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REESTRUTURAÇÃO DO SETOR DE TV A CABO

CAPÍTULO 3 – MERCADO BRASILEIRO DE TELEVISÃO

3.5 REESTRUTURAÇÃO DO SETOR DE TV A CABO

Observa-se que as operadoras de TV a cabo e MMDS entraram na disputa com as empresas de telecomunicações para oferecer acesso à Internet em alta velocidade. Além disso, as operadoras de TV a cabo passaram a disponibilizar, a partir de 2004, o serviço de voz sobre o IP – VoIP (Voice Over Internet Protocol), em que o usuário paga uma tarifa reduzida para usar o serviço de telefonia por meio da conexão de banda larga. Antes da NET, a TVA e a operadora de telefonia GVT já ofertavam esse tipo de serviço.

Com o desenvolvimento do VoIP as operadoras de TV a cabo no Brasil seguem a tendência mundial de implantação do conceito triple-play, com a oferta de serviços conjugados de televisão, telefone e acesso à banda larga, fidelizando seus clientes, explorando sinergias de suas redes e, conseqüentemente, aumentando o faturamento por assinante. Em 2004 as principais empresas anunciaram seu processo de digitalização e projetam sua ampliação para 2005. As operadoras Net e TVA saíram na frente, oferecendo os novos serviços nas suas redes de cabo no final de 2004, paralelamente aos pacotes analógicos. A Vivax começará a implantá-los, experimentalmente, em 2005, em Manaus (...) Para o MMDS, a TVA, maior operadora que utiliza essa tecnologia no Brasil, anuncia que as mudanças estão previstas para 2005. A digitalização do MMDS permitirá a ampliação do número de canais – podendo chegar a 180 – hoje bastante limitado em relação ao cabo e ao DTH (TORRES, 2005, p. 102 e 103).

Entretanto, não foi o VoIP a principal inovação da TV a cabo em 2004, mas sim o uso de tecnologia digital. A digitalização das redes de TV a cabo já tinha sido testada desde 1997, pela Multicanal e pela Globo Cabo, mas o serviço continuou, por mais sete anos, usando tecnologia analógica. Em 2004, o setor já estava se reestruturando e "as três maiores operadoras de cabo, Net Serviços, Vivax e TVA, iniciaram as buscas por tecnologias e modelos de negócio que impulsionassem suas digitalizações" (POSSEBON, 2009, p. 213). A Net e a TVA escolheram o padrão aberto europeu de transmissão de vídeo digital - DVB (Digital Video Broadcast) e o sistema de acesso condicional da Nagra como alternativa ao sistema analógico. Já a Vivax optou pela tecnologia digital proprietária da Motorola. A digitalização da TV a cabo ampliou rapidamente a oferta de canais

Esta época de convergência de TV paga, telefonia e Internet, entre os anos de 2004 e 2006, marca o período de recuperação do setor de TV por assinatura, em que as operadoras de

TV a cabo saíram da crise com novos planos de negócio, investindo em plataformas de banda larga para aumentar o número de assinante e buscando parceiros estratégicos, como operadores de MMDS, que tinham potencial na transmissão de dados sem fio. A aposta dos empresários do MMDF para ampliar os serviços de suas redes era na tecnologia WiMAX, baseada em um modelo de modulação que utiliza diversas portadoras ortogonais para transmitir um sinal. "Combinado com a digitalização dos canais de TV por assinatura, o WiMAX colocava as operadoras na briga pela banda larga em condições de igualdade com as empresas de cabo" (POSSEBON, 2009, p.223).

No segundo semestre de 2006, a Net Serviços comprou a Vivax, uma de suas principais concorrentes, ao lado da Telefônica, ampliando sua área de cobertura. A Net teve que investir para modernizar as redes da Vivax, que não eram codificadas nem digitalizadas. Em dezembro de 2007, a Net adquiriu a operadora BigTV e, em 2008, comprou mais uma operadora, a ESC 90. Sobre a entrada das empresas de telecomunicações23

As operadoras de telecomunicações, por sua vez, em face do quadro que se desenhou e se estabeleceu, mais recentemente, buscam definir sua entrada no mercado de TV por assinatura. A Telefônica optou em entrar no mercado de TV com um serviço de DTH (direct-to-home, via satélite), com planos de iniciar as primeiras transmissões até o final do segundo semestre de 2006. A Telemar, por sua vez, adquiriu a Way TV, uma operação de TV a cabo, com 70.000 mil assinantes (TV paga e banda larga), e que atua em algumas cidades de Minas Gerais. A empresa, porém, ainda espera a resolução de pendência regulatória (SANTOS, 2008, p. 147).

no mercado de TV paga, Verlane Santos (2008) diz que

As operadoras de DTH também passaram a apostar na tecnologia do MMDS, visando o acesso ao mercado da banda larga. Foi o caso da Sky, que comprou, em 2008, a operadora de TV por assinatura em MMDS ITSA, antiga TV Filme, e abriu uma nova possibilidade no mercado, de convergir o satélite com o serviço de WiMAX em 12 cidades e regiões metropolitanas onde a ITSA tem licença para atuar. Na abertura do Congresso da ABTA

23 “As empresas de telecomunicações, especialmente a Telefônica e a Telemar, avançaram de maneira agressiva sobre o mercado de TV paga em 2006. A Telemar adquiriu uma pequena operação de cabo em Minas Gerais, a Way TV. Sua estratégia, mais do que os ganhos naturais de uma operação como esta, parece ser testar a legislação, compreender quais os limites regulatórios para que ela, uma incumbente, entre o mercado de TV a cabo. Já o movimento da Telefônica foi no sentido de entrar no mercado de TV paga via satélite, pleiteando uma licença, o que ainda estava em análise pela ANATEL no final de outubro de 2006. Nos dois casos, o movimento de resistência dos operadores de TV paga à chegada das teles se dava com argumentos jurídicos, mas também com o argumento de que haveria grande prejuízo à competição e à concorrência” (POSSEBON, 2007, P. 292 e 293).

realizado em agosto de 2010, em São Paulo/SP, o presidente executivo da Associação, Alexandre Annenberg, ressaltou as vantagens do uso de plataformas MMDS como a principal solução para massificar a TV paga e a banda larga, serviços que, com o MMDS, podem ser levados a regiões do país que só terão plataformas de redes fixas em longo prazo. Ao falar sobre o panorama atual do mercado de TV por assinatura, Annenberg ressaltou:

Atendendo a cerca de 30 milhões de telespectadores, empregando mais de 20.000 trabalhadores diretos e 60.000 indiretos, faturando acima de 10 bilhões de reais, nosso setor, ao completar seus 21 anos, alcança sua maturidade. As múltiplas plataformas desta indústria, Cabo, Satélite, MMDS, já estão plenamente integradas à Era da Convergência e oferecem múltiplos serviços essenciais nos campos do entretenimento, da cultura, da informação, da comunicação. Em 2010 já temos inúmeros exemplos da variedade e do impacto desses serviços: a Alta Definição arrasou nesta Copa; o 3D já está dando o ar de sua graça; nossa Banda Larga é cada vez mais procurada por seu preço, velocidade e qualidade; a telefonia utilizando redes de cabo já entra na casa de muitos assinantes (...) A ANATEL tem à sua frente um desafio de enorme magnitude. Trata-se de definir um modelo que permita estender plataformas convergentes a 8,5 milhões de quilômetros quadrados e atingir 60 milhões de residências. E, ao mesmo tempo, zelar para que as mega-operadoras não inibam a entrada dos pequenos e médios operadores, o que seria um desastre para o consumidor (ANNENBERG, 2010).