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A regulamentação da Gestão Escolar na RME/BH: o que dizem os documentos

CAPÍTULO 4. GESTÃO ESCOLAR NA RME/BH: ENTRE A PARTICIPAÇÃO E O

4.1 A regulamentação da Gestão Escolar na RME/BH: o que dizem os documentos

Na RME/BH, desde o fim da década dos anos 1980 e início dos anos 1990, entre

outras ações, a ‘participação’ da comunidade escolar na gestão escolar está prevista e

regulamentada61, principalmente por meio (I) da instituição das Assembleias Escolares desde 1983, como instância de participação direta de toda a comunidade escolar e de instância máxima de deliberação para assuntos diversos (aprovação do Calendário Escolar, da Proposta Político-Pedagógica da Escola, da prestação de contas da Caixa Escolar, do trabalho pedagógico, entre outros); (II) da implantação obrigatória do Colegiado Escolar, desde 1983, com a participação de representantes de todos os segmentos da comunidade escolar, com caráter consultivo, normativo e deliberativo nos assuntos da vida escolar e nos que se referem

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A Lei Orgânica de Belo Horizonte (Inc. X, Art. 158), de 21 de março de 1990, em consonância com a Carta Magna de 1988, reafirma o princípio da gestão democrática: “(...) X - gestão democrática do ensino público, mediante, entre outras medidas, a instituição de: a) Assembleia Escolar, como instância máxima de deliberação de escola municipal, composta por servidores nela lotados, por estudantes e seus pais e por membros da comunidade; b) direção colegiada de escola municipal; c) eleição direta e secreta, em dois turnos, se necessário, para o exercício de cargo comissionado de Diretor e de função de Vice-Diretor de escola municipal, para mandato de dois anos, permitida uma recondução consecutiva e garantida a participação de todos os segmentos da comunidade (BELO HORIZONTE. LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE, 1990, ARTIGO 158).

ao relacionamento escola-comunidade; (III) da eleição direta para a Direção escolar, desde

1990, “(...) com a participação de todos os segmentos da comunidade escolar, sendo o voto de

cada eleitor cadastrado considerado único e com o mesmo peso para efeito de votação e de

apuração” (BELO HORIZONTE. PORTARIA SMED/BH N. 310/2014).

A instituição desses mecanismos e instâncias participativos na RME/BH, segundo

Miranda (1998, p. 117), tinha como objetivo “(...) reforçar a construção da democracia na

gestão da escola, o exercício da cidadania e possibilitar mudanças nas relações do interior da

escola”, democratizando as relações e a autonomia da escola. Entretanto, na prática, os

objetivos traçados por uma política pública podem ou não ser alcançados em virtude dos

‘significados’ que os atores (escolares, neste caso) dão a essas instâncias e aos regulamentos

delas decorrentes na fase de implementação (BARROSO, 2005; SIMAN, 2005).

Antes de prosseguirmos, faz-se necessário destacar que a legislação municipal dota as

unidades escolares da RME/BH de certa autonomia e “(...) autonomia não pode se confundir com o repasse das funções do Estado para a comunidade escolar” (BELO HORIZONTE.

PORTARIA SMED/BH N. 062/2002). Ou seja, na RME/BH as unidades escolares têm autonomia para construir seus projetos político-pedagógicos, elaborar suas normas internas (regimentos), decidir sobre a aplicação dos recursos financeiros, entre outros aspectos. No entanto, essa autonomia não pode ser entendida como

(...) soberania ilimitada, como uma forma de organização e gestão independente de qualquer tipo de limite ou restrições externas. Em termos jurídicos, porém, o conceito de autonomia não tem essa significação. “A autonomia não significa independência nem soberania. Seu exercício, embora pleno, restringe-se a esferas específicas previamente delimitadas pelo ente maior, dentro das quais e para as quais são produzidas pelo ente autônomo normas próprias e integrantes do sistema judicial global” (Ranieri, 1994: 27) (GUTIÉRREZ; CATANI, 2003, p. 65).

