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PARTE 3 REPENSANDO CONEXÕES, PROPOSTAS ASSISTENCIAIS

3.2 Recurso à rede assistencial

A política de assistência social brasileira, desde a criação da Lei Orgânica de Assistência Social (Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993; cf. Brasil84), parece mostrar, ao menos na sua formulação, alguns avanços na garantia de direitos. A aprovação da Política Nacional de Assistência Social (outubro de 2004) pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome reforçou a noção constitucional da assistência como direito do cidadão e responsabilidade do Estado. A assistência social passa a integrar o sistema de seguridade social, juntamente com a saúde e a previdência social. Desta forma, o Sistema Único de Assistência Social (Suas) estabeleceu a "regulação e organização em todo território nacional das ações socioassistenciais" (cf. Brasil85).

O Suas é um novo modelo de gestão que supõe a definição de competências entre as esferas municipais, estaduais e federal. As ações assistenciais passaram a ser definidas por níveis de complexidade: proteção social básica e proteção social especial de média e alta complexidade. Outra característica do Suas é a referência no território, considerando regiões e portes dos municípios e centralidade na família.

O Plano da Assistência Social (Plas) da cidade de São Paulo de 2006 expressou a busca de adequações quanto ao novo sistema. Os serviços voltados à população em situação de rua passaram a integrar o programa São Paulo Protege, que

deverá articular e integrar os diferentes serviços de proteção social básica e especial, projetos, programas

e benefícios componentes da rede de serviços socioassistencial, buscando adequar-se às diferentes necessidades e segmentos dos moradores em situação de rua e em acordo com a necessidade de uma ação intersecretarial e intersetorial (São Paulo86).

Este programa prevê ações voltadas para "segmentos populacionais mais fragilizados por risco pessoal e social" (São Paulo86), com o objetivo de

proporcionar acolhimento, proteção e encaminhamento. Prevê ações em parceria com organizações sociais e projetos que visem alternativas de geração de renda e inclusão, tendo como princípios norteadores o reconhecimento como sujeito, o respeito à individualidade, a eqüidade, o caráter processual das intervenções e a integralidade da ação. Voltarei a estes pontos mais adiante, para esclarecer elementos deste programa.

Vale lembrar que a implantação de uma política pública voltada a pessoas em situação de rua é resultado de uma série de lutas políticas e de esforços de diferentes setores da sociedade, inclusive da própria população, em reivindicar direitos. Na cidade de São Paulo, o artigo 1º da Lei nº 12.316/97 (São Paulo87), regulamentada pelo Decreto nº 40.232/01 (São Paulo88), foi definitivo na definição de responsabilidade social do município, "garantindo padrões éticos de dignidade e não violência na concretização de mínimos sociais e dos direitos de cidadania a esse segmento social".

Apesar de representar um avanço para a luta que se organizou em torno das questões da rua, há críticas relativas a essa legislação. Uma dessas críticas foi expressa de maneira contundente por Barros89:

Mas o que é uma lei que no seu corpo garante direitos que já estão garantidos por outras legislações e que constituem o mínimo de respeito e dignidade? Por que isto não é um programa? Esta liminaridade entre lei e

programa aponta para a institucionalização do estado de exceção, a regulação de uma experiência de exceção permanente, para usar a expressão de Francisco de Oliveira acerca da modernização brasileira.

Do ponto de vista de Anderson, apesar das críticas, a população deveria se apropriar da lei para lutar por direitos:

— Então o movimento vem muito nessa organicidade de fazer a população de rua se acordar. Acordar pra visão de que os direitos dele ele tem. Ele tem aí uma lei que, mesmo que seja falha, mas é a lei dele, que ele tem que lutar pelos direitos dele e não de viver debaixo do viaduto, de viver em albergue, mas de ter dignidade.

Na esteira das lutas políticas, as questões relacionadas à população em situação de rua ganharam força em escala federal com o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), criado por decreto em outubro de 2006 com a finalidade de elaborar estudos e apresentar propostas de políticas públicas.

