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Reflexões acerca da concorrência no mercado mundial das commodities

Capítulo 4 A dinâmica do “mundo das commodities”, 1995-2015

4.3 Reflexões acerca da concorrência no mercado mundial das commodities

Como a produção primária das commodities tem uma forte relação com as condições de disponibilidade de recursos naturais, isso limita parcialmente o acesso de algumas economias enquanto exportadoras nesse mercado, mas, não necessariamente ao âmbito do mercado das

95 commodities processadas. Isso porque, economias importadoras de commodities primárias, podem a partir dessas importações, participar da produção mundial de commodities processadas, e assim, também das exportações mundiais dessas commodities. Nesse sentido que essa pesquisa apresenta a inter-relação entre os mercados das commodities primárias e das processadas, no âmbito internacional, através do comportamento das economias produtoras- naturais e das economias produtoras-importadoras.

Nossa análise foi realizada para o agregado de commodities que engloba tanto a parte primária quanto as processadas, e ao realizar essa desagregação foi possível destacar o peso das economias que mesmo não dispondo de relevância no cenário da produção primária, destacam- se na produção e exportações das commodities processadas. Isso indica que uma das formas de concorrência seria o uso das importações de commodities primárias.

Em um primeiro momento pode causar estranheza o destaque de economias desenvolvidas na concorrência no mercado mundial das commodities. Para exemplificar esse cenário, somente das economias desenvolvidas (Estados Unidos, Alemanha, Holanda, França, Reino Unido, Canadá, Austrália, Itália, Japão, Bélgica, Noruega e Espanha) que compunham o grupo dos quinze maiores exportadores de commodities em 1995, já é possível identificar uma participação de 47,5% das exportações mundiais das commodities originárias de economias desenvolvidas. Em 2015, os países desenvolvidos que fazem parte desse grupo são os Estados Unidos, Canadá, Austrália, Alemanha, França, Holanda, Noruega, Reino Unido, os quais representavam 27,2%, das exportações mundiais de commodities (Tabela 39). Importante destacar que os referidos países apresentavam maior proporção dessas exportações em commodities processadas em detrimento das commodities primárias, com exceção do Canadá e da Noruega em 1995, e da Austrália, Canadá e Noruega em 2015 (Tabela 39). Essas exceções se explicam dado que a participação dos países desenvolvidos não limita-se ao âmbito das commodities processadas, pois, podemos citar, como exemplos, economias como os Estados Unidos, Noruega, Austrália e Canadá que são notórias no âmbito da produção primária dada a disponibilidade de recursos naturais em seus territórios.

Destacam-se entre os maiores exportadores de commodities primárias em 1995: Arábia Saudita (9,5%), Estados Unidos (8,6%), Canadá (5,4%), Rússia (4,6%), Reino Unido (4,4%), Noruega (4,3%), e Holanda (4,0%); e, como maiores exportadores das commodities processadas: Estados Unidos (8,8%), Alemanha (7,8%), França (6,3%), Holanda (5,8%), e, Reino Unido (4,5%). Em 2015 destacam-se como maiores exportadores de commodities primárias: Arábia Saudita (8,0%), Rússia (7,1%), Canadá (6,7%), Austrália (5,2%), Estados Unidos (4,5%), Brasil (3,5%). Os países: Índia, França, Malásia, Espanha já não aparecem no

96 grupo dos quinze maiores em 2015 e suas participações nessas exportações são inferiores a 1,2% (Tabela 41). Em 2015, algumas economias que não estavam dentre os quinze maiores exportadores de commodities primárias em 1995 e que apresentavam participação inferior a 1,5% nessas exportações, despontam no agrupamento dos quinze maiores exportadores de commodities primárias em 2015, sendo elas: Brasil (participação de 3,7%), Indonésia (participação de 2,4%), Chile (2,0%). Dos países citados do grupo dos quinze maiores em 1995, apresentaram expansão na participação das exportações mundiais das commodities primárias: Canadá, de 5,4% em 1995 para 6,7%, em 2015; Austrália, de 3,8% para 5,2%; Rússia, de 4,6% para 7,1%. Os quinze maiores exportadores de commodities primárias em 1995 eram responsáveis por aproximadamente 57,5% das exportações do setor e, em 2015, essa participação era de 51,4%.

