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Luisa Cerdeira1

Sónia Fonseca1

matias mano1

Luciano de Almeida1

Introdução

A Educação, em geral, e o Ensino Superior, em particular, constituem alavancas importantes, diria mesmo: imprescindíveis para a qualificação dos cidadãos, para o desenvolvimento das Nações, e para o bem-estar dos Povos.

O cultivo científico dos saberes em todos os ramos de especialidade, a formação dos membros de uma colectividade de acordo com elevados padrões de exigência, uma perspectiva fundamentada e crítica sobre os complexos problemas que se nos colocam – correspondem a vectores essenciais da actividade do ensino superior, e definem-lhe os desafios de um cumprimento efectivo da sua função social.

Nesta apresentação pretende-se relatar de forma breve a iniciativa de criação de uma rede que una os decisores, docentes, investigadores e pessoal técnico das instituições do ensino superior nos países e regiões de língua portuguesa, para além das próprias instituições de ensino superior. Essa rede procurará dinamizar iniciativas de estudo, investigação e formação dentro deste espaço de língua portuguesa, que actualmente envolve milhares de instituições, que tem problemas e desafios comuns no âmbito da gestão do ensino superior. Procuraremos contextualizar a evolução recente deste subsector nos países e regiões de língua portuguesa e identificar os principais objectivos e linhas de acção da FORGES – Associação Fórum da Gestão do Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa.

Os desafios do Ensino Superior nos países de língua portuguesa

Nas últimas décadas, o Ensino Superior tem conhecido uma expansão assinalável, quer quali- tativa, quer principalmente quantitativa. Dados da UNESCO mostram que, a nível mundial, o número de estudantes no Ensino Superior cresceu de 65 milhões, em 1991, para 79 milhões em 2000 e estima-se que actualmente estejam próximo de 150 milhões (Altbach, 2009).

Assim sendo, em que ponto se encontram os Países e Regiões de Língua Portuguesa? A Língua Portuguesa é, sem dúvida, o nosso elo de ligação, primeiro e mais forte. Com ela nos entendemos, com ela fazemos Cultura, com ela sentimos e agimos no Mundo!

O Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa registou um franco crescimento, ainda que a ritmo e em contextos diversos, que lhe foram mais ou menos favoráveis. A tendência de expansão quantitativa justifica-se ai por vários factores, os quais podem, no entanto, assumir uma figura e um peso diferentes, consoante os países:

- o aumento demográfico; - o crescimento económico;

- a introdução de novas tecnologias e a extensão de uma “sociedade do Conhecimento”; - a subida na frequência do ensino obrigatório e médio;

- a consciência de uma necessária educação ao longo da vida.

Todavia, como razão agregadora, talvez seja de mencionar a percepção crescente de que o desenvolvimento socioeconómico e cultural dos países e regiões, depende em grande medida da qualificação dos seus cidadãos – com o que importa correlacionar a evolução do investimento público e privado na educação.

A realidade do Ensino Superior para o conjunto destes países e região mostra um crescimento acelerado, e no espaço de 10 anos, entre 1999 a 2009, o número de estudantes inscritos mais que duplicou.

Figura 1 – Evolução do número de estudantes inscritos no ensino superior no conjunto dos países e regiões de língua portuguesa

Fonte: Nações Unidas, UNdata, consultada a 2011/11/9

Nalguns destes países o sistema de ensino superior há uma década era quase inexistente, le- vando a que a esmagadora maioria dos jovens obtivessem a sua formação no exterior (Cabo Verde, Guiné-Bissau). Mas, os últimos anos viram crescer o sistema de ensino superior nesses países,

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atingindo valores já de alguma forma expressivos, em muitos casos com a criação de novas institui- ções e o aparecimento significativo do ensino privado. Essa evolução crescente é visível no quadro seguinte.

