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Reeducação alimentar

No documento O DIREITO FUNDAMENTAL À ALIMENTAÇÃO (páginas 160-174)

CAPÍTULO IV A INDÚSTRIA ALIMENTAR

5.3 Reeducação alimentar

No Brasil, a população adulta brasileira vem apresentando um aumento na prevalência de excesso de peso importante nos últimos 30 anos. O mais recente estudo nacional, a Pesquisa de Orçamento Familiar/ POF (2002- 2003), em amostragem (antropométrica) da população adulta maior de 20 anos verificou 11, 1% (sendo 8,9% em homens e 13,1% em mulheres) de obesidade e 40,6% de excesso de peso (sobrepeso +obesidade). Alguns dados relativos ao consumo de alimentos e estado nutricional da população brasileira identificam situações complexas.

Os dados nacionais recentes revelam, nas ultimas décadas, transformações sócio-econômicas rápidas e profundas, assim como no perfil de saúde de sua população.

Os dados da POF 2003 que analisam a disponibilidade domiciliar de alimentos adquiridos pelas famílias brasileiras confirmam que as mudanças de padrão alimentar no país têm sido, de modo geral, favoráveis do ponto de vista dos problemas associados à subnutrição (aumento na disponibilidade de calorias per capita e aumento da participação de alimentos de origem animal na alimentação) e desfavoráveis no que se refere às doenças carenciais como anemia e hipovitaminose A, à obesidade e às demais Doenças Crônicas Não Transmissíveis - DCNT (aumento da participação na alimentação de gorduras em geral, gorduras de origem animal e açúcar e diminuição com relação a cereais, leguminosas e frutas, verduras e legumes).

Associadas ao sedentarismo, essas tendências podem explicar as taxas de prevalência de excesso de peso e da obesidade entre adultos.270

Atualmente a Sociedade Brasileira de Endocrinologia, seguindo as normas da Organização Mundial de Saúde não recomenda a prescrição de dietas de baixo valor calórico, mesmo para as pessoas com sobrepeso e obesidade. O tratamento deve sempre começar por uma reeducação alimentar.

270 MINSTÉRIO DA SAÚDE. A Iniciativa de Incentivo ao consumo de Frutas, Verduras e Legumes (f,l&v) :

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Na verdade, na reeducação alimentar não importa muito se o valor calórico dos alimentos é alto ou é baixo. O objetivo é educar o relógio biológico em relação aos horários alimentares para a pessoa perceber que é capaz de controlar os episódios de compulsão e de atingir um nível satisfatório de ansiedade.

Uma alimentação saudável entendida enquanto um direito humano fundamental compreende um padrão alimentar adequado às necessidades biológicas e sociais dos indivíduos de acordo com as fases do curso da vida.

Tem por característica três princípios: i) variedade, comer diferentes tipos de alimentos pertencentes aos diversos grupos; ii) moderação, não exagerar nas quantidades de alimentos ingeridas e iii) equilíbrio, consumir alimentos variados, respeitando a quantidade de porções recomendadas para cada grupo de alimentos. Além disso, uma alimentação saudável deve ser baseada em práticas alimentares assumindo os significados sócio-culturais dos alimentos como fundamento básico conceitual.

Uma alimentação saudável é considerada adequada quando além da sua composição nutricional também compreende aspectos relativos a percepção dos sujeitos sobre padrões de vida e alimentação adequados a suas expectativas. Neste sentido as dimensões de variedade, quantidade, qualidade e harmonia se associam aos padrões culturais, regionais, antropológicos e sociais das populações. Assim, uma alimentação saudável (e adequada) é aquela que incorpora como objeto a trajetória necessária, desde a produção até o consumo, do alimento, em todas as suas dimensões (principalmente culturais), e todas as possibilidades que esta produção gera em termos de desenvolvimento sustentável e Segurança Alimentar e Nutricional.271

As principais características de uma alimentação saudável devem ser:

1. Respeito e valorização as práticas alimentares culturalmente identificadas: o alimento tem significações culturais diversas que precisam ser estimuladas. A soberania alimentar deve ser fortalecida por meio deste resgate.

