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CAPÍTULO XLIV

Das trevas espirituais resultantes de má interpretação das Escrituras

Além destes poderes soberanos, divino e humano, sobre os quais até aqui tenho discorrido, há nas Escrituras referência a um outro poder, a saber, o dos governantes das trevas deste mundo, o reino de Satanás, e a soberania de Belzebu sobre os demônios, isto é, sobre os fantasmas que aparecem no ar, por cuja razão Satanás também é chamado o príncipe do poder do ar, e (porque governa nas trevas deste mundo) o príncipe deste mundo; e por conseqüência aqueles que estão sob seu domínio, em oposição aos fiéis (que são os filhos da luz) são chamados os filhos das trevas. Pois dado que Belzebu é o príncipe dos fantasmas, habitantes de seu domínio de ar e trevas, filhos das trevas e estes demônios, fantasmas, ou espíritos de ilusão, significam alegoricamente a mesma coisa. Posto isto, o reino das trevas, tal como é apresentado nestes e outros textos das Escrituras nada mais é do que uma confederação de impostores, que para obterem o domínio sobre os homens neste mundo presente, tentam por meio de escuras e errôneas doutrinas, extinguir neles a luz, quer da natureza, quer do Evangelho, e deste modo desprepará-los para a vinda do reino de Deus.

Assim como os homens que desde a nascença estão profundamente destituídos da luz dos olhos corporais não possuem qualquer idéia da luz, e ninguém concebe na imaginação uma luz maior do que a que alguma vez entreviu pelos sentidos externos; também o mesmo acontece com a luz do Evangelho, e com a luz do entendimento, pois ninguém é capaz de conceber que haja um grau maior dela do que aquele a que já chegou. E daqui resulta que os homens não possuem outros meios para reconhecer suas próprias trevas senão através do raciocínio a partir dos desastres imprevistos que lhes aconteceram no caminho. A parte mais escura do reino de Satanás é aquela que se encontra fora da Igreja de Deus, isto é, entre aqueles que não acreditam em Jesus Cristo, mas não podemos dizer que a Igreja goza portanto (como a terra de Goshen) de toda a luz

necessária para a realização da obra que Deus nos destinou. Como explicar que na cristandade tenha sempre havido, quase desde os tempos dos apóstolos, tantas lutas para se expulsarem uns aos outros de seus lugares, quer por meio de guerra externa, quer por meio de guerra civil? Tanto estrebuchar a cada pequena aspereza da própria fortuna, e a cada pequena eminência na dos outros homens? E tanta diversidade na maneira de correr para o mesmo alvo, a felicidade, como se não fosse noite entre nós, ou pelo menos neblina? Estamos portanto ainda nas trevas.

0 inimigo tem estado aqui na noite de nossa natural ignorância, e espalhou as taras dos erros espirituais; e isso primeiro abusando e apagando as luzes das Escrituras, pois erramos quando não conhecemos as Escrituras. Em segunda lugar, introduzindo a demonologia dos poetas gentios, isto é, suas fabulosas doutrinas referentes aos demônios, que nada mais são do que ídolos ou fantasmas do cérebro, sem qualquer natureza real própria, distinta da fantasia humana, como são os fantasmas dos mortos, e as fadas, e outros personagens de histórias de velhas. Em terceiro lugar, misturando com as Escrituras diversos vestígios da religião, e muito da vã e errônea filosofia dos gregos, especialmente de Aristóteles. Em quarto lugar, misturando com ambas estas, falsas ou incertas tradições, e uma história nebulosa ou incerta. E deste modo erramos, dando atenção aos espíritos sedutores, e à demonologia daqueles que dizem mentiras hipocritamente (ou, como está no original, 1 Tim 4,1s, daqueles que fazem o papel de mentirosos) com uma consciência endurecida, isto é, contrária a seu próprio conhecimento. No que se refere aos primeiros destes, ou seja, os que seduzem os homens abusando das Escrituras, penso falar rapidamente neste capítulo.

