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CAPÍTULO II: Propostas para as construções tough

2.1. Regra de apagamento do objeto

A regra de apagamento do objeto é apresentada por Lasnik & Fiengo (1974) para explicar a sintaxe das TCs. Segundo esses autores, essa regra de apagamento requerida para derivar uma estrutura como (1) é a mesma empregada para a formação de sentenças como (2)5, em que também se observa uma co-interpretação entre o sujeito da matriz e o referente do argumento interno do verbo da oração encaixada.

(1) Johni is easy to please ei.

(2)

a. Maryi is pretty to look at ei.

b. That musici is melodious to listen to ei.

5

c. Nureyevi is a marvel to watch ei.

Sua proposta vem como uma resposta à análise sugerida por Postal & Ross (1971) segundo a qual, as TCs seriam derivadas de regras transformacionais que as gerariam a partir de estruturas-D como essa em (3a). De acordo com essa proposta, o primeiro passo seria a extraposição do predicado para uma posição acima da cláusula infinitiva, seguida da inserção do expletivo it. Essas operações resultariam em estruturas como (3b). Para se obter a ordem final, haveria, então, o movimento do objeto da infinitiva para a posição de sujeito da matriz, substituindo, desta forma, o expletivo (3c).

(3)

a. [to please John] is easy b. It is easy [to please John] c. Johni is easy [to please ti]

Lasnik & Fiengo (1974) apresentam argumentos contra a hipótese de que as TCs são derivadas de regra de movimento como a mencionada acima. Primeiro, eles afirmam que uma tough-construction que, para eles, é compatível com o tempo progressivo (4a), não poderia ser derivada de estruturas como (4b) e (4c), que se mostram agramaticais por estarem no tempo progressivo.

(4)

a. John is being easy to please. b. *To please John is being easy. c. *It is being easy to please John.

Conforme análise desses autores, em sentenças no tempo progressivo que contêm sintagmas adjetivais ou nominais, a propriedade descrita pelo adjetivo deve estar sob controle do referente do sujeito do sintagma adjetivo. Para isto,

este sujeito deve ter o traço [+animado]. Assim, o contraste entre as sentenças em (4) seria justificado. Em (4a), o DP John controlaria a propriedade descrita pelo adjetivo easy. O mesmo não poderia acontecer com as sentenças (4b) e (4c), em que uma oração e um expletivo, respectivamente, funcionam como sujeito da sentença.

Segundo, os autores afirmam que o fato de as TCs poderem ser complementos de verbos de controle como to try “tentar” (5a) se torna um contra- argumento para a hipótese de que elas derivariam de regras de movimento, uma vez que um predicado como to try não comporta complementos oracionais em que uma oração (5b) ou um expletivo (5c) funciona como sujeito.

(5)

a. John tries to be easy to please.

b. *John tries (for) to please John/him to be easy. c. *John tries (for) it to be easy to please John/him.

Além disso, os autores consideram que as TCs podem pressupor intencionalidade do referente do sujeito, como mostra a compatibilidade com advérbios voltados para o agente como intentionally “intencionalmente” (6a) e com verbos modais do tipo must “dever” e could “poderia”, em que o DP funciona como sujeito temático do predicado adjetival (6b, c).

(6)

a. John is intentionally easy to please. b. John must be easy to please. c. John could be easy to please.

A sua proposta é que as TCs, assim como outras construções em que é flagrante a co-interpretação entre o sujeito da matriz e uma lacuna na posição de objeto da oração encaixada, são derivadas de uma regra de apagamento do

objeto. Partindo de construções como (7), essa regra, obrigatoriamente, apagaria a segunda ocorrência do DP John.

(7)

a. Johni is being easy to please Johni.

b. Johni tries to be easy to please Johni.

A afirmação feita por esses autores de que as TCs pressupõem que o referente do sujeito exerce controle sobre a propriedade descrita pelo adjetivo – podendo essa propriedade descrita ser intencionalmente adquirida ou apresentada pelo sujeito – parece estar baseada em construções tough mais marcadas, em que “um diferente tipo de verbo be, marcado [+ ativo], homófono ao verbo be predicativo, se apresenta na oração matriz” (Rothstein, 2004). Conforme Rothstein, este tipo de verbo be tem o mesmo sentido do verbo act “agir” e, assim, atribui papel-θ agente ao DP que se encontra na posição de sujeito, que apresenta o traço [+animado]6. Com base nessas propriedades desse tipo de verbo be, é possível explicar o contraste entre as sentenças (4a) e (4c) (repetidas em (8a-b)): em (8a) a posição de sujeito é preenchida pelo DP pleno John, que recebe o papel-θ agente do be [+ativo]; enquanto (8b) tem na posição de sujeito um pronome expletivo, incapaz de saturar o papel-θ do verbo be. Desta forma, construções como aquelas em (6) e (7), com a interpretação sugerida por Lasnik & Fiengo, podem ser explicadas a partir de uma estrutura agentiva em que o sujeito

6

De acordo com o que é discutido por Rothstein, há casos em que o referente do sujeito de uma sentença com be [+ativo] tem traço [-animado] ou não apresenta volição ao qualquer tipo de controle sobre o evento descrito. Nessas sentenças em (i), há fatores externos que induzem o comportamento do referente do sujeito.

(i)

a. The car is being very noisy this morning; I think we may need to buy a new muffler. b. The birds are being very noisy this morning.

da matriz John controla a ação descrita na oração encaixada e, ao mesmo tempo, é afetado por essa ação7.

(8)

a. John is being easy to please. b. *It is being easy to please John. c. *This book is being easy to read.

Partindo dessa análise, explica-se também o contraste entre sentenças como (8a) e (8c). Em (8c), o sujeito da matriz apresenta o traço [- animado], logo, incompatível com o traço [+ ativo] do verbo be da oração matriz.

Deste modo, concluo que o fato de o sujeito-tema das construções tough apresentadas exercer controle sobre a propriedade descrita pelo adjetivo não é a regra geral, mas uma possibilidade de uso dessas sentenças restrita a um contexto bastante marcado: um uso agentivo de be. No entanto, embora as construções trazidas por Lasnik & Fiengo ilustradas em (6) e (7) aparentem participar de um outro ambiente sintático e se referir a um outro contexto semântico diferente do que está sendo proposto analisar neste trabalho, duas das hipóteses desses autores apresentam-se como uma contribuição para a explicação de duas das questões que considero principais no estudo das TCs do tipo I: a idéia de que a lacuna pós-verbal nas TCs é uma cópia apagada do DP que se encontra na posição de sintática de sujeito da matriz e o tipo de categoria sintática do complemento do adjetivo tough. Assumindo que o complemento desse tipo de sentença não projeta a posição de sujeito, Lasnik & Fiengo propõem que o complemento de um predicado tough representa um VP. Tal fato explicaria o bloqueio de estrutura passiva como complemento do predicado tough (9)8.

7

Essa interpretação de intencionalidade do sujeito pode também ser conseguida, embora marginalmente, em construções médias, em que, como será mostrado no capítulo seguinte, a posição de sujeito lógico não é projetada na sintaxe, resultando na incompatibilidade com orações infinitivas de finalidade. Como será visto um pouco adiante, uma sentença como Bureaucrats bribe

easily to keep themselves happy pode ser licenciada, porém julgada como muito marginal. 8

(9)

a. *John is easy (for Bill) to be outsmarted by. b. *Sam is tough (for us) to be misunderstood by.