Quadro 1 – Evolução do número de estudantes inscritos e taxa de escolarização do ensino superior Fonte: Nações Unidas, UNdata, consultada a 2011/11/9

A frequência e o nível de escolarização bruta deste nível de ensino neste grupo de países é actualmente ainda muito diverso, com taxas bastante elevadas como nos casos de Portugal (61,2%), ou com valores ainda muito pouco significativos como os de Moçambique (1,5%), Guiné-Bissau (2,9%) e Angola (2,8%).

Quadro 1 – Educação, Nível de Escolarização nos dos países de língua portuguesa

Fonte: Cerdeira (2011), quadro elaborado a partir de Human Development Report (2011, Table 9).

No que toca aos recursos financeiros aplicados no sector educativo há também uma diver- sidade acentuada entre estes países. Se tomarmos em conta o indicador da despesa pública em Educação como percentagem do produto interno bruto, vemos que progressivamente tem havido uma evolução crescente, sobressaindo nos últimos anos os casos de Cabo Verde e de Timor-Leste. Para Portugal e Brasil, esse valor está estacionado em valores próximo de 5%.

Quadro 2 – Despesa pública em Educação (em % do PIB)

Fonte: Cerdeira (2011), quadro elaborado a partir de Banco Mundial, Base de Dados. Disponível em http://data.worldbank.org/indicator/SE.XPD.TOTL.GD.ZS

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O esforço de cada país no financiamento do ensino superior é substancialmente maior, quanto mais baixo for o valor do produto interno bruto per capita. Assim, no caso de Portugal e Brasil a despesa por aluno no superior não chega a representar 30% do PIB per capita, enquanto que na generalidade dos outros países esse indicador atinge valores muito expressivos, o que obviamente demonstra o esforço acrescido que para aqueles representa o financiamento do crescimento do ensino superior.

Quadro 3 – Despesa por aluno no Ensino Superior (em % do PIB per capita) Fonte: Cerdeira (2011), quadro elaborado a partir de Banco Mundial, Base de Dados.

O aumento das qualificações tornou-se num objectivo importante da estratégia de um grande número de países e regiões, como é o caso da União Europeia, os países membros da OCDE e também muitos dos países emergentes. Por exemplo, no caso da União Europeia, foi definida uma estratégia de elevação das qualificações da população – Estratégia Europa 20202 – na qual se

perspectiva que pelo menos 40% da população na faixa etária dos 30-34 anos deverá possuir um diploma do ensino superior.

No que respeita às qualificações da população com o grau superior, os dados do relatório so- bre a Educação mais recente da OCDE (2011) dá conta do nível de qualificações da população da maioria dos países da OCDE e também de alguns outros como o Brasil. Em relação à faixa etária dos 25-34 anos, verificava-se que a média registada na OCDE era de 37% para a população jovem que concluía o ensino superior, (a Coreia do Sul era o país que evidenciava o valor mais elevado com 63%).

O grupo de países que falam a língua portuguesa está ainda no que toca às qualificações da sua população activa em níveis bem mais modestos. No que respeita a Portugal situa-se nos 23% e o Brasil apenas atingia um valor próximo dos 12%.

Assim, o potencial crescimento da frequência do ensino superior vem colocar um desafio central para os próximos anos: desenvolver e implementar políticas de qualidade na gestão das instituições de ensino superior, de modo a, designadamente: melhorar as condições de produção de ensino e

de ciência; racionalizar o necessário investimento social; promover a inserção dos diplomados nos mercados de trabalho enquanto agentes de um valor acrescentado.

As instituições de Ensino Superior, procurando ir ao encontro dos parâmetros propostos pela UNESCO, têm vindo a desenvolver estratégias de conciliação de quantidade e qualidade, diligencian- do no sentido de realizar mudanças estruturais, nas diferentes dimensões que envolvem o Ensino Superior.