271 MINSTÉRIO DA SAÚDE. A Iniciativa de Incentivo ao consumo de Frutas, Verduras e Legumes (f,l&v) :

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2. A garantia de acesso, sabor e custo acessível. Ao contrário do que tem sido construído socialmente (principalmente pela mídia) uma alimentação saudável não é cara, pois se baseia em alimentos in natura e produzidos regionalmente. O apoio e o fomento à agricultores familiares e cooperativas para a produção e a comercialização de produtos saudáveis como legumes, verduras e frutas é uma importante alternativa para que além da melhoria da qualidade da alimentação, estimule geração de renda para comunidades.

3. Variada: fomentar o consumo de vários tipos de alimentos que forneçam os diferentes nutrientes necessários para o organismo, evitando a monotonia alimentar que limita o acesso de todos os nutrientes necessários a uma alimentação adequada.

4. Colorida: como forma de garantir a variedade principalmente em termos de vitaminas e minerais, e também a apresentação atrativa das refeições, destacando o fomento ao aumento do consumo de alimentos saudáveis como legumes, verduras e frutas e tubérculos em geral.

5. Harmoniosa: em termos de quantidade e qualidade dos alimentos consumidos para o alcance de uma nutrição adequada considerando os aspectos culturais, afetivos e comportamentais;

6. Segura: do ponto de vista de contaminação físico-química e biológica e dos possíveis riscos à saúde (isenção de contaminação por microorganismos e de quaisquer aditivos químicos, sobretudo inorgânicos).

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Capítulo VI

A RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DAS EMPRESAS

Um dos princípios do Biodireito272, o da não maleficência, prescreve o dever de não infligir dano psicológico ou físico a outrem, não só atuais, mas futuros, destacando-se no núcleo do conceito273 o risco para a integridade física ou psíquica do homem e para o ambiente. Impor riscos graves para a saúde de outrem requer proporcionalmente fins importantes que os justifiquem274, não havendo qualquer possibilidade do lucro estar entre eles.

Esse princípio tem espectro de aplicação ampla e atinge também as situações em que haja risco cientificamente comprovado para a saúde dos consumidores, sendo que os produtos com potencial comprovado de dano devem ser imediatamente retirados do mercado. (art. 10, caput, CDC)275.

No Código de Defesa do Consumidor, no art. 6º, I276, está a proteção da vida, saúde e segurança do consumidor contra riscos decorrentes das práticas de fornecimento de produtos e serviços como direito básico. José Geraldo Brito Filomeno277 explica o dispositivo: Têm os consumidores e terceiros não envolvidos em dada relação de consumo incontestável direito de não serem expostos a perigos que atinjam sua incolumidade física, perigos tais representados por práticas condenáveis no fornecimento de produtos e serviços

272 Maria Garcia conceitua o biodireito como ramo específico que se desenvolverá com fundamento no direito à

vida, ampliando-se necessariamente para uma biologização do direito, algo além do meramente biológico o direito da vida como algo em si, suscetível de proteção por si mesma onde quer que se encontre (Limites da

ciência: a dignidade da pessoa humana: a ética da responsabilidade. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 162).

273 Para Sainz Moreno, conceitos jurídicos e especialmente aqueles indeterminados possuem um núcleo fixo

(zona de certeza) e um halo conceitual (zona de dúvida). Somente se estendendo a idéia contida no núcleo é possível chegar à sua determinação (apud GARCIA, Maria, op. cit., p. 195).

274 Por exemplo, com o fim de evitar dano maior, no caso de realização de uma cirurgia (JUNGES, José Roque.

Bioética: perspectivas e desafios. São Leopoldo: Usininos, 1999. p. 50

275 Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria

saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança.

