• Nenhum resultado encontrado

3 BASE TEÓRICA

3.6 RECUPERAÇÃO DE RIOS E CÓRREGOS

O trabalho de MORSCH et al (2017) apresenta a recuperação de rios como um princípio da infraestrutura verde. A relação entre esses dois conceitos faz sentido pelo propósito da infraestrutura verde de reestabelecer funções ecológicas e reinserir paisagens naturais no ambiente urbano e pelo histórico de supressão e degradação dos rios e córregos durante os processos de urbanização das cidades e, portanto, é coerente a reflexão de que a recuperação dos rios é um aspecto não só complementar, mas inerente à implantação de infraestrutura verde que vise o planejamento urbano sob uma perspectiva de sustentabilidade.

A renaturalização de rios é um conceito que tem como objetivo a recuperação dos mesmos com regeneração da biota natural, preservação das áreas de inundação e restrição de usos que inviabilizem as suas funções do corpo hídrico, não necessariamente fazendo o tornar ao seu estado original mas atingindo uma condição sustentável na qual são satisfeitas as necessidades urbanas (SILVA et al, 2007; GARCIAS et al, 2013).

BOTELHO (2011) alega que em áreas urbanas a renaturalização dos rios é mais difícil, uma vez que a mesma implicaria em ações que nem sempre são factíveis, como a remoção de população e de artefatos urbanos como vias, instalações e edificações, mas que ainda seriam viáveis ações para reduzir os impactos ambientais da ocupação e revalorizar os cursos d’água em ambiente urbano. Segundo a autora, nesses casos é mais aplicável o conceito de revitalização, que, de acordo com GARCIAS et al (2013), se define por ações integradas para a melhoria da qualidade da água para usos múltiplos, melhoria das condições ambientais e uso sustentável dos recursos naturais.

O trabalho de GARCIAS et al (2013) apresenta diversos outros conceitos que se referem à tentativa de devolver os rios para as cidades, como: restauração, restauração ecológica, reabilitação e remediação, e nesse mesmo trabalho os autores ressaltam que o importante é observar que independente do conceito adotado, o objetivo principal é o de melhorar a qualidade dos ecossistemas urbanos.

As experiências de recuperação de rios e córregos são diversas e se espalham pelo globo, sendo realizadas em canais de pequeno a grande porte da Europa (Alemanha,

Inglaterra, Polônia, Suíça, França e Holanda), Ásia (Coreia do Sul), Estados Unidos e América do Sul (Chile e Brasil). No Brasil podem ser citados os exemplos do Rio das Velhas e Mosquito em Minas Gerais, Tietê e Tijuco Preto (São Paulo) e do Rio São Francisco (Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Goiás e Distrito Federal) (GARCIAS et al, 2013; ROLO et al, 2017; WILLIAMS et al, 2017; FILOSO et al, 2011).

A bacia de Chesapeake, localizada no estado de Maryland, nos Estados Unidos, apresenta exemplos da implementação de medidas de renaturalização em diversos rios e córrego de pequena ordem. As medidas foram implementadas com os objetivos de atender os limites de carga total máxima diária de sedimentos e nutrientes estabelecidos por lei e com objetivos de planejamento para a adaptação às mudanças climáticas (WILLIAMS et al, 2017).

A pesquisadora Solange Filoso, do Centro de Ciência Ambiental da Universidade de Maryland, apresentou em de 19 de julho de 2017 um seminário online (webinário) sobre estudos de casos de renaturalização de rios no estado de Maryland, nos Estados Unidos. Esse seminário fez parte de uma série de webinários, os quais se encontram disponíveis na internet, fornecida por pesquisadores de Maryland no objetivo de compartilhar conhecimentos a serem aplicados na Baia de Guanabara, no estado do Rio de Janeiro.

Os projetos de renaturalização apresentados foram implementados em riachos de baixa ordem com os objetivos melhorar a capacidade de processamento dos nutrientes, controlar erosões e desbarrancamentos, melhorar a qualidade da água e reduzir as cargas de nutrientes e sedimentos exportados, além de melhorar a saúde ambiental da Baia de Chesapeake. Durante a apresentação, a pesquisadora aponta que os esforços de renaturalização foram realizados nos cursos d’água menores com o objetivo de atingir uma melhoria na qualidade de todo o sistema pois esses canais menores tem impacto nos maiores. Durante a apresentação, também é mencionado que, na realidade da Baia de Chesapeake, os problemas de fontes pontuais de lançamento de efluentes já haviam sido solucionados.

Os riachos apresentados foram os riachos (i) Cypress, com uma micro-bacia de 5,2 km², topografia de planície e ocupação predominante urbana, onde foram realizadas intervenções tanto no leito como na bacia como um todo; (ii) Saltworks, com uma micro- bacia de 4 km², terreno levemente inclinado e uso de solo urbano, onde foi realizada intervenção apenas no leito; (iii) Parker, intermitente, com uma micro-bacia de 14 ha (0,14 km²), uso urbano e relevo acentuado, onde foi realizada intervenção na cabeceira e; (iv) Broad, com uma micro-bacia de 4,5 km², área urbana com infraestrutura de águas pluviais e esgotos antigas, onde foi realizada a descanalização com desenterro do curso d’água.

Os resultados dos projetos apresentaram reduções na carga de nutrientes e no volume de escoamento superficial, sendo que de cada caso individualmente foram tiradas lições para a melhoria das práticas de renaturalização. No caso do riacho Cypress, por exemplo, é apontada a importância da consonância da implantação do projeto com programas de educação e conscientização da população; no caso do riacho Saltworks, a pesquisadora aponta para os efeitos limitados da realização de intervenções apenas no leito e não em toda a bacia; no caso do riacho Parker, é apontada a redução do aporte de nutrientes quando é controlada a erosão na cabeceira do riacho; e no caso do riacho Broad a descanalização do curso d’água foi vista como altamente positiva e, além disso, foi ressaltado a importância de se utilizar material nativo da região no leito durante o processo de renaturalização.