Naturalmente, cada espaço nacional e/ou colectivo desenvolve estratégias que permitam atin- gir aqueles objectivos de natureza qualitativa e quantitativa em conformidade com a sua situação cultural, política e económica, com os marcos de desenvolvimento prospectados. Para tal são re- definidas as missões do ensino superior nas suas relações com a colectividade. Dele se espera, simultaneamente, a produção de um pensamento e sua aplicação e desenvolvimento ao serviço de uma colectividade que, num mundo globalizado, acaba por se alargar a todo o mundo.

Nesse sentido, urge que cada sistema de ensino superior encontre o seu lugar e papel num mundo em rede, beneficiando (e oferecendo) de todas as iniciativas e realizações que cada sistema vai conhecendo. Para tal, a interacção e partilha entre sistemas educativos são os mecanismos indispensáveis.

Perante estas necessidades e obrigatoriedade que as exigências globais colocam a cada sistema educativo, a sua integração num espaço colectivo alargado surge cada vez mais não só como uma inevitabilidade mas, e muito particularmente, como condição necessária ao progresso do conhecimento e à sua sustentabilidade.

Não perdendo de vista a nossa história comum e o sentido do colectivo que uma língua falada impõe aos homens, a criação de um Fórum que estreite as relações entre os diversos sistemas edu- cativos que assentam no Português, emerge como uma necessidade óbvia. Com o Fórum da Gestão do Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa pretende-se pois criar e consolidar uma rede, que permita a articulação e comunicação entre os membros dos órgãos de gestão das instituições de ensino superior, os técnicos e responsáveis da administração central ligada ao sector, os investigadores cujo objecto de estudo sejam as políticas do ensino superior.

A “FORGES – Associação Fórum da Gestão do Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa” (sítio: http://aforges.org/), designada por FORGES foi criada em 2011 como uma as- sociação privada sem fins lucrativos, tendo como objectivo principal a promoção de uma Rede de Estudo e Investigação na área da gestão e das políticas de ensino superior no âmbito dos países de língua portuguesa, isto é, criar uma rede de investigadores e académicos, dirigentes e técnicos com experiência em actividades de gestão do ensino superior que promova um intercâmbio de experiên- cias a partir do estudo e da pesquisa sobre esta área.

Tem os seguintes objectivos operacionais:

- organizar uma conferência anual num dos países e regiões de língua portuguesa, para apresentação de trabalhos e discussão de temas relevantes para a gestão universitária; - editar um website com notícias, textos e artigos relevantes, que constitua um instrumento de

partilha permanente entre os aderentes e os interessados nesta área;

- editar uma revista electrónica com artigos originais sobre os conteúdos científicos ligados a esta área da gestão universitária;

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- editar uma Newsletter semestral;

- promover estudos sobre o ensino superior, reunindo investigadores dos países de língua portuguesa;

- promover e validar séries estatísticas sobre o ensino superior nos países de língua portuguesa (alunos, diplomados, docentes, investigadores, não docentes, orçamento, apoio social, etc.), com a publicação de um relatório anual com a informação recolhida;

- organizar cursos de especialização e de pós-graduação sobre a gestão do ensino superior envolvendo diferentes instituições de ensino superior;

- promover a realização de estágios e visitas de formação, favorecendo o intercâmbio entre os responsáveis da gestão das instituições interessadas e aderentes.

Para a realização dos seus objectivos, a associação desenvolverá as suas actividades nas seguintes dimensões:

a) missão e plano de desenvolvimento institucional das instituições de ensino superior, clari- ficação permanente dos seus objectivos para uma conjuntura de médio prazo, estratégia e desmultiplicação orgânica;

b) a política para o ensino superior, a avaliação institucional, a investigação, a extensão e res- pectivas normas de operacionalização, incluindo os procedimentos para estímulo à produção académica;

c) a responsabilidade social das instituições, nomeadamente no que se refere à contribuição para a inclusão social, para o desenvolvimento económico e social, a defesa do meio ambi- ente e da preservação da memória cultural, o fomento da produção artística, da formação para a cidadania e a valorização do património cultural;

d) a comunicação, multimodal e interactiva, com a sociedade, nomeadamente nos seus objec- tivos, processos e formatos;

e as políticas de pessoal, visando o desenvolvimento profissional e a melhoria das condições de trabalho;

f) a organização e gestão das instituições, especialmente no que se refere à qualidade, ao fi- nanciamento, funcionamento, representação e participação, sua independência e autonomia relativamente à entidade proprietária e ao governo ou entidade tutelar.

