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Reformulação e avanço teórico do estruturalismo cepalino

2 ESTRUTURALISMO, CRESCIMENTO ECONÔMICO E DISTRIBUIÇÃO DE

2.2 A PECULIARIDADE DO CRESCIMENTO E DA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA

2.2.2 Reformulação e avanço teórico do estruturalismo cepalino

De certa forma, os anos 1950 podem ser considerados como o período de fácil industrialização por substituição das importações por se tratar da inserção da indústria leve. Porém, à medida que as economias periféricas caminhavam para a fase de substituição “difícil”, fortes medidas protecionistas e consideráveis exigências de investimento público passariam a ser exigidos. A maior e mais intensa atuação do Estado na promoção dessa nova fase da industrialização periférica estão relacionados com os graves desequilíbrios no balanço de pagamentos, com o aumento o déficit público e com a aceleração da inflação entre o final dos anos 1950 e princípio dos 1960.

Apesar da presença do investimento direto externo (IDE) destinado à produção para o mercado interno e da instalação de algumas atividades das indústrias química e a metal- mecânica, as altas taxas de crescimento industrial, alcançadas na década de 1950, caíram pela metade no início da década seguinte. Todavia, a tendência à estagnação produtiva e industrial é revertida entre 1966 e 1973 com altas taxas de crescimento, tanto do produto industrial, quanto do PBI. Da perspectiva da economia mundial, esse período é chamado de “idade de ouro” devido a aproximadamente 25 anos de crescimento intenso (1950 - 1973) com rápida expansão do comércio mundial acompanhado por altas taxas de emprego e por uma convergência tecnológica entre os países centrais (Estados Unidos, Europa e Japão) (RODRIGUEZ, 2009).

Contudo, apesar da ampliação do comércio internacional, as economias periféricas mantiveram significativamente fechadas, com o crescimento de suas exportações a taxas menores do que das importações e do conjunto exportações mundiais. A necessidade de atrair

IDE e de recorrer reiteradamente a empréstimos externos aumentou peso cada vez mais os custos dos serviços financeiros no déficit em conta corrente. Ademais, apesar do crescimento industrial dos anos anteriores, as exportações latino-americanas permaneceram concentradas em bens primários e em manufaturas de elaboração simples.

Normalmente, desenvolvimento econômico refere-se a um processo de industrialização e modernização acompanhada de transformação social. Nos anos 1950, as mudanças na estrutura industrial, em economias latino-americanas, precisaram de um Estado que articulasse diferentes interesses, especialmente aqueles destinados à elaboração dos bens de consumo duráveis e de meios de produção. Durante os anos 1960, os estudos estruturalistas diagnosticavam alguns desequilíbrios inerentes à industrialização latino-americana que dificultava sua continuidade. A forte limitação da capacidade para importar, o crescente endividamento externo, o aumento persistente do desemprego, a marginalização dos vastos grupos sociais e a persistência de processos inflacionários eram os fatores responsáveis pela perda de dinamismo das economias da região.

O argumento estagnacionista explicado por Furtado (1966) seria questionado em meio a retomada do crescimento no Brasil e da América Latina na segunda metade da década de 1960. Na CEPAL, duas interpretações surgiriam para contrapor o “estagnacionismo”: as teses sobre “dependência” (CARDOSO; FALETTO, 1969) e a tese da “heterogeneidade estrutural” (PINTO, 1965). O estímulo aos estudos sociológicos de José Medina Echavarría, Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto foram reunidos na obra ‘Dependência e desenvolvimento na

América Latina’ (CEPAL, 1969). Além de contrapor a tese estagnacionista, o texto também

foi uma:

A reação teórica à tese corrente na época de que se estava gestando na região uma burguesia nacionalista potencialmente comprometida com um padrão de desenvolvimento que justificava uma aliança com a classe trabalhadora e que podia conquistar hegemonia política (BIELSCHOWSKY, 2000, p. 41).

