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2.2.3.1

Tarefa X Atividade

No trabalho, há uma parte que compõe a prescrição, o comando, os objetivos, as metas, e o que a organização oferece para a execução do mesmo, a qual chamamos tarefa, e outra parte, que é a maneira de o trabalhador executar essa tarefa a ele determinada, a qual chamamos de atividade (OLIVEIRA, 2005)

Conforme Oliveira (2005) a tarefa é o tipo, a quantidade e a qualidade da produção por unidade de tempo, e os necessários meios para realizá-la, determinada a um posto de trabalho, a um trabalhador ou a um grupo de trabalhadores. Ela é, assim, constituída pela organização (as condutas, os métodos de trabalho, as instruções), tudo o que o trabalhador tem que fazer e como ele deve

fazê-lo, bem como o conjunto de objetivos a serem atingidos, as especificações do resultado a obter (normas de qualidade, quantidade e manutenção, etc.), os meios fornecidos para a execução da tarefa (condições da matéria-prima, máquinas e equipamentos, formação e experiência exigidas do trabalhador, composição da equipe de trabalho, etc.) e as condições necessárias para a execução do trabalho (ambientes físicos e humano, tempo, ritmo e cadência da produção, etc.).

De acordo com Oliveira (2005), os meios e condições de execução do trabalho, que compõem a tarefa, resumem-se em:

– espaço de trabalho;

–meios materiais: dimensões, manuseio, apresentação das informações;

– objeto de trabalho: peças e materiais a transformar, documentos e informações a tratar, serviço a prestar;

– ambiente físico: luz, ruído, vibrações, calor, radiações; – tempo: horários, duração do trabalho, rendimento, cadência;

– organização do trabalho: divisão do trabalho, seqüências operatórias, relação com colegas, hierarquia;

– requisitos: éticos, de segurança, de qualidade e de quantidade de produção.

Didaticamente, podemos dizer que, para o trabalhador, a tarefa é aquela que ele diz: o que tem que fazer, com os meios que são oferecidos (OLIVEIRA, 2005).

Já a atividade é a ação como essa tarefa é executada, fruto da integração da tarefa com o homem que a executa. É mais do que a tarefa realmente executada. É como o trabalho real acontece, como se dá a realização do objetivo proposto, com os meios disponíveis e nas condições dadas, de parte do trabalhador ou grupo de trabalhadores (OLIVEIRA, 2005).

Conforme Oliveira (2005), a atividade é o fruto da execução de uma tarefa, é o que o trabalhador faz para atingir os objetivos da tarefa. Ela é o resultado de uma síntese entre a tarefa (objetivos, resultados esperados, meios oferecidos, exigências requeridas) e o homem que a executa (sua história, sua experiência, formação, cultura, estado interno de saúde física e mental). É fruto da capacidade social, histórica e econômica (entre outras) que tem aquele trabalhador de, em determinada situação, na presença de diferentes e variáveis determinantes e condicionantes, decidir quais fi ns e critérios são mais ou menos valorizados nas escolhas que têm que fazer, diuturnamente, na execução de determinada tarefa; como ele se relaciona

com o ambiente e por quais razões desenvolve esta ou aquela estratégia; como estrutura temporalmente seu trabalho.

De acordo com Oliveira (2005), podemos dizer que a atividade é o modo como o homem (cada um dos indivíduos), em uma situação de trabalho real, relaciona-se com os objetivos propostos, a organização do trabalho, os outros trabalhadores e os meios fornecidos para realizá-los. É trabalho efetivamente realizado, tanto em suas dimensões físicas como mentais, pessoais. Podemos referir, também, que a atividade é o resultado de um compromisso Trabalhador/Empresa/ Condições de Saúde/ Produção.

De acordo com Oliveira (2005), interferem na construção da atividade não só as relações do operador com os elementos materiais da tarefa, mas também os sinais e respostas do sistema. Igualmente, compõem a atividade os processos mentais, a detecção (recepção da informação), a identificação (o que é o sinal?), a interpretação (o que significa este sinal em um certo momento e contexto?), e a decisão (o que fazer?), a cada instante de execução da tarefa. Parte da atividade se dá como um processo do subconsciente (ou inconsciente?), com frequentes questionamentos sobre como entender o trabalho que está sendo executado (qual sua natureza?) e como aprendê-lo (e transformá-lo?). A atividade é, portanto, o resultado de um trabalho de reelaboração e reorganização da tarefa por parte do(s) trabalhador(es).

