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Vidago: de aldeia rural à vila termal (1908-1968)

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO

DOURO

Vidago: de aldeia rural à vila termal

(1908-1968)

Dissertação de Mestrado em Turismo

Sérgio Manuel Rodrigues Pereira

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO

DOURO

Vidago: de aldeia rural à vila termal

(1908-1968)

Dissertação de Mestrado em Turismo

Sérgio Manuel Rodrigues Pereira, n.º 40541

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Veronique Joukes

Composição do Júri:

Professor Doutor Carlos Duarte Coelho Peixeira Marques Professor Doutor Alcino Sousa Oliveira

Professora Doutora Veronique Nelly Paul Marie Joukes

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iii

Agradecimentos

O trabalho de investigação que procurei levar a efeito e que agora termina, trouxe-me ao longo destes trouxe-meses muito ansioso e preocupado, de tal forma que toda a minha família se envolveu comigo neste importante objetivo. Por essa razão aqui deixo os meus maiores agradecimentos. Em primeiro lugar agradeço a minha esposa pela paciência com que suportou as muitas horas de ausência, nomeadamente as horas perdidas na recolha e análise de informação para o trabalho. Em segundo lugar agradeço aos meus três filhos por terem estudado, brincado sem a minha presença; agradeço em particular ao Jorge que me ajudou na parte informática. Agradeço a minha orientadora que procurou incentivar-me para que levasse este projeto até ao fim. Deixo aqui um agradecimento para as pessoas que colaboraram com os seus testemunhos para a compreensão da realidade que pretendi estudar. Agradeço ao meu tio Joaquim que me ajudou na leitura e correção da dissertação, e por fim deixo os meus agradecimentos ao professor Francisco Carreiro pela ajuda prestada.

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iv

Resumo

O trabalho que apresentamos procura pôr em evidência uma realidade específica ocorrida entre 1908 e 1968 na região do Alto Tâmega, mais propriamente no vale da Ribeira de Oura. O foco de pesquisa está relacionado com o desenvolvimento socioeconómico ocorrido na estância termal de Vidago e as alterações que a exploração hidromineral provocou na sociedade vidaguense.

Optou-se pelo método de estudo de caso, porque estamos perante uma realidade circunscrita e delimitada. As técnicas mais utilizadas foram a consulta bibliográfica e a entrevista semiestruturada.

Das principais conclusões a que chegamos, destacamos que a exploração das águas minerais naturais por parte da empresa concessionária da estância consistiu no engarrafamento e comercialização das águas minerais naturais, mas também no desenvolvimento turístico com o objetivo de acolher os aquistas, ao longo de várias décadas. Esta situação provocou um conjunto de mudanças na sociedade vidaguense. A modificação do tecido industrial e do pacote de serviços oferecidos obrigou a diversificar as atividades laborais e fez com que a população de Vidago e terras vizinhas aprendessem novas profissões ligadas sobretudo ao terceiro setor. Verificamos também que o desenvolvimento turístico fomentou a produção agrícola e dinamizou o comércio em consequência da procura de todo tipo de géneros por parte dos empreendimentos hoteleiros.

Por força dos investimentos realizados na estância, nas primeiras décadas do século XX o comércio e o turismo cresceram consideravelmente. Muitas pessoas em idade ativa, inclusive crianças libertaram-se dos trabalhos agrícolas para incorporarem novas capacidades profissionais.

Assistiu-se a um surto de desenvolvimento socioeconómico que contudo não permitiu acompanhar o aumento demográfico, por força da sazonalidade do turismo termal. Esta situação levou a que grande parte da população tivesse que emigrar a partir dos anos 60.

É identificando este dinamismo socioeconómico que podemos afirmar que se deu uma pequena revolução a todos os níveis em Vidago entre os anos 1908 e 1968. O pequeno vale da Ribeira de Oura passou de uma economia baseada somente na

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v exploração agrária para uma economia mista (agricultura versus serviços, completado por alguma atividade industrial no setor do engarrafamento), em que Vidago vê acentuado o estatuto de centro económico e comercial.

Descrevemos os serviços que a estância apresentava aos aquistas, nomeadamente, os vários espaços hoteleiros e as suas comodidades ao longo do seu período de laboração.

Focamos sobretudo na descrição de aspetos ligados ao turismo para recriar a transformação que a vida local sofreu no intervalo temporário selecionado e verificámos que aqui, tal como noutros locais, o turismo se tornou num verdadeiro agente de mudança social, entre outros pela via da aculturação.

Foram por nós também explorados muitos dos aspetos das vivências sociais e culturais entre hóspedes e locais, no salutar convívio durante as épocas termais e ao longo da primeira metade do século XX.

Abstract

The present work seeks to highlight a specific reality that occurred between 1908 and 1968 in the Upper Tâmega region, more specifically in the valley of the Ribeira de Oura. The focus of research is related to the socio-economic development occurred in the spa resort of Vidago and the changes that resulted from the investments of the main vidaguense hidromineral company.

We chose case study methodology, because we have a limited and bounded reality. The most used techniques were the literature review and semi-structured interviews. We conclude that the exploitation of natural mineral waters by the concessionaire over several decades consisted in bottling and marketing activities, but also in tourism development with the goal attract spa goers from all over Portugal. This resulted in a set of changes in vidaguense society. The modification of the industrial infrastructure and services offered in this spa town under construction forced the population of Vidago and neighboring regions to learn new professions linked mainly to the third sector. We also found that tourism development promoted agricultural production and trade, as demand for all kinds of agricultural products was stimulated by the local upcoming hotel “industry”.

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vi By virtue of the investments made by the company in the first decades of the twentieth century trade and tourism have grown considerably. Many people of working age, including children freed themselves from farm work to incorporate new professional skills.

There has been an outbreak of socioeconomic development, but not enough to keep up with the demographic increase, due to the seasonality of spa tourism. This meant that much of the population had to emigrate from the 60s onwards.

Pinpointing this socio-economic dynamism we can say that there was a small revolution at all levels in Vidago between 1908 and 1968. The valley of Ribeira de Oura moved from an agrarian economy to a mixed exploitation of resources (agriculture versus services, supplemented by some industrial activity in the bottling industry), turning Vidago into a local economic and commercial centre.

We describe the services that the resort had to offer to its visitors, in particular the various hotel rooms and their amenities.

We focus mainly on aspects related to tourism to recreate the transformation that the local life suffered between 1908 and 1968 in order to conclude that here, as in other places, tourism has become a real agent of social change, among others by way of acculturation.

We also explored many aspects of shared social and cultural experiences between guests and locals in Vidago.

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Lista de Abreviaturas

CTT Correios e Telégrafos de Portugal

Cândido Sotto Maior (CSM) Cândido da Cunha Sotto Maior

Cap. Capítulo

CMdCh Câmara Municipal de Chaves

DGSGM Direção Geral de Serviços Geológicos e

Mineiros

DG Diário do Governo

DL Decreto-Lei

EN2 Estrada Nacional N.º 2

n.º Número

p. Página

SPP Sociedade de Propaganda de Portugal

USA Estados Unidos da América

UTAD Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

VM&PS, SARL Vidago, Melgaço & Pedras Salgadas; Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada

VMPS, SA Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas sociedade Anónima

vol. Volume

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1

Índice

Agradecimentos………..………III

Resumo………..………...………IV

Lista de Abreviaturas ………..………...VII

Capitulo I ... 5 Introdução ... 5 1. Plano da dissertação... 6 2. Justificação da temática... 7 3. Procedimentos metodológicos ...11 4. Coordenadas espácio-temporais ...14

