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Conforme ensina Paulo de Barros Carvalho29, a regra-matriz de incidência tributária é uma norma de conduta, posta para disciplinar as relações do Estado com os seus súditos, tendo em vista contribuições pecuniárias de natureza tributária, podendo ser assim descrita:

“Na hipótese (descritor), haveremos de encontrar um critério material (comportamento de uma pessoa), condicionado no tempo (critério temporal) e no espaço (critério espacial). Já no pessoal (sujeito ativo e sujeito passivo) e um critério quantitativo (base de cálculo e alíquota). A conjunção desses dados indicativos nos oferece a possibilidade de exibir, na sua plenitude, o núcleo lógico-estrutural da norma-padrão de incidência tributária.”

Neste diapasão, podemos compor a regra matriz de incidência do imposto sobre a renda da seguinte forma:

Antecedente: Crit. Mat. (V+C) . Crit. Esp. . Crit. Temp.

Critério Material: Adquirir disponibilidade econômica ou jurídica da renda Critério Espacial: Território Nacional

Critério Temporal: Momento da disponibilidade

Conseqüente: Critério pessoal (SA + SP) . Critério Quantitativo (BC x Al)

Sujeito Ativo: Fisco Federal

Sujeito Passivo: Aquele que adquirir renda

Base de Cálculo: Valor auferido (feitas as deduções permitidas pela legislação, bem como o confronte de entradas e saídas)

Alíquota: Fixada na legislação (RIR)

Analisando mais detidamente a equação acima, temos que a hipótese (descritor ou antecedente) é a descrição normativa abstrata do evento, cujo efetivo acontecimento no mundo dos fatos faz irromper o vínculo da relação jurídico- tributária.

Elemento integrante da hipótese, o critério material descreve a conduta humana (verbo), seguido de um complemento condicionado pelas coordenadas de tempo e lugar.

Assim, o critério material do Imposto Sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza, conforme ensina Mary Elbe Queiroz30, reside no tripé:

“(i) no núcleo, adquirir renda ou provento; (ii) que a renda ou o provento se

caracterize como riqueza nova, isto é, que haja acréscimo do patrimônio; e, (iii) que exista a disponibilidade de renda ou provento para o beneficiário que dela possa dispor livremente.”

Dessa forma, faz-se necessário distinguirmos os simples ingressos de valores da renda ou provento efetivamente tributável, sendo certo ainda que a mesma deva estar disponível para que possa ser tributada.

Por sua vez, o Critério Espacial, segundo o entendimento clássico, vincula certa extensão territorial, encerrando o âmbito de validade da norma.

No caso do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza, admite-se a aplicação extraterritorial da norma de incidência, para alcançar rendas percebidas no exterior por residentes no país.

Assim, a tributação incide sobre toda a renda ou provento cuja disponibilidade seja adquirida no território nacional, quer por residentes no país, quer por não- residentes que estejam domiciliados no exterior.

Por conseguinte, encerrada a hipótese, o Critério Temporal diz respeito ao momento em que se instala o vínculo obrigacional, fazendo surgir a obrigação tributária.

No caso do Imposto devido pelas Pessoas Físicas, a periodicidade é anual, de forma que o fato imponível ocorre no dia 31 de dezembro, alcançando todas as rendas e proventos produzidos no período compreendido entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de cada ano.

Não obstante, a lei determina que sejam feitos outros recolhimentos ao longo do ano, nos seguintes momentos:

a) incidência na fonte – antecipações, apuradas com base na tabela progressiva, no momento do pagamento ou crédito do rendimento;

b) incidência exclusiva na fonte – pagamento definitivo com base em alíquotas fixas no momento de cada resgate, em relação às operações financeiras (ou nos meses de maio e novembro no chamado “come quotas”), bem como no caso do 13º salário;

c) “carnê-leão” – o contribuinte autônomo, mensalmente apura e recolhe a título de antecipação, o valor do Imposto com base na tabela progressiva;

d) incidência definitiva – em separado dos demais rendimentos, nos casos de ganho de capital ou ganho líquido em renda variável;

e) atividade rural – apurado de forma diferenciada ao longo do ano, e deve ser submetido à tributação juntamente com os rendimentos recebidos das demais fontes pagadoras, com um tratamento mais favorecido (arbitramento do lucro).

Dando continuidade, no conseqüente (prescritor), podemos identificar a estrutura da relação jurídico-tributária, sendo possível encontrar aqui a composição da relação jurídico-tributária no tocante ao Critério Pessoal (sujeito ativo e sujeito passivo), e ao Critério Quantitativo (base de cálculo e alíquota).

Neste toar, no Critério Pessoal são identificados os sujeitos que compõem a relação jurídica. Logo, com relação ao Imposto de Renda, o sujeito ativo será a União Federal, nos termos do artigo 153, III, da Constituição Federal, e o sujeito passivo será a pessoa que realizar o fato hipoteticamente previsto na lei, in casu, aquela que adquirir renda ou provento que caracterize riqueza nova ou acréscimo patrimonial.

Por derradeiro, o Critério Quantitativo é formado pelo binômio “base de cálculo e alíquota”.

Consoante os ensinamentos de Paulo de Barros Carvalho31:

“(...) a base de cálculo destina-se a dimensionar o comportamento inserto no fato jurídico, medindo a intensidade do núcleo factual descrito pelo legislador, o qual, sendo complementado pela alíquota, revela o débito tributário.”

Em relação ao Imposto Sobre a Renda e Proventos de qualquer Natureza, a base de cálculo encontra-se prevista no artigo 44 do Código Tributário Nacional, senão vejamos:

“Art. 44 – A base de cálculo do imposto é o montante, real, arbitrado ou presumido da renda ou dos proventos tributáveis.”

Transpassando-se o acima exposto para o caso em estudo, quando da tributação das pessoas físicas, a base de cálculo é a renda líquida, assim entendida como o total das rendas, rendimentos e dos proventos, diminuídas as deduções admitidas expressamente por lei.

Por fim, a alíquota significa o percentual com que um tributo incide sobre um determinado valor. No caso do imposto devido pelas pessoas físicas, elas variam em virtude da faixa de rendimentos, podendo, de acordo com a tabela progressiva, ser de 0%, 15% ou 27,5%.

3 – ASPECTOS RELEVANTES DO IMPOSTO SOBRE A RENDA E