Em 1995 destacaram-se como principais exportadores de commodities processadas: Estados Unidos, Alemanha, França, Holanda, Reino Unido, Japão, Bélgica, Itália, Rússia, Canadá e Austrália, Espanha, China, Brasil e Coréia, e em 2015: Estados Unidos (10,0%), China (8,7%), Alemanha (5,7%), Rússia (4,7%), Coréia (3,6%), Canadá (3,5%), França, Índia, Japão, Itália, Brasil, Holanda, Espanha, Bélgica e Reino Unido (Tabela 41).

Os principais produtores (em termos de valor adicionado – VA) das commodities primárias em 1995 foram a China, com 10,3% da produção mundial; Estados Unidos, 9,1%; Japão 5,9%; Índia, 5,6%; e Arábia Saudita com 3,1%. Em 2015 a China era responsável por 20,8% da produção mundial dessas commodities; Estados Unidos, 8,6%; Índia, 6,5%; Arábia Saudita, 3,1%; Indonésia, 3,0%; Rússia, 3,0%; Canadá, 2,4%; Brasil, 2,0%; Austrália, 1,8%; Argentina, 1,5%; e nesse ano a economia japonesa apresentou uma redução na sua participação para menos de 1,0% (Tabela 41).

Na produção das commodities processadas, em 1995, vale destacar como alguns dos principais produtores mundiais: Japão, com participação de 21,6%; Estados Unidos, 15,7%; China, 5,8%; Alemanha, 5,7%; e França com 3,8%. Em 2015 os principais produtores foram: China, 25,8%; Estados Unidos, 14,3%; Japão, 6,5%; Rússia, 3,1%; e a Índia, com participação de 3,0%; Alemanha, 2,9%; Indonésia, 2,6%; México, 2,2%; Brasil, 2,1%; e França, 1,9%.

Destacam-se dentre os principais mercados importadores das commodities primárias em 1995: Japão, 15,1%; Estados Unidos, 15,0%; Alemanha, 8,3%; Itália, 5,2%; França, 4,9%; Coréia, 4,7%; Reino Unido, 3,9%; Holanda, 3,5%; e a Espanha, com 3,4%. Em 2015 esse cenário era composto por China, 19,3%; Estados Unidos, 11,8%; Japão, 7,5%; Índia, 6,3%; Coréia, 5,5%; Alemanha, 5,3%; Itália, 3,6%; e Taiwan, 3,1%. Os principais importadores das commodities processadas foram, em 1995: Estados Unidos, 10,1%; Alemanha, 9,4%; Japão,

97 8,9%; França, 6,4%; Itália, 5,8%. Em 2015 destacaram-se: Estados Unidos, 11,0%; China, 8,5%; Alemanha, 5,8%; Índia, 4,2%; Japão, 3,9%.

Tabela 41 – Principais economias (participação %) exportadoras, produtoras, importadoras e consumidoras de commodities primárias e processadas, 1995/2015.

Continua Exportações

Commodities primárias Commodities processadas

1995 2015 1995 2015

País Part. País Part. País Part. País Part.

Arábia Saudita 9,5 Arábia Saudita 8,0 Estados Unidos 8,8 Estados Unidos 10,0 Estados Unidos 8,6 Rússia 7,1 Alemanha 7,8 China 8,7

Canadá 5,4 Canadá 6,7 França 6,3 Alemanha 5,7

Rússia 4,6 Austrália 5,2 Holanda 5,8 Rússia 4,7

Reino Unido 4,4 Estados Unidos 4,5 Reino Unido 4,5 Coréia 3,6

Noruega 4,3 Brasil 3,5 Japão 3,9 Canadá 3,5

Holanda 4,0 Noruega 3,5 Bélgica 3,6 França 3,3

Austrália 3,8 Indonésia 2,4 Itália 3,5 Índia 3,2

Índia 3,7 Chile 2,0 Rússia 3,2 Japão 3,0

França 2,9 México 1,7 Canadá 3,2 Itália 2,7

México 2,5 Reino Unido 1,6 Austrália 2,9 Brasil 2,7 África do Sul 1,8 Holanda 1,5 Espanha 2,3 Holanda 2,5

China 1,6 China 1,3 China 2,2 Espanha 2,5

Malásia 1,5 Colômbia 1,3 Brasil 2,0 Bélgica 2,4

Espanha 1,5 África do Sul 1,2 Coréia 1,7 Reino Unido 2,2

Total 60,1 Total 51,3 Total 61,7 Total 60,4

Valor adicionado

Commodities primárias Commodities processadas

1995 2015 1995 2015

País Part. País Part. País Part. País Part.