276 Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:

I a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;

(...)

277 Dos direitos básicos do consumidor. In: Código brasileiro de defesa do consumidor:comentado pelos autores

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Esse direito básico, de proteção á vida, à saúde e á segurança do consumidor decorre do princípio da dignidade humana:

...um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas, sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos 278.

A dignidade humana é decorrência da solidariedade o outro é um semelhante e da ética tudo aquilo que atinge um indivíduo afeta cada membro da sociedade e a esta como um todo279.

De acordo com Rizzato Nunes280,

...a dignidade nasce com a pessoa. É-lhe inata. Inerente á sua essência. Mas acontece que nenhum indivíduo é isolado. Ele nasce, cresce e vive no meio social. E aí, nesse contexto, sua dignidade ganha dignidade ou, como veremos, tem o direito de ganhar um acréscimo de dignidade. Ele nasce com integridade física e psíquica, mas chega um momento de seu desenvolvimento que seu pensamento tem de ser respeitado, suas ações e seu comportamento isto é, sua liberdade - , sua imagem, sua intimidade, sua consciência religiosa, científica, espiritual etc., tudo compõe a sua dignidade

Em virtude da obrigatoriedade de respeito ao mínimo invulnerável dos direitos fundamentais, que asseguram o respeito à dignidade do homem281, é que o fornecedor não pode colocar no mercado produto que apresente alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança das pessoas e tal proibição está expressa no Código de Defesa do Consumidor, no art. 10282.

278 Alexandre de Moraes, apud GARCIA, Maria, op. cit., p. 211.

279 ANDRADE, Ronaldo Alves. Curso de direito do consumidor. Barueri: Manole, 2006. p. 4

280 O princípio constitucional da dignidade da pessoa humana: doutrina e jurisprudência. São Paulo: Saraiva,

2002. p. 49.

281 Para Maria Garcia, a palavra pessoa na expressão dignidade da pessoa humana , relacionada entre os

fundamentos da República Federativa do Brasil, no art. 1º, III, da Constituição Federal, tem o sentido de ser humano, pois, a partir do conceito nuclear civilista pessoa como sujeito de direitos e obrigações, expande-se, na Constituição, o halo conceitual, alcançando a ...pessoa humana, na qual se realiza o individual, o social, o político, o religioso, o filosófico (Op. cit., p. 195).

282 Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria

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No fornecimento de produtos alimentícios, não há que se admitir produto no mercado que tenha potencial de risco, alto ou baixo, uma vez que se estaria permitindo a violação ao direito constitucional à saúde e à vida. Se há possibilidade de dano, cientificamente comprovado, em razão de algum componente do produto, este deve ser eliminado, e, se a sua função é indispensável, substituído por outro, inócuo à saúde humana. Se isso não for feito pelo fabricante, o Estado deve impedir a distribuição dos produtos ou determinar sua retirada imediata do mercado.

Na hipótese de dúvida científica quanto à existência de riscos à saúde ou segurança do consumidor de uma atividade, tecnologia ou substância, aplica-se o princípio da

precaução, que não é senão a utilização do bom senso. Em outras palavras, se há evidências científicas razoáveis da nocividade de um produto ou serviço, deve-se agir para prevenir o mal.

Em janeiro de 1998, foi formulado um conceito do princípio em exame em Wingspread, sede da Joyhnson Foundation, em Racine, estado de Wisconsin, com a colaboração de cientistas, advogados, legisladores e ambientalistas ( Declaração de Wingspread ): "Quando uma atividade representa ameaças de danos ao meio-ambiente ou à saúde humana, medidas de precaução devem ser tomadas, mesmo se algumas relações de causa e efeito não forem plenamente estabelecidas cientificamente 283

No âmbito da União Européia, havia dúvida quanto à extensão do princípio, pois o Tratado Comunitário Europeu mencionava-o apenas no tema da proteção ao meio ambiente. Vislumbrando aplicação mais ampla, o Conselho Europeu, por resolução de 13 de Abril de 1999, pediu à Comissão Européia que elaborasse diretrizes para a aplicação do princípio, claras o bastante para garantir um nível adequado de proteção ambiental e da saúde e para contribuir nos debates já iniciados nas instâncias internacionais.