5. Objetivos de pesquisa e hipóteses de trabalho ...17

6. Apresentação dos fundos documentais ...20

Capitulo II ...22

O aparecimento do turismo termal em Vidago ...22

1. Motivos sociais que promoveram o desenvolvimento do turismo termal ..23

2. Origem e desenvolvimento inicial de Vidago ...27

3 Caracterização da realidade termal no concelho de Chaves (inclusive Vidago) no início do séc. XX ...33

4 Reconhecimento nacional e internacional das águas minerais naturais de Vidago ...51

5 Meios de transporte (caminho de ferro e vias de comunicação no inicio do séc. XX) ...60

Capitulo III ...73

Desenvolvimento socioeconómico da vila de Vidago ...73

1. Principais promotores do desenvolvimento turístico em Vidago entre 1910 e 1930 ...74

1.1. Empresa das Águas de Vidago (VM&PS) ...74

1.2. João Crisóstomo de Oliveira ...88

1.3. Empresa Bastos & Azeredo (Companhia das águas alcalinas Salus) ...91

1.4. Junta de Freguesia de Vidago ...95

2. Unidades hoteleiras entre 1910 e 1940 ...103

3. Formas de estar e sociabilizar na estância de Vidago ...118

(9)

2 5. Novas unidades hoteleiras entre 1940 e 1968 na estância termal de

Vidago ...135

6. Incremento económico e comercial em Vidago entre 1908 e 1968 ...144

Capitulo IV ...152

Conclusões...152

Bibliografia………...……….………157

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3

Índice de imagens

Imagem n.º 1- Primeiro projeto do Hotel do Monte elaborado por Ventura

Terra……….……….40

Imagem n.º 2- Grupo de hóspedes na escadaria do jardim do Grande Hotel em 1898……….… .42

Imagem n.º 3- Grande Hotel de Vidago……….…...45

Imagem n.º 4- Medalhas e menções honrosas atribuídas às águas de Vidago nas diversas feiras internacionais……….…..54

Imagem n.º 5- Doutor Abreu no seu consultório termal……….59

Imagem n.º 6- Meios de transporte no início do século XX, Largo Miguel de Carvalho ………..71

Imagem n.º 7- Estação do caminho-de-ferro de Vidago……….…….72

Imagem n.º 8- Enchimento e capsulagem das águas……….…….81

Imagem n.º 9- Trabalhos de lavagem e das garrafas………..81

Imagem n.º 10- Panfleto publicitário das águas Salus………87

Imagem n.º 11- Diário do Governo de 1925………97

Imagem n.º 12- Hóspedes junto das margens do rio Tâmega……….127

Imagem n.º 13- Festas e bailes de gala……….….128

Imagem n.º 14- Hóspedes durante uma burricada……….…133

Imagem n.º 15- Praia fluvial de Vidago……….….133

Imagem n.º 16- Estrada nacional n.º 2 e rua Alves Teixeira………...147

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Índice de quadros

Quadro n.º 1- População residente nas freguesias do vale da Ribeira de Oura

entre 1864 e 1920………...…28

Quadro n.º 2- População residente nas freguesias do vale da Ribeira de Oura após a criação da freguesia de Vidago (1930-1970)………..…29 Quadro n.º 3- Mapa comparativo das análises das principais águas minerais

naturais alcalinas………...58

Quadro n.º 4 e 5- Meios de acesso até à estância de Vidago……….…66

Quadro n.º 6- Inscrições médicas………84/85

Quadro n.º 7- Capacidade hoteleira das estâncias de Vidago e Salus entre

1910- 1940………..…111

Quadro n.º 8- - Preços de estadias praticados nos diversos espaços hoteleiros

na estância de Vidago……….………...…113

Quadro n.º 9- Distribuição dos aquistas em Vidago segundo o distrito de origem entre os anos de 1941 e 1949……….…………...116 Quadro n.º 10- Preços das estadias nos diversos espaços hoteleiros da estância de Vidago na década de 1960……….…142

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5

Capitulo I

Introdução

“Os montes deviam impressionar muito a imaginação dos antigos, tanto pelo aspeto majestoso e solitário, como pelas suas riquezas minerais que encerravam: compreende-se por conseguinte que se lhe prestasse o culto.”

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6

1.

Plano da dissertação

A pergunta base que vai guiar o nosso estudo é a seguinte: Concorreu a Empresa das Águas de Vidago, entre 1908 e 1968, com a criação da estância termal de Vidago para a transformação de uma sociedade ruralizada numa sociedade prestadora de serviços turísticos, no vale da Ribeira de Oura?

Do ponto de vista formal a dissertação apresenta-se estruturada em duas partes distintas. O primeiro capítulo reúne os subcapítulos em que se desenvolvem os conteúdos relativos ao enquadramento temático, espácio-temporal e conceptual, entre outros. Na segunda parte inserimos os conteúdos que traduzem os resultados do trabalho de campo.

No segundo capítulo da dissertação começa-mos analisar as condicionantes que promoveram a mudança de mentalidades e atitudes da sociedade do final do século XIX. Propomos neste capítulo uma resenha histórica do aparecimento da povoação atual Vidago, da sua toponímia e da posição geográfica no contexto do vale da Ribeira de Oura. A seguir fazemos um levantamento de elementos históricos relativos ao negócio das águas minerais naturais no concelho de Chaves e em particular no que diz respeito às nascentes de Vidago, desde a sua descoberta e até ao ano de 1908. É a partir deste ano que se vai dar um grande desenvolvimento na estância de Vidago. Podemos encontrar nesta parte ainda uma caracterização histórica da implantação do caminho-de-ferro em Portugal e da construção da linha do Corgo até à sua chegada à estância de Vidago.

No terceiro capítulo da dissertação apresentamos uma caracterização histórica dos vários espaços hoteleiros, em duas épocas distintas (1910-1940 e 1940-1968) e todas as suas capacidades. Evidenciamos quem foram os seus promotores e de que forma colocaram em prática os seus projetos de investimento turístico. Fazemos uma caracterização das vivências termais por parte dos aquistas, no que dizia respeito aos tempos de divertimento e lazer. Por fim apresentaremos muitos aspetos por que passou a sociedade vidaguense no que concerne ao dinamismo económico e social durante a época em estudo.

Apresentaremos num último ponto as conclusões que decorreram naturalmente das investigações que produzimos.

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2.

Justificação da temática

O tema do nosso estudo irá estar relacionado e interligado com as diversas estruturas da sociedade vidaguense. Procurará analisar mudanças de comportamento e de paradigmas na sociedade vidaguense ocorridas entre 1908 e 1968, para deduzir se esta sociedade totalmente ruralizada mudou ou não para uma sociedade prestadora de serviços.

Elucidamos que a posse da terra era à época uma aspiração que os portugueses valorizavam em detrimento de outras riquezas e ou atividades. Terá provocado uma pequena revolução a exploração hidromineral na sociedade vidaguense por romper com esta tradição.

Segundo Anselmo de Andrade, teórico sobre a problemática da agricultura portuguesa na primeira República, “possuir terras tem sido sempre uma das

felicidades mais apetecidas da nossa população. Quem tiver percorrido as nossas províncias, tanto do norte como do sul do país sabe bem como isto é verdade. O peso e o custo das contribuições, e os mais encargos da lavoura, podem fazer vacilar o habitante das províncias, mas a tentação de ser lavrador domina todas as vacilações. Seria proprietário e agricultor se tivesse dinheiro, ou houvesse quem lho emprestasse” (Anselmo de Andrade, cit. por Marques, 1994).

A maioria da nossa população no início do século XX era predominantemente agrícola. O censo de 1900 revela-nos que cerca de 3 367 199 pessoas se encontravam adscritas a trabalhos agrícolas, retirando daí o seu sustento. A classe dos camponeses pobres formava a base da pirâmide social. A sociedade ruralizada do início do século XX constituía assim a maioria da população portuguesa, vivendo no campo em condições de vida muito precárias, no limiar da pobreza, tendo diversos vínculos com o sistema propriedade agrícola e retirando desta o rendimento para viver. A sociedade da Ribeira de Oura era constituída essencialmente por um conjunto de pessoas que se dedicava aos trabalhos agrícolas, desprovido de terra que permitisse o seu sustento.