2.2.3.2 Variabilidade

A variabilidade está associada ao imponderável, ou aquilo que não foi previsto, manifesto dentro das situações produtivas. Ela está dividida em duas formas: Variabilidade dos Sujeitos e Variabilidade da Empresa. (GRUPO ERGO&AÇÃO, 2003).

a) Variabilidade dos Sujeitos

Classificada como variabilidade intra-individual aquela que busca considerar as alterações que o indivíduo sofre ao longo do tempo, e a variabilidade interindividual que considera individual as diferenças biocognitivas e histórias de vida de cada um.

Por exemplo, o tempo de serviço numa dada atividade provoca mudanças na forma que um sujeito realiza o seu trabalho (intra‐individual). Quanto mais experiências ele experimenta mais ele desenvolve a sua competência.

Por outro lado, dois sujeitos com o mesmo tempo de trabalho não realizam suas atividades da mesma forma. Eles desenvolvem competências especificas (interindividual).

b) Variabilidade da Empresa

Está relacionada aos materiais, equipamentos e organização. Dividida em duas:

A variabilidade normal decorrente das características intrínsecas do trabalho executado e que podem ser do tipo sazonal ou periódico;

A variabilidade incidental, decorrente de eventos aleatórios e desconhecidos antes da sua revelação pela regulação e modos operatórios desenvolvidos pelos operadores.

O reconhecimento da variabilidade implica na necessidade de reconhecer a instabilidade implícita, no sistema homem‐trabalho (GRUPO ERGO&AÇÃO, 2003).

O conhecimento de suas fontes não permite a eliminação global das mesmas, porém permite introduzir tal conhecimento na concepção dos dispositivos técnicos de produção e na organização do trabalho (GRUPO ERGO&AÇÃO, 2003).

Os efeitos da variabilidade sobre a carga de trabalho implicam na sua elevação ou diminuição, e, determina a necessidade de uma reelaboração constante pelos trabalhadores do seu modo operatório (GRUPO ERGO&AÇÃO, 2003).

2.2.3.3 Carga de Trabalho

A carga de trabalho é dividida em uma parcela física e outra mental, sendo a última subdividida em cognitiva e psíquica (GRUPO ERGO&AÇÃO, 2003).

Tal ideia pressupõe um modelo de homem com capacidade de trabalho limitada, o qual regula sua carga de trabalho, dentro Introdução à dos limites da sua capacidade disponível, por meio da modificação do seu modo operatório (OLIVEIRA, 2005).

A carga de trabalho constitui‐se na síntese que resulta da confrontação de dois níveis de condicionantes: de um lado a empresa com a tarefa e de outro o trabalhador com a atividade (GRUPO ERGO&AÇÃO, 2003).

De acordo com Grupo Ergo&Ação (2003), o resultado da carga de trabalho realizada possibilita o feedback dos seguintes aspectos:

Trabalhador: Retorna o que se manifesta sobre seu estado de saúde.

Empresa: Retorna o que se manifesta em termos de empresa, produção e produtividade.

Trata‐se de um processo da relação entre os componentes da atividade com aquilo que a condiciona e determina no funcionamento da empresa.

É a atividade de trabalho que orienta esta articulação.

A ação ergonômica se posiciona em relação ao que está em jogo nas relações internas da organização:

Trabalhadores: saúde, segurança, conforto. Empresa: flexibilidade, eficácia, produtividade.

2.2.3.4 Regulação

O processo de regulação que os indivíduos executam, permanentemente, durante a execução de suas atividades, é um processo interno de reorientação da ação pelo estabelecimento de compromisso entre os objetivos traçados pela empresa, pela organização (os meios oferecidos para a concretização desses objetivos), pelos resultados alcançados (ou não) e pelo próprio estado interno (biofísico e mental) do trabalhador (OLIVEIRA, 2005).

Para atender os objetivos e metas traçados, com a cadência imposta pela produção e com os meios disponibilizados, incluindo todos aqueles referidos quando falamos da tarefa, o trabalhador usa de seus conhecimentos, condições físicas e mentais para atingir aqueles objetivos, para alcançar os resultados esperados. Como deve ser claro entender-se, o fato de atingir ou não os resultados também influi nas condições de trabalho dos operadores. Também o estado de saúde, o estado emocional, as condições físicas e mentais do trabalhador vão influenciar nas condições de trabalho (OLIVEIRA, 2005).

Ora, a regulação permanente dos diferentes determinantes e condicionantes presentes neste processo é feita pelo próprio trabalhador, e o resultado dessa regulação se expressa pela construção de “modos operatórios” (OLIVEIRA, 2005).