Para estes autores, a ‘autonomia’ das escolas descortinou horizontes com inúmeras

possibilidades no campo da gestão, até então inexistentes, e que os limites efetivos da mesma, mais do que no plano jurídico, devem ser buscados no cotidiano.

Corroborando essa observação, Barroso (2003, p. 16) afirma que

A autonomia é um conceito relacional (somos sempre autônomos de alguém ou de alguma coisa) pelo que a sua acção se exerce sempre num contexto de interdependências e num sistema de relações. A autonomia é também um conceito que exprime sempre um certo grau de relatividade: somos mais, ou menos, autónomos; podemos ser autónomos em relação a umas coisas e não o ser em relação a outras.

Portanto, para este autor, autonomia também não se reduz à dimensão jurídico- administrativa, de transferências decretadas da administração central para as unidades

escolares por meio de uma retórica oficial que, por sinal, é “(...) sistematicamente desmentida

pelas normas regulamentadoras (em particular as que definem os meios e afectam recursos), bem como pelas práticas dos diversos actores que, na administração central ou regional,

ocupam lugares de decisão estratégicos em relação ao funcionamento das escolas”

(BARROSO, 2003, p. 17). Para o autor,

Importa, ainda, ter presente que a ‘autonomia da escola’ resulta, sempre, da confluência de várias lógicas e interesses (políticos, gestionários, profissionais e pedagógicos) que é preciso saber gerir, integrar e negociar. A autonomia da escola não é a autonomia dos professores, ou a dos pais, ou a dos gestores. A autonomia é um campo de forças, onde se confrontam e equilibram diferentes detentores de influência (externa e interna) dos quais se destacam: o governo, a administração, professores, alunos, pais e outros membros da sociedade local (BARROSO, 2003, p. 17).

Assim, o que estaria em causa para Barroso (2005) não é a concessão de mais ou menos autonomia às escolas, mas reconhecer a autonomia como um valor intrínseco à organização escolar em benefício da aprendizagem dos estudantes. Para o autor, não se pode falar em imposição de autonomia e não basta somente regulamentá-la. Isto é, “(...) É preciso

criar condições para que ela seja ‘construída’ em cada escola, de acordo com as suas

especificidades locais e no respeito pelos princípios e objectivos que enformam o sistema

público nacional de ensino” (BARROSO, 2003, p. 20). Assim, para o autor, a autonomia é um

conceito construído social e politicamente que pressupõe a participação de todos os envolvidos nas atividades educativas desenvolvidas na unidade escolar e, em especial, na sua gestão. Ademais, a autonomia tornar-se-á mais efetiva se contar com o

(...) empenhamento e participação dos que vivem o dia-a-dia da escola, assegurando com o seu trabalho o cumprimento da sua missão. São eles os professores (bem como o pessoal não-docente e outros adultos que prestam serviço na escola ou colaboram na realização de tarefas educativas) e os alunos (vistos não como ‘clientes’ ou ‘consumidores’, mas sim como ‘trabalhadores’ e co-produtores da acção educativa) (BARROSO, 2003, p. 29).

Daí serem necessárias, além do envolvimento de todos na gestão escolar, “(...) normas e práticas que promovam uma gestão participativa e uma cultura democrática, quer pela valorização de formas de participação representativa, quer, principalmente, pelo exercício

indiferenciado e colectivo de funções de gestão, através de mecanismos de participação

directa” (BARROSO, 2003, p. 28-29).