Com o desenvolvimento da indústria e incremento do comércio a distribuição de bens materiais básicos chegou à maioria da população. O aparecimento de casas comerciais com um conjunto de artigos produzidos pela indústria pôs à disposição das populações rurais um leque de produtos de que não dispunham. O comércio e o turismo contribuíram para baixar o impacto que as atividades agrícolas tinham

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8 nos rendimentos nossa população e nomeadamente na sociedade vidaguense. A criação de postos de trabalho tanto nas casas comerciais como nos diversos espaços hoteleiros da vila de Vidago permitiu o aparecimento de uma nova classe social.

O assunto que vamos investigar ao longo deste estudo, há muito que nos intrigava. Muitas são as dúvidas que se punham. O contato com as pessoas mais idosas da região abriu-nos a curiosidade para perceber que realidade foi essa que se desenvolveu no vale da Ribeira de Oura, desde 1908 e até meados do séc. XX, numa região tão periférica de Portugal e em condições dificilíssimas de atraso social e económico.

Encontramos nas pessoas com quem conversámos a nostalgia e a saudade, a cerca de vivências passadas, temporadas muito movimentadas, cheias de atividade, turistas, aquistas e personalidades da alta sociedade que faziam as suas férias e as suas curas na estância termal de Vidago. “Local feiticeiro, esmagado

pelo peso de gerações que viveram o mesmo sonho que a minha: chegar lá todos os anos e reencontrar a terra amada e as pessoas que amamos.” (Castro, 2010:

13).Este relato carregado de sentimento caracteriza de algum modo a realidade que pretendemos investigar.

A escolha deste tema para desenvolver o nosso estudo prende-se com a falta de uma obra que contemple as vivências turísticas da estância termal de Vidago, que ficaram profundamente marcadas nas memórias dos mais velhos e sobretudo dos que pelas mais diversas razões partiram da região em busca de outras condições de vida. Estes por se encontraram geograficamente distanciados procuram no passado as memórias de verões cheios de azáfama turística da estância termal. Por outro lado, os hóspedes sempre tiveram com Vidago e as suas gentes a mais profunda amizade e gratidão pela forma como eram recebidos e servidos. Aliás, dizem os mais velhos, os hóspedes todos os anos voltavam à estância porque encontravam aqui os seus verdadeiros amigos. Segundo conversa tida com a Sra. Emília Almeida nascida em 1937 e funcionária da estância termal desde o ano de 1952, com apenas 15 anos, “os aquistas voltavam ano após ano não só porque se sentiam melhor das suas doenças (enxaquecas) como vinham por gratidão” (Entrevista a Emília Almeida a 10 outubro de 2012).

Procurar entender esta realidade tão peculiar de quem estava para servir e de quem procurava ser servido, é o desafio que nos propomos a nós próprios.

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9 Partindo da leitura da tese de doutoramento de Joukes (2008) concluímos que o turismo termal na região do Alto-Tâmega foi a atividade que mais promoveu económica e socialmente as populações da região desde o final do séc. XIX, tendo sido provavelmente promotora dos mais largos recursos financeiros investidos no início do séc. XX nomeadamente na então povoação de Vidago, contribuindo para o seu desenvolvimento. A referida tese contempla uma análise profunda da exploração pela Câmara Municipal de Chaves das águas minerais naturais no concelho entre 1882 e 1948. Fica aí muito claro que a estância termal de Vidago merece uma análise diferenciada pelo fato de se assistir aí a uma transformação que alterou profundamente as condições de vida e costumes da região. Foi promovida pela Empresa das Águas de Vidago concessionária das fontes nas freguesias Arcossó, Vidago, Vila Verde e Sabroso (Diário do Governo 1893 n.º 200), ultrapassando até em diversos aspetos as condições e serviços oferecidos por Chaves, sede do concelho.

Apesar de as autoridades nacionais e locais (governos e câmaras) apresentarem ciclicamente projetos de investimento por forma a desenvolver os recursos turísticos, com base na exploração das águas minerais naturais, nem todos foram realizados e nem todos estimularam a economia local devidamente. Sendo assim é também importante este estudo, para importunar as mentes mais resignadas para de uma vez por todas colocarem em prática os projetos, ou estes nunca serão mais do que pseudo-projetos. Aos investidores privados e nomeadamente aos gestores da empresa Vidago Melgaço & Pedras Salgadas terão também faltado fundos financeiros, necessários para a modernização das infraestruturas. Fato decorrente da degradação destas e também da urgência em acompanhar a evolução tecnológica e científica ocorrida ao longo do séc. XX. Na década de sessenta do século passado houve quem lamentava a inércia da política da VM&PS:

“Porque é que a progressiva companhia, que tanto benefício tira das suas águas,

não faz da mata um parque digno de ser por todos os aquistas e turistas, principalmente pelos estrangeiros que constantemente percorrem o nosso País e, de modo particular, a povoação de Vidago?” (Pereira, 1965: 34)

Já em 1938, o relatório de inspeções das águas era indicador da necessidade da concessionária proceder à construção de um novo “balneário, moderno, mais amplo projetado de forma a ser executado por fases e em montar um laboratório de análises” (Acciaiuoli, 1938).

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10 Procuraremos com o nosso estudo promover o património das estâncias termais perante os que têm a missão de criar condições para a reconversão destes locais, diversificando o uso das águas minerais naturais, alterando hábitos e promovendo de forma inovadora o uso recreativo deste recurso hidromineral, e tudo isso no sentido de concorrer para a dinamização da economia local.

A cultura e a identidade de um povo ou de uma determinada região estarão mais presentes na memória da sociedade quanto melhor e mais bem preservado estiver o seu passado e nomeadamente o património arquitetónico. O que se verifica é que em relação às estâncias termais em que as concessões estão na posse dos privados não existe hoje, de fato, uma estratégia de âmbito regional por forma a potenciar um modelo de exploração que mais dinamize as economias locais, como sucedeu na primeira metade do séc. XX na região do vale da Ribeira de Oura, com os investimentos por parte da Empresa das Águas de Vidago que potenciaram o recurso hidromineral a vários níveis, tanto a nível turístico, hoteleiro e terapêutico. E por último esperamos que o tema desta dissertação sirva para promover e sensibilizar os mais jovens que estão radicados na região para a importância que os recursos endógenos da região podem ter nas suas vidas e na escolha das suas carreiras académicas. Promovemos o passado para melhor compreender o presente e rentabilizar o futuro.

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11

3.

Procedimentos metodológicos

O nosso trabalho terá por base dois instrumentos metodológicos fundamentais para a persecução da investigação: uma abordagem socio-histórica e a abordagem de um estudo de caso. Pretende-se entre outros, perceber a origem dos fenómenos locais em toda a sua amplitude, compreender o seu processo de desenvolvimento histórico até ter atingido a sua maturação e relacioná-lo no contexto em que está inserido.

Nesse sentido encaminharemos o nosso estudo para as realidades vivenciadas numa pequena região denominada vale da Ribeira de Oura e dos processos históricos por que passou num passado recente (1908-1968).

Estudaremos o desenvolvimento socioeconómico de Vidago, uma vez que consideramos que este conflui entre as décadas de 1910 e 1960 com o período de maturação do turismo termal. Para tal, o estudo assentará num conjunto de procedimentos práticos de recolha, tratamento e apresentação de informação. A sua incidência terá por base fundamentalmente três vetores águas, caminho-de-ferro e turismo.

O método de pesquisa escolhido para abordarmos o nosso estudo teve em atenção a temática a desenvolver, nomeadamente o estudo de caso, por permitir o conhecimento exaustivo dos processos e das relações sociais de um microcosmos predefinido. Apostamos mais em particular no estudo de caso qualitativo que tem a vantagem de poder ser aplicado em várias áreas de conhecimento.