Sendo assim, no final da década de 1960, nasce o que se convencionou chamar de “enfoque da dependência” com o intuito de constituir marco conceitual para analisar como o capitalismo gera continuamente subdesenvolvimento, em qualquer tempo e lugar. Esse enfoque não pretendeu se constituir em teoria, mas ajudar na compreensão do concreto pela via da história comparada dos diferentes casos. Um método mais histórico-concreto, apresentando os mesmo vínculos com a categorização e periodização propostos pelo estruturalismo latino-americano. Segundo Cardoso e Faletto (1969, p.502):

[...] um procedimento metodológico que acentue a análise das condições específicas da situação latino- americana e o tipo de integração social das classes e grupos como condicionantes principais do processo de desenvolvimento. [...] O fundamental seria caracterizar o modo de relação entre os grupos sociais no plano nacional — que, por suposto, depende do modo de vinculação ao sistema econômico e aos blocos políticos internacionais que podem produzir consequências dinâmicas na sociedade subdesenvolvida.

Apesar dos diagnósticos estagnacionistas e dependentistas, a partir de meados da década de 1960 até 1973, as economias latino americanas cresceram aceleradamente, aprofundando seu processo de industrialização, acompanhado pela expansão das exportações e das importações, ambas beneficiadas pela liquidez e disponibilidade financeira internacional. Frente ao primeiro choque de aumento nos preços do petróleo em 1973 e a consequente disponibilidade dos “petrodólares” no mercado financeiro, alguns países da região optaram por manter o crescimento via endividamento. Dessa forma, alguns países conseguiram manter crescimento relativamente elevado até a década de 1980, quando o segundo choque de petróleo e a ascensão da taxa de juros americana enxugaria a oferta de poupança externa e revelaria a limitação do crescimento baseado no endividamento (debt-

led). Nesse processo, duas características tomaram proeminência no processo de crescimento

econômico nos países periféricos: uma crescente instabilidade macroeconômica e a presença crescente do setor financeiro no centro dos acontecimentos econômicos. Segundo o texto da CEPAL (1985), a nova hegemonia do sistema financeiro sobre o sistema produtivo modificou a orientação das políticas econômicas da implantação de sistemas diversificados de produção e de exportação para a sustentação da rentabilidade do setor bancário.

Ao mesmo tempo, na academia observou-se o declínio do keynesianismo acompanhado pela gradual decadência da teoria do desenvolvimento e uma nova teoria ortodoxa preocupada com a análise de economias em desenvolvimento. Na CEPAL, o debate em torno dos “estilos de desenvolvimento” concordava que a recuperação econômica entre 1965-73 e demonstrava que, apesar da reforma agrária e da redistribuição da renda serem desejáveis para um crescimento socialmente mais homogêneo e justo, não era o único estilo de crescimento viável na periferia. A partir da intensificação do endividamento e suas consequências sobre a instabilidade macroeconômicas, reforçou-se a necessidade de reorientar “estilo” de industrialização periférica, combinando os estímulos do mercado interno às virtudes da orientação pró-exportações de bens industriais.

Mesmo com o aprofundamento do processo de industrialização, a tendência à preservação do subdesenvolvimento ainda se verificava na presença maciça do subemprego. Se na década de 1950 a industrialização era vista como solução de longo prazo para o

problema da “vulnerabilidade externa”, nos anos 1960 surgiriam as críticas às distorções causadas pelo processo de industrialização e a seu viés não exportador. Nesse interim, a reorientação exportadora teria o duplo papel de conferir ao processo de industrialização maior eficiência e reduzir as restrições externas (BIELSCHOWSKY, 2000).

Durante a década de 1970, interpretações similares e convergentes reaparecem a partir da análise dos “estilos de desenvolvimento”. Focados no comportamento da demanda dos bens de consumo e no caráter regressivo da distribuição da renda, esses enfoques propõem analisar as tendências e características da concentração da renda nas economias periféricas e aos padrões de demanda associados a essa tendência. Nela, os determinantes do baixo, ou até mesmo estagnação do crescimento, podem ser encontrados através da análise dos elos entre padrões distributivos e de demanda.

Os “estilos de desenvolvimento” seria a principal referência teórica cepalina nos anos 1970, segundo Bielschowsky, (2000, p. 51). Aníbal Pinto utiliza uma definição de Graciarena em que “estilos” são a modalidade concreta e dinâmica adotada por um sistema num momento histórico determinado. Estilo é entendido como a maneira que são organizados e alocados os recursos humanos e materiais para resolver as questões sobre o que, para quem e como produzir bens e serviços. No estruturalismo, o estilo é resultado das interações entre a estrutura produtiva e a distribuição da renda. Infelizmente, na causalidade circular negativa do estilo de desenvolvimento das economias periféricas, prevalece a concentração de renda, determinando a estrutura produtiva especializada e heterogênea, carecendo, portanto, modificar esse estilo em torno de uma redistribuição de renda e reorientação da estrutura produtiva.