0 maior e principal abuso das Escrituras e em relação ao qual todos os outros são, ou conseqüentes ou subservientes, é distorcê-las a fim de provar que o reino de Deus, tantas vezes mencionado nas Escrituras, é a atual Igreja, ou multidão de cristãos que vivem agora, ou que estando mortos devem ressuscitar no último dia. Ao passo que o Reino de Deus foi primeiro instituído pelo ministério de Moisés apenas sobre os judeus, que foram portanto chamados de povo eleito, e terminou mais tarde, no momento da eleição de Saul, quando recusaram continuar a ser governados por Deus e pediram um rei segundo o costume das nações, no que o próprio Deus consentiu, como provei já longamente no capítulo 35. Depois dessa época, não houve no mundo nenhum outro reino de Deus, por pacto ou de outro modo, além do fato de ele sempre ter sido, ser, e haver de ser rei de todos os homens e de todas as criaturas, na medida em que governa segundo sua vontade, através de seu infinito poder. Contudo, ele prometeu pelos seus profetas restaurar o seu governo para eles novamente, quando tivesse chegado o tempo que em seu secreto conselho tinha determinado, e quando voltassem a ele arrependidos e com desejos de mudar de vida; e não apenas isto, convidou também os gentios a virem gozar a felicidade de seu reino, sob as mesmas condições de conservação e arrependimento; e prometeu também mandar seu Filho à terra para expiar os pecados de todos eles através de sua morte, e para os preparar pela sua doutrina a recebê-lo na sua segunda vinda. Não se tendo ainda verificado sua segunda vinda, o reino de Deus ainda não chegou, e agora não estamos por pacto submetidos a quaisquer outros reis senão nossos soberanos civis, excetuando apenas que os cristãos já estão no Reino da Graça, na medida em que já têm a promessa de serem recebidos quando ele voltar.

Conseqüente com este erro, de que a atual Igreja é o reino de Cristo, deveria haver um homem ou uma assembléia pela boca dos quais nosso Salvador (agora no céu) falasse, desse a lei e representasse sua pessoa perante todos os cristãos, ou homens diversos, ou diversas assembléias que fizessem o mesmo em diversas partes da cristandade. Este poder real sob Cristo, sendo desejado universalmente pelo Papa e nos Estados particulares pelas assembléias dos pastores do lugar (quando as Escrituras só o concedem aos soberanos civis), vem a ser tão apaixonadamente disputado que faz desaparecer a luz da natureza, e causa uma escuridão tão grande no entendimento dos homens que não vêem a quem foi que prometeram sua obediência.

Conseqüente com esta exigência do Papa de ser o vigário geral de Cristo na atual Igreja (suposto que seja aquele seu reino aquele a que somos dirigidos no Evangelho) é a doutrina de que é necessário a um rei cristão receber sua coroa das mãos de um bispo, como se fosse desta cerimônia que ele tirasse a cláusula de Dei grafia do seu título; e de que só é tornado rei pelo favor de Deus, quando coroado pela autoridade do vice- rei universal de Deus sobre a terra; e que todos os bispos, seja quem for seu soberano, fazem no momento de sua consagração um juramento de absoluta obediência ao Papa. Conseqüente à mesma pretensão é a doutrina do quarto concílio de Latrão, reunido no tempo do Papa Inocêncio III (cap. 3, De Haereticis), Que se um rei, perante a exortação do Papa, não libertar seu reino de heresias, e sendo excomungado pela mesma razão, não der satisfação dentro de um ano, seus súditos são absolvidos do vínculo de sua obediência. Na qual por heresias se entendem todas as opiniões que a Igreja de Roma tinha proibido que fossem defendidas. E por este meio, sempre que há qualquer contradição entre os desígnios políticos do Papa e dos outros príncipes cristãos, como muitas vezes acontece, surge tal névoa entre seus súditos que eles não distinguem um estrangeiro que se colocou no trono de seu legítimo príncipe daquele que eles próprios lá tinham colocado; e nesta escuridão de

espírito são levados a lutarem uns contra os outros, sem distinguirem seus inimigos de seus amigos, conduzidos pela ambição de outro homem.