A investigação qualitativa que era anteriormente dominada pelas questões da mensuração, definições operacionais, variáveis de testes de hipóteses e estatísticas alargou-se para contemplar uma metodologia de investigação que enfatiza a descrição, a indução, a teoria fundamentada e o estudo de perceções pessoais” (Bagdon e Biklen, 1994 cit. por Freitas, 2002).

Nos, por exemplo, seguimos, de certa maneira, o percurso estipulado por Norman Denzin e Yvonna Lincol: (1) limitar o caso, conceptualizando o objeto de estudo; (2) selecionar fenómenos relevantes, temas ou questões a enfatizarmos; (3) selecionar dados-padrão para o desenvolvimento das questões de pesquiza; (4) triangular as observações-chave; (5) selecionar interpretações alternativas; (6) desenvolver afirmações ou generalizações sobre o caso. Além disso, o método estudo de caso permitiu-nos pôr em evidência questões “ como “ e “ porque “, perguntas que nos explicam algumas das fontes de investigação, como i) documentos; ii) entrevistas; iii) registo de arquivo; iv) observação direta; v) artefactos físicos.

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12 Apostamos em desenvolver uma investigação de pendor mais prática, baseada numa metodologia de análise histórica, privilegiando a pesquisa de fontes primárias em simultâneo com fontes secundárias, uma vez que aprofundaremos o tipo de fontes primárias consultadas num capítulo posterior, formularemos aqui apenas um comentário relativamente à consulta das fontes secundárias.

Ao longo da investigação, fomos constatando que algumas das fontes por nós consultadas e que são do domínio público como o livro de Manuel Joaquim Pereira (1965), e o livro de João Oliveira Cruz de (1970), retratam a história de Vidago e da sua estância termal de forma muito sentida. O apego e orgulho demostrados retiram aos autores o distanciamento necessário. Para além disso, a descrição dos factos encontra-se por vezes algo romanceada. Teremos por isso a necessidade de contrapor o conteúdo destes e outros livros do género, com outros elementos para daí retirar o verdadeiro do acessório. Constatamos que nestas duas fontes se verifica um olhar concentrado na exaltação das qualidades das personagens (gerentes e sócios da empresa VM&PS, presidentes de Junta de Freguesia e governantes do estado central), que mais contribuíram para o dinamismo da estância termal de Vidago, sem que o mínimo aspeto das suas tomadas de posição fosse contestado, ou eventualmente considerado prejudicial de alguma forma. Os estudos sobre turismo termal e as suas diversas vertentes têm proporcionado nos últimos anos um profícuo conhecimento. Cada investigador procurou delinear o seu estudo em estreita ligação com a sua área de formação. Destacamos aqui alguns investigadores a quem dedicamos muito do nosso tempo para nos esclarecermos sobre a temática: Paulo Pina (1982), Cláudio Ferreira (1994, 1995), Fernanda Neves (2002), Adília Ramos (2004) e Veronique Joukes (2008).

No subcapítulo 6 dedicamos ainda mais atenção as fontes consultadas. Aqui, porém, realçamos que esta dissertação incorporará muito especialmente contributos de 11 pessoas que vivenciaram o período em análise de forma ativa, sendo que a maioria dos entrevistados desempenhou alguma atividade profissional nesse período de tempo. Solicitamos aos mesmos que nos apontassem o seu testemunho por escrito. Para isso colocámos três questões por nós elaboradas a cada entrevistado. Cada um respondeu às mesmas livremente e sem qualquer interferência da nossa parte.

Ao longo da investigação procedemos à recolha de informação que por se encontrar dispersa dificultou a nossa tarefa, por isso foi necessário proceder ao cruzamento de fontes entre investigações anteriormente publicadas e os resultados das pesquisas recentemente por nós obtidos. Para além da investigação formal e escrita houve necessidade de ouvir de forma informal muitos habitantes e antigos

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13 trabalhadores da VM&PS para completar a informação disponível, procurámos visitar algumas unidades hoteleiras, que poucas restruturações sofreram desde a sua abertura, para perceber quais as condições que disponibilizavam aos hóspedes.

Gostaríamos, quanto à terminologia utilizada, formular dois reparos no sentido de a esclarecer. O primeiro diz respeito à designação “águas minerais naturais” (mais recorrente e que está de acordo com a lei vigente) a qual poderá ser simplificada para “águas termais” ou apenas para “águas” por razões de estilo (literário).

O segundo concerne a designação com que nos vamos referir à empresa concessionária dos principais estabelecimentos hoteleiros da estância termal de Vidago. De fato e até 1919 era denominada de Empresa das Águas de Vidago, só que a partir de 1920 a mesma passou a constituir-se como Vidago & Pedras Salgadas sociedade anónima de responsabilidade limitada, ou através da sigla VPS. Irá assumir a partir de 1924 a designação de Vidago, Melgaço & Pedras Salgadas ou a sigla de VM&PS. Será através desta sigla que a empresa mais vezes aparecerá ao longo da dissertação. Contudo procuraremos designá-la por uma ou outra terminologia consoante a cronologia referente à qual estaremos a produzir informação.

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4.

Coordenadas espácio-temporais

As nascentes no vale da Ribeira de Oura inserem-se num território muito ruralizado, distrito de Vila Real, antiga província de Trás-os-Montes, longe dos centros urbanos e distante da vida e da azáfama citadina; fator que aliado às condições climáticas e paisagísticas contribuíram certamente para a tomada de decisão dos investidores na persecução da exploração dos recursos hidrotermais e turísticos da estância. Será a zona em redor destas nascentes e, em particular, toda a atividade turística na dita estância termal de Vidago que estará no foco da nossa atenção.

O estudo que se inicia vai dirigir a sua atenção a partir de 1908, ano em que se inicia a construção do Palace Hotel, empreendimento arquitetónico único de condições excecionais para a época. Será o ponto de viragem para a atividade turística da região. Vidago conhecerá desde então um notável desenvolvimento a par da estância termal. Reparamos que foi em 1909 que a Empresa das Águas de Vidago consegue a propriedade da concessão em definitivo através do alvará de exploração das nascentes Vidago 1 e 2, e a compra dos terrenos da fonte Vidago 2 a Manuel de Sousa, em resultado dum processo judicial com a câmara de Chaves, que chegou através de vários recursos até ao tribunal superior (Joukes, 2008). Tendo plena certeza de que os investimentos estariam seguros para o futuro, está a Empresa das Águas de Vidago desde 1908 disposta a criar em Vidago uma estância termal e aproveitar os recursos hidrominerais, implantando um negócio que lhes era suposto trazer rendimentos avultados no futuro.

A chegada da rede ferroviária em 1910 a Vidago foi um marco muito importante e um vetor de extremamente importante para a exploração da atividade turística e hidromineral. O transporte ferroviário foi o grande impulsionador das populações e das terras por onde passava. Em tempos de realidades tão distintas da nossa, a máquina a vapor era um potencial de desenvolvimento a todos os níveis, económico e social. De certo modo o advento do comboio significou o começo da idade contemporânea em Portugal. Contribuiu para o aumento demográfico, alterando o conceito de velocidade face às limitações humanas, provocando encurtamento das distâncias e do tempo dispensado nas viagens. Os seus utilizadores beneficiaram com o aumento das comodidades deste meio de transporte. O transporte ferroviário foi o salto no devir das comunidades para a modernidade que todas as regiões do país ansiavam no início do séc. XX. É sem qualquer sombra de dúvida, e com imensos exemplos ao longo do país, um fator de

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15 desenvolvimento a que Vidago não foi alheia. Existem casos em que determinados lugares apenas devem o seu desenvolvimento porque aí se cruzaram linhas ferroviárias, levando assim à criação de vida social e construção urbanística. O caso paradigmático do Entroncamento é característico desta realidade que se conheceu em Vidago. Em 1894 a Companhia Real dos caminhos-de-ferro constrói um conjunto de infraestruturas de apoio aos operários e ao equipamento ferroviário que vão originar o seu desenvolvimento. O Entroncamento vai ser local de passagem de ilustres que chegavam ou partiam para a Europa. No restaurante da estação ferroviária almoçavam e jantavam altas personalidades da cultura, escritores como Eça de Queirós, Ramalho Ortigão e Hans Christian Andersen, a ela se referiram nos seus livros (www.ribatejo.com/ecos/entronca).