Retomando as instâncias participativas da gestão escolar na RME/BH. Inicialmente, a eleição direta e secreta para o cargo comissionado de Diretor Escolar e da função de Vice- Diretor escolar, garantida a participação de todos os segmentos da comunidade (BELO HORIZONTE. LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE, 1990), aconteceria a cada dois anos e aos eleitos é permitida uma única recondução consecutiva. Poderiam se candidatar ao cargo de Diretor e a função de Vice-Diretor os ocupantes de cargos públicos efetivos de Professor Municipal, Técnico Superior de Educação (Supervisor Pedagógico/Orientador Educacional) e Pedagogo, em exercício na unidade escolar nos últimos 12 (doze) meses consecutivos e antecedentes ao dia do registro da candidatura. Somente poderia concorrer uma chapa completa composta por candidato ao cargo de Diretor e à função de Vice-Diretor escolar; e para as unidades que tinham uma Unidade Municipal de Educação Infantil (UMEI) vinculada, a chapa deveria conter também um Vice-Diretor de UMEI.

Em relação aos eleitores, podem votar: (I) servidores em exercício na escola ou na UMEI; (II) alunos regularmente matriculados e frequentes na escola, com idade mínima de 16 (dezesseis) anos, completada até a data da eleição em primeiro turno; (III) mãe ou pai ou responsável legal de aluno regularmente matriculado e frequente na escola ou na UMEI, permitido um único voto manifestado pela mãe, ou pelo pai, ou pelo responsável legal do aluno, independentemente do número de filhos matriculados na escola e/ou na UMEI. Os servidores que exercem suas atribuições em mais de uma unidade escolar ou UMEI terá direito a votar em cada uma delas. Por fim, em nenhuma hipótese um eleitor terá direito a mais de um voto em cada escola, inclusive quando houver UMEI a ela vinculada (BELO HORIZONTE. DECRETO MUNICIPAL N. 13.363/2008; BELO HORIZONTE. PORTARIA SMED/BH N. 262/2011).

Em 2007, por meio da Emenda62 à Lei Orgânica n. 20, de 01/02/2007, o mandato da direção escolar na RME/BH passou para três anos, permitida uma única recondução

62 Altera a redação da alínea ‘c’, do inciso X do art. 158 da Lei Orgânica do Município de Belo Horizonte -

consecutiva. Essa legislação trouxe como novidade a possibilidade dos Educadores Infantis63 se candidatarem à função de Vice-Diretor de UMEI, até então restrita aos professores e técnicos (Supervisor Pedagógico/Orientador Educacional) da unidade escolar.

A Assembleia Escolar, como dito, é a instância de participação direta da comunidade escolar na gestão da escola e a instância máxima deliberativa dentro da unidade escolar (BELO HORIZONTE. PORTARIA SMED/BH N. 062/2002). Esta legislação, entre outros aspectos, regulamenta que a Assembleia Escolar deve ser composta pelo coletivo dos trabalhadores em educação, os estudantes, os pais/mães/responsáveis dos estudantes e grupos comunitários64 (Associações Comunitárias, Associações Esportivas, Grupos religiosos, ONG e outros) do entorno da escola e que pertençam à jurisdição da unidade escolar.

A expressão ‘grupos comunitários’ já tinha sido utilizada na portaria que instituiu a

Assembleia Escolar e o Colegiado Escolar (MIRANDA, 1998, p. 104), mas sem defini-los ou mesmo como seriam incorporados à gestão escolar. É o Parecer CME/BH n. 052/2002 que

define ‘grupos comunitários’ e regulamenta a sua presença e participação na gestão escolar.

A introdução de grupos comunitários na gestão escolar pode ser considerada, em geral,

como uma ‘novidade’ para as unidades escolares municipais por envolver atores diferentes

Município de Belo Horizonte - LOMBH -, passa a vigorar com a seguinte redação: ‘c’) eleição direta e secreta, em dois turnos, se necessário, para o exercício de cargo comissionado de Diretor e de função de Vice-Diretor de escola municipal, para mandato de três anos, permitida uma recondução consecutiva, mediante eleição, e garantida a participação de todos os segmentos da comunidade; (NR)”. Disponível em <http://portal6.pbh.gov.br/dom/iniciaEdicao.do?method=DetalheArtigo&pk=956476>. Acesso em: 6 jun. 2012.

