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Capítulo 2 – Repositórios e Mercados de Componentes e o Processo de Gerência de

2.4 Mercados de Componentes

2.4.1. Regiões e Cenários de um Mercado de Componentes

Diante do exposto acima, apesar do potencial da ESBC para apoiar a Economia Aplicada à Engenharia de Software (BOEHM & SULLIVAN, 2000), alguns autores apontam diferentes perspectivas que mostram que este potencial está longe de ser atingido plenamente. Por um lado, segundo RAVICHANDRAN & ROTHENBERGER (2003), a reutilização de componentes pode ser enquadrada em três regiões (Figura 2.5),

de acordo com os custos de aquisição e de personalização (customização): (i)

reutilização caixa-preta com componentes internos; (ii) reutilização caixa-branca com

componentes internos; e (iii) reutilização caixa-preta em mercados de componentes. Na

reutilização caixa-branca, os componentes desenvolvidos e disponíveis em um

repositório interno são utilizados e modificados para a construção de um novo produto. Na reutilização caixa-preta, a modificação do componente não é possível, havendo apenas uma configuração de parâmetros, de forma que os componentes caixa-preta possam estar disponíveis internamente ou ser adquiridos em mercados de componentes.

reutiliza

CUSTO DE PERSONALIZAÇÃO f(distância do domínio, distância do contexto)

C U S T O D E A Q U IS Ã O f( c u s to d a b u s c a , p re ç o d o c o m p o n e n te ) reutiliza reutiliza reutilização caixa-preta em mercados de componentes reutilização moderada reutilização não econômica reutilização caixa-preta com componentes internos

reutilização baixa

reutilização caixa-branca com componentes internos

reutilização alta

Figura 2.5 – Regiões estratégicas da Reutilização de Software com a ESBC (RAVICHANDRAN & ROTHENBERGER, 2003)

A partir destas regiões estratégicas, alguns fatores de comparação são apontados na Tabela 2.6. Apesar da taxa de reutilização com componentes caixa-branca ser mais representativa, os componentes caixa-preta são os que têm se destacado como os mais promissores para a adoção da Reutilização de Software com a ESBC na indústria, provavelmente pelo fato do componente deste tipo poder representar um pacote de valor agregado bem-delimitado pela separação de papéis nos processos de desenvolvimento

para e com reutilização (WERNER & BRAGA, 2005).

Atualmente, as regiões estratégicas de reutilização (i) e (ii) têm acontecido, uma vez que a ESBC é tratada como um fator de sucesso, internamente às organizações (SOFTEX, 2009). OVUM (2010) estimou o tamanho dos mercados de componentes em US$ 64 bilhões em 2002. Considerando que o Brasil possuía, na mesma época, um mercado de software que movimentava US$ 1,81 bilhão para produto (e US$ 6,64 bilhões para serviços), o porte da estimativa acima mencionada seria significativamente considerável para um mercado internacional como um segmento específico deste

mercado (i.e., ESBC). De fato, a realidade atual está longe disso, impactando diretamente a região estratégica de reutilização (iii), devido à existência de disfunções sistemáticas subjacentes (OVERHAGE & THOMAS, 2004) e de alguns inibidores (HAHN & TUROWSKI, 2003), como discutido na Seção 1.3.

Tabela 2.6 – Comparação entre as regiões estratégicas da Reutilização de Software

REUTILIZAÇÃO CAIXA-BRANCA

(a) Reutilização local e restrita a grupos internos

(b) Alta taxa de reutilização, via modificação dos componentes para atender novos requisitos (c) Alta flexibilidade de utilização via modificações

(d) Qualidade conhecida e gerenciada com maior flexibilidade (e) Custo de desenvolvimento reduzido

(f) Custo de busca reduzido (g) Custo de modificação elevado

(h) Reutilização efetiva após um grande povoamento do repositório

(i) Crescimento exponencial do repositório, forte controle de versão e mudanças

REUTILIZAÇÃO CAIXA-PRETA (componentes internos)

(a) Reutilização local, mas não restrita a grupos internos

(b) Baixa taxa de reutilização, dificuldade de compatibilidade entre requisitos e componentes (c) Flexibilidade limitada de uso (via interfaces parametrizáveis)

(d) Qualidade conhecida e gerenciada com flexibilidade

(e) Custo de desenvolvimento elevado (necessidade de parametrização) (f) Custo de busca reduzido

(g) Custo de modificação reduzido

(h) Reutilização efetiva após um grande povoamento do repositório (i) Alta reutilização demandada para recuperação de investimento (j) Crescimento linear do repositório (controle de versões mais fraco)