De forma geral, essa interpretação identifica no consumo conspícuo dos setores de maior produtividade responsáveis em parte pela deterioração do nível de poupança, enquanto o setor de baixa produtividade, influenciado pelo subemprego, baixos salários e tecnologia defasada, fica também impossibilitado de acumular poupança suficiente para diversificar e ampliar a produção e a renda dessas economias (FURTADO, 1966, PINTO 1965). A tendência à estagnação estaria relacionada à falta de poupança e a dificuldade de ampliar a venda dos bens de consumo assalariado, bem como diversificar a produção devido à baixa demanda relacionada com o baixo salário e produtividade média. Sendo assim, as políticas econômicas são as diferentes formas de modificar as estruturas de produção e demanda através das variáveis a elas associadas. Todavia, a tendência à estagnação não foi a única sustentável analiticamente na análise dos estilos de desenvolvimento. Outras posições entendem que essas características são uma expressão transitória de uma mudança de estilo

que termina por dar margem à diversificação da produção e da demanda dos bens de consumo duráveis, mesmo que prevaleçam padrões distributivos marcados pela concentração.

Apesar de encontrar uma causalidade inversa, Pinto (1965) concorda com a conclusão de Furtado (1966) de que, a dependência cultural das classes abastadas determina perfil da demanda especializada, fomentado pelo aumento de parcela dos lucros via repartição desigual dos ganhos de produtividade. Porém, uma vez que a dinâmica econômica na periferia é caracterizada pela concentração de renda e pela heterogeneidade estrutural se reforçando mutualmente, para Pinto (1965) diferentemente de Furtado (1966), a distribuição desigual não seria um empecilho para o crescimento. Desde que a demanda por bens diversificados seja capaz de incitar os setores modernos de alta produtividade. Perante o aprofundamento da concentração de renda e crescente heterogeneidade, caberia ao Estado promover tanto o lado da oferta a partir da difusão do progresso tecnológico dos setores modernos para o intermediário e primitivo, quanto o lado da demanda, distribuindo melhor os frutos do avanço técnico e produtivo.

Apesar de não negar as conclusões apresentadas na teoria da estagnação secular, da dependência e da heterogeneidade estrutural, no artigo ‘Para Além da Estagnação’ de 1969, Maria da Conceição Tavares e José Serra reconhecem que as economias latino-americanas podem ser dinâmicas, apesar de conter graves injustiças sociais. Uma vez que a própria industrialização não havia modificado o estilo de crescimento (concentrador, dependente e heterogêneo), apenas mudado seu formato e ampliado sua visibilidade, era importante reverter a causalidade e entender o tipo de concentração da renda como fonte do dinamismo econômico periférico.

O processo capitalista no Brasil, em especial, embora se desenvolva de modo crescentemente desigual, incorporando e excluindo setores da população e estrato econômicos, levando a aprofundar uma série de diferenças relacionadas como consumo e produtividade, conseguiu estabelecer um esquema que lhe permite autogerar fontes de estímulo e expansão que lhe conferem dinamismo. Nesse sentido, poder-se-ia dizer que, enquanto o capitalismo brasileiro desenvolve-se de maneira satisfatória, a nação, a maioria da população, permanece em condições de grande privação econômico, e isso, em grande medida, devido ao dinamismo do sistema, ou ainda, ao tipo de dinamismo que o anima. (TAVARES, 1973, p.158)

Na interpretação proposta pelos autores, a concentração de renda era o elemento dinamizador e reajustava a estrutura da demanda na direção da estrutura produtiva especializada e concentrada, ampliando, por consequência, o consumo das classes altas e médias, ampliando também, em certa medida, o excedente necessário para financiar a acumulação. Um estilo de crescimento “maligno” ou “perverso”, em alusão ao chamado

“milagre” brasileiro, exibido pela ditadura de então com base nas aceleradas taxas de crescimento da época (BIELSCHOWSKY, 2000).

Assim como Furtado (1966) e Pinto (1976), Tavares (1972) entendia que, para manter o processo da substituição de importação seria necessário maior concentração de renda, diversificando ainda mais o consumo das camadas de maior renda. No entanto, para a autora, a estagnação era oriunda da falta de oportunidade de investimento, não devido exclusivamente à concentração de renda. A concentração não seria impedimento para o crescimento, pelo contrário, a própria concentração de renda era o elemento que dinamizava as economias e promovia o avanço da acumulação capitalista.