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A Lei Municipal N. 10.572/2012, transformou o cargo público efetivo de Educador Infantil no cargo público efetivo de Professor para a Educação Infantil. Essa mudança faz parte da luta da categoria dos Trabalhadores em Educação da RME/BH e do SindREDE-BH para unificar a carreira. A alteração proposta na citada lei ainda não equipara as carreiras dos professores. Cf. Pinto (2014).

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Para participar da Assembleia Escolar, os grupos comunitários precisam se inscrever junto à secretaria da unidade escolar, apresentando os seguintes documentos da Entidade: cópia de Estatuto da Entidade; cópia de registro em cartório; declaração de vínculo com a jurisdição da escola; cópia da ata de eleição da diretoria da entidade; e relação de nomes de todos os integrantes da diretoria que terão a prerrogativa de participar das votações que ocorrerem nas Assembleias Escolares (BELO HORIZONTE. PORTARIA SMED/BH N. 062/2002). A introdução de grupos comunitários em instâncias participativas das escolas públicas de ensino, segundo Teixeira (2001), também já figurou na legislação do Estado de Minas Gerais no ano de 1983, mais especificamente na Resolução n. 4.787/1983 da Secretaria Estadual de Educação (SEE/MG). Mesmo não sendo explicitado quem integra esses grupos comunitários, Teixeira (2001) supõe que sejam associações, entidades, organizações que atuavam na região em que se localizava a escola. Essa participação de representantes de grupos comunitários é revista pela SEE/MG, em 1992, por meio da Resolução n. 6.907, de 23 de janeiro de 1992, da SEE/MG, que estabelece normas complementares para a instituição e o funcionamento do colegiado nas unidades estaduais de ensino, e é retirada dos documentos oficiais.

daqueles tradicionalmente reconhecidos65 (direção, professores, funcionários, estudantes e

pais). A legislação não explicita ‘como’ os grupos comunitários do entorno da escola seriam ‘identificados’ e ‘informados’ da possibilidade de se fazerem presentes e representados tanto

na Assembleia Escolar quanto no Colegiado Escolar das escolas públicas da RME/BH.

Assim, ‘como’ cada unidade escolar ‘recebeu’, ‘interpretou’ e ‘implementou’ essas

determinações legais ainda carece de investigações como a realizada por Silva (2010). Este autor pesquisou a introdução dos grupos comunitários nos Colegiados Escolares nas primeiras escolas da RME/BH construídas totalmente com recursos próprios do Orçamento Participativo de Belo Horizonte (OP/BH). O autor partiu do pressuposto de que essa experiência participativa facilitaria a entrada dos grupos comunitários nos Colegiados das respectivas escolas, contribuindo e influenciando na gestão delas. Especificamente, em relação à introdução da representação de grupos comunitários nos Colegiados, o autor observou que ela não aconteceu em uma escola e, na outra, diferentemente do que estava na

ordem legal, introduziu outro tipo de ‘representação da comunidade’. Enfim, a união dos

grupos comunitários que ocorreu para conquistar o direito à escola, via OP/BH, não se expandiu para uma maior integração desses grupos para com a gestão escolar, mesmo com incentivos legais. Para o autor, a inscrição na ordem legal não provocou importantes discussões e práticas acerca da democratização da gestão escolar, como também não obteve êxito na promoção do partilhamento do poder no interior do Colegiado Escolar.

Retomando as observações sobre a Assembleia Escolar, a legislação regulamenta a obrigatoriedade da sua instalação, com a exigência de quorum mínimo equivalente a 10% (dez por cento) do número de alunos regularmente matriculados, aferido pelo ocupante do cargo de Diretor Escolar. Exemplificando, se uma unidade escolar tem 1200 (hum mil e duzentos) estudantes matriculados, a Assembleia Escolar somente deverá ser iniciada com a presença mínima de 120 (cento e vinte) membros da comunidade escolar – independentemente do segmento escolar. Não havendo o quorum mínimo necessário para realização da Assembleia Escolar, deverá ser feita uma nova convocação, com antecedência mínima de 48 horas, mantendo-se a exigência de quorum mínimo.