Numa situação de trabalho, e frente a um dado contexto onde estão fixados os objetivos e disponibilizados os meios, o sujeito elabora uma representação da situação e a partir desta, constrói seu modo operatório. Em decorrência deste, resultados são alcançados e o sujeito assume um determinado estado.

2.2.3.5 Modo Operatório

De acordo com Oliveira (2005), os modos operatórios são a combinação de diferentes níveis de organização de atividades, tais como:

– esquemas elementares de um operador (Ex.: sobre o funcionamento normal); – esquemas específicos adquiridos pela experiência (Ex.: conhecimento dos pontos mais críticos, nos quais os incidentes mais frequentes guiam seus deslocamentos e sua exploração visual);

– planificação consciente da vigilância (Ex.: troca e desgaste de ferramenta); – planificação mais ampla (Ex.: tipos e peças por dia, semana);

– projetos de longo tempo (Ex.: expectativa de progressão funcional).

Conforme Oliveira (2005), em uma situação na qual as condições de trabalho exijam que, para a produção de determinado produto ou serviço, o operador seja levado a desgastar-se, ou a trabalhar à custa de sofrimento, ou quando o resultado do trabalho não está satisfazendo, cabe a alteração daquelas condições que estão provocando o fenômeno. Identificada a origem (ou porque os objetivos e metas são inalcançáveis, ou porque os meios oferecidos não são os corretos ou sufi cientes), deve-se modificar essas condições adversas para que o trabalho possa ser executado de forma saudável, com boas qualidade e quantidade para os trabalhadores. Acontece que essa capacidade de construção do trabalho coletivo não é fruto do acaso; é social e culturalmente construído.

Dos fatores que determinam o processo de regulação que leva à construção do modo operatório dos trabalhadores, quando não lhes é permitido interferir sobre os objetivos traçados, os resultados esperados e os meios oferecidos pela organização, apenas lhes resta o próprio corpo e mente. Daí que, para fazer frente a esses

contrastes tão rígidos, como espaço de manobra para regular os diferentes interesses, conflitos e constrangimentos, resta apenas o próprio corpo (físico e mental), que é o único componente sobre o qual o trabalhador tem o controle, e é por ele usado para o vencimento das dificuldades impostas pelos problemas da organização do trabalho e do processo produtivo (OLIVEIRA, 2005).

Em uma situação de trabalho bem equilibrada, o processo de regulação utilizado na construção dos modos operatórios permite modificar os objetivos propostos e/ou os meios oferecidos. Nestas situações, a construção do modo operatório dá-se em condições ideais, e as chances de acontecer o adoecimento e o acidente do trabalhador durante o processo produtivo são menores (OLIVEIRA, 2005).

O inverso é verdadeiro: a impossibilidade de modificações dos objetivos e dos meios oferecidos para o cumprimento da tarefa, aliada ao não atendimento das informações provenientes do estado interno, tendem a provocar uma situação na qual a produção de bens e serviços acaba acontecendo às custas do estado interno, às custas do adoecimento do trabalhador (OLIVEIRA, 2005).

Nas condições reais de trabalho, nas quais pouca ou nenhuma cidadania existe e a capacidade de interferência e de autonomia dos trabalhadores não é reconhecida, resta pouca margem de manobra para o trabalhador executar a tarefa quando surge qualquer variabilidade no processo. Para regular seu modo operatório, não lhe sendo permitida a interferência nos objetivos e metas já traçadas pela gerência superior, não sendo possível interferir nos meios de trabalho e equipamentos que lhe são oferecidos, resta ao trabalhador utilizar-se daquela fração sobre a qual ainda lhe sobra domínio: o seu próprio corpo. É com a alteração de suas posturas, com as torções de seus braços, ombros e cintura, e com a sua mente, que o trabalhador consegue vencer os constrangimentos que lhe são impostos por esses postos de trabalho inadequadamente projetados, ou por essas organizações que não lhes reconhecem capacidades humana ou de cidadania (OLIVEIRA, 2005).

As regulações acontecem tanto individualmente, com a alocação de movimentos e posturas pelos operadores, em nível do posto de trabalho, como em nível de regulações do próprio processo produtivo, com o papel regulador dos supervisores de produção e de qualidade. Outros exemplos de regulação coletiva

que acontecem no trabalho são as ações dos Sindicatos dos Trabalhadores, da Inspeção do Trabalho, do Ministério Público e, hoje em dia, dos consumidores (OLIVEIRA, 2005).

Segue na Figura 3 o modo operatório degradado no qual as condições em que as possibilidades de interferência na tarefa são mínimas, restando ao trabalhador o uso do próprio corpo como auxílio à regulação.