Da mesma opinião, a de que a atual Igreja é o reino de Deus, resulta que os pastores, diáconos, e todos os outros ministros da Igreja, atribuem-se o nome de clero, dando aos outros cristãos o nome de leigos, isto é, simplesmente povo. Pois clero significa aqueles cuja manutenção é aquele rendimento que Deus, tendo-o reservado para si próprio durante seu reinado sobre os israelitas, atribuiu à tribo de Levi (os quais se destinavam a ser seus públicos ministros e não possuíam nenhuma porção de terra na qual pudessem viver, como seus irmãos) como sua herança. Portanto (pretendendo a atual Igreja ser tal como o reino de Israel, o Reino de Deus), disputando o Papa para si próprio e para seus ministros subordinados tal rendimento como herança de Deus, o nome de clero estava adequado àquela pretensão. E daí se segue que os dízimos e outros tributos pagos aos levitas, como direito de Deus, entre os israelitas, foram durante muito tempo pedidos e tomados aos cristãos pelos eclesiásticos, jure divino, isto é, por direito de Deus. 0 povo foi assim por toda a parte obrigado a um duplo tributo: um para o Estado, outro para o clero; além de que aquele que era pago ao clero era o décimo de seus rendimentos, ou seja, o dobro daquilo que o rei de Atenas (considerado um tirano) tirava de seus súditos para pagar todos os cargos públicos, pois ele nada mais pedia do que a vigésima parte, e apesar disso mantinha com ela abundantemente o Estado. E no reino dos judeus, durante o reinado sacerdotal de Deus, os dízimos e ofertas constituíam a totalidade do rendimento público.

Do mesmo erro de considerar a atual Igreja como o reino de Deus, proveio a distinção entre as leis civis e as leis canônicas, sendo a lei civil os atos dos soberanos em seus próprios domínios e a lei canônica os atos do Papa nos mesmos domínios. Os quais cânones, muito embora não passassem de cânones, isto é, regras propostas e só voluntariamente recebidas pelos príncipes cristãos até a mudança do império para Carlos Magno, contudo depois, à medida que o poder do Papa aumentava, tornaram-se leis obrigatórias, e os próprios imperadores (para evitarem maiores males a que o povo cego podia ser conduzido) eram obrigados a deixá- los passar por leis.

É por isso que em todos os domínios onde o poder eclesiástico do Papa é totalmente aceite, os judeus, os turcos e os gentios são na Igreja romana tolerados em sua religião, na medida em que, no exercício de sua profissão, não ofendam o poder civil, enquanto num cristão, embora estrangeiro, não ser da religião romana é capital, porque o Papa pretende que todos os cristãos são seus súditos. Pois de outro modo seria tão contra a lei das nações perseguir um estrangeiro cristão por professar a religião de seu próprio país, como perseguir um infiel; ou melhor, na medida em que não estão contra Cristo, estão com ele.

Do mesmo erro resulta que em todos os Estados cristãos há certos homens que estão isentos, por liberdade eclesiástica, dos tributos e dos tribunais do Estado civil; pois assim está o clero secular, além dos monges e frades, os quais em muitos lugares constituem uma parte tão importante do povo comum que, se houvesse necessidade, se podia só com eles organizar um exército, suficiente para qualquer guerra em que a Igreja militante os quisesse empregar contra seu próprio príncipe ou outros príncipes.