Circuitos da assistência na cidade de São Paulo: refletindo com a experiência dos colaboradores

No trabalho de campo, a discussão sobre albergues mostrou ser relevante, pois foi referida de forma enfática, em diversas situações: como tema de reflexão dos colaboradores, e nos debates acalorados em fóruns e reuniões, nas narrativas de suas vivências pessoais, além de fazer parte do cotidiano de alguns, sendo o cenário de suas histórias.

Entre a população, falar sobre albergues gera muitas polêmicas, pois as divergências são grandes e manifestam-se de forma apaixonante. Alguns avaliam que é humilhante estar em um albergue; outros, que é melhor do que ficar na rua. Há aqueles que não consideram o albergue como

dispositivo adequado da política pública para responder às necessidades das pessoas em situação de rua. É comum que as pessoas avaliem os serviços, considerando suas regras, a comida oferecida, a relação com os funcionários e a infra-estrutura, entre outros aspectos, e busquem adequações quanto às suas necessidades, na medida do possível. O fato é que ainda é necessário produzir discussões mais aprofundadas sobre a estrutura dos albergues e suas regras, de modo a compreender a que respondem tais equipamentos.

Os albergues são equipamentos sociais que fazem parte do Programa São Paulo Protege e, de acordo com a reorganização da assistência social, são compreendidos como serviços de proteção especial de alta complexidade. Isso significa que são voltados para "casos onde os direitos do indivíduo ou da família já foram violados e também quando o vínculo familiar é rompido" (São Paulo90).

Muitas são as críticas e denúncias relativas aos albergues por parte de seus freqüentadores, principalmente quanto à infra-estrutura, às regras e às relações estabelecidas. Francisco, por exemplo, analisou sua situação:

— É porque o seguinte: a pessoa, o ser humano, é a adaptação. O albergue que eu estou hoje é uma coisa lastimável: baratas, baratas que passam, aquelas baratinhas francesas pequenininhas; passa tudo por cima de você durante a noite, o colchão tá cheio. [...] É uma porcaria, mas por enquanto eu vou suportar. É conveniado, tudo, é uma porcaria. Tem umas coisas boas, um albergue pra ter canal pago, tem TV paga lá, e tem barata atrás do colchão — vai entender uma coisa dessas! E tem armarinhos bonitinhos para você colocar no bagageiro. Mas eu não sei por que eles pecam numa coisa tão fácil, deixar tudo limpinho, bonitinho; eu preferia ter isso do que ter canal pago [...] Então, quer dizer, a pessoa prefere, eu prefiro ter um

certo conforto, porque dormir nesse calor, debaixo do viaduto, é supercomplicado. Olha, durante a noite, umas três, quatro vezes eu preciso levantar pra tomar banho, porque eu acordo suado. Um ventilador de um lado, outro de outro, pra mais de cem pessoas dentro do lugar. Uma entradinha de ar lá e lá, e as portas. É complicada as coisas. Você pensa que só sou eu? Não, muitas pessoas estão lá igual a mim, eu não sou melhor do que eles. Muitos estão trabalhando, e estamos lá, estamos buscando melhorar daqui a pouco, é o que eu falei lá.

Uma crítica muito recorrente refere-se às "muquiranas", nome popular para o pediculus humanus, também conhecido como piolho-do-corpo, que se instala nos pêlos e nas roupas e provoca coceiras, além de transmitir algumas doenças. Falta de ventilação, baratas e muquiranas, além de serem desagradáveis, são preocupantes do ponto de vista da saúde de uma população. É uma questão de saúde pública que deve ser enfrentada. Outras perspectivas foram abordadas, como a reflexão de João sobre sua experiência mais recente:

— Chegando aqui em São Paulo — eu num tenho vergonha de falar, eu sou honesto, sou digno no que eu digo —, fui parar no albergue do Glicério, Franciscano. Fiquei dois meses lá, junto com a Soely e a Talia, e não gostei, pelo seguinte: porque num é um prato pra mim. Eu gosto da minha liberdade, do meu viver, da minha sabedoria, da minha inteligência, daquela pessoa que eu sou. Gosto de conversar com todo mundo, gosto de sair, num tenho pressa pra voltar. Isso num existe.

