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3. MODOS DE REGULAÇÃO EM EDUCAÇÃO

3.3. Regulação baseada no conhecimento

A título de exemplo deste modo de regulação e pela proximidade aos países que serão alvo de estudo neste trabalho, bem como a importância que tiveram na adopção de políticas educativas, centremo-nos na OCDE (e no PISA) que a nível de recolha, tratamento e divulgação de indicadores sobre educação é a que mais influencia políticas nacionais e internacionais (Azevedo, 2007).

Nos últimos trinta anos, esta organização participou na difusão de “ideologia da modernização, sublinhando sobretudo os efeitos positivos dos investimentos em educação sobre os aspectos demográficos, sanitários, sobre a alfabetização, a esperança de vida e os comportamentos de consumo” (Azevedo, 2007, p. 74).

monográficos nacionais sobre educação, elaborados com base num conjunto de conceitos e noções partilhadas, cujos resultados são “mobilizados para sustentar conclusões gerais sobre política educativa” (Azevedo, 2007, p. 75).

Em 1968 criou o CERI (Centre for Educational Research and Innovation) centrado em estudos internacionais sobre educação e formação que produziu várias publicações sobre o tema. Nos cinco anos subsequentes a 1989, vários peritos de diversos países reuniram em seminários, sobre os quais se produziram e publicaram documentos oficiais da OCDE (Azevedo, 2007).

Até aos anos 90, os indicadores publicados baseavam-se em dados elaborados individualmente pelas entidades nacionais e não contemplavam os processos e os resultados dos sistemas educativos, dificultando comparações internacionais. No entanto, na sequência da publicação, em 1983, do relatório “A

nation at risk”16, os Estados Unidos da América, recorrem à OCDE para que se elaborem estudos internacionais comparados (para se avaliar também a posição norte-americana no contexto mundial) dando-se início ao processo de uniformização de indicadores e normas. Em 1995 iniciaram-se os trabalhos que tinham em vista a publicação, regular e de forma comparada, dos resultados educativos dos alunos em leitura, matemática e ciências e em 1997 é oficialmente lançado o PISA17 (Azevedo, 2007).

Carvalho (2013), acrescenta que o PISA é um instrumento importante para a OCDE na medida em que faz dela “um porta-estandarte da “monitorização de qualidade” a nível da educação com recurso “aos indicadores estatísticos, às comparações internacionais, à identificação de boas práticas, à avaliação por pares, apoiando uma agenda política na qual as questões educativas são equacionadas como requisitos de uma economia baseada no conhecimento” (Carvalho 2014, p. 46).

16 Nation at a Risk, nome dado ao relatório sobre e estado da Educação nos EUA em 1983. É

considerado a grande marca para as reformas neoliberais no sistema educativo americano. (http://www2.ed.gov/pubs/NatAtRisk/index.html)

17 No caso específico da OCDE, o PISA é o exemplo mais conhecido “e um dos mais poderosos

da acção institucionalizada do sistema educativo mundial”. Publicados simultaneamente no mesmo dia e hora em lugares predeterminados, os dados do PISA provocam debates políticos e consequente alteração de políticas do fórum educativo em países como Portugal, Reino Unido, Alemanha, Dinamarca, Espanha.

Mas o que se entende por “conhecimento” como instrumento de regulação? Carvalho (2007) entende que “conhecimento”, é “produto do labor da investigação científica” e que as políticas são “produtos cognitivos, representações da realidade que estabelecem as condições para o tratamento de certos “problemas” pela sociedade” (p. 3).

Sobre a importância do “conhecimento” nas decisões políticas, Mangez (2011) fala-nos de um novo conceito – “economia do conhecimento” – que decisores políticos, independentemente das ideologias que defendem, incorporam no seu discurso dada a relevância que a educação mantém como “elemento- chave da prosperidade económica futura” (p. 194).