Um segundo abuso geral das Escrituras consiste em transformar a consagração em conjuração, ou encantação. Consagrar é, nas Escrituras, oferecer, dar ou dedicar, com linguagem e gestos pios e decentes, um homem, ou qualquer outra coisa, a Deus, separando-o do uso comum, isto é, santificá-lo ou torná-lo de Deus e para ser usado apenas por aqueles a quem Deus nomeou para serem seus ministros públicos (como já provei largamente no capítulo 35) e portanto mudar, não a coisa consagrada, mas apenas seu uso, de profano e comum para sagrado e específico do serviço de Deus. Mas quando por tais palavras se pretende que seja mudada a natureza ou qualidade da própria coisa, não é consagração, mas ou uma obra extraordinária de Deus ou uma vã e ímpia conjuração. Mas dado que (pela freqüência com que se pretende haver mudança em sua consagração) não pode ser encarada como uma obra extraordinária, não é outra coisa senão uma conjuração ou encantação, pela qual querem que os homens acreditem numa alteração da natureza que não existe, contrária ao testemunho dos olhos humanos, e de todos os demais sentidos. Como por exemplo quando o padre, em vez de consagrar o pão e o vinho ao serviço particular de Deus no sacramento da ceia do Senhor (que nada mais é do que sua separação do uso comum, para significar, isto é, para lembrar aos homens sua redenção, pela paixão de Cristo, cujo corpo foi quebrado e cujo sangue brotou na cruz por nossas transgressões), pretende que por dizer as palavras de nosso Salvador, Este é meu corpo, e Este é meu sangue, a natureza do pão já não está lá, mas sim seu próprio corpo, muito embora não apareça aos olhos, ou aos outros sentidos do espectador coisa alguma que não tivesse aparecido antes da consagração. Os esconjuradores egípcios, que se diz terem transformado sua varas em serpentes, e a água em sangue, são encarados apenas como pessoas que iludiram os sentidos dos espectadores por uma falsa aparição de coisas, e contudo são julgados como encantadores. Mas o que teríamos nós pensado deles, se em suas varas nada tivesse aparecido semelhante a uma serpente, e na água encantada nada de semelhante ao sangue nem a

qualquer outra coisa que não fosse água, e se tivessem dito ao rei que eram serpentes que pareciam varas e que era sangue que parecia água? Que tinha sido simultaneamente encantamento e mentira. E contudo, neste ato diário do padre, eles fazem exatamente o mesmo, usando as palavras sagradas à maneira de um encanto que nada produzisse de novo nos sentidos; mas eles sustentam que transformaram o pão num homem, e o que é mais, num Deus, e exigem que os homens o venerem, como se fosse nosso Salvador que estivesse presente como Deus e como Homem, e portanto que cometamos a mais grosseira idolatria. Pois se for suficiente para desculpar de idolatria dizer que já não é pão mas sim Deus, por que razão não serviria a mesma desculpa para os egípcios, no caso de terem tido a ousadia de dizer que os alhos e as cebolas que veneravam não eram alhos nem cebolas, mas uma divindade sob sua species, ou semelhança. As palavras Este é meu corpo são equivalentes a estas Isto significa, ou representa meu corpo, e consistem numa vulgar figura de discurso; mas encará-las literalmente é um abuso, e se assim as encararmos só podemos fazê-lo em relação ao pão que o próprio Cristo consagrou com suas mãos. Pois ele nunca disse que se de qualquer pão qualquer padre dissesse Este é meu corpo, ou Este é o corpo de Cristo, os mesmos seriam efetivamente transubstanciados. Nem a Igreja de Roma alguma vez estabeleceu esta transubstanciação, até a época de Inocêncio III, o que não foi há mais de 500 anos, quando o poder dos Papas estava no auge, e as trevas se tinham tornado tão densas que os homens não distinguiam o pão que lhes era dado para comer, especialmente quando era marcado com a figura de Cristo na cruz, como se quisessem que os homens acreditassem que se transubstanciava não só no corpo de Cristo mas também na madeira da cruz, e que comiam ambos em conjunto no sacramento.