Na experiência de João, ficou marcada a impossibilidade de que o equipamento respondesse às suas necessidades e respeitasse a sua individualidade. Apesar de representarem vivências pessoais, algumas reflexões podem sugerir a construção de uma identidade coletiva

relacionada ao fracasso e a total falta de perspectivas, como é possível acompanhar na narrativa de Armand que se segue:

— E quando eu ia pros albergues, nossa! Era horrível! Olha, eu me sentia o pior — eu me sinto ainda; quando eu piso no albergue, eu me sinto a pior pessoa do mundo. Acho que esse termo, esse lugar, é um lugar assim humilhante. É humilhante, defasado. Eu me lembro a primeira vez que eu entrei no Arsenal: era tudo arrumadinho, mas, quando eu entrei no quarto, me deu vontade de chorar, assim, aqueles milhões de camas. E eu tinha assistido um filme [...] com o Matt Damon, que eles estavam em um albergue nos Estados Unidos, é um filme que fala sobre albergue, mas lá nos Estados Unidos, lá em Nova York. E eu me lembrei daquela cena, aquele monte de cama, gente tossindo, doente, e tal, e aqueles ventiladores grandes, assim, e aquela coisa, eu me senti: nossa, eu faço parte de uma massa que nunca vai ser nada, que nunca vai ter nada! Isso me dava uma desesperança, um medo, sabe?, uma vontade de me entregar de vez pra vida, e acabou! Porque eu tinha perspectivas, eu sempre tive perspectivas do que eu quero, mas era triste. Ou quando eu ia de madrugada assim, entrava como pernoite, e diziam: não tem janta! Acabou a janta! E aí eu tinha que tomar banho no banheiro todo sujo e gelado, água fria, e depois me punham numa cama toda fedendo e depois acendiam a luz cinco horas da manhã no seu rosto assim, e todo mundo pra fora!, vai embora!, né?, acabou! Vamo, cambada! Eles usam estes termos muito tristes pra viver, e eu como vivi sempre em instituição, isso era pra mim, era o fim. Era como se tivesse voltado e regredido cada vez mais. Então eu me larguei e preferi ficar na rua.

Dentro de um cenário em que faltam alternativas, surgiram comparações entre dormir na rua e dormir em albergues. É interessante que os colaboradores explicitaram opiniões diversas em relação a essa comparação, o que pode enriquecer nosso entendimento. Para Francisco, que também já teve experiência em dormir nas ruas, os albergues, ainda

que sejam passíveis de diversas críticas, significam uma alternativa melhor do que a rua, pois oferecem alguma proteção:

— [...] as pessoas podem entender que a coisa é terrível, mas é melhor você estar dentro de um albergue do que na rua. Por pior que seja, com barata, sem barata, por pior que seja. Na rua você corre um grande risco de ser morto, de ser assassinado, de nego tocar fogo em você, todo esse tipo de malvadeza.

Já para Armand estar na rua pode gerar mais oportunidades e, ao menos, torna a problemática visível aos olhos de todos. O albergue, em sua opinião, seria o lugar da invisibilidade. Neste trecho de sua entrevista, podemos compreender sua reflexão sobre o assunto:

— [...] eu sinceramente nunca mais quero voltar pra albergue na minha vida. Se eu tiver que voltar, eu acho que eu vou sofrer muito, porque é horrível! É a pior coisa que pode existir! É pior do que ficar na rua. Porque na rua você está suscetível a um monte de coisas, mas você não tem horário pra dormir, você não tem horário para comer. As pessoas na rua ou vão te tratar mal ou vão te tratar bem. Das duas uma, não tem essa. E no albergue, não: você sabe que aquelas pessoas que estão trabalhando ali, elas estão ganhando por estarem ali, pra estarem com você, pra te darem ao menos o mínimo de atenção. Eu sei que é complicado, porque tem muita gente; mas eu sei que elas não fazem isso, elas acabam afastando as pessoas, e a gente sabe também como é tachada a pessoa que vive em albergue. Então, acho que a rua, com todo mal que ela pode existir, com a falta de segurança e tudo, ela é um passo pra você conseguir mais coisas. As pessoas prestam muito mais atenção em você, por incrível que pareça, quando você está na rua. Quando você está debaixo de uma ponte trancado, ninguém sabe quem é você. Quando você está lá, exposto como modelo, na rua, as pessoas vêem você todos os dias e sabem que aquela realidade é a realidade do país e tudo. Quando você está dentro do albergue, não; ninguém sabe que você existe. Você sai de manhã e se junta à multidão.