REUTILIZAÇÃO CAIXA-PRETA (mercado de componentes)

(a) Componentes comercializados em mercados ou comprados de produtores (fornecedores) (b) Taxa de reutilização moderada, demanda encontrar componente que atenda aos requisitos (c) Flexibilidade de uso limitada (via interfaces parametrizáveis)

(d) Qualidade desconhecida (com riscos de má qualidade)

(e) Custo de desenvolvimento elevado (necessidade de parametrização) (f) Custo de busca elevado

(g) Custo de modificação reduzido

(h) Investimento de povoamento de repositório desnecessário

(i) Repositório “desnecessário” (responsabilidade do mercado em catalogar e se manter)

Por outro lado, as regiões estratégicas de reutilização podem ser utilizadas para discutir o crescimento de um mercado de componentes em termos de quatro cenários (Figura 2.6), frutos da combinação entre as dimensões oferta e demanda, e

homogeneidade e heterogeneidade, considerando a divisão entre componentes

(a) oferta e demanda variam: a ausência de padrões tende a gerar nichos de mercado entre produtores e consumidores (os chamados “projetos cooperativos”);

(b) oferta e demanda são estáveis: “mercados ideais”, baseados em padrões adotados por produtores (i.e., desenvolvedores de componentes) e consumidores (i.e., desenvolvedores de sistemas baseados em componentes);

(c) oferta é estável e demanda varia: a padronização permite o gerenciamento de uma “oferta competitiva”, porém os consumidores podem ter dificuldades em utilizar componentes, por não seguirem padrões na construção de sistemas;

(d) oferta varia e demanda é estável: a ausência de padrões na produção de componentes prejudica as decisões dos consumidores (“competição horizontal”).

O F E R T A h o m o g ê n e a h e te ro g ê n e a heterogênea homogênea DEMANDA Tipo de Mercado 3

Produtores oferecem componentes baseados em padrões e provêem serviços por um (alto) custo adicional. Consumidores não adotam padrões na

ESBC e encontram dificuldades para utilizar componentes

Tipo de Mercado 2

Produtores oferecem componentes baseados em padrões e provêem serviços por um (alto) custo adicional.

Consumidores adotam padrões na ESBC (desenvolvimento

de software)

Tipo de Mercado 1

Produtores empacotam componentes e serviços em sua oferta. Ofertas competitivas são difíceis de comparar.

Consumidores têm necessidades próprias únicas. Customização é

freqüentemente requerida

Tipo de Mercado 4

Produtores empacotam componentes e serviços como uma oferta integrada. Ofertas competitivas são difíceis de comparar. Consumidores

podem utilizar uma variedade de componentes devido à ESBC

Figura 2.6 – Cenários do mercado de componentes (ULKUNIEMI & SEPPÄNEN, 2004)

De maneira prática, uma demanda homogênea consiste em consumidores que adotam normas e padrões industriais, ao passo que uma demanda heterogênea corresponde àqueles consumidores que apresentam necessidades diversificadas e específicas, não atendidas pelos componentes disponíveis no mercado. Uma oferta

homogênea é ilustrada por produtores que disponibilizam produtos com base em normas

e padrões industriais para interfaces e, às vezes, funcionalidades, enquanto uma oferta

heterogênea varia de forma ampla, ou seja, os produtores oferecem diferentes tipos de

componentes e serviços com estratégias variadas de precificação, provendo soluções de acordo com as necessidades específicas dos clientes.

Os mercados de componentes atuais estão distantes do tipo de mercado 2 (oferta e demanda homogêneas), apresentando características dos outros cenários e carecendo

de esforços para mudar essa realidade. Diante de tudo o que foi discutido, a pesquisa referente a esta dissertação acredita que um dos maiores inibidores para um mercado de componentes efetivo é definir e avaliar o valor de componentes, cuidando da manutenção de informações que auxiliem os stakeholders construírem este mercado, conforme identificado previamente por BRERETON et al. (2002), OVERHAGE & THOMAS (2004), ULKUNIEMI & SEPPÄNEN (2004), YANG et al. (2005), SOFTEX (2007) e SANTOS et al. (2009b), e diagnosticado como primeiro desafio em um survey realizado com especialistas da academia e da indústria (TRAAS & HILLEGERSBERG, 2000). Com base nisso, explorar novas estratégias que identifiquem dados históricos úteis e formas de manuseá-los, com o intuito de extrair informação e mostrá-la de acordo com o perfil ou ação de determinado stakeholder, torna-se um caminho interessante sobre o qual esta pesquisa se propõe a investigar.