China 10,3 China 20,8 Japão 21,6 China 25,8

Estados Unidos 9,1 Estados Unidos 8,6 Estados Unidos 15,7 Estados Unidos 14,3

Japão 5,9 Índia 6,5 China 5,8 Japão 6,5

Índia 5,6 Arábia Saudita 3,1 Alemanha 5,7 Rússia 3,1 Arábia Saudita 3,1 Indonésia 3,0 França 3,8 Índia 3,0 Indonésia 3,0 Rússia 3,0 Reino Unido 3,3 Alemanha 2,9

França 2,9 Canadá 2,4 Itália 3,2 Indonésia 2,6

Reino Unido 2,7 Brasil 2,0 Indonésia 2,5 México 2,2

Alemanha 2,6 Austrália 1,8 Brasil 2,3 Brasil 2,1

Brasil 2,5 Argentina 1,5 Rússia 1,9 França 1,9

Itália 2,3 México 1,4 Coréia 1,9 Reino Unido 1,8

Rússia 2,2 Noruega 1,2 Espanha 1,9 Coréia 1,8

Canadá 2,2 Malásia 1,2 México 1,8 Argentina 1,7

México 2,2 Turquia 1,2 Turquia 1,7 Canadá 1,6

Coréia 1,9 Reino Unido 0,9 Canadá 1,6 Espanha 1,4

Total 58,5 Total 58,6 Total 74,7 Total 72,7

Importações

Commodities primárias Commodities processadas

1995 2015 1995 2015

País Part. País Part. País Part. País Part.

Japão 15,1 China 19,3 Estados Unidos 10,1 Estados Unidos 11,0 Estados Unidos 15,0 Estados Unidos 11,8 Alemanha 9,4 China 8,5

Alemanha 8,3 Japão 7,5 Japão 8,9 Alemanha 5,8

Itália 5,2 Índia 6,3 França 6,4 Índia 4,2

França 4,9 Coréia 5,5 Itália 5,8 Japão 3,9

Coréia 4,7 Alemanha 5,3 Reino Unido 5,1 Reino Unido 3,6

Reino Unido 3,9 Itália 3,6 Coréia 3,6 França 3,4

Holanda 3,5 Taiwan 3,1 Holanda 3,1 Itália 3,0

Espanha 3,4 França 2,7 Taiwan 2,6 Coréia 3,0

Taiwan 2,1 Reino Unido 2,6 Espanha 2,6 Canadá 2,7

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Tabela 41 – Principais economias (participação %) exportadoras, produtoras, importadoras e consumidoras de commodities primárias e processadas, 1995/2015.

Continuação Importações

Commodities primárias Commodities processadas

1995 2015 1995 2015

País Part. País Part. País Part. País Part.

Bélgica 1,8 Canadá 2,4 Bélgica 2,4 Turquia 1,9

China 1,8 Holanda 2,1 China 2,1 Espanha 1,8

Índia 1,7 Tailândia 1,6 Rússia 1,9 Hong Kong 1,7

Brasil 1,3 Bélgica 1,2 Tailândia 1,6 Austrália 1,6

Total 74,5 Total 77,5 Total 68,1 Total 58,4

Consumo1

Commodities primárias Commodities processadas

1995 2011 1995 2011

País Part. País Part. País Part. País Part.