Enquanto Pinto (1965) entende que a concentração de renda e a heterogeneidade estrutural se reforçam mutuamente, não existindo causalidade linear, para Furtado (1966) a concentração de renda levara à formação de uma estrutura produtiva ineficiente, com baixa e desigual difusão dos ganhos da produtividade e permeada pelo subemprego, agravando a condição inicial de concentração. Ou seja, o perfil de renda concentrada da demanda influencia a estrutura produtiva da oferta. Por sua vez, Tavares (1972) inverte a causalidade entre concentração de renda e estrutura produtiva de Furtado (1966). Para a autora, a estrutura produtiva depende do padrão de demanda que promove concentração de renda. A recomposição na distribuição de renda em favor dos lucros incitava o consumo capitalista e abre oportunidades de investimento e de emprego, promovendo, consequentemente, aumento do consumo dos trabalhadores urbanos. Portanto, para Tavares (1972) o aumento do investimento autônomo é influenciado pelo avanço tecnológico e financeiro incentivado pelo consumo conspícuo. A expansão da produtividade é quem permite o crescimento da demanda via inversões nos setores mais dinâmicos8.

Segundo Serra e M. C. Tavares (1982), a existência de um ciclo endógeno, peculiar às economias latino-americanas, foi responsável pelos “anos dourados”, com taxas médias de crescimento significativas desde a segunda metade dos anos 1960 e durante a década posterior. Essas taxas foram resultado da expansão do setor de bens duráveis de consumo e do setor de meios de produção. Porém, à medida que se atenua as desproporções entre os ritmos

8 A respeito do impacto marginal na melhoria da renda dos trabalhadores, Hoffman (1975) demonstrou que no

período do “milagre econômico” metade da população brasileira não foi atingida pelos benefícios do crescimento em termos monetários e outros 30% da população obtiveram benefícios apenas marginais. Dessa forma, 80% da população não foram afetadas pela melhoria da produtividade nos setores dinâmicos, porém sofreram majoritariamente com a concentração de renda. Segundo Hoffman (1975), o “milagre econômico” se deu graças às políticas públicas de investimento em infraestrutura necessária para a promoção do mercado de consumo de bens altamente tecnológicos, controlado pelo capital estrangeiro. Hoffman (1975) explica que crescimento do salário abaixo da produtividade estava ligado à tendência das empresas estrangeiras em utilizar tecnologias de capital-intensiva ao invés de absorver o excedente estrutural de mão de obra

de expansão desses setores compromete-se a continuidade do crescimento (RODRIGUEZ, 2009). Os autores questionam a suposta tendência à estagnação de Furtado (1966), caracterizando as crises do processo de industrialização na periferia não como uma expressão dessa tendência, mas como uma mudança no “estilo de desenvolvimento”, compatível com diferentes níveis de crescimento e concentração de renda.

Primeiramente é preciso entender que o processo de industrialização da estrutura produtiva desses países girou em torno de três atores, variando o protagonismo conforme a fase do processo de substituição: empresas transnacionais, grandes empresas nacionais e empresas e atuação estatal. Apesar das grandes empresas nacionais cumprirem papel importante inicial no processo industrialização, no período do chamado “nacional- desenvolvimentismo”, nas décadas seguintes a crescente presença de capitais estrangeiros e sua liderança no processo de crescimento tomou proeminência frente aos demais atores. Nesse interim, o Estado cumpriu o papel de indutor de investimentos autônomos imprescindíveis para promover a recuperação nas fases de contração do nível de atividade e também para a continuidade do crescimento. Um Estado ativo e articulador de interesses entre as diferentes “frações do capital”, considerando não somente as grandes empresas nacionais, mas também as de porte médio e pequeno.

Os argumentos básicos relativos à demanda dos bens de consumo permanecem os mesmos, privilegiam a ideia segundo a qual sua difusão, requisito e elemento-chave do crescimento dos centros, não conseguem se repetir na periferia por causa da superabundância de força de trabalho, inibidora do aumento dos salários e a origem da consequente distribuição regressiva de renda. No entanto, se considerarmos que a variedade dos bens de consumo conspícuo aumente constantemente, de tal modo que as necessidades por eles se renovem continuamente, existe então incentivo para uma elevação da produtividade nos setores avançados e da demanda por bens elaborados. Dessa forma, a correspondente ampliação da oferta, em princípio realizável, pode ocorrer se houver estímulo constante ao investimento associado às características das tecnologias geradas nos grandes centros (RODRIGUEZ, 2009).

