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A partir das contribuições dos entrevistados e uma análise, e de concordância com as respostas aos questionamentos apresentados, faz-se o redesenho do modelo proposto neste trabalho.

Parte-se do pressuposto de que a elaboração de um diagnóstico socioeconômico municipal (DSEM) técnico, seja desenvolvido por pessoal técnico capacitado, ou seja, um grupo capaz de coletar os dados necessários sejam primários ou secundários, nas diversas fontes, ou em campo e que serão sistematizados permitindo a caracterização socioeconômica do município, assentamento, ou mesmo outro arranjo territorial ou mesmo institucional no âmbito local.

Mesmo não sendo pretensão a exaustão, tem que ser considerada a amplitude de um DSEM, para que não seja superficial, considerando sempre a quantidade de atores dos diversos setores envolvidos durante o processo na busca do conhecimento do momento socioeconômico do local objeto do DSEM, que sejam capazes de trazer informações para projeções e elaboração de cenários e tendências identificando ações futuras a serem desenvolvidas.

O DSEM constitui-se numa etapa do processo de planejamento, com vista ao desenvolvimento da comunidade local. Tal objetivo sempre se projeta em um horizonte temporal para a consecução de ações e resultados que fazem parte do processo. Assim, concorda-se com entrevistado E3 que afirma:

O DIAGNÓSTICO precisa identificar os estrangulamentos (de natureza interna) que bloqueiam iniciativas potenciais de investimento em atividade que são ou que podem ser desencadeadoras do crescimento (puxadores do crescimento em outros setores).

Neste redesenho de modelo proposto, define-se que o DSEM compõe-se de quatro tarefas complementares:

a) levantamento técnico e organização das informações do objeto e seu contexto, ressaltando os problemas e potencialidades endógenas:

b) identificação dos atores locais representantes da sociedade organizada do município em questão; do executivo, prefeito e secretários municipais, do legislativo os vereadores, do ministério publico, conselhos municipais, sindicatos, associação de classes, cooperativas, ONGs, escolas técnicas e universidades (locais ou regionais): c) realização do trabalho de campo com entrevista aos atores identificados, quanto a sua visão dos problemas e potencialidades locais e as regionais que possam influenciar: d) confronto das visões técnica, políticas e da sociedade organizada representada no processo no que se refere a identificar problemas e potencialidades centrais que irão apontar o perfil atual da realidade local, antecipando perspectivas futuras para o município, assentamento, ou recorte territorial.

As quatro tarefas complementares devem acompanhar um dos aspectos fundamentais do diagnóstico, isto e, a sua organização por eixos temáticos ou dimensões: econômicas, institucional, social e cultural, infraestrutural e de gestão pública, além da ambiental e da política. Este conjunto de dimensões, e seus entrelaçamentos, dão conta de retratar a realidade local ou municipal..

-Na dimensão econômica: identificar atividades que são chaves para a comunidade local; emprego, renda e outros atributos identificados nos setores primário, secundário e mercado de trabalho, comércio exterior se possível.

- Na dimensão institucional: tem, como as demais, uma amplitude, que pode começar com as articulações e descrições de aspectos quantitativos e qualitativos, fóruns e articulações de parcerias. É importante mapear as instituições que atuam na localidade, tanto as de dimensão local quanto as de dimensão regional ou mesmo macrorregional e estadual ou nacional, quando é o caso. Mas é também fundamental mapear as relações interinstitucionais existentes, na prática ou potencialmente, pois estas relações são cruciais, negativa ou positivamente, para o processo de desenvolvimento.

- Na dimensão social e cultural: tem que se avaliar o cultural, pois sem cultura e educação não há desenvolvimento social e o próprio diagnóstico deve sugerir mecanismo para desenvolvê-lo. Mas as políticas sociais de base na saúde e na segurança são condição para uma sociedade de bem-estar e de bem-viver. Da mesma forma, da mesma forma as políticas de inclusão social, de programas de renda mínima e proteção

das crianças, dos idosos, das minorias, é cada vez mais uma obrigação dos governos em suas diferentes esferas no âmbito de uma democracia e de um Estado de direito. No que se refere esta dimensão é importante também o alerta apontado pelo entrevistado E3:

SOCIAL – É quase acaciano, mas o planejamento estratégico em todas as

suas etapas, da formulação aos planos, tem que ter um compromisso com a equidade social, com o combate a todas as formas de exclusão e de discriminação. As chamadas políticas compensatórias, se existirem, na medida do possível, devem conter mecanismos emancipatórios (tipo dar alimentação e/ou moradia vinculada ao aprendizado, etc).

- Na dimensão infraestrutural: conhecer a realidade em termos de saneamento, energia, comunicação, transporte, habitação e urbanismo são necessário para compreender os gargalos e limites sempre presentes nestas esferas. Compreender suas relações com as demais dimensões, como por exemplo a constatação de que os recursos bem investidos em saneamento no médio prazo os recursos necessários na área de saúde, visto que diminuem causas de doenças e aumenta a qualidade de vida geral da comunidade. Os gargalos em logística e transporte precisam se conhecidos, pois sua permanência e acirramento dificultam o desenvolvimento econômico das empresas, da mesma forma que baixa a qualidade de comunicação, em especial a infraestrutura de internet, e a insuficiência da oferta de energia causa dificuldades ao sistema produtivo, como no caso dos produtores rurais que em muitas localidades ainda não contam com rede trifásica para viabilizar uma melhor produtividade em suas atividades.

- Na dimensão de gestão pública: é preciso analisar e disponibilizar para a comunidade o acesso facilitado às informações estruturadas de natureza administrativa e estatística, qualidade dos serviços públicos, plano diretor municipal (PDM), plano plurianual (PPA), lei de diretrizes orçamentárias (LDO), lei orçamentária anual (LOA) e outros instrumentos de políticas públicas como estatuto das cidades.