O arco cronológico 1908 - 1968, escolhido para análise do nosso estudo reflete o período no qual várias estâncias portuguesas instalam a prática e valorização de turismo de saúde relacionado com o termalismo, imitando o que se passou durante o séc. XIX por toda a Europa. Designado de período áureo, foi entre, aproximadamente, 1910 e 1965 que a estância de Vidago cresceu com as suas virtudes e singularidades, procurando captar o interesse dos potenciais públicos, registando a preferência das mais altas personalidades da nação.

É com a criação do parque junto das nascentes e a construção do novo hotel em 1910 que se pretendia implantar em Vidago algo da corte portuguesa. Os acontecimentos revolucionários e a implantação do novo regime republicano fizeram cair por terra todo esse ideal romântico e principesco que se queria dar ao novo hotel. Embora a monarquia portuguesa não tenha tido o privilégio de usufruir do majestoso e elegante hotel, este foi frequentado ao longo do séc. XX pelas mais altas personalidades da nação e dos mais variados campos, da política, da cultura e do espetáculo. De entre as muitas personalidades que fizeram do Vidago Palace Hotel o seu palácio de férias podemos destacar: Sequeira Costa, músico e compositor, Amélia Rey Colaço empresária do teatro, os Presidentes da República Marechal Carmona e Américo Tomas, Marcelo Caetano, Sá Carneiro e Duarte Pacheco, ministro das obras públicas (Castro, 2010: 130, 131 e 133).

Com efeito, é durante o arco cronológico 1908-1968 que vão surgir os principais espaços hoteleiros a funcionarem na estância, promovendo a criação de emprego e gerando uma importante visão turística que irá perdurar no futuro. Os conhecimentos acumulados através do desempenho da atividade turística ficaram enraizados na comunidade da Ribeira de Oura e arredores. A aculturação que se

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16 deu através das relações entre hóspedes e funcionários hoteleiros promoveU a mudança de mentalidades e aproximou as formas de estar falar entre uns e outros. Foi, de fato, uma verdadeira escola de turismo para muitos profissionais que foram transmitindo os conhecimentos do “metier” aos mais novos, uma vez que não existiam escolas de hotelaria.

Para além destas mudanças outras tiveram lugar neste meio século de estudo. Deu-se o incremento comercial e industrial, que permitiu à população da Ribeira de Oura mudar de atividade, ou acumular as tradicionais tarefas agrícolas com as desempenhadas na hotelaria, no comércio e no engarrafamento das águas. Passando assim de uma economia totalmente agrícola para uma economia diversificada, como podemos constatar neste pequeno excerto de Pereira (1965): “A vida de Vidago, atualmente, tornou-se muito diferente daquela que há alguns anos se fazia. Quando a vida se rendilhava em volta de meia dúzia de famílias fidalgas, a quem o povo de Vidago obedecia às suas ordens, tudo era diferente de agora, pois a vila de Vidago segue uma vida diversa e evoluída. O desenvolvimento do turismo levou o povo de Vidago a mudar de atividade. A convivência das águas e a vida hoteleira levaram alguns a arranjar fortuna e outros a juntar umas boas economias. O comércio também se desenvolveu e, por sinal não deixou de favorecer alguns afortunados. Quando à vida quotidiana do povo, ele vive, em grande parte, empregado na companhia das águas de Vidago, Melgaço e Pedras Salgadas, que absorve uma boa parte da população.” (sic. Pereira, 1965: 78). Para facilitar o entendimento dos contextos a estudar iremos por vezes extrapolar as delimitações temporais com o objetivo de evidenciar diversidades ou mudanças que pela sua importância trouxeram novos comportamentos ou realidades materiais distintas à estância de Vidago.

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5.

Objetivos de pesquisa e hipóteses de trabalho

Felizmente se colocou a oportunidade de clarificar esse período áureo. Procuraremos envolver neste estudo todas as partes ligadas ao setor turístico que nele puseram o seu trabalho, empenhamento, recursos e sonhos. Tendo sido o turismo termal a atividade económica que mais impulsionou as comunidades locais da região do Alto-Tâmega desde o final do séc. XIX, à nossa frente teremos com certeza uma tarefa desafiante.

Para que seja possível delinear as grandes linhas do enquadramento socioeconómico do período estudado procuraremos estudar a criação da estância termal de Vidago, nas suas vertentes materiais e imateriais. Investigaremos o aparecimento das primeiras unidades hoteleiras, as infraestruturas de apoio aos tratamentos para os aquistas, bem como a construção de arruamentos, áreas ajardinadas, pavilhões que enquadrassem as fontes das águas minerais naturais com dignidade para acolher os aquistas. Analisaremos a relação com a região nos diversos fatores sociais e económicos.

Destacaremos o processo de desenvolvimento histórico, por que passaram alguns dos empreendimentos hoteleiros que foram criados por investidores em consequência da exploração dos recursos hidrominerais existentes no vale da Ribeira de Oura. Teremos a preocupação de trazer para o nosso trabalho exemplos que reflitam com rigor a realidade da época estudada, que nos transmite o panorama geral dos enquadramentos históricos e sociais que quisermos pôr em evidência. Analisaremos o aparecimento e desenvolvimento das pequenas comunidades nas vertentes demográficas, económica e comercial em virtude da exploração das águas minerais naturais e consequente incremento turístico.

Foram alguns os empreendedores e visionários a pensar e a executar projetos turísticos ainda na longínqua década de 1870 na povoação de Vidago. A Empresa das Águas de Vidago foi fundada em 1870 com um capital de 75.000 mil reis. Os sócios fundadores foram o conselheiro José Pedro António Nogueira, Augusto Cesar da Fonseca e como primeiro gerente e sócio o comendador Miguel Augusto de Carvalho (Pereira, 1965: 21). A localidade será pioneira no arranque turístico e

exploração das águas minerais naturais na região do Alto-Tâmega. Queremos perceber quem foram os protagonistas: se investidores locais ou oriundos de outras

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18 paragens que viram em Vidago a possibilidade de um bom investimento com o objetivo de rentabilizar rendimentos.

A localidade estava a acordar para a modernidade com a chegada súbita das mais altas personalidades que viajando da capital até à província de Trás-os-Montes deram fama e estatuto nacional à então pacata aldeia de Vidago. Identificaremos que motivações levavam os ilustres da nação, nomeadamente elementos da classe da burguesia saída da terceira revolução industrial e aristocratas, a procurarem a estância termal de Vidago para o seu local de ócio, lazer e espaço de promoção de saúde. Tentaremos responder porque motivos as pessoas procuravam as estâncias termais e em particular Vidago para disfrutar dos tratamentos hidrotermais ou para fazer férias, nas primeiras décadas do séc. XX. Procuraremos entender se as motivações dos hóspedes ao longo do tempo do estudo se modificaram por força dos desenvolvimentos ocorridos na ciência, ou na tecnologia, ou por mudanças das mentalidades, para podermos encontrar novos paradigmas e formas diferentes de estar perante a vida das mais diferentes classes sociais.

Trataremos de investigar que procedimentos eram utilizados desde a chegada dos hóspedes a Vidago, bem como seria feita a sua inscrição na estância termal. Qual o tipo de estadia que era praticada e quais os preços praticados nas diferentes unidades hoteleiras em virtude da sua categoria? Como se faria as marcações das estadias?

