2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-EMPÍRICA
2.2 Imersão Social
2.2.1 Redes Sociais
A abordagem de redes sociais no âmbito da imersão social resgata desde o
conceito de estrutura social, entendida como a forma das relações entre as partes
de uma sociedade, para entender a evolução da estrutura social às redes sociais,
onde as „redes‟ são entendidas como um conjunto de conceitos metodológicos e
analíticos que facilitam o estudo sistemático de padrões de relação (FREEMAN et
al., 1992).
Destes conceitos, cabe distinguir a perspectiva analítica de redes da
perspectiva de redes como governança, apresentadas por Powell e Smith-Doerr
(1994).
2.2.1.1 Da Estrutura Social às Redes Sociais
O uso do conceito de estrutura social remonta pelo menos à publicação
original de Princípios de Sociologia por Herbert Spencer, em 1875, em especulações
sobre a vida social que conduziram à construção de uma teoria estrutural analítica
do comportamento social (FREEMAN et al.,1992). Estudos subseqüentes
reconheceram que o uso do termo „estrutura‟ implica em uma preocupação com a
forma das relações entre partes, no caso da estrutura social de relações entre partes
de uma sociedade, que se tornou conceito-chave para o entendimento de padrões
de relação em estruturas sociais.
Enquanto “estrutura social” se refere a idéias e conceitos a respeito de
padrões de relações sociais entre pessoas, “redes sociais” refere-se a conceitos
metodológicos e analíticos que facilitam o estudo sistemático de padrões de relação
(FREEMAN et al., 1992).
Uma série de definições é destacada por Freeman et al. (1992, p.13) para
estrutura social: “arranjo no qual elementos da vida social estão ligados uns aos
outros” (FIRTH, 1951); “um arranjo ordenado de partes” (NADEL, 1957); “são
essencialmente relacionamentos entre elementos” (BLAU, 1964).
Freeman destaca que, enquanto alguns defendem o estudo de unidades
como posição social, status, papéis, grupos e instituições (NADEL, 1957), autores
como Blau (1964) enfatizam a importância de investigar os processos sociais que
governam complexas estruturas.
Sendo assim, as redes sociais são formadas por relações sociais, que
constituem uma estrutura social. Para serem consideradas sociais, as relações
devem ser caracterizadas por sensibilização ou mútua sensibilidade entre as
pessoas envolvidas, ou incorporar normas consensuais. O fato é que há
concordância quanto à necessidade fundamental de pelo menos duas pessoas e
pelo menos uma conexão de algum tipo entre elas.
O desenvolvimento de conceitos e procedimentos formais de redes sociais
começa com o trabalho de Moreno, na década de 1930, que introduz os conceitos e
ferramentas de sociometria (BERRY et al.,
2004). “Em geral, uma rede social
consiste de uma estrutura algébrica, um gráfico direcionado e uma matriz de
variáveis aleatórias, todos construídos a partir de relações sociais” (FREEMAN et al.,
1992, p.21).
Três tradições se destacam na pesquisa de redes (BERRY et al., 2004): (1)
tradição sociológica e a análise de redes sociais (2) tradição da ciência política e a
análise de redes de políticas (3) tradição da gestão pública e a análise de redes de
gestão pública – definidas por Powell e Smith-Doerr (1994) como uma „confluência
de percepções‟ que conduziram a uma „análise formal de redes‟.
A tradição sociológica se desenvolve a partir de três campos: sociometria,
antropologia, estruturalismo. Os estudos sociométricos derivam da psicologia na
década de 1930 e buscam representar grupos através de pontos (pessoas) e linhas
que representam relacionamentos entre eles, a fim de identificar padrões de
interação.
Para os antropologistas (Manchester group), em vez de métodos
matemáticos, o conceito central no estudo de estruturas de redes deve ser o de
“papel” (autoridade, influência, informação, amizade, etc.), definido ao longo de
redes de atividades interdependentes, ou seja, as redes sociais são estruturas de
papeis.
Os estudos de estruturalistas (escola de Harvard) trazem maior rigor
metodológico, através de estudos teórico-empíricos, destacando-se os estudos de
White na década de 1960 - abordagem de grupos de atores e o conceito de
equivalência estrutural – e de Granovetter (1973) sobre o papel de laços informais
nas perspectivas individuais de emprego (influência de laços fortes e laços fracos).
As principais questões da análise de redes sociais dizem respeito à estrutura
da rede e posições na rede, enquanto resultado e origem de ações, atitudes e
resultados (BERY et al., 2004). O pressuposto da análise de redes é o da imersão
social, princípio definido por Polanyi (2000) e resgatado por Granovetter (1985) para
uma abordagem socializada da ação econômica.
No âmbito da abordagem de redes sociais cabe distinguir a perspectiva
analítica de redes da perspectiva de redes como governança, apresentadas por
Powell e Smith-Doerr (1994) e distinguidas a seguir.
2.2.1.2 A Perspectiva Analítica de Redes
Há uma distinção entre redes como perspectiva analítica e redes como forma
de governança (POWELL e SMITH-DOERR, 1994). As redes como perspectiva
analítica são tomadas como parâmetro de análise, ou seja, uma „metáfora‟ para
analisar as relações sociais, havendo discussões a respeito do caráter teórico e/ou
metodológico da „análise de redes‟. Já as redes como forma de governança são
concebidas como um tipo de lógica organizacional, ou uma maneira de governar
relações entre atores econômicos, constituindo uma forma de organização da
produção ou uma estrutura de atores interligados em torno de uma atividade
produtiva.
Neste sentido, os aglomerados produtivos, como os Arranjos Produtivos
Locais, podem ser vistos como redes enquanto forma de governança, que por sua
vez podem ser vistas ou analisadas a partir da perspectiva analítica ou análise de
redes.
Sendo assim, embora a maior parte dos estudos esteja voltada para uma ou
outra perspectiva, Powell e Smith-Doerr (1994) sugerem uma abordagem
complementar entre elas, de forma que a perspectiva analítica seja utilizada para o
estudo de estruturas de governança.
Seguindo tal proposição, o APL de carcinicultura norteriograndense (forma de
governança) será abordado neste estudo a partir da perspectiva analítica de redes,
que constitui o mecanismo de imersão social estrutural, definido por Zukin e
Dimaggio, 1990, e apresentado por Dacin, Ventresca e Beal (1999).
O pressuposto da análise de redes é o de que as ações econômicas estão
imersas socialmente, ou seja, as relações sociais determinam a ação econômica dos
atores. Equilibrando abordagens sobre-socializadas (determinismo ambiental) e
subsocializadas (voluntarismo), a perspectiva de redes permite uma abordagem
socializada da ação econômica, identificando, assim, o princípio da imersão social
(POLANYI, 1944) resgatado por Granovetter (1985), como apresentado a seguir.
No documento
A Geração de inovação na carcinicultura do RN: Uma análise a partir da imersão social
(páginas 39-42)