A mesma encantação, em vez de consagração, é usada também no sacramento do batismo, no qual o abuso do nome de Deus em cada uma das várias pessoas, e em toda a Trindade, com o sinal da cruz a cada nome constitui o encanto: pois primeiro, quando fazem a água benta, o padre diz: Conjuro-te, criatura da água, em nome de Deus Pai Todo Poderoso, e em nome de Jesus Cristo seu único Filho Nosso Senhor, e em virtude do Espírito Santo, que te tornes água conjurada para afastar todos os poderes do inimigo, e para erradicar e suplantar o inimigo, etc. E o mesmo na bênção do sal que se mistura com ela: Que tu, sal, sejas conjurado, que todos os fantasmas e velhacaria da fraude do demônio possam fugir e abandonar o lugar em que és salpicado; e que todos os espíritos sujos sejam conjurados por aquele que virá para julgar os vivos e os mortos. 0 mesmo na bênção do óleo: Que todo o poder do inimigo, toda a hoste do Diabo, todos os assaltos e fantasmas de Satanás, possam ser afastados por esta criatura do óleo. E quanto à criança que está para ser batizada, é sujeita a muitos encantamentos: primeiro, na porta da igreja o padre assopra três vezes no rosto da criança e diz: Sai de dentro dele espírito sujo e dá lugar ao Espírito Santo, o confortador. Como se todas as crianças, até serem assopradas pelo padre, fossem demoníacas. Novamente, antes de sua entrada na igreja, diz como antes, Conjuro-te, etc. para que saias e abandones este servo de Deus. E novamente o mesmo exorcismo é repetido uma vez mais antes do batismo. Estas, e algumas outras encantações, são aquelas que são usadas em vez de bênçãos, e consagrações, na administração dos sacramentos do batismo e da ceia do Senhor, onde tudo o que serve para aqueles sagrados usos (exceto o profanado cuspo do padre) possui alguma forma de exorcismo.

Também não são isentos de encantamentos os outros ritos, como os do casamento, extrema-unção, visitação dos doentes, consagração das igrejas e adros, e outros semelhantes; na medida em que se observa neles o uso de óleo encantado e água, com o abuso da cruz, e da palavra sagrada de Davi, Asperges me Domine Hyssopo, como coisas eficazes para afastar os fantasmas e os espíritos imaginários.

Outro erro geral resulta da má interpretação das palavras vida eterna, morte eterna, e segunda morte. Pois muito embora leiamos simplesmente nas Sagradas Escrituras que Deus criou Adão em estado de viver para sempre, o que era condicional, isto é, caso ele não desobedecesse a suas ordens, o que não era essencial à natureza humana, mas conseqüente com a virtude da árvore da vida, da qual ele tinha liberdade de comer enquanto não pecasse; e que foi expulso do Paraíso depois de ter pecado, para que não comesse dela nem vivesse para sempre; e que a Paixão de Cristo é um resgate do pecado de todos os que acreditarem nele, e por conseqüência uma restituição da vida eterna a todos os fiéis e apenas a eles: contudo a doutrina é agora e tem sido há muito tempo diferente, a saber que todos os homens tinham vida eterna por natureza, na medida em que sua alma é imortal, de tal modo que a espada flamejante à entrada do Paraíso, muito embora impeça o homem de chegar à árvore da vida, não o impede de possuir a imortalidade que Deus lhe tirou por causa do seu pecado, nem o faz precisar do sacrifício de Cristo para recuperar a mesma, e consequentemente não apenas os fiéis e justos, mas também os maus e os gentios gozarão a vida eterna, sem qualquer morte, e muito menos uma segunda e eterna morte. Para remediar a isto, diz-se que por segunda e eterna morte se entende uma segunda e eterna vida, mas em tormentos, figura que nunca é usada exceto exatamente neste caso.

Toda esta doutrina se baseia apenas em alguns dos textos mais obscuros do Novo Testamento, os quais contudo, considerado todo o âmbito das Escrituras, são suficientemente claros num sentido diferente e

desnecessário ao credo cristão. Pois supondo que, quando um homem morre, nada resta dele senão sua carcaça, não pode Deus, que transformou com suas palavras a argila e o pó inanimados numa criatura viva, fazer com igual facilidade voltar à vida uma carcaça morta, e deixá-la viver para sempre, ou fazê-la morrer outra vez, também com sua palavra? A alma nas Escrituras significa sempre ou a vida ou a criatura viva, e o corpo e a alma conjuntamente, o corpo vivo. No quinto dia da criação, Deus disse: Que a água produza reptile