Procuraremos averiguar como se deslocavam os hóspedes e que meios de transporte utilizavam desde as suas residências até à estância termal ao longo do período estudado. Uma vez que se assistiu a uma revolução dos meios de transporte e das vias de comunicação no séc. XX, dedicaremos a ambas as temáticas um dos capítulos do nosso estudo porque é uma área fundamental para explicar o arranque da exploração dos recursos hidrotermais e consequentemente a atividade turística no vale da Ribeira de Oura.

Dedicaremos uma análise à atividade turística por forma a perceber que tipologias de infraestruturas hoteleiras foram sendo construídas em Vidago ao longo do tempo que estamos a investigar. De fato, fomos constatando que a maioria dos hotéis foi construída no início do séc. XX. Exemplos disso são o Palace Hotel em 1910, o Hotel Avenida em 1911 e o Hotel Salus construído em 1918 (Pereira, 1965). A partir de então, e até à década de 1960 só apareceram em Vidago unidades hoteleiras mais modestas, nomeadamente pensões. Analisar a mudança da oferta turística e do seu crescimento desde o início do séc. XX e até 1968 e relacioná-la com a

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19 procura, pondo em evidência as classes sociais que procuravam a estância termal de Vidago será para esta investigação outro desígnio.

Procuraremos caracterizar os papéis que a direção da estância termal de Vidago desempenhou até meados do séc. XX quanto ao aproveitamento das suas potencialidades, em termos de oferta aos aquistas e turistas, procurando perceber qual a preponderância do uso das suas águas, se mais recreativo ou médico. O estudo que se inicia vai também abordar a problemática da aspiração por parte dos habitantes da Ribeira de Oura a determinados serviços públicos que começam a introduzir-se no quotidiano das populações no início do séc. XX: abastecimento de água potável, serviços de saúde, eletricidade, etc. É neste contexto que iremos pôr em evidência o papel que a empresa concessionária das termas (VM&PS) desempenhou ao longo dos anos. Indicaremos situações concretas em que esta empresa terá contribuído ou com donativos, ou pela aquisição de bens para beneficência das populações da região no sentido de melhorar a vida dos mais necessitados.

Os capítulos II e III servem para responder a estas perguntas. Optamos por direcionar primeiramente a nossa atenção para problemáticas a nível geral para finalizarmos com a abordagem à escala local, na estância termal de Vidago.

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6.

Apresentação dos fundos documentais

Como já foi mencionado no subcapítulo dedicado à metodologia, o estudo que apresentamos levou-nos a uma busca de documentação em vários tipos de fontes, que apresentavam perspetivas diversas que até, à primeira vista, extrapolavam o âmbito da nossa dissertação, sendo a atividade turística uma componente da economia pouco valorizada à época, o assunto era tratado no âmbito das mais diversas situações e entidades.

Dos vários tipos de bibliografia que consultámos, destacamos a documentação de fontes primárias. A procura das fontes documentais nem sempre foi facilitada. Muitas delas são destruídas ou existem, por parte de quem as detém, muitas renitências para as pôr à disposição de quem pretende esclarecer o passado. Por ser assim, não dispomos de todo o conjunto de informações que seriam importantes para a análise do estudo que delimitamos. Existe outra situação que tivemos que ter em conta quando estivemos a redigir a nossa dissertação: a gestão da estância termal esteve sempre na posse de privados. Quanto ao Vidago Palace, este inicialmente foi gerido pela Empresa das Águas de Vidago e posteriormente - a partir de 1920 e após alteração da denominação da mesma empresa - pela VM&PS. Muitos documentos foram sido destruídos ao longo das décadas em virtude da falta de espaço para o seu armazenamento, ou mesmo por falta de sensibilidade dos gestores.

A comunicação escrita, em particular os jornais locais, foi outra fonte muito rica em conteúdos que versam a problemática da exploração hidromineral, bem como dos seus diversos protagonistas.

Na Biblioteca Municipal de Chaves encontrámos um vasto leque de jornais que se publicavam entre 1900 e até ao início do Estado Novo. Entre estes destacamos o

Intransigente e a Voz de Chaves que relatam com uma cadência semanal os fatos

e os desenvolvimentos ocorridos no concelho, com especial destaque para a exploração das águas das nascentes de Vidago. Concluímos ao consultar os jornais flavienses que a informação acerca das fontes vidaguenses foi rareando a partir de 1908/09, por força da perda da propriedade das águas minerais naturais de Vidago por parte da câmara de Chaves. O interesse foi-se desvanecendo em detrimento de outros assuntos e polémicas, como a construção de vias de comunicação, distribuição de energia elétrica, etc.

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21 A estrutura dos jornais no início do século XX não era muito diferente dos atuais. Por norma eram constituídos por uma folha dobrada em dois totalizando quatro páginas. Com efeito, reparamos que até 1908 o assunto das águas minerais naturais era manchete de primeira página e que se apresentavam grandes artigos defendendo os diversos pontos de vista conforme a cor politica que estava por detrás da publicação. No interior dos jornais encontramos notícias menores bem como seções destinadas a correspondentes, nomeadamente de Vidago, que nos davam informação sobre fatos ocorridos em Vidago e na sua estância. Podemos encontrar ainda uma seção que se dedicava a informar a opinião pública de quem viajava ou ia a banhos para as diversas estâncias de águas minerais ou de mar. Uma fonte secundária que resumiu fontes primárias, de grande interesse para o nosso estudo foi a obra de Firmino Aires (Incursões Autárquicas, 2000) que resume as atas da câmara municipal de Chaves desde 1860 até 1960. Permitiu-nos ter conhecimento de um conjunto de fatos que eram promovidos pela câmara municipal de Chaves referentes às nascentes de Vidago e à promoção da construção da linha do Corgo. É através dos conteúdos desta obra que iremos aprofundar as decisões por parte da câmara municipal de Chaves em relação às águas minerais de Vidago, por forma a confrontar, e verificar aquela fonte com as situações e processos em análise.

Foi por nós também explorada a correspondência mantida entre a câmara municipal de Chaves e a junta de freguesia de Vidago e entre esta e as diversas entidades como por exemplo o Governo Civil de Vila Real.

Para além destas fontes diretas consultamos um variado leque de fontes secundárias que serviram para enriquecer e completar os dados apurados em fontes primárias da época. E por fim repetimos que todas as informações assim obtidas foram cruzadas e enriquecidas com os dados obtidos através das entrevistas a pessoas que trabalhavam em Vidago no intervalo 1908 e 1968.

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Capitulo II

O aparecimento do turismo termal em Vidago

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1.

Motivos sociais que promoveram o desenvolvimento do turismo

termal

Para que os negócios e empreendimentos turísticos tivessem sucesso, novas formas de estar perante a vida tiveram de surgir na sociedade do século XVIII. A alta sociedade desse tempo sentia necessidade de experiências de lazer, descanso, na procura do bem-estar físico e mental, de total desprendimento da vida cotidiana e em contato com a natureza. Novas mentalidades foram crescendo ao longo dos séculos XVIII e XIX, enraizando-se na sociedade de final deste século e princípio do século XX. Tornou-se costume e regra fazer férias nas estâncias termais, principalmente pelas classes abastadas, mas também pela burguesia industrial e comercial. Era chique e estava na moda procurar as termas para recorrer aos seus tratamentos hidrotermais com o objetivo de combater doenças do foro digestivo, respiratório, músculo-esquelético, etc., mas também para aí encontrar os seus pares. Serviam estes contatos para pôr a conversa em dia, preconizando acesas discussões sobre assuntos da atualidade. Ali se reuniam intelectuais, políticos, artistas que passavam horas em animadas construções filosóficas sobre a vida, o homem e mundo. Usufruindo do ameno clima da estação estival e das belezas paisagísticas dos belos jardins, ou da região. Todos estes recursos ainda estavam num estado virgem, contudo as suas potencialidades já estavam entendidas pelos empreendedores das empresas que viam no turismo termal uma atividade rentável. Um dos símbolos da civilização burguesa do fim de mil oitocentos era sem dúvida a vida ao ar livre preferindo os espaços abertos e arborizados. O passeio público e jardins passaram a ser locais de sociabilidade. Dá-se início a uma nova motivação para viajar, os viajantes com objetivo exploratório e de negócios, dão lugar a um segmento diferenciado de pessoas da burguesia e aristocracia, que na posse de rendimentos, estão disponíveis para a prática de atividades que lhes permitam sair do seu cotidiano. O lazer, o ócio e a procura de bem-estar e saúde, são premissas que entram na vida destes turistas, quando vão à procuras de um local de férias. As estâncias termais, para além de oferecer e conservar a sua função medicinal por norma diversificam a oferta para ocupar o tempo além dos tratamentos; promovem um quadro de encontros e sociabilizações, que recriam ambientes de espirito e filosofias próprios das termas romanas (Ramos 2004: 57).