A Comissão, em síntese, entende que:

§ 1º - O fornecedor de produtos ou serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários.

§ 2º - Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, ás expensas do fornecedor do produto ou serviço.

§ 3º - Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito .

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O princípio de precaução pode ser invocado sempre que seja necessária uma intervenção urgente face a um possível risco para a saúde humana, animal ou vegetal, ou quando necessário para a protecção do ambiente caso os dados científicos não permitam uma avaliação completa do risco. Este princípio não deve ser utilizado como pretexto para acções proteccionistas, sendo aplicado sobretudo para os casos de saúde pública, porquanto permite, por exemplo, impedir a distribuição ou mesmo a retirada do mercado de produtos susceptíveis de ser perigosos para a saúde 284.

No seu comunicado ao Conselho Europeu, tem-se a avaliação dos fatores desencadeadores do recurso ao princípio da precaução e das possíveis decisões a serem tomadas. Para a Comissão, os riscos de um evento, produto ou procedimento para a saúde humana ou meio ambiente, identificados mediante uma avaliação objetiva (com dados científicos disponíveis), mas sobre os quais pairam incertezas científicas, justificam a aplicação do princípio da precaução e a decisão política, no âmbito da gestão do risco (agir ou não agir), deve se orientar pelo consentimento ou não da sociedade em suportá-lo.

Ainda segundo a Comissão, os seguintes princípios regem o processo de tomada de decisão diante de incertezas científicas de um risco potencial:

a proporcionalidade entre as medidas tomadas e o nível de protecção procurado; a não-discriminação na aplicação das medidas; a coerência das medidas com as já tomadas em situações similares ou que utilizem abordagens similares; o exame das vantagens e desvantagens resultantes da acção ou da não acção; o reexame das medidas à luz da evolução científica. 285

No Brasil, o princípio da precaução é uma das densificações do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III,), irradiando-se sobre o direito á vida (art. 5º, caput), á saúde (art. 6º) e à qualidade de vida (art. 225).

Sua aplicação é, portanto, ampla, sendo uma ...resposta inovadora que se busca construir para preservar o mundo de ameaças reais ou mesmo do sentimento geral de medo em relação à defesa da saúde pública, da qualidade dos alimentos e do equilíbrio do meio ambiente... 286

284 In: www.europa.eu (site oficial da União Européia).

285 Síntese do Comunicado da Comissão ao Conselho Europeu a respeito da aplicação do princípio da precaução

no âmbito da União Européia. In: www.europa.eu.

286 DALLARI, Sueli Gandolfi, VENTURA, Deisy de Freitas Lima. O princípio da precaução: dever do Estado

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Quanto à problemática dos alimentos processados, o risco potencial verificado em determinado produto impõe ao Poder Público agir, através da edição de normas jurídicas, financiamento de pesquisas para exploração de alternativas e informação aos consumidores da sua nocividade.

E em todos os casos risco conhecido ou potencial o consumidor deve ser informado adequadamente. O art. 6º, III, do Código de Defesa do Consumidor287, garante-lhe o direito à informação clara a respeito dos produtos e serviços, com especificação correta de características, quantidades, composição, qualidade, preço e sobre os riscos que apresentam. Rizzatto Nunes288 explica que a informação, dever do fornecedor, é exigível antes da formação da relação de consumo, entendida como componente do produto ou serviço, que não podem ser oferecidos no mercado sem ela.

