XX.

58

Professor da Faculdade de Medicina de Coimbra.” (sic. Águas medicinais,

Vidago, Vidago n.º 2 e Vidago n.º 3, 1913: 32).

Quadro n.º 3 - Mapa comparativo das análises das principais águas minerais naturais alcalinas

Fonte: Cem anos de história e progresso de um povo, Pereira, 1965: 17

A divulgação e a publicidade que são feitas às águas minerais naturais acontecem numa época em que as termas estão na moda por toda a Europa. Ilustramos que foram várias as formas de propaganda às Fontes de Vidago. Mas de certeza a presença destas águas em várias exposições internacionais, no final do século XIX e princípio do século XX, proporcionaram a atribuição de várias condecorações e medalhas que elevaram a fama das águas minerais naturais de Vidago. São publicados vários artigos por médicos hidrologistas em que as águas das nascentes de Vidago são descritas quanto à sua composição química superiores às famosas águas de Vichy em França, mas também das de “Neuenahr, Bilin, em Bohémia, de

Fachingen e Ceilenau, no grão-ducado de Nassau, de Rhodna, em Moldavia, de Clopatak, na vizinhança de Kronstad, e podem ser empregadas com vantagem, como estas, em diversas formas de dispepsias, nas afeções crónicas de membranas mucosas, nas obstruções de vísceras abdominais, nos catarros vesicais, etc.” Esta transcrição corresponde a um excerto da resposta do Dr.

59 Agostinho Vicente Lourenço aquando das primeiras amostras para análises que lhe foram enviadas para o seu laboratório em Lisboa, pela câmara municipal de Chaves ainda no longínquo ano de 1863 segundo a descrição de Manuel Joaquim Pereira na sua obra descritiva “Cem anos de história e progresso de um povo”. Repetimos que esta época se caracterizava por um conhecimento sobre a medicina hidromineral a cada passo mais profícuo, sistematizado e científico que evoluiu ao longo do século XIX aproveitando os progressos das demais ciências para enriquecer a área de conhecimento da medicina hidrotermal. Médicos estudiosos de Portugal, Espanha, França e Alemanha investigaram os benefícios das águas no tratamento de muitas doenças. Promoveram experiências baseadas em animais com efeitos muito positivos ou como tratamento complementar da medicina convencional (imagem n.º5). O resultado obtido no combate a determinadas doenças revelou-se vantajoso, tornando-se um recurso suscetível de ser explorado e fator de desenvolvimento, convertendo-se numa fonte de riqueza, proporcionando o arranque de outras atividades que lhe estão ligadas e são subsidiárias, como a hotelaria, e o comércio. Nestes contextos, criaram-se empresas com os capitais necessários, aperfeiçoaram-se os tratamentos prescritos em função de cada fonte e das suas características físico-químicas específicas.

Imagem n.º 5- Doutor Abreu no seu consultório termal

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5. Meios de transporte (caminho de ferro e vias de comunicação no

início do séc. XX)

Com o fim de ilustrar o valor da invenção e implementação do caminho-de-ferro, um meio de transporte mais popular a partir da 2ª metade do século XIX em Portugal, optamos por fazer uma caracterização histórica dos meios de transporte no tempo em que o transporte terrestre ainda se fazia maioritariamente graças a carroças puxadas por cavalos e outros animais. O caminho-de-ferro fez a sua aparição na segunda metade do século XIX, a sua implantação geográfica ao longo do país foi lenta, mas progressiva. Tendo chegado a Trás-os-Montes na primeira década do século XX. Por esta razão acreditamos que fará toda a lógica uma análise histórica dos transportes que apresentamos neste capítulo. Para além disso é com a construção da linha férrea do Corgo que se vai dar um desenvolvimento a todos os níveis na aldeia de Vidago, contribuirá para que ela se transforme numa estância termal de renome.

No séc. XVIII as viagens eram encaradas como autênticas aventuras que poderiam terminar em desgraça. Poucos eram aqueles que se aventuravam numa viagem por motivos de lazer, emocionando-se com os encantos da viagem. Só os representantes diplomáticos e consulares, comerciantes empreendedores e os aventureiros em busca de fortuna percorriam em diligências os inóspitos caminhos que ligavam as nações. Também Portugal naquela altura apresentava péssimas ou inexistentes vias de comunicação; era muito difícil viajar dentro do país. A cavalo ou em carruagens por caminhos tortuosos em que muitas vezes não se distinguia a pista dos terrenos que os ladeavam. Para além da falta de comodidade havia ainda o perigo dos salteadores que percorriam as estradas, perseguindo os mais incautos na tentativa de lhes furtar os seus haveres ou a vida. Pernoitava-se em estalagens onde tudo faltava, sem nenhumas condições de higiene. “Por certo, viajar não era de maneira nenhuma algo apetecível ou sedutor. A programação de uma viagem