Estados Unidos 13,1 China 25,0 Japão 17,9 China 23,8 China 10,8 Estados Unidos 11,0 Estados Unidos 16,9 Estados Unidos 13,8

Japão 8,6 Índia 5,7 Alemanha 6,4 Japão 9,0

Índia 4,5 Japão 3,9 China 5,7 Índia 4,1

Alemanha 4,2 Brasil 3,4 França 4,6 Alemanha 3,7

França 3,9 Rússia 2,3 Itália 4,0 Coréia 3,5

Reino Unido 2,9 Indonésia 2,2 Reino Unido 3,4 Brasil 3,0

Itália 2,8 Canadá 2,1 Coréia 3,2 França 2,6

Brasil 2,7 Coréia 2,0 Brasil 2,9 Itália 2,4

Coréia 2,3 França 1,8 Espanha 2,5 Rússia 2,3

Rússia 2,3 Alemanha 1,8 Índia 2,2 México 1,9

Espanha 2,2 México 1,7 Indonésia 2,1 Canadá 1,8

Canadá 1,9 Itália 1,7 Canadá 1,7 Espanha 1,8

Indonésia 1,8 Austrália 1,5 México 1,6 Reino Unido 1,8 Turquia 1,8 Reino Unido 1,5 Rússia 1,5 Turquia 1,7

Total 65,8 Total 67,6 Total 76,6 Total 77,2

Fonte: Elaborado a partir de OECD.Stat (2018).

1 O consumo mundial é apresentado somente para os anos de 1995-2011, dado que essa variável é extraída das matrizes de

insumo-produto do banco IOTs 1995-2011.

No âmbito do consumo das commodities primárias, em 1995 os principais consumidores foram Estados Unidos, 13,1%; China, 10,8%; Japão, 8,6%; Índia, 4,5%; Alemanha, 4,2%; França, 3,9%; Reino Unido, 2,9%; Itália, 2,8%; Brasil, 2,7%; Coréia, 2,3%; e Rússia, 2,3%. Em 2011 a China era responsável por aproximadamente um quarto do consumo mundial das commodities primárias, sendo 25,0%; Estados Unidos, 11,0%; Índia, 5,7%; Japão, 3,9%; Brasil, 3,4%; Rússia, 2,3%. Os principais consumidores das commodities processadas foram, em 1995: Japão 17,9%; Estados Unidos, 16,9%; Alemanha, 6,4%; China, 5,7%; França, 4,6%. Em 2011 destacam-se as seguintes economias: China, 23,8%; Estados Unidos, 13,8%; Japão, 9,0%; Índia, 4,1%; Alemanha, 3,7%.

Nos diversos mercados de intercâmbio comercial da economia mundial, as importações constituem um dos principais elementos para determinar a participação de algumas economias no cenário internacional. Entretanto, seria possível pressupor que o mercado das commodities seria controlado, em geral, pelas economias em desenvolvimento onde concentra-se maior parcela da produção (em termos de VA) das commodities primárias (Tabela 43), portanto, a

99 base para produção de commodities processadas, e dado que nos demais mercados, conforme avança-se em intensidade tecnológica, o espaço de concorrência para essas economias, com exceções como no caso dos Tigres Asiáticos (Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan) e da China, é reduzido frente aos países desenvolvidos. Mas, a organização da dinâmica econômica não se dá com base no pressuposto de uma coordenação da produção e consequentemente da concorrência. É nesse sentido que essa análise coloca que algumas economias líderes no mercado das commodities não necessariamente o são com base no peso da produção primária doméstica, mas, sim o são, com base nas importações do insumo básico.

A ampliação das importações de commodities primárias em função da expansão do setor de processamento nas economias importadoras pode resultar em estímulo à expansão da produção primária nas economias produtoras-naturais e concorrência entre essas economias e as produtoras-importadoras nos mercados das commodities processadas. O problema reside que, considerando que algumas dessas economias produtoras-importadoras seriam os principais mercados de destino das exportações das produtoras-naturais, e assim, a região de consumo condiciona parte dessa dinâmica, em especial a partir de práticas protecionistas. Nesse sentido, as economias desenvolvidas tem implementado estratégias de modo a reduzir sua dependência das commodities importadas ou criar autonomia frente à essa dependência, como está posto nas barreiras tarifárias e não-tarifárias.

No que diz respeito as commodities, duas são as principais práticas protecionistas: os subsídios, e as tarifas as importações de commodities processadas (ver Subseção 1.2). Os subsídios à produção primária em grande medida são voltados para área agrícola, portanto não se estendem a toda produção primária, como os setores de extração e mineração. Em geral esse tipo de barreira é adotada nas economias desenvolvidas como forma de “igualar” a concorrência da produção interna com a do mercado externo. Em geral os Estados Unidos e a União Européia, são pioneiros no uso dessas barreiras. As práticas de subsídios não são explícitos nos setores de extração e mineração, nas economias desenvolvidas dado a dependência das importações primárias desse setor.