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24 O movimento higienista nascido no séc. XVIII muito contribuiu como disciplina científica para a divulgação de ideias como a conservação da saúde e o prolongamento da vida. Foram produzidas revistas, manuais e tratados que publicitavam que para uma vida saudável se deveria fazer estadias em espaços naturais com aplicação de tratamentos de águas minerais naturais ou marítimas (Paixão, 2009)

Outro papel importante no crescimento da popularidade de uma ida às águas foram os médicos. Na posse dos conhecimentos científicos à luz da época, nomeadamente das características físico-químicas e dos benefícios das águas minerais naturais, foram eles que promoveram o uso curativo destas águas, ajudando assim na criação de fluxos turísticos consideráveis às estâncias termais de toda a Europa. Em toda a Europa, e até pelo mundo fora, os balneários foram equipados com os mais modernos equipamentos médicos para a época prestando serviços muito personalizados, e nunca antes vistos. Os hotéis dispunham das mais variadas comodidades. Salas para leitura, salas de jogos de mesa, salões de bailes e festas, permitindo a satisfação de uma elite ociosa.

O Imperador Napoleão III foi frequentador assíduo nas termas em estadias de 11 dias para curas nos anos de 1856 a 1866 em Saint- Sauveur e Vichy respetivamente. Era rodeado de uma enorme comitiva constituída por ministros, monarcas e governantes estrangeiros, que frequentavam as referidas estâncias ora por convite do imperador, ora por motivos estaduais, promovendo deste modo as estadias nas estâncias e levando inclusivamente à criação de uma verdadeira diplomacia termal. A provar esta tendência regista-se o encontro que se realizou em

Vichy entre Napoleão III e o ministro italiano Carvour do qual resultou, uma

declaração de guerra da França contra a Áustria (Schall 1994, Longenux Villard, 1990: 28; Gerbad, 1983).

Na Alemanha no séc. XIX o balneário de Baden-Baden torna-se na capital do veraneio de políticos de toda a Europa. Nos seus belos jardins passearam-se personalidades dos mais variados campos: reis, artistas, banqueiros, altas patentes militares e governantes como Bismarck que conduzia a política alemã em pleno gozo de férias a partir da estância de Baden-Baden. Aqui se faziam elegantes e chiques festas, concluíam-se toda a espécie de negócios e até Brahms compunha as suas sinfonias (Miguez, 1991). Nos dias que antecederam à eclosão da primeira grande guerra era nas estâncias termais que se tomavam as decisões do grande conflito. Associadas às estâncias termais eram construídas casinos que tinham

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25 várias funcionalidades: a exploração de jogos de azar, bem como a organização de festas e espetáculos musicais para apresentar à alta sociedade hospedada nos hotéis de luxo da estância. Era a denominada “Belle-Époque” ou anos dourados do turismo termal. Toda esta camada aristocrática e até mesmo excêntrica que frequentava as estâncias contribuiu para o desenvolvimento da medicina, uma vez que levou a que a classe médica se interessasse por estudar e investigar os benefícios das propriedades físico-químicas das águas minerais naturais. “Permitindo em simultâneo um esforço e uma obra notável de engrandecimento, da arquitetura e do urbanismo termal” (Ramos 2004: 105-106).

Desde o final do séc. XIX que a assistência médica vinha tendo um grande avanço tanto na medicina preventiva como curativa. A última fase da monarquia contribuiu para a criação de estabelecimentos de ensino científico que promovessem as melhores práticas da biologia e da medicina contribuindo para melhorar os índices de mortalidade infantil. Destacando-se nestas politicas os ministros José Luciano de Castro e Eduardo Coelho. É neste ambiente de preocupação de saúde pública por parte do estado que este prosseguiu uma política de assistência médica também adequada ao termalismo. Muitas foram as câmaras municipais e particulares que através dos contratos de exploração autorizados pelo estado, empreendem a construção de infraestruturas de apoio aos que afluíam dos centros urbanos para a prometida cura (Serrão, 1999: 466).

O caso português insere-se num processo por imitação que chegaria mais tarde, já em finais do séc. XIX e princípios do séc. XX. As termas passam a ser destino turístico predileto da alta sociedade portuguesa da época. É moda e chique ir a banhos ou ir a águas para termas ou praias, não esquecendo, já agora de relevar, a maravilhosa costa marítima portuguesa, que ela também, convida à descontração das populações. A época de veraneio constitui-se assim como uma ocasião de ócio e lazer que todas as camadas sociais anseiam atingir. A maioria dos jornais da época que eram editados na região de Trás-os-Montes trazia uma coluna onde informavam que determinadas personalidades chegavam às estâncias termais para irem a banhos. “Encontra-se na estância de Vidago a fazer uso daquelas águas o

ilustre professor de medicina, Sr. Dr. Egas Moniz” (Povo do Norte, 26 de agosto

1927 n.º 14).

Através destas mini-notícias eram promovidas indiretamente as férias nas estâncias termais ou na praia e assim largas camadas da sociedade ansiavam por momentos de lazer e bem-estar naqueles ambientes. Com todas estas mudanças dá-se a

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26 democratização do uso de serviços turísticos e termais. Para além das elites, a pequena e média burguesia, que retira os seus rendimentos ou do comércio ou da pequena indústria do têxtil, sente que pode disfrutar de estadias para repouso e tratamentos termais, uma vez que o seu poder aquisitivo o permite. É precisamente esta mudança de paradigma que vai influenciar a criação de oferta turística e especialmente de alojamento das estâncias termais e em particular em Vidago. Perante a realidade termal e turística que se vivia no início do séc. XX por toda a Europa, em por exemplo Baden-Baden e Bad Homburg na Alemanha, Vichy e Vittel em França, verifica-se que a elite e a alta finança portuguesa viajam e frequentam algumas dessas estâncias sobretudo, as de Vichy (João Marques Júnior e Egas Moniz 1913). A estância de Vidago promoveu o prestígio e benefícios das suas águas no início do século XX, contudo faltava-lhe as infraestruturas de primeira categoria que a colocassem ao nível dos centros de veraneio europeu de bem-estar e lazer. É também neste contexto que a empresa das Águas de Vidago encontra motivação e justificação para investir em Vidago, promovendo uma relevante revolução construtiva com um hotel de características únicas no país e dos mais conceituados a nível mundial na época.