Figura 3 – Modo operatório degradado

Fonte: (traduzido de GUÉRIN et al., 2001, alterado por OLIVEIRA, P. A., 2004)

De acordo com Oliveira (2005), os modos operatórios adotados pelos operadores são, portanto, o resultado de um compromisso que leva em conta:

‐ Os objetivos exigidos; ‐ Os meios de trabalho;

‐ Os resultados produzidos ou ao menos a informação de que dispõe o operador sobre eles;

‐ O seu estado interno.

Em situações não restritivas, os índices de alerta relativos ao seu estado interno (fadiga) conduzem o operador a modificar os objetivos ou os meios de trabalho para evitar agressões à sua saúde (OLIVEIRA, 2005).

Inversamente, em situação sujeita a constrangimentos, não é possível agir sobre os objetivos ou sobre os meios de trabalho (OLIVEIRA, 2005).

Segue na Figura 4 o modelo de regulação de atividades contando com a participação dos colaboradores.

Figura 4 – Modo operatório segundo a teoria da regulação – a situação ideal

Fonte: traduzido por OLIVEIRA (2004), de GUERIN et al., 2001.

No primeiro momento, os resultados exigidos são atingidos ao custo de modificações do estado interno, suscetíveis de se traduzirem, com o tempo, em agressões à saúde.

No segundo momento, típico de sobrecarga, o operador não consegue mais atingir os objetivos exigidos, quaisquer que sejam os modos operatórios adotados. Essa “modelização” se aplica, ao mesmo tempo, para compromissos de curto prazo (escolha de uma postura, por exemplo) e para compromissos em longo prazo (escolha do trabalho em turno por razões pessoais).

Segue na Figura 5 o modelo proposto por Guerin para verificação das causas raízes que impactam sobre o desenvolvimento das atividades dos funcionários e que podem causar impactos na saúde e/ou na produtividade dos mesmos.

Figura 5 – Modelo de Guerin para verificação das causas raízes

Fonte: traduzido por OLIVEIRA (2004), de GUERIN et al., 2001.

2.2.3.6 Eficácia do Trabalho

A eficácia do trabalho não provém do puro e simples respeito às instruções, mas pela capacidade de regulação da atividade desenvolvida pelos sujeitos atuantes, de uma parte para gerenciar as variações das condições externas e internas da atividade e de outra para levar em conta os efeitos da atividade (FIGUEIREDO, 2009).

De acordo com Oliveira (2005), os modos operatórios adotados são o resultado de um conjunto de compromissos provenientes de níveis diferentes. Essa descrição simplificada da mistura entre diferentes mecanismos que contribuem para a elaboração dos modos operatórios permite precisar os seguintes pontos:

‐ Nem sempre há relação direta entre o desempenho de um operador e o custo desse desempenho para ele.

‐ O fato de os resultados exigidos só poderem ser atingidos ao custo de modificações consideráveis do estado interno sempre constitui um índice de alerta, não somente para a saúde dos operadores, mas também para a produção.

Durante a execução das atividades, o operador vivencia uma relação de conflito entre desgaste musculoesquelético e cumprimento das metas exigidas (MENDES, 2006). O trabalhador experiente mantém a regulação deste conflito com a adoção de estratégias que permitem a ele reduzir os efeitos da carga de trabalho

sobre sua estrutura física. A experiência associada à idade fornece subsídios para a compreensão destas estratégias de redução dos efeitos da sobrecarga física.

O aumento da idade e da experiência modifica as relações entre os três polos que determinam a organização da atividade: o sistema de trabalho, as pessoas e “os outros” (colegas e hierarquia). O sistema de trabalho que permite uma manobra de ação menos constrangedora proporciona uma regulação eficiente entre as pessoas e “os outros” (GAUDART, 1999).

Essa regulação é classificada em duas modalidades principais: regulação por evitamento e regulação por compensação. A regulação por evitamento, individual ou coletiva, aparece quando o operador sabe que não quer ou não pode compensar seus limites (LAVILLE e VOLKOFF, 2007).

Evitamento individual: em momentos que há menor pressão temporal para entrega da produção e, portanto maior tempo livre, escolhe o maior número possível de tarefas que levam mais tempo ou que apresentam maior dificuldade para serem realizadas. Essa ação permite ao operador desenvolver rotinas de trabalho com incidência de fatores de risco sem pressão em relação a quantidade de peças/produtos a ser processada em um intervalo de tempo, permitindo a adoção mais eficiente das medidas mitigadoras sobre os fatores de risco incidentes. Essa mudança no modo operatório acarreta em menor solicitação de suas estruturas musculoesqueléticas durante os momentos de prazo reduzido para entrega.