A imposição de tarifas superiores nas importações de commodities processadas relativas às tarifas das commodities primárias, indica que em geral a demanda dos países desenvolvidos é norteada para commodities primárias, resultando no entendimento de que esses mercados consumidores demandam commodities processadas, mas, criam mecanismos para que esse processamento seja realizado domesticamente. Isso é extremamente importante de compreender, pois, estabelece a base para análise de que a decisão de processar a commodity, ou seja, incluir mais um passo na etapa produtiva na dimensão das economias produtoras-

100 naturais, da produção destinada ao mercado internacional, não é uma simples decisão a ser tomada no âmbito nacional, pois, depende também das condições da demanda externa.

As importações de commodities primárias contribuem para a participação de economias que não são produtoras-naturais a participarem do mercado mundial das commodities, em grande medida no âmbito das exportações das commodities processadas. O entendimento para essa inter-relação é brevemente apontada ao analisarmos a distribuição das demandas pelo setor primário respectivo. Ou seja, na distribuição das demandas pela oferta do setor agrícola, na demanda intermediária, a principal demanda origina-se do setor de alimentos. Dado o caráter dos setores em análise, ou seja, de insumo básico de produção, isso indica que o principal setor de demanda, representa o principal setor de transformação/processamento dessa commodity primária, dado que, está levando-se em consideração o caráter da demanda intermediária. Para o setor de alimentos de um determinado país, apresentar produção e exportações do setor, ele necessita da produção do setor primário. Caso não haja capacidade de produção doméstica para atender essa demanda, importações pelo setor agrícola podem ser realizadas. A partir desse movimento, é criado base para produção do setor de alimentos.

As importações são analisadas aqui, de duas formas principais: uma delas é olhar o peso das importações no valor da DI do setor primário, e a segunda forma é através do uso do indicador28 da parcela das importações intermediárias que são exportadas (IMGRINT_REII), portanto, do total das importações intermediárias, a parcela incorporada nas exportações29. A partir disso é possível, em primeiro lugar, identificar as economias que tem base da produção primária, em termos de DI, formada em grande medida por importações. Considerando que o caráter da variável das importações intermediárias, qual seja, o de importações para atender a demanda dos diferentes setores para o setor em questão, isso permite compreender que essas importações intermediárias contribuem para compor essas exportações.

Como já apontado, não necessariamente as maiores economias produtoras-naturais são também as maiores economias exportadoras das commodities processadas. Os mercados das commodities processadas tem casos de economias que não apresentam base de produção primária suficiente para subsidiar a produção de commodities processadas para consumo interno e exportações, mas, estão como as maiores exportadoras do setor. Essa situação só pode ser entendida a partir do peso das importações. Assim, essas importações podem aparecer tanto

28 Refere-se as importações intermediárias reexportadas pelo setor exportador como parte das importações

intermediárias mostram quanto das importações são exportadas. Indicador – IMGRINT_REII - extraído do banco TIVA/OECD (OECD.Stat, 2018).

29 Importante ressaltar que esse indicador não diz respeito a uma parcelas das exportações, e sim, uma parcela das

101 pelo setor primário, quanto pelas próprias importações do setor das commodities processadas, enquanto reexportações.

Os maiores produtores de commodities agrícolas em 2015 foram: China, Índia, Estados Unidos, Indonésia, Brasil, Turquia, Argentina, Rússia, Japão, França, Tailândia, Filipinas, Itália, México e Espanha e no setor de alimentos: China, Estados Unidos, Japão, Alemanha, Indonésia, México, França, Reino Unido, Brasil, Canadá, Espanha, Índia, Itália, Argentina, Filipinas. Observa-se assim que Alemanha, Reino Unido, Canadá e Filipinas são grandes produtoras de alimentos, mas não necessariamente estão como as principais produtoras do setor agrícola em 2015.