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Estes, por sua vez, já foram objeto de investigação de Bastos (2002); Bruno (2002); Carneiro (2002); Costa (2002); Mendonça (2000); Rodrigues (1983); Spósito (2002); Teixeira (2001), entre outros.

Além disso, a legislação que trata da Assembleia Escolar estabelece que esta tenha as seguintes competências:

I) Aprovar Regimento Interno do Colegiado Escolar; II) Dar posse ao Colegiado Escolar;

III) Referendar a aprovação já realizada pelo Colegiado Escolar de: 1- Prestação de contas anual da Caixa Escolar; 2- Proposta Político Pedagógica; 3- Calendário Escolar; 4- Regimento Escolar;

IV) Aprovar relatórios das atividades do Colegiado Escolar;

V) Atuar como instância recursal quanto às deliberações do Colegiado Escolar; VI) Indicar Comissão Mista Eleitoral para planejar, organizar e presidir as eleições de diretores e vice-diretores das escolas municipais, bem como dar posse aos eleitos; VII) deliberar sobre outros assuntos de interesse da escola que exijam manifestação da Comunidade Escolar (BELO HORIZONTE. PORTARIA SMED/BH N. 062/2002).

Já os Colegiados Escolares, atualmente, são regulamentados pelas Resoluções SMED/BH n. 001/2005 e n. 001/2012 e pelas diretrizes dos Pareceres CME/BH n. 052/2002 e 057/200466. Este último, além de apontar aspectos básicos a serem observados na estruturação dos Colegiados Escolares das escolas da RME/BH, expressou algumas preocupações quanto à diversidade de entendimento relativas ao papel, às competências, às organizações e composições com predomínio, no geral, do segmento dos trabalhadores em educação em detrimento dos demais segmentos escolares (pais e estudantes).

Diante da diversidade de organização e composição dos Colegiados Escolares da RME/BH, o Parecer CME/BH n. 057/2004 apresentou duas diretrizes importantes: primeira, a representação paritária entre os segmentos de trabalhadores em educação, estudantes e pais de estudantes, objetivando buscar maior equilíbrio na superação de temas conflituosos e garantir a construção coletiva; segunda, a introdução da representação de grupos comunitários com 10% do total dos assentos, a fim de trazer uma visão mais distanciada daqueles que estão mergulhados no cotidiano escolar. Essas diretrizes do CME/BH foram incorporadas pela SMED/BH, regulamentando que o Colegiado Escolar tem

(...) caráter consultivo, normativo, deliberativo, nos assuntos referentes à vida escolar e às relações entre os sujeitos que compõem, respeitados os âmbitos de competência do Sistema Municipal de Ensino, da direção escolar, da assembleia escolar e observada a legislação educacional vigente (BELO HORIZONTE. RESOLUÇÃO SMED/BH N. 001/2005).

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O Parecer CME/BH n. 052/2002 trata da Gestão Democrática na RME/BH, com destaque para a eleição de diretores de escola e para a Assembleia Escolar. O Parecer n. 057/2004, do CME/BH, de 16/09/2004, trata da normatização dos Colegiados Escolares na RME/BH.

O Colegiado Escolar ainda deverá garantir a representação de todos os segmentos da comunidade escolar – formada por todo o pessoal em exercício na escola, todos os estudantes, todos os pais/mães/responsáveis de estudantes e grupos comunitários – nos moldes propostos pelos Pareceres do CME/BH n. 052/2002 e n. 057/2004, ficando assim composto:

Art. 4º - O Colegiado Escolar contará com representantes de todos os segmentos da comunidade escolar e deverá ser composto na proporção de 30% de trabalhadores em Educação (direção, professores e demais membros do estabelecimento escolar), 30% de estudantes, com idade igual ou superior a 12 anos, 30% de pais, mães e representantes deste segmento e 10% de representantes de grupos comunitários, garantindo-se a participação de, pelo menos, um membro deste segmento.