O mesmo autor diz-nos que a própria OCDE, enquanto organização internacional, revela tendências de utilização do conhecimento na economia e na política ao ressalvar que as “economias de conhecimento” se baseiam “na produção, distribuição e utilização do conhecimento e da informação” (Mangez, 2011, p. 194). É para isso necessário que uma economia deste tipo “tenha conhecimento acerca do conhecimento”, como também refere, “o Estado precisa saber o que a nação sabe” e o aumento da utilização de indicadores quantitativos serve precisamente para fornecer essa informação (p. 198).

Referindo-se à divulgação deste conhecimento, Carvalho (2011) acrescenta que estes “vêm circulando e se instalando nos discursos sobre educação, seja animando debates, seja legitimando medidas educativas” (p. 11). O autor entende que “conhecimento”, usado como modo de regulação, é “produto do labor da investigação científica” e que as políticas são “produtos cognitivos, representações da realidade que estabelecem as condições para o tratamento de certos “problemas” pela sociedade” (p. 3).

Os sindicatos usam a sua interpretação para fundamentar opiniões, o governo justifica a tomada de decisões que levam a reformas, outros atores salientam os bons resultados de alguns países (Mangez, 2011; Barroso, 2004).

Sobre a importância do “conhecimento” nas decisões políticas, Mangez (2011) fala-nos de um novo conceito – “economia do conhecimento” – que decisores políticos, independente das ideologias que defendem, incorporam no

seu discurso dada a relevância que a educação mantém como “elemento-chave da prosperidade económica futura” (p. 194).

O mesmo autor diz-nos que a própria OCDE revela tendências de utilização do conhecimento na economia e na política ao ressalvar que as “economias de conhecimento” se baseiam “na produção, distribuição e utilização do conhecimento e da informação” (Mangez, 2011, p. 194). É para isso necessário que uma economia deste tipo “tenha conhecimento acerca do conhecimento”, como também refere, “o Estado precisa saber o que a nação sabe” (p. 198) e o aumento da utilização de indicadores quantitativos serve precisamente a finalidade de fornecer essa informação.

Mas que tipos de conhecimento são passíveis de serem usados pelos decisores? De acordo com Carvalho (2007), o recurso mais frequentemente usado, tanto pela sua visibilidade como divulgação, são “os “apports” técnico- científicos como os guiões de boas práticas (para professores ou para gestores escolares, por exemplo), os dispositivos de informação e monitorização sobre os resultados das escolas ou, ainda, os estudos internacionais sobre as “performances” dos estudantes autóctones em testes variados” (p. 6).

Neste sentido, o PISA é considerado, como “um daqueles instrumentos baseados em conhecimento (produzidos no âmbito da investigação educacional e geradores e difusores de conhecimento educacional) que apoiam e ‘participam’ no labor de coordenação da acção pública em educação” (Carvalho, 2007, p.6); um dispositivo que se “baseia e que difunde um tipo particular de conhecimento com vista à orientação, coordenação e controlo da acção social”; um dispositivo técnico e social pois associa procedimentos de medida e meios de conhecimento a interpretações acerca do contexto educacional, ação educativa e modos de operacionalização do processo ensino/aprendizagem, através dos quais estes devem ser regulados (Carvalho, 2011, p. 15).

O PISA é, pois, um instrumento que reúne todos os elementos necessários para caracterizar a intervenção da OCDE no sector educativo: a ênfase que coloca na monitorização dos sistemas educativos em torno de “competências para a vida” dadas como representativas das “necessidades” de uma “economia

baseada no conhecimento”; e o recurso a formas soft de regulação de políticas educativas (Carvalho 2013, p. 660)18.

Como nos diz Carvalho (2011) os resultados deste tipo de survey “vêm circulando e se instalando nos discursos sobre educação, seja animando debates, seja legitimando medidas educativas” (p. 11). Os sindicatos usam a sua interpretação para fundamentar opiniões, o governo justifica a tomada de decisões com base no PISA, outros atores salientam os bons resultados de alguns países (nomeadamente o caso da Finlândia, que tendo em conta os resultados no último survey, torna-se o ponto convergente das opiniões dos especialistas quanto ao exemplo a seguir) (Mangez, 2011, p. 202).