Destacam-se como maiores exportadores de alimentos, em 2015: Estados Unidos, China, Alemanha, França, Holanda, Brasil, Indonésia, Irlanda, Espanha, Tailândia, Itália, Vietnã, Bélgica, Rei. Unido, Canadá (Tabela 9). No entanto, Alemanha, Reino Unido e Canadá não estão entre os maiores produtores agrícolas (Tabela 5). A participação das importações na DI do setor agrícola em 2005 na Alemanha era de 25,8%; no Canadá, 10,4%; no Reino Unido, de 24,5%. Em 2015 essas participações foram de: Alemanha, 33,6%; Canadá, 11,4%; Reino Unido, de 22,2% (Tabela 4). No setor de alimentos, em 2005, a parcela das importações intermediárias contida nas exportações de alimentos eram de 25,0% na Alemanha; no Canadá, de 32,3%; no Reino Unido, de 16,1%; e, em 2015, essas participações foram de: Alemanha, 32,1%; Canadá, 30,2%; e, Reino Unido, 20,9% (Tabela 42). Observa-se que na inter-relação do setor agrícola-alimentos, não há grande dependência das importações intermediárias como determinante da participação de algumas economias enquanto grandes exportadoras do setor de alimentos. Nesse sentido, podemos destacar a partir de Radetzki (2008) que:

Os EUA, a Europa Ocidental e o Japão exibem dependência limitada de importação de produtos alimentícios. Para a Europa Ocidental e o Japão, isso é o resultado de uma proteção agrícola profunda. Por outro lado, todas as três áreas tornaram-se fortemente dependentes das importações de matérias-primas industriais no decorrer do século XX, à medida que as necessidades domésticas espocavam em resposta à industrialização das respectivas regiões. A dependência das importações desenvolveu-se anteriormente nos EUA e na Europa Ocidental do que no Japão, mas no último país a dependência da oferta importada tornou-se muito mais acentuada, principalmente devido à sua alta densidade populacional (RADETZKI, 2008, p. 44, tradução nossa).

Os maiores produtores do setor das commodities minerais energéticas em 2015 foram: China (12,4%), Estados Unidos (11,4%), Arábia Saudita (8,5%), Rússia (5,4%), Canadá (4,5%), Noruega (2,9%), Indonésia (2,3%), Malásia (1,8%), Austrália (1,6%), México (1,5%),

102 Índia (1,5%), Reino Unido (1,3%), Brasil (1,1%), Argentina (1,0%), Cazaquistão (0,9%) e Colômbia (0,8%).

Os maiores exportadores de coque refinado e produtos do petróleo em 2015 foram: Estados Unidos, Rússia, Coréia, Cingapura, Índia, Alemanha, China, Arábia Saudita, Canadá, Bélgica, Holanda, Japão, Espanha, Malásia, Tailândia. Nesse ano, a participação das importações na demanda intermediária do setor de commodities minerais energéticas dessas economias foi de: 38,1% nos Estados Unidos; na Rússia, 7,0%; Coréia, 98,3%; Índia, 64,1%; Alemanha, 92,9%; China, 25,2%; Arábia Saudita, 0,2%; Canadá, 36,7%; Bélgica, 99,8%; Holanda, 80,9%; Japão, 98,8%; Espanha, 98,3%; Malásia, 9,6%; Tailândia, 56,3%.

Portanto, das principais economias exportadoras de coque refinado e produtos do petróleo em 2015, Coréia, Alemanha, Bélgica, Holanda, Japão e Espanha, apresentavam uma participação das importações acima de 70% no valor da demanda intermediária do setor base de produção para coque refinado e produtos do petróleo, qual seja, setor de minerais energéticos (Tabela 16).

Além das importações pelo setor primário, as economias também podem realizar as importações pelo setor de processamento. Para medir esse elemento, podem utilizar a variável da participação das importações intermediárias que estão nas exportações. Dentre os principais exportadores de coque refinado e produtos do petróleo, vale destacar que em 2015 a economia coreana apresentava como parcela das importações intermediárias de 44,1% nas exportações, a economia alemã, de 41,3%, e a economia tailandesa, participação de 53,6% (Tabela 42).