Parágrafo único - Caso as escolas não possuam estudantes com idade igual ou superior a 12 anos, o Colegiado deverá ser composto na proporção de 45% de trabalhadores em Educação (direção, professores e demais membros do estabelecimento escolar), 45% de pais, mães e representantes deste segmento e 10% de representantes de grupos comunitários, garantindo-se a participação de, pelo menos, um membro deste segmento (BELO HORIZONTE. RESOLUÇÃO SMED/BH N. 001/2005).

Ainda, essa resolução da SMED/BH estabeleceu a quantidade mínima de onze membros e a máxima de vinte e um membros, com a prerrogativa de que todos os membros fossem eleitos em Assembleia Escolar convocada especificamente para esta finalidade.

Além desses mecanismos e instâncias participativas da RME/BH (Eleição para direção escolar, Assembleia Escolar e Colegiado Escolar), segundo Glaura Vasques de Miranda (1999, p. 168), Secretária Municipal de Educação no período 1993-1996, na gestão do prefeito Patrus Ananias, do Partido dos Trabalhadores, nos anos de 1990, a democratização da gestão escolar e da própria SMED/BH se pautaria pela observância da horizontalidade das relações e pela promoção de práticas educativas que favorecessem e envolvessem os diversos segmentos escolares. Ainda, segundo essa Secretária, foram essas diretrizes que orientaram a criação e a implantação/execução do Projeto Político-Pedagógico Escola Plural67.

Este projeto, de acordo com Maria Céres Pimenta Castro (2000), Secretária Municipal nos anos de 1997 a 2000, propunha uma mudança radical nas estruturas excludentes, discriminatórias e hierarquizadas das instituições escolares, possibilitando uma organização pautada pela construção de uma escola mais democrática e igualitária; redefinindo aspectos que tradicionalmente contribuíam para a exclusão de amplos setores da sociedade, apontando

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O Projeto Político-Pedagógico Escola Plural da RME/BH foi objeto de investigação em inúmeros trabalhos acadêmicos. Boa parte deles está identificada e descrita no livro Estado do conhecimento sobre a Rede

para a necessidade de se construir uma nova organização pautada na horizontalidade das relações, visando avançar na construção de gestões escolares e práticas escolares cada vez mais democráticas envolvendo todos os segmentos escolares (trabalhadores em educação, pais, estudantes e comunidade do entorno da escola). São essas ideias mais gerais sobre

‘democracia’ e democratização’ que orientaram o CME/BH na formulação da portaria que

trata da gestão democrática das unidades escolares da RME/BH, central nesta tese.

Em 1998, além da criação do Conselho Municipal de Educação (CME/BH). foi realizada a I Conferência Municipal de Educação. Esta, nas palavras do Secretário Municipal de Educação à época, Antônio David de Souza Júnior, tinha como referência “(...) A compreensão da participação popular como um pressuposto do governo democrático-popular da capital mineira e de que políticas públicas, como a educação, exigem formas e processos

de gestão cada vez mais democráticos e participativos” (BELO HORIZONTE. CARTA DE

PRINCÍPIOS DA REDE MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, 2001, p. 5). As palavras do Secretário evidencia o desejo da SMED/BH em compartilhar responsabilidades e deveres a partir de uma concepção mais horizontalizada e participativa de gestão pública e de gestão escolar.

Em 1999, dando continuidade ao movimento de democratização da educação, da escola e da gestão escolar, a SMED/BH realizou a Constituinte Escolar com o objetivo de debater/refletir sobre questões educacionais e elaborar a Carta de Princípios que, após