É inegável que o excesso de mão-de-obra, a consequente rigidez dos salários e a distribuição regressiva de renda resultam em um estilo de desenvolvimento em que as novas técnicas incorporadas atuam negativamente sobre a produtividade do capital e sobre a sua remuneração como um todo. Portanto, a periferia não pode repetir o caminho virtuoso da difusão do consumo e tecnologia percorrida pelos países centrais. Devido às condições de

atraso estrutural e de inadequação tecnológica dessas economias, as possibilidades dos lucros são limitadas e dificultam a continuidade da acumulação e do crescimento.

Na argumentação de Furtado (1966), a superabundância da força de trabalho inibe a alta dos salários e contribui para forte tendência à concentração de renda. Esse nível de concentração impede a ampliação dos mercados dos bens de consumo e amplia a necessidade de se adotar tecnologias inadequadas disponíveis nos centros (intensivas em capital e poupadoras de mão-de-obra) comprometendo a continuidade da acumulação e do crescimento dessas economias.

No entanto, Serra e Tavares (1982) questionam a validade da tendência à estagnação apresentado por Furtado (1966), sustentando que esse suposto compromisso da acumulação de capital não é imprescindível. Para os autores, Furtado (1966) utilizou a hipótese de que as taxas de retorno entre os capitais, ou seja, entre os diversos setores indústrias tenderiam a se igualar. No entanto, Serra e Tavares (1982) rejeitam veementemente essa hipótese ao entender que os setores industriais nos países periféricos são altamente oligopolizados e trabalham com uma margem de capacidade ociosa. Os autores afirmam que, em setores mais modernos, as taxas de lucro são necessariamente maiores devido a maior exploração da mão de obra, avanço tecnológico e aumento de produtividade, a qual não é repassada nem para os salários e nem para queda dos preços, expandindo a taxa de lucro.

A questão é como manter acumulação, mesmo perante a uma dinâmica de crescimento concentrador e excludente. Nessa interpretação, a expansão tecnológica de certos setores líderes não é problema. A capacidade de transmissão dessas expansões para o crescimento da economia como um todo depende do peso dos setores “de ponta”, além de sua articulação com a estrutura produtiva interna e externa. Além disso, a relação entre o Estado e os capitais em expansão condiciona essa articulação, influenciando decisivamente nas políticas de alocação de recursos.

Segundo Serra e Tavares (1982) o baixo desempenho das economias latino-americanas na década de 1960 não seria fruto de um estancamento secular, mas de uma crise relacionada com as dificuldades emergentes no processo de aprofundamento da industrialização por substituição das importações em transição para uma nova etapa do desenvolvimento capitalista. Nesse estilo de desenvolvimento, a acumulação é condicionada pela reconcentração da renda, por novo esquema de articulação e uso do poder político e por novas formas de integração produtiva do capitalismo internacional. Para Serra e Tavares (1982), havia mecanismos de alimentação do capitalismo periférico, entretanto, seu funcionamento é ainda mais perverso à medida de carece de uma crescente concentração renda e desemprego.

Nesse sentido, pode-se dizer que enquanto o capitalismo brasileiro desenvolve-se de maneira satisfatória, a nação, a maioria da população permanece em condições de grande privação econômico e isso, em grande medida, devido ao dinamismo do sistema, ou ainda, ao tipo de dinamismo que o anima. (SERRA; TAVARES, 1982) Nesse novo estilo de desenvolvimento a relação privilegiada entre o Estado e um conjunto de empresas transnacionais forma um núcleo integrador da expansão de certas atividades-chave, sem estabelecer maiores compromissos de integração com a burguesia nacional ou com a classe trabalhadora como um todo. Enquanto o Estado se compromete com insumos intermediários e disponibilidade de financiamento do investimento (poupança), as empresas transnacionais se concentram na instalação e expansão dos setores de petroquímica, mineração, siderurgia, energia elétrica, transporte e comunicações.

Ademais, a partir da década de 1960, a conformação de conglomerados financeiros teve como objetivo captar o excedente e direcionar para novas e diversificadas formas de aplicação produtiva que minimizem riscos e mantenham rentável a acumulação do capital. Esta nova forma de organização, conhecida como conglomerado financeiro permite a