Os maiores exportadores de metais básicos, em 2015 foram: China, Alemanha, Japão, Estados Unidos, Canadá, Coréia, Rússia, Austrália, França, Itália, Índia, Turquia, Brasil, Bélgica, Espanha (Tabela 32). Em 2015, o peso das importações na DI do setor de minerais não-energéticos era de: 25,9% na China; 54,2% na Alemanha; 83,0%, no Japão; 13,3% nos Estados Unidos; 34,8% no Canadá; 82,4% na Coréia; 7,8% na Rússia; 3,5% na Austrália; 34,7% na França; 87,4% na Itália; 53,9% na Índia; 16,2% na Turquia; 18,1% no Brasil; 96,7% na Bélgica; e 48,6% na Espanha (Tabela 27). Ainda dentre os maiores exportadores de metais básicos, destacam-se Bélgica, Alemanha, Canadá, Itália, Coréia e França, como participação acima de 50% das importações intermediárias do respectivo setor, que são reexportados. Assim, observa-se que nesse setor, as importações, tanto do setor primário como no próprio setor, são elementos importantes para dar base para produção e participação de algumas economias no mercado internacional das commodities.

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Tabela 42 – Participação (%) das importações intermediárias nas exportações dos setores de commodities processadas, para os principais exportadores, 1995/2015.

Alimentos Coque refinado e produtos do petróleo Metais básicos

País 1995 2005 2011 2015 País 1995 2005 2011 2015 País 1995 2005 2011 2015

Irlanda 62,9 58,4 67,8 74,0 Cingapura 57,4 74,4 75,3 76,2 Bélgica 71,5 68,6 66,4 63,3 Bélgica 39,6 41,2 45,7 49,0 Bélgica 52,0 53,5 65,1 56,6 Alemanha 48,7 55,0 59,3 60,7 Holanda 44,9 41,8 46,8 49,5 Tailândia 36,9 49,0 52,2 53,6 Canadá 65,4 47,1 64,5 48,5 Vietnã 24,0 39,8 41,6 41,8 Holanda 55,3 49,2 51,0 51,4 Itália 43,8 40,7 47,9 52,1 Tailândia 33,4 35,7 41,3 41,8 Malásia 47,3 60,4 58,9 50,5 Coréia 32,9 45,3 58,4 56,6 Alemanha 15,2 25,0 30,3 32,1 Alemanha 27,9 37,9 42,0 41,3 França 47,2 46,3 49,3 51,6 Canadá 27,4 32,3 25,8 30,2 Coréia 32,9 37,0 47,4 44,1 Rei. Unido 49,8 38,0 49,1 44,3 Espanha 20,2 21,5 25,2 28,9 Espanha 28,9 32,8 38,9 38,3 Turquia 18,8 26,5 31,1 34,0 França 21,3 25,9 26,9 28,5 Canadá 26,7 39,9 31,7 32,0 Japão 21,2 29,6 33,4 34,3 Itália 25,3 21,5 22,7 24,6 Rússia 45,7 38,0 37,8 34,6 Rússia 55,0 47,6 36,1 34,9 Rei. Unido 17,7 16,1 20,6 19,5 A. Saudita 31,7 50,7 34,8 22,5 China 64,8 34,7 32,1 29,4 Indonésia 12,8 17,7 17,0 16,8 Índia 11,8 22,5 24,2 22,0 Índia 10,7 21,3 24,6 24,4 Brasil 8,1 20,4 12,5 15,2 China 22,1 30,4 26,4 22,6 Est. Unidos 26,9 20,7 29,7 24,5 China 54,8 19,0 14,5 12,9 Japão 9,2 16,8 18,0 19,7 Brasil 22,7 28,9 17,3 24,6 Est. Unidos 9,2 7,7 10,5 10,1 Est. Unidos 13,3 9,5 12,6 13,4 Austrália 36,8 14,4 21,5 18,8

Fonte: Elaborado a partir de OECD.Stat (2018).

Em 2015 as economias que destinaram parcela do VBP para exportações, em percentual acima de 50% foram Austrália (57,7%), Bélgica (73,5%), Canadá (73,6%), França (72,8%), Reino Unido (59,2%) (Tabela 33). Dessas economias, observa-se que há concentração de exportações, enquanto principal parcela na distribuição no valor da produção setorial de metais básicos e que dessas economias, França participa das exportações mundiais desse setor, com base nas importações tanto no setor primário (Tabela 33) quanto das reexportações do próprio setor (Tabela 42). Dos demais grandes exportadores de metais básicos em 2015, do VBP setorial

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