A desadequação do parque hoteleiro e insuficiente número de camas, mas sobretudo, a falta de níveis de conforto exigidas por uma clientela elitista e habituada a frequentar as estâncias estrangeiras vai obrigar a Empresa das Águas de Vidago a tomar uma decisão crucial em 1907: aceitar que mantinha o status quo com lucros seguros, resultantes da comercialização da venda de água engarrafada, ou apostar num grande investimento que permitisse concorrer com as mais importantes estâncias termais da Europa. Querendo que a realeza e a aristocracia portuguesa voltassem a hospedar-se em Vidago, como o haviam feito nos anos de 1875/6 e 7, com a presença do rei D. Luís I e da rainha D. Amélia (Pereira, 1965), a empresa das águas de Vidago promoveu um grande investimento. Com a oferta de serviços turísticos e termais de qualidade superior e jamais encontrados no país, ou seja optando pela inovação, assegurava-se a possibilidade de concorrer numa posição favorável no mundo termal e hoteleiro. O modelo seguido por pequenas estâncias e nomeadamente aquela de Vidago procurou imitar uma moda artificialmente instituída por uma plêiade de médicos ou homens de negócios, mas também manifestava uma resposta a uma forte aspiração a cuidados de saúde, higiene, repouso e bem-estar por parte de uma camada da sociedade. As termas tornam-se locais de prazer e de jogo, “dadas à moda, ao chic, ao amor fácil, à

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2.

Origem e desenvolvimento inicial de Vidago

O aparecimento da localidade em estudo é recente no contexto histórico da nacionalidade. O seu povoamento sempre foi reduzido não tendo nos anais da história relevância administrativa de coutos ou de honras.

A aldeia de Vidago situa-se no vale da Ribeira de Oura, a uma altitude de 330 a 336 metros acima do nível médio do mar. Era nos finais do século XIX uma povoação da freguesia de Arcossó, no concelho e comarca de Chaves, distrito de Vila Real e arcebispado de Braga, atravessada pela estrada real n.º 5 que fazia a ligação entre a sede de distrito Vila Real e Chaves. Preconizava uma posição estratégica e geográfica em virtude da sua centralidade em confluência com a principal via de comunicação, preferência estratégica que traria vantagens para a economia local, face a outras povoações mais importantes e mais numerosas. No ano de 1889 é feito um pedido à Câmara Municipal de Chaves para que se possa realizar aí um mercado semanal de cereais, pedido que é deferido passado um mês a 28/08/1889. A região do vale da Ribeira de Oura é formada por um vale que se estende ao longo de meia dúzia de quilómetros, onde se encontram as nascentes de água mineral natural. Situada ao sul e sudoeste da cidade de Chaves, banhada pelo rio Oura, que aflui ao Tâmega na sua margem esquerda, estendendo-se até à freguesia de Oura limitada pelas elevações da Portela, Peneda e Ravasco com as altitudes de 468, 592 e 466 metros, respetivamente. A denominação do vale era conhecida por “cultos e incultos” e compunha-se das seguintes freguesias. No concelho de Chaves, Arcossó; Loivos com Seixo; Oura, com Vila verde de Oura; Selhariz, com Fornos de Oura, e Valverde; Vilarinho das Paranheiras; Vilas Boas, com Pereira de Selão; Vidago (a primitiva aldeia, hoje vila), com o bairro da estação. No concelho de Vila Pouca de Aguiar, Valoura, com Cubas, e Vila do Conde. “A vila de Vidago, como povoação, mais importante, considera-se capital da região que primeiramente era mais circunscrita” (Vasconcelos, 1918: 146, 147). Não se conhecem acontecimentos ou fatos históricos relevantes em tempos recuados, contudo é mencionada o numeramento de 1527-1532, onde regista 19 moradores, tendo a povoação de Arcossó a cifra de 21 moradores. Já no séc. XVIII, no ano de 1758 é documentado no Dicionário Geográfico que a freguesia de Arcossó totalizava 143 fogos, e um total de 480 habitantes, onde era destacada a povoação de Vidago, que tinha, “sincoenta e catro vizinhos” (Neves, 2008: 146).

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Em 1890, a Câmara de Chaves propõe a divisão geográfica do concelho em duas zonas médicas, zona norte sediada em Chaves e zona sul, no Vidago (Aires, 2000: 73 e 76). O que é prova da importância da localização espacial da aldeia de Vidago na região do vale da Ribeira de Oura. Alfredo Luís Lopes, médico-cirurgião no ano de 1893, descrevia Vidago com 160 fogos que na sua maioria eram muito modestos, no qual sobressaiam os da empresa das águas de Vidago. Teria triplicado o número de fogos entre 1863, ano da descoberta das águas minerais naturais, e o início do século XX, número que revela bem o interesse que terá despertado a exploração das nascentes. Nos recenseamentos entre 1864 e 1920 em que a povoação de Vidago ainda pertence à freguesia de Arcossó assiste-se a um aumento populacional que vai acima dos 80%. [(1572-857)/857=0,834] Em 1864 a população total da freguesia era de 857 pessoas para totalizar no ano 1920 cerca de 1.572 pessoas (quadro n.º 1).

No ano de 1902 podemos constatar um registo de que sua população era de 700 pessoas, distribuídas por 180 fogos, que se posicionavam numa pequena encosta na margem direita do rio Oura, afluente do rio Tâmega. “Alegremente dispostas em anfiteatro” (Antas, 1902). A confirmarem-se esses números concluímos que na passagem do séc. XIX para o séc. XX se verificou o aumento demográfico em Vidago de forma muito acentuada. Após a criação da freguesia em 1925, e posteriormente no recenseamento de 1930, verificamos que a freguesia de Arcossó reduz o número de habitantes para 688, ou seja, praticamente metade do que perfazia 10 anos antes. Pelo contrário o número total de habitantes em Vidago no recenseamento de 1930 era de 1.256 pessoas. Se, por outro lado, quisermos ter uma análise diferente tomando como parâmetro a densidade populacional no concelho de Chaves reparamos que, excetuando o núcleo urbano de Chaves, a região de Vidago até 1926 é a área mais populosa. Quando se dá a criação da freguesia de Vidago logo esta se posiciona em segundo lugar com 200 a 300 habitantes por km2 no concelho de Chaves, enquanto a freguesia de Arcossó atinge o número de 50 a 100 habitantes por km2, o que pressupõe uma forte atração demográfica devido ao desenvolvimento das suas nascentes (Anexo documento n.º 31 e 32. Neves, 2008: 145, 148). As freguesias mais próximas de Vidago como Oura e Loivos, também assistiram a um aumento populacional desde o início do séc. XX. Por certo também terão sido influenciadas pelo aparecimento das nascentes e pela pequena revolução económica impulsionada pela frequência dos aquistas e veraneantes que afluíam aos diversos hotéis da estância (quadro n.º 2).

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29 É no perímetro da freguesia de Oura que se situam algumas das nascentes exploradas pela Empresa das Águas de Vidago, como a fonte de Oura, Vila Verde, fonte do Areal, fonte Maria e a que viria a ter maior importância no futuro, a fonte Salus. Esta era a única que estava na posse da empresa Bastos e Azeredo, que fazia concorrência à Empresa das Águas de Vidago.

Quadro n.º 1 - População residente nas freguesias do vale da Ribeira de Oura entre 1864 e 1920 1864 1878 1890 1900 1911 1920 Anelhe 617 617 706 695 649 585 Arcossó/Vidago 857 1010 1533 1223 1547 1572 Loivos 759 797 917 950 967 927 Oura 627 589 715 712 946 953 Selhariz 368 448 497 415 430 388

Vil. das Para. 388 388 434 404 392 419

Vilas Boas 503 520 596 556 526 491

Fonte: INE, recenseamento geral da população. Dados tratados pelo autor.

Quadro n.º 2 - População residente nas freguesias do vale da Ribeira de Oura após a criação da freguesia de Vidago (1930-1970)

1930 1940 1950 1960 1970 Anelhe 774 816 954 898 615 Arcossó 688 674 789 771 520 Vidago 1256 1372 1609 1712 1210 Loivos 1008 1100 1169 1254 1045 Oura 1080 1186 1439 1132 875 Selhariz 452 515 593 585 450 Vil. Das Para. 464 575 540 426 345 Vilas Boas 513 526 616 520 380

Referências

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