Pretende-se que venha a ter associados, quer individuais quer institucionais, englobando pro- fessores, outros docentes, investigadores, administradores ou técnicos que tenham interesse em participar nas áreas da missão da associação. Poderão, também, ser associados institucionais as universidades, os institutos politécnicos, institutos universitários, centros universitários, faculdades, escolas superiores, públicas privadas ou cooperativas, dos países e regiões de língua portuguesa, assim como quaisquer outras organizações, nacionais ou internacionais, públicas ou particulares, que se dediquem à problemática da gestão de instituições de ensino superior e das políticas do ensino superior em qualquer dos países de língua portuguesa.

A sua acção pretende ser completamente diferente de outras redes que já unem o espaço da língua portuguesa, mas cuja índole e actividade assenta sobretudo numa interinstitucional, como seja-se a AULP (Associação da Universidades de Língua Portuguesa).

De facto, na FORGES a principal tónica reside no trabalho em rede entre professores, investi- gadores, não docentes, técnicos que têm interesse, acção e investigação no âmbito da gestão do ensino superior. Ou seja, há similitude de interesses, mas objectivos e natureza diferente.

Conclusão e nota final

A consolidação e objectivação destes pressupostos inicia-se em 2011 com a realização da 1.ª Conferência “Os desafios da Gestão e da Qualidade do Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa” (Universidade de Lisboa e Universidade de Coimbra – 14, 15 e 16 de Novembro de 2011 http://www.forumgestaoensinosuperior2011.ul.pt/), onde um número muito expressivo e alargado de participantes e origens debaterão e reflectirão sobre importantes e relevantes pro- blemáticas relacionadas com a gestão do ensino superior, constituindo-se uma comissão instaladora (9 membros, provenientes de 5 países) com responsabilidades da condução da rede e dinamização de actividades.

Pretendendo-se que anualmente seja promovida a realização de uma conferência a ocorrer alternadamente num dos países e regiões de língua portuguesa, encontra-se já planeada a 2.ª Con- ferência em Macau no ano de 2012 (http://aforges.org/conferencia2/default.htm ), subordinada ao tema “Por um Ensino Superior de Qualidade nos Países e Regiões de Língua Portuguesa” (Instituto Politécnico de Macau – 6, 7 e 8 de Novembro de 2012).

A experiência das iniciativas no âmbito da FORGES dá-nos a certeza de que o caminho de liga- ção dos Países e Regiões de Língua Portuguesa passa, indiscutivelmente, pelo ensino superior que, a nosso ver, poderá ser um instrumento importante para a redefinição e reforço do papel da Língua Portuguesa no mundo, podendo ajudar a constituir um espaço de cooperação estratégica na gestão do ensino superior.

Referências bibliográficas:

Altbach (2011). The Past, Present, and Future of the Research University. In The Road to Academic Excellence The Making of World-Class Research Universities. Editores: Philip G. Altbach and Jamil Salmi. Washington: Banco Mundial 2011.pp. 11-29

Altbach, P. G., Reisberg L., Rumble L. (2009). Trends in Global Higher Education: Tracking an Aca- demic Revolution. A report prepared for the UNESCO 2009 World Conference on Higher Education. OCDE (2009). Higher Education to 2030, Volume 2, Globalization. Centre for Educational Research na Innovation.

World Bank (2010), Financing Higher Education in Africa. The International Bank for Reconstruction and Development, Washington.

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Catia Candeias, Luisa Timóteo

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