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2.3 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DE REGIÃO METROPOLITANA COMO

2.3.1 Regiões Metropolitanas e aspectos vinculados

As nove primeiras regiões metropolitanas do Brasil foram instituídas na década de 1970 por legislação federal e, de certa forma, baseadas em estudos do IBGE que apresentavam estas unidades como resultantes de um fenômeno geográfico socioespacial, embora frutos de uma política econômica federal de desenvolvimento caracterizada, principalmente, por autoritarismo político e centralização financeira. Consequentemente, não foi ouvida a sociedade civil. A Constituição de 1988 trouxe novos rumos diante da sua tendência à descentralização do poder e, assim, surgem muitas outras RM. Todavia, deve-se esclarecer que mesmo tendo surgido um número muito maior de RM baseadas na Constituição de 1988 do que baseadas na Constituição de 1967, naquele momento, segundo Souza (2001), Guia (2001) e Azevedo e Guia (2004), a questão metropolitana não era prioritária. Souza (2001) ressalta que do total de 94 (noventa e quatro) propostas perante a Comissão de Organização do Estado, apenas 15 (quinze) foram sobre RM. E quando a Constituinte chegou à fase final dos trabalhos, das 35.111 (trinta e cinco mil cento e onze) emendas de parlamentares e 120 (cento e vinte) da sociedade recebidas, apenas 14 (catorze) emendas tratavam das RM.

No mesmo sentido que Souza (2001), expressa Guia (2001 p. 413) quando destaca “o período que tudo apontava para uma não-política federal em relação ao tema metropolitano na Constituinte de 1988, levando ao tratamento genérico que foi dado como último resultado dos debates sobre o problema das metrópoles.”

Já no âmbito dos estudos acadêmicos, Santos (2017, p. 257) aponta o empenho para a concepção do conceito de RM, e evidencia a relação existente entre RM, metropolização, metrópole e urbanização: “não se pode dissociar do que se compreende como metropolização, em concomitância com a materialização do processo, que é a constituição ou, ao menos, a anunciação da metrópole, enquanto forma-conteúdo específico no bojo da urbanização.”

Esclarece ainda o autor que, no âmbito da legalidade, está claro que uma RM é entendida como uma deliberação política. Acrescenta que, no que diz respeito aos pressupostos

teóricos, é seminal ir além desse reducionismo, o que evita encerrar a reflexão em determinantes jurídicas, como se a elaboração conceitual sobre o que seria a RM tivesse início, sobretudo hoje, no seio das assembleias legislativas estaduais. Do mesmo modo que a análise sobre as cidades deve ir além do marco jurídico da criação de um município, as reflexões sobre as RM precisam superar institucionalidade, ainda que tal aspecto não deva ser perdido de vista por completo (SANTOS, 2017).

No mesmo sentido exposto pelo autor, Moura, Libardi e Barion (2006) declaram que, diante da inexistência de critérios e normas delimitadores que explicitem conceitualmente as RM a serem instituídas pelos estados ou instruam demarcações e classificações regionais, a ordem de fenômenos (econômicos, socioculturais e ambientais) determinantes dessas unidades não se traduz nos conceitos concebidos pelos projetos de institucionalização. Além disso, os autores agregam que o caráter político que vem induzindo à formalização de unidades regionais não supera o conflito existente entre os limites definidos oficialmente e a natureza e os contornos das espacialidades resultantes dos processos aglomerativos. Outro ponto acrescentado pelos autores como agravante ao contexto nacional é a ausência de projetos estaduais integrados de regionalização que leva a distorções no âmbito da finalidade e hierarquização das categorias institucionalizadas por meio da faculdade adquirida pelos estados, diante da Constituição Federal de 1988.

Diante do exposto, o fenômeno metropolitano contemporâneo gera novas formas de ordenação na atualidade, como ocorre nas formas atuais das sedes de RM e nas próprias RM. Neste sentido, expressam Firkowski (2009) e Marandola Jr. (2010).

Firkowski (2009) aponta como elemento importante a dissociação na atualidade sobre a diferenciação do que vem a ser uma metrópole e RM, sendo que aquela, como fenômeno socioespacial, não necessariamente pode ser presente na última. Embora certas vezes se misturem; principalmente quando a análise parte da necessidade de estabelecer bases de dados para o trabalho efetivo. Esclarece ainda a autora que uma metrópole é consequência da complexidade crescente do processo de urbanização e de seu estágio mais avançado que é a metropolização; RM vem de “interesses políticos e de uma política urbano-regional mal definida, com ausência de critérios funcionais que permitiriam dar sentido a esse recorte espacial” (FIRKOWSKI, 2009, p. 391).

Marandola Jr. (2010, p 187) explica que “estas metrópoles se caracterizam também pelo relativo peso menor da cidade-sede, estabelecendo outra articulação hierárquica no espaço metropolitano, multidirecional.” Ressalta o autor a “necessidade, portanto, de olhar para as regiões metropolitanas de maneira desagregada, ou seja, na escala intrarregional, procurando

ressaltar sua heterogeneidade e a complexidade das interações espaciais e de centralidades no seu interior.”

Marandola Jr. (2010) acrescenta a relevância do grau de inibição e de autonomia que os municípios envolvidos numa determinada dinâmica metropolitana possuem em relação aos processos exógenos de organização e produção do espaço. A literatura urbana tende a atribuir à sede metropolitana um grau quase onipresente de inibição frente às demais cidades. E, assim, justifica a existência de apenas dois níveis hierárquicos nas regiões metropolitanas: a sede e os demais municípios. No entanto, o que se percebe nesses novos processos de metropolização é a crescente descentralização nas metrópoles antigas e a gênese das mais recentes já com uma divisão de funções bastante significativa. O autor exemplifica estes novos processos de metropolização com a Região Metropolitana de Campinas.

Incorre que, para minimizar as distorções ocorridas nas institucionalizações das RM, é pertinente a criação de legislações mais explicativas. Além do que, o mais importante é entender que as RM deveriam ser primeiramente criações sociais que resultam da interação entre municípios antes de se basear em aspectos políticos locais e até mesmo regionais que não consideram nem dados socioespaciais, nem legislações. Na esteira deste argumento, ressalta-se que ser parte de uma região metropolitana é ser um agente articulador político de uma região, considerando que a necessidade de organização e planejamento territoriais extrapolam o domínio municipal individual. Teoricamente, a integração dos municípios de uma RM deveria ser anterior à legitimação pela legislação.