Anderson defendeu a necessidade de mobilizar e organizar as pessoas em situação de rua. A seu ver, tanto a rua, quanto os albergues não são situações dignas: "— Ele tem que lutar pelos direitos dele e não de viver debaixo do viaduto, de viver em albergue, mas de ter dignidade."

Em uma apresentação durante encontro do Fórum de Debates*, a

equipe que coordenou a pesquisa Smads/Fipe sobre albergues (cf. São Paulo24) apresentou dados deste levantamento e algumas análises, seguidas de debate com os presentes. Reportagem elaborada por um dos membros da comissão organizadora deste Fórum e publicada no O Trecheiro (cf. Fórum de Debates52) informou um resumo das discussões produzidas:

De maneira geral, avaliou-se que os albergues possuem atendimento razoável e atingem um padrão mínimo de dignidade humana. O grande desafio é atender à variedade de demandas específicas, de idosos, deficientes e alcoólatras, principalmente. Após a apresentação, os debates se concentraram em alguns problemas verificados na prática por pessoas em situação de rua e seus representantes. Falou-se muito em abuso de poder de alguns funcionários dos albergues, especialmente quanto ao desligamento de usuários [...] No entanto, o assunto mais importante foi a falta de uma rede de serviços públicos que sirva como porta de saída das ruas. Houve consenso que o albergue, isoladamente, não oferece alternativas de inclusão. São necessárias oportunidades concretas de trabalho e moradia em uma rede de serviços intersecretarial, abrangendo a integração dos aspectos de assistência social, saúde, trabalho, habitação e cultura.

Estas análises e reflexões aqui apresentadas mostram diversas tensões relacionadas a estes serviços, e revelam a dimensão dos albergues, ao se

*

O Fórum de Debates Sobre a População de Rua acontecia, na época, em encontros quinzenais com temas predeterminados para a realização de debates. Participavam dos encontros pesquisadores, técnicos, estudantes, usuários dos serviços e lideranças do movimento. Foi um dos espaços privilegiados de convívio, observação e aprendizado durante a pesquisa.

pensar a situação de rua. Cabe destacar o fato de que os albergues constituem um campo dilemático, que ocupa objetivamente grande parte das preocupações diárias de quem está em situação de rua. Isto tem conseqüências para a organização pessoal, relacional e de trabalho. Há momentos em que as pessoas estão em busca de vagas e, para isso, transformam a sua rotina em função deste objetivo, ao passar muitas horas do seu dia à espera, por exemplo. As críticas e reflexões também têm sido muito freqüentes, como foi possível observar no trabalho de campo e nas entrevistas com os colaboradores — e mesmo na experiência de participação no Fórum de Debates, em que, independentemente da temática a ser discutida, os albergues figuravam nas falas de seus usuários que em geral relatavam críticas pontuais. Técnicos presentes ao Fórum que trabalhavam em albergues, em muitos momentos, tomavam as críticas como pessoais e passavam a defendê-los, buscando dar respostas àquelas críticas. O fato é que a produção de reflexões sobre os albergues pareceu sempre fechada em um círculo vicioso. Talvez a recente pesquisa Smads/Fipe possa mostrar diferentes caminhos para a transformação destes serviços.

Embora essa pesquisa tenha sugerido que os albergues conveniados na cidade de São Paulo possuam "atendimento razoável e atingem um padrão

mínimo de dignidade humana", em momentos das reflexões dos

colaboradores foi possível perceber que, na perspectiva deles, esta não é uma experiência compartilhada. Parece-me, assim, pertinente compreender o que significaria o "atendimento digno", a dignidade, para os diferentes atores envolvidos nestes processos. Do ponto de vista de Anderson, dignidade seria

a conquista de direitos de moradia, trabalho, saúde e cultura, assim como respeito às individualidades. Sebastião Nicomedes, no livro de poesias Cátia,

Simone e Outras Marvadas*, enunciou que é preciso reinventar a política

pública direcionada a este grupo social, comparando as respostas criadas até então como novas formas de manutenção da escravidão:

[...] Muda-se de opinião.

