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3 BASE TEÓRICA

3.3 URBANIZAÇÃO E MACRODRENAGEM

As inundações dos cursos d’água, a princípio, são processos naturais que ocorrem periodicamente, no entanto, são agravadas pela ocupação urbana e passam a ser problemas para as atividades humanas a medida que na área da bacia hidrográfica: (i) são ocupadas as margens dos rios; (ii) o solo é impermeabilizado pelo adensamento das edificações, de forma a reduzir a infiltração e aumentar a velocidade do escoamento superficial; e (iii) as seções dos cursos d’água são reduzidas em função do estrangulamento por pilares de pontes, aterros, adutoras, rodovias e assoreamento (PINTO et al, 2006).

A alteração do leito dos cursos d’água é comum durante os processos de urbanização e este é aspecto relevante para a degradação da drenagem natural de uma bacia. Além de alterações na geometria e no revestimento dos canais, a ocupação urbana pode suprimir o leito de enchentes dos cursos d’água. Esses leitos de enchentes, também chamados planície ou várzea de inundação, correspondem ao espaço às margens dos canais que são natural ocupadas pela água durante os períodos de chuva do rio. A Figura 3 apresenta um esquema das fases de degradação da drenagem natural de um curso d’água em função da urbanização.

Figura 3 – Fases da degradação da drenagem natural

No âmbito da macrodrenagem, a tendência da ocupação é de se iniciar à jusante da bacia em direção à montante, em função das características de relevo. No início da ocupação da bacia, na região à jusante, os projetos dos sistemas de drenagem são elaborados apenas para a área que está se estabelecendo, sem considerar as áreas que futuramente serão ocupadas mais a montante. Dessa forma, quando o crescimento urbano no restante da bacia ocorre sem planejamento e sem a ampliação da capacidade da rede de drenagem, inundações se tornam mais frequentes (principalmente na área mais antiga à jusante) devido à sobrecarga do sistema (TUCCI, 1995). Essas inundações em áreas urbanas podem apresentar consequências negativas para as populações como desabrigar pessoas, poluir corpos hídricos, veicular doenças, gerar de custos econômicos, sociais e materiais e provocar mortes (PINTO et al, 2006; TUCCI, 2005).

Outro fator relevante sobre os impactos da urbanização diz respeito à qualidade das águas superficiais. Em áreas urbanas, além dos aportes advindos das redes de esgoto e águas pluviais e dos resíduos destinados de forma indevida, os corpos hídricos também recebem sedimentos, resíduos sólidos urbanos ou qualquer outro tipo de material que possa ser carregado pelo escoamento superficial. Sendo assim, os sistemas de drenagem urbana se relacionam diretamente com a qualidade das águas superficiais, uma vez que essas águas são os receptores finais dos matérias que circulam pelas bacias (BOTELHO, 2011).

3.3.1 Influência da urbanização no ciclo hidrológico

A ocupação urbana tem impactos nos componentes do ciclo hidrológico, uma vez que altera as condições de cobertura vegetal e impermeabiliza o solo. A impermeabilização do solo por telhados, pavimentação e calçadas aumenta o escoamento superficial e reduz a infiltração, uma vez que a água que inicialmente escoaria lentamente, se infiltraria no solo ou seria retida pelas plantas, passa a escoar superficialmente na direção dos corpos hídricos (TUCCI, 2005).

O aumento no escoamento superficial gera a necessidade de uma maior capacidade de escoamento dos cursos d’água, com aumento de seções e de declividades dos canais, uma vez que as velocidades de escoamento e vazões se tornam maiores e, consequentemente, os tempos dos picos de cheias se tornam menores. A redução da infiltração, por sua vez, tem como consequência a redução da recarga de aquíferos e, consequentemente, do nível dos lençóis freático, o que acarreta em uma redução do escoamento subterrâneo (TUCCI, 2005).

Outro fator relevante é a remoção da vegetação nas margens dos cursos d’água (matas ciliares), que desempenharia o papel de reter os sedimentos carregados pela chuva e

reduzir a velocidade do escoamento para os rios. Uma vez removidas essas matas ciliares, há uma redução da infiltração e aumento das velocidades de escoamento superficial aumentam, o que ocasiona na antecipação dos picos de cheia (SMA-SP, 2014; TUCCI, 2005).

Os processos de evapotranspiração também são reduzidos em decorrência da ocupação urbana, uma vez que a cobertura vegetal é removida para dar lugar às áreas impermeáveis (TUCCI, 2005). Como foi explicado anteriormente, as plantas também exercem o papel de interceptação da água precipitada e, portanto, com a alteração da cobertura vegetal esse processo é diminuído.

Dessa forma, pode se entender que a urbanização tem importantes impactos no ciclo hidrológico em função da redução dos processos de infiltração (impermeabilização), interceptação e evapotranspiração (remoção da vegetação) e consequente aumento do escoamento superficial. Esse incremento no escoamento superficial acarreta em aumentos nos volumes de cheias e nas vazões dos canais, tendo como consequência inundações mais graves e mais frequentes.

3.3.2 Assoreamento de cursos d’água

O processo de assoreamento pode ser entendido como o acúmulo de sedimentos e outros materiais no leito dos corpos hídricos, reduzindo sua capacidade de escoamento (SMA- SP, 2014; BELIZÁRIO, 2015).

De acordo com BELIZÁRIO (2015), no cenário da urbanização, os processos de assoreamento são potencializados, pois o escoamento superficial das áreas impermeabilizadas carrega consigo sedimentos para serem depositados no leito dos rios. Além disso, a remoção das matas ciliares é um fator agravante do assoreamento, visto que essa vegetação teria o papel de proteger as margens do rio e reter sedimentos trazidos pelo escoamento (SMP-SP, 2014). BELIZÁRIO (2015) cita também o papel do descarte inadequado de resíduos sólidos em cursos d’água como fator potencializador do assoreamento.

BOTELHO (2011) explica sobre os três processos geomorfológicos naturais básicos dos cursos d’água: erosão, transporte e deposição e sobre como esses cursos se desequilibram e se reajustam para tentar reestabelecer o equilíbrio quando ocorre alguma alteração/intervenção nos canais.

A retificação de um trecho do baixo curso de um rio altera não só aquele trecho mas o rio como um todo. O aumento da velocidade de escoamento na área retificada também causa um aumento nas velocidades nos trechos à montante (o rio funciona como um sistema único) e intensifica os processos erosivos e de transporte de forma que, consequentemente,

todo o material erodido e transportado se depositará a jusante quando ocorrer uma menor declividade, acarretando no eventual assoreamento do trecho canalizado. Essas situações ocorrem especialmente em áreas onde não há mata ciliar nas margens a montante do rio, uma vez que são comuns desbarrancamentos na ausência dessa vegetação (BOTELHO, 2011).

As pontes e pontilhões representam outro fator que contribui para o assoreamento. De acordo com VITÓRIO (2016), os pilares e encontros dentro de leitos de cursos d’água podem causar três tipos de erosão, os quais podem ou não ocorrer simultaneamente: o primeiro tipo é a erosão do leito do rio, que pode ocorrer a montante, a jusante ou sob a ponte; o segundo diz tem relação com a redução da seção de escoamento, que aumenta a velocidade de escoamento e, consequente o potencial erosivo da água; e o terceiro é a erosão localizada em torno dos pilares e encontros, criando fossas de erosão. Os sedimentos erodidos nesse processos são carregados pela água, até se depositarem em algum momento, desencadeando no assoreamento.