- Na dimensão ambiental: esta dimensão possui um caráter de transversalidade no processo de diagnóstico. Isto quer dizer que deve estar presente em todas as demais dimensões, ainda que se aborde a mesma também de forma isolada. Neste sentido, a contribuição do entrevistado E3 foi significativa:

Esta dimensão deve estar no núcleo dos diagnósticos e dos planos e caminhar em três direções: a ECONÔMICA, estimular as empresas, produtores e empreendedores em geral a explorarem produtos e serviços que tenham atributos ambientais/ecológicos e as empresas e pessoas, em geral, que prestam serviços ambientais, como a conservação de nascentes e etc - na

Europa, por exemplo, tem a figura dos “pastores da natureza”, pessoas que são pagas para cuidarem (“pastorearem”) a natureza; EDUCATIVA no sentido de aprendizado coletivo e a PUNITIVA com multas severas nos casos de transgressão, por parte dos agentes econômicos, mas também para a população em geral (descarte de lixo e detritos nas ruas como tocos de cigarro e etc);

- Na dimensão política: esta dimensão não constava originalmente da proposta do DSEM. Ainda que a questão da participação social e popular estivesse presente ao longo do debate teórico estabelecido e da proposta do DSEM, a inclusão como uma dimensão específica, proposta por um dos entrevistados, foi benvinda. Nesta dimensão pode-se descrever e analisar a estrutura local de governança estabelecida, tanto no que se refere aos órgãos e agentes do modelo representativo local (executivo e legislativo), como no que se refere à presença local e regional dos órgãos dos poderes executivos, legislativo e judiciário e do ministério público vinculado as demais esferas do regime federativo brasileiro. Além disso, e talvez até mais importante, é o mapeamento e análise das instâncias e arranjos que integram o modelo participativo de democracia, já que o Brasil adotou em 1988 uma democracia semidireta em que a participação da sociedade civil é não só considerada fundamental, mas obrigatória, conforme o marco legal imposto pela nossa carta magna. Mapear e analisar as dinâmicas das instâncias da sociedade civil organizada, em conselhos gestores, e demais arranjos institucionais existentes é de suma importância para qualquer processo de planejamento. Em suma, é fundamental para o desenvolvimento da sociedade, as formas diretas de participação do cidadão nos

processos de tomada de decisões, desenvolvendo a democratização do processo. Deixa-se evidente também que a amplitude de subgrupos e profundidade para análises,

dependerá das necessidades encontradas e da capacidade técnica da equipe envolvida na elaboração, definição de potencialidades, estabelecimento de projeções e a elaboração de cenários e tendências e a consecução de ações e os resultados esperados num horizonte de prazos para sua efetiva implementação..

O conjunto de informações sistematizadas deverá ser socializadas com retorno aos diversos atores participantes, onde propomos todos reunidos em forma de assembléia que validara o trabalho realizado.

CONCLUSÃO

O estudo realizado para o Trabalho de Conclusão de Curso apresenta a realização de uma proposição de um modelo de diagnóstico socioeconômico municipal (DSEM), por meio da identificação de carências nesses trabalhos, uma oportunidade de pequenos municípios, assentamentos e outros arranjos territoriais e institucionais como os conselhos, disporem deste modelo para elaboração e realização do seu diagnóstico com vistas ao desenvolvimento local.

A elaboração de um diagnóstico consiste na identificação e na descrição de problemas e definição de oportunidades, e possui como objetivo demonstrar a situação atual local.

Para chegar ao objetivo, o autor analisou diferentes modelos de diagnósticos socioeconômicos utilizados e discutidos na literatura e também na análise e na percepção de agentes especialistas, atores sociais com relação aos componentes de diagnósticos municipais, importantes para tomar decisões no âmbito municipal, com base em um questionário/entrevista de forma direta.

Os componentes importantes que dão conta para tomar decisões neste trabalho são as dimensões econômicas, institucional, social e cultural, infraestrutural e de gestão pública, além da ambiental e da dimensão política.

Este estudo tornou-se satisfatório primeiramente por abordar em um único trabalho autores sobre o assunto e o envolvimento direto de atores especialista, atuantes em gestão pública, que trouxeram para discussão suas experiências e percepções a respeito das razões e necessidades dos municípios, conselhos, assentamentos, ou recortes territoriais realizarem um diagnóstico socioeconômico municipal.

Ainda que as contribuições dos entrevistados levaram a agregar apenas uma nova dimensão ao modelo DSEM – a dimensão política - a contribuição com base na análise das falas dos entrevistado trouxeram corroborações ao modelo teórico proposto bem como novos insights e leituras que aperfeiçoaram as demais dimensões do modelo. Tem-se ciência de que o processo de planejamento e a realização do DSEM como uma das etapas, não é algo acabado e rígido. O planejamento é um processo, sujeito sempre a novos olhares, melhorias, avanços. Incorporar as novas leituras, adequar os modelos, aperfeiçoar as dinâmicas, incorporando inovações, é exigência para gestores públicos, agentes sociais e especialistas técnicos da área.

Recomendo aos técnicos, gestores públicos e conselhos municipais, usar o modelo aqui proposto, aperfeiçoando-o, aplicando-o e testando sua validade. A leitura atenta das respostas dadas ao questionário/entrevista, transcritas e integrantes dos apêndices deste estudo, é ilustrativo da importância dos diagnósticos nos processos de planejamento e sem dúvida servem de exemplo para o trabalho prático na utilização do DSEM proposto.

REFERÊNCIAS

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APÊNDICES

QUESTIONÁRIO PARA REALIZAÇÃO DE TRABALHO DE CONCLUSÃO

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