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CAPÍTULO V: Tough constructions: reestruturação vs movimento longo

5.6. Tough constructions e movimento longo

5.6.1. A sintaxe das TCs II: Hornstein (2001)

Hornstein (2001) apresenta uma proposta de análise para as TCs, de acordo com a qual a relação temática que se observa entre o objeto da oração encaixa e o sujeito da matriz seria derivada do movimento do objeto da posição pós-verbal motivado pelo traço temático do adjetivo núcleo da oração matriz. Nessa proposta, o DP seria dotado de algum traço A’/WH que o habilitaria a ser promovido para uma posição mais alta na sintaxe.

A idéia de promoção de um DP parece encontrar um respaldo de ordem pragmática uma vez que a promoção de um argumento não-agente para a posição de sujeito sintático é um recurso disponível quando se quer topicalizar um elemento da sentença que não seja o agente76.

O problema que foi observado por Hicks (op.cit.) nessa análise é que ela estabelece que o DP checa os traços-θ do verbo da encaixada antes do movimento para o especificador de CP, mas nada é dito sobre os traços-φ e de Caso desse núcleo; o DP entra em checagem de traços-φ e de Caso com o T da matriz. Da forma como foi implementada, a derivação da sentença fracassaria, pois, assumindo-se um sistema verbal com traços formais completos (traços-φ e de Caso não-interpretáveis), esse núcleo chegaria a LF com esses traços não- interpretáveis ativos.

No entanto, assumindo-se, neste trabalho, que a estrutura sintática de uma TC II como (54a) se apresenta como (54b), em que os núcleos Voice e F estão presentes e por isso licencia projeção de argumento externo e checagem de Caso acusativo, essa proposta de Hornstein de que o argumento interno do verbo encaixado é dotado de um traço A’/WH explica o movimento a que esse DP é submetido.

76

Conforme nota Jairo Nunes (c.p.), esse traço A’/WH proposto por Hornstein pode ser traduzido como [+Top].

“They are really tough, but also middle”: diferentes estruturas para sentenças com predicado tough

(54)

a. This girl is hard to convince Bill to marry. b. TP 2 this girlk T’ 2 is aP

3

aP CP 2 2

this girlk tough this girlk C’

2 C(+wh) TP 2 PROi VoiceP 2 PROi Voice’ 2 to convincej FP 2 Billq TP 2 Billq VoiceP 2 to marryp FP 6

marryp this girl (+wh)k

Veja-se que na derivação em (54b) o complemento oracional apresenta uma estrutura completa no que concerne à estrutura argumental dos predicados. O núcleo da oração infinitiva mais encaixada marry exibe como argumento interno o DP this girl e como argumento externo o DP Bill. Essa oração infinitiva, por sua vez funciona como complemento do verbo convince da primeira oração infinitiva, subcategorizada pelo predicado tough. Esse verbo tem como argumento interno o mesmo DP Bill, argumento externo do verbo marry. Percebe-se então que a estrutura em questão evidencia um contexto de controle de objeto.

Para explicar a sintaxe desse tipo de estrutura, assumo uma outra hipótese de Hornstein (op.cit) segundo a qual, controle obrigatório é derivado de movimento e papel temático é traço que precisa ser checado, podendo motivar o movimento de um DP já com um papel temático para uma outra posição temática. Porém, para preencher a posição sintática de sujeito de referência arbitrária, assumirei um PRO, que teria seu traço de Caso (Caso nulo) checado por um T[+tense] (cf. Martin, 1996; Bošković, 1997).

Assim, na derivação aqui proposta, o DP this girl checa o papel-θ interno do verbo marry. O DP Bill, após checar papel-θ externo do verbo marry, é atraído para o SpecTP, checa o traço EPP do núcleo desse sintagma e depois se move para o especificador do núcleo F do predicado mais alto, posição onde tem seu traço de Caso checado como acusativo. A posição de argumento externo do predicado convince é saturada por um PRO que, após a projeção de T, se move para o SpecTP da oração infinitiva e checa o traço EPP de T. O DP this girl, motivado por seu traço A’/WH, se move para o SpecCP da oração encaixada. Desta posição, o adjetivo easy identifica esse DP como candidato apropriado para a checagem de seus traços temáticos e o DP se move lateralmente (cf. Nunes 1995, 2001) para se conectar ao adjetivo. Em seguida o DP é alçado à posição de especificador de T.

A concordância que se verifica entre o T e o DP objeto lógico do verbo encaixado em TCs II como (52a) é uma questão que terei de deixar de lado neste trabalho. Esse problema também é encontrado nas análises para as sentenças com lacuna parasita baseadas em movimento lateral propostas por Nunes (2001, 2004) e por Hornstein (2001), não sendo então específico das TCs II. Assim, apenas para efeito de discussão, mesmo sem apresentar um motivo sintático que explique tal fato, assumirei que a Condição de Atividade proposta por Chomsky não se aplica nas relações de checagem estabelecidas por movimento lateral. Se esta for a análise correta, o DP argumento interno de TCs II como (54a), quando é movido lateralmente para checar o papel-θ do predicado tough, ainda se

“They are really tough, but also middle”: diferentes estruturas para sentenças com predicado tough

encontra ativo para entrar em relação de checagem com o núcleo T da matriz, eliminando os traços-φ não-interpretáveis desse núcleo.

Dessa forma, a proposta de derivação para uma TC como (54a) também se aplica a sentenças como (55a).

(55)

a. John is easy to convince Bill to arrange for Mary to please. b. K = [CP for Mary to please John]

c. K = [CP John [C for [TP Mary to please John]

d. K = [TP Bill to arrange [CP John [C for [TP Mary to please John]

e. K = [CP John [TP PRO to convince [TP Bill to arrange [CP John [C for [TP Mary to

please John]

f. O = [A easy] K = [CP John [TP to convince [TP Bill to arrange [CP John [C for [TP

Mary to please John]

g. O = [AP John A easy] K = [CP John [TP to convince [TP Bill to arrange [CP John [C

for [TP Mary to please John]

h. O = [T is [AP John A easy] K = [CP John [TP to convince [TP Bill to arrange [CP

John [C for [TP Mary to please JJJooohhhnnn]]

i. O = [TP John [T is [[AP John A easy]]] K = [CP John [TP to convince [TP Bill to

arrange [CP John [C for [TP Mary to please John]]]]]]]]

j. P = [TP John [T is [[AP John A easy]] [CP John][TP to convince [TP Bill to arrange [CP

John ][C for [TP Mary to please [John]]]]]]]

Considerando-se com mais atenção o DP argumento interno da oração encaixada, a derivação em (55) começa com a formação do CP mais encaixado (55b). Em seguida, o DP John se move para SpecCP motivado por traços A’-WH (55c). A derivação continua com a conexão das orações e com o movimento do DP John para o SpecCP da primeira oração encaixada. Uma segunda estrutura se inicia com a seleção do adjetivo easy (55f). Seus traços temáticos atraem o DP John. Este DP é submetido a um movimento lateral para a posição de argumento

interno do adjetivo (55g). Em seguida, o T entra na derivação e checa seus traços não-interpretáveis junto ao DP John, que se move para a posição de especificador de T (55i). Neste ponto da derivação, o objeto sintático K se adjunge ao objeto sintático O, formando o objeto sintático P e as cópias do DP são apagadas (55j).