Também o art. 31289 do Código de Defesa do Consumidor trata do direito à informação, especificando sua forma: correta, clara, precisa, ostensivas e em língua portuguesa; e seu conteúdo: relato das características, qualidade, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade, origem e os riscos à saúde e segurança do adquirente. Para Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin290, ... o consumidor bem informado é um ser apto a ocupar seu espaço na sociedade de consumo. Só que essas informações muitas vezes não estão à sua disposição. Por outro lado, por melhor que seja a sua escolaridade, não tem ele condições, por si mesmo, de apreender toda a complexidade do mercado .

E, citando Marilena Lazzarini291, ...por mais informado que o cidadão esteja, existem inúmeras questões invisíveis para as pessoas. Sozinhas elas não têm condições de avaliar se uma verdura possui agrotóxicos acima do permitido . O consumidor é vulnerável tecnicamente, já que não possui conhecimentos a respeito do processo de produção e de

287 Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:

(...)

III a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem.

(...) .

288 Comentários ao Código de Defesa do Consumidor: direito material: arts. 1º ao 54. São Paulo: Saraiva, 2000.

p. 114.

289 Art. 31. A oferta e a apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras,

precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores .

290 Das práticas comerciais. In: Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado pelos autores do

anteprojeto. 7.ed. Rio de Janeiro: 2001. p. 245.

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realização de serviços e das conseqüências do consumo, podendo ser atingido por danos provocados por produtos ou serviços inadequados. 292

Tendo em vista a quantidade de componentes nocivos ao organismo humano presentes nos alimentos processados, é insuficiente a informação nutricional tal como é hoje disciplinada pela Resolução de Diretoria Colegiada n. 360 da ANVISA293 nos rótulos dos produtos para suprir a vulnerabilidade técnica do consumidor, sendo imprescindível que os riscos para a saúde integrem as informações dos rótulos como efeitos adversos como item de cumprimento obrigatório.

Não se pode esquecer que o acesso á informação é direito constitucional fundamental (art. 5º, XIV)294, bem como a promoção, pelo Estado, da defesa do consumidor (art. 5º, XXXII)295 e é nessa imposição, que a Constituição reconhece a sua vulnerabilidade, social e técnica, de forma que toda informação a respeito de produtos e serviços devem chegar até ele, não havendo qualquer possibilidade de se exigir que busque por si mesmo conhecer as consequências de se consumir alimentos com este ou aquele componente.

Como já mencionado no Capítulo IV, de acordo com a Resolução retrocitada, o conteúdo obrigatório dos rótulos de produtos alimentícios restringe-se à declaração quantitativa de nutrientes: carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras trans e sódio e seu valor energético. Quantidades de outros componentes somente são obrigatórios se considerados importantes para manter um bom estado nutricional, segundo os Regulamentos Técnicos específicos ou Lei296.

292 Um exemplo dos riscos a que estão expostos o consumidor por falta de informação é o caso da talidomida: o

Brasil é o único país do mundo a ter novos casos de malformações provocadas pela talidomida. O remédio foi reintroduzido no mercado nacional em 1970 na época somente para tratar hanseníase. Mas uma parte das mulheres brasileiras entenderam que a proibição da droga para gestantes era porque a mesma é considerada abortiva e as grávidas passaram a consumi-la com a finalidade de aborto. Assim é que por desinformação e descuido, de 1970 até 1998, nasceram no Brasil mais de 100 crianças com focomelias em conseqüência do uso da talidomida, que poderia ter sido evitado se houvesse um controle rígido da distribuição do medicamento (MELLO, Romário de Araújo. Embriologia humana. São Paulo: Atheneu, 2000. p. 117.)

293 Vide Capítulo IV. 294 (...)

XIV é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;

(...)

295 (...)

XXXII O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; (...) .

296 É o caso da declaração obrigatória sobre a presença de glúten na composição dos produtos, para prevenção da

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É evidente que para realizar o núcleo essencial do direito à informação não basta mencionar a quantidade de gordura trans, por exemplo. Esse componente é

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