Conforme Figueiredo (2009), a regulação por compensação surge por meio da “adoção de regulações funcionais” e possui relação direta com a experiência. O momento certo para transgredir a regra, de fazer da maneira que acha mais eficiente ou de utilizar métodos diferenciados, é executado por operadores experientes em momentos determinantes da produção.

Evitamento Coletivo: O operador experiente associa sua competência às regulações coletivas no trabalho. Cada operador gerencia sua carga de trabalho no grupo e cria referenciais de ação para sua possível identificação profissional. Dessa maneira o trabalho coletivo para construir referenciais e para identificar as competências mobilizadas no trabalho comum conjuga eficácia operatória e apoio efetivo. O trabalho coletivo é produtor de competências, mas também de estratégias de regulação. Ele permite não só o compartilhamento dos saberes e práticas, mas também a elaboração das identidades profissionais (GAUDART, 1999, p.51).

Ao criar estratégias coletivas, os trabalhadores reduzem os efeitos da elevada carga de trabalho e estabelecem interações eficientes entre os membros da equipe.

Ao adotar esta estratégia, o funcionário que termina sua produção antes do prazo estipulado auxilia o colega ao lado que enfrenta maior dificuldade para cumprir a meta de produção. O experiente adota esta estratégia, pois, sabe que em momento de maior demanda de produção terá o apoio do colega ao lado.

A estratégia de adaptação à situação real e o processo de regulação na execução das atividades é diferenciado para operador novato e para o experiente. O segundo desenvolve competências para lidar com situações de maior carga de trabalho e por isso o comprometimento do seu estado interno é menor que o primeiro (FIGUEIREDO, 2009).

Na análise da carga de trabalho, a construção de estratégias operatórias é proposta como categoria central. As estratégias operatórias “representam a síntese das regulações possíveis pelo sujeito frente à objetividade da situação, coordenando os aspectos psíquicos, cognitivos e físicos mobilizados na ação” (ECHTERNACHT, 2002, p.8).

A competência de cada trabalhador determina o funcionamento adequado do trabalho coletivo. A compreensão da competência dos trabalhadores está relacionada à sua capacidade de regulação, ou seja, gerir a variabilidade de acordo com as situações. Quanto maior a variabilidade das situações, menor a probabilidade de antecipação, exigindo assim, maior competência dos trabalhadores para passagem de uma operação prescrita à uma ação situada (contextualizada). Esta competência possibilita, também, redefinir a atividade, favorecendo a reconstituição de situações anteriores por meio de reformulações, utilizando para isto recursos do próprio contexto como, por exemplo, o apelo à competência de outros trabalhadores, a elaboração de novos parâmetros para esta atividade ou, até mesmo, a utilização eventual de uma estratégia operatória antiga (ABRAHÃO, 2000, p.51).

A construção das competências se manifesta na atividade “através de modalidades de regulação dos sistemas de trabalho que estabelecem compromissos entre eficácia produtiva, preservação de si e de sua saúde e lugar no grupo de trabalho” (GAUDART E WEILLFASSINA, 1999).

A gestão entre eficácia produtiva e preservação de si pode ser algo difícil de ser atingido por operadores novatos que ao encontrarem uma situação de imprevisibilidade não conseguem sair de sua tarefa e, por não terem vivenciado esta situação não conseguem solucioná-la (FIGUEIREDO, 2009).

A competência proporciona ao operador uma maior assimilação das características do processo e a contemplação de um maior número de modos operatórios alternativos. Com o decorrer do tempo, a competência torna-se automatizada e isso faz que o operador execute suas ações de forma espontânea e subconsciente, porém, um novo imprevisto estabelece a perda harmônica deste processo (FIGUEIREDO, 2009).

A competência se constrói não simplesmente por repetição de gestos e ações, mas pelo conhecimento do resultado da ação diante dos obstáculos para atingir o objetivo. De acordo com a demanda de produção, o operador sofre um maior ou menor desgaste de suas estruturas musculoesqueléticas, ou seja, o operador cria uma situação de controle corporal para enfrentar as irregularidades do processo produtivo: momentos de pico de produção configuram-se em altas exigências corporais e momentos de baixa produção configuram-se em momentos de relativo repouso.

A alternância de momentos de exigência musculoesquelética proporciona “escolhas que são feitas ao nível da consciência, mas ao mesmo tempo – e tudo isto se entrelaça – escolhas que são feitas no nível, eu diria de uma economia, de uma economia do corpo” (SCHWARTZ E DURRIVE, 2007).

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