Que adianta uma casa com aluguel por pagar contas atrasadas, luz e água vencidas

a imobiliária cobrando, logo cedo, o proprietário batendo à porta.

A vergonha, a sede, a escuridão, a promissória, o salário baixo, inflação, deflação, cartão de crédito, celular, caixa postal, boleto, a multa.

Depois que se joga fora a chave da consciência, nada mais importa.

Política pública na rua tem de começar por lazer, tem que mudar a metodologia, educação e cultura, tem que investir na arte da alegria e paz

pra depois reivindicar trabalho, moradia, renda, habitação. Que quem tá na rua tá de saco cheio de promessas vãs, de ofertas medíocres, mediadas paliativas, demagogia qual escravo liberto.

Quem mora na rua

não quer voltar pra senzala (Oliveira91).

Francisco comparou São Paulo a outras cidades brasileiras. Para ele, deve-se reconhecer que a cidade constituiu uma política pública, mesmo que de forma insuficiente e ineficaz em muitos aspectos.

Uma das metas apresentadas pelo Plas 2006 é qualificar a rede de proteção especial "a fim de reduzir os motivos de recusa e resistência das pessoas que se encontram em situação de rua" (São Paulo92). No que se refere aos albergues, especificamente, a meta é adequá-los aos termos da

* Publicado pela editora Dulcinéia Catadora, interessante projeto que vem

apoiando a publicação de novos talentos e tem parceria com grupos organizados de catadores, os quais produzem capas recicladas e personalizadas.

legislação vigente, a qual determina que os equipamentos devam ter no máximo cem vagas, apresentar instalações físicas apropriadas e os necessários recursos humanos e materiais. Além disso, prevê a descentralização dos equipamentos, que, na sua maioria, estão localizados no centro da cidade. Um grande investimento desta Secretaria foi relativo à contratação de agentes de proteção social. Segundo dados do relatório de gestão (cf. São Paulo93), o número de agentes passou de 105 para 260 profissionais em 2006, compondo as ações de proteção social nas ruas do Programa São Paulo Protege:

O vínculo entre a população em situação de rua e a Assistência Social é feito por meio dos Agentes de Proteção Social. Eles abordam essa população, acompanham sua história e realizam o encaminhamento para a rede de proteção da cidade, como albergues ou abrigos, de acordo com a necessidade de cada um. Coordenados pela CAPE (Central de Atendimento Permanente e de Emergência), os agentes ficam concentrados nas ruas dos principais centros da cidade: Sé, Lapa, Mooca, Santana, Santo Amaro, Pinheiros, Jabaquara, Ipiranga e Vila Mariana (São Paulo94).

A preocupação expressa no Plas parece rumar em um sentido positivo. Contudo, há questionamentos pertinentes que merecem atenção. Em primeiro lugar, quais serão os motivos de recusa e resistência? Além das reflexões dos colaboradores já apresentadas, foi possível acompanhar uma parte destas transformações e a construção de albergues em bairros distantes do centro. Uma das "resistências" deve-se ao desejo de permanecer no centro, cujos "pedaços" e circuitos localizavam-se na região. O que remete a outra discussão importante: o direito à cidade e especialmente ao centro da cidade. Há intenso debate sobre esta situação, e

não cabe aprofundá-lo aqui, mas apontar para uma tendência de expulsão do centro de grupos mais vulneráveis, somada a outras ações e a uma concepção de revitalização do centro. Algumas denúncias foram muito bem expressas pelo dossiê "Violações dos direitos humanos no centro de São Paulo"*, apresentado em 2006 e organizado pelo Fórum Centro Vivo, um dos

grupos que atua na